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A QUEDA DO GOVERNO MILITAR E A ASCENSÃO DOS REPUBLICANOS

CAPÍTULO II PERNAMBUCO NA ERA REPUBLICANA: DA PROCLAMAÇÃO À

2.3. A QUEDA DO GOVERNO MILITAR E A ASCENSÃO DOS REPUBLICANOS

HISTÓRICOS

Conhecida a notícia, em 17 de abril de 1890, de que fora mesmo chamado à Capital Federal o Marechal Simeão, ainda sem clareza quanto aos motivos, logo produziu-se um clima de ansiedade nos meios políticos, populares e militares. Enquanto as redações procuravam mais informações sobre o caso, o Clube Militar local se reunia para deliberar se protestava ao Governo Provisório, em telegrama, pela permanência do governador. Não havendo unanimidade, não tomou a atitude, limitando-se a prestar honras em caso de embarque de Simeão. Um dia depois, no quartel de cavalaria, reuniam-se oficiais de mar e terra da guarnição local, os quais decidiram pedir ao Governo Provisório a extensão da permanência do Marechal tendo em vista a tranquilidade pública. No dia seguinte, ocorre outra manifestação, na Praça da Independência, em favor de Simeão, à qual aderiu, na tribuna, José Mariano, que exaltou a política do governo no estado em evitar “commoções que podiam arrastal-o á grande calamidade de uma guerra civil”. Os manifestantes concordaram em enviar um telegrama à Capital Federal pedindo a permanência do governador e nomeou-se uma comissão para visitar o palácio e expressar o pesar pela decisão do Rio de Janeiro. Considerada a saída de Simeão como resultado de promoção ao cargo de ajudante general do Exército, os próprios marianistas procuram minimizar a ligação entre a ocorrência e as articulações dos republicanos históricos, negando que Simeão houvesse “perdido a confiança do governo”, resultado da “imposição de certas figuras, como andaram espalhando alguns individuos, que se sentem contrariados com o illustre marechal” (A PROVINCIA, 22 abr.1890, p.1). No dia seguinte, no mesmo local, outra manifestação de apoio ao marechal ocorria, mais uma vez com José Mariano na tribuna, este proclamando não ter recebido resposta ao telegrama enviado no dia anterior. Tomando a retirada de Simeão como inevitável, pedia, em novo telegrama ao Governo Provisório, que ao menos fosse nomeado “outro militar capaz de resistir a voragem da politica local”. Apesar de admitir não ser

apologista de governos militares, o tribuno, diante das circunstâncias então vigentes, via o fato como um mal menor, dado o até então demonstrado “desprendimento do exercito” e a preferência por um mandatário que fosse “inflexível executor da politica de conciliação” (A PROVINCIA, 23 abr.1890, p.1). Aparentemente reverenciado por todas as facções políticas do estado, gozava José Simeão de grande popularidade, ao ponto do jornal dos históricos situá-lo na confortável posição de ser “disputado pela guarnição militar e pelo povo pernambucano, que desejava a continuação de seu governo, e pelo generalissimo Deodoro da Fonseca, que tem necessidade dos seus serviços” (JORNAL DO RECIFE, 22 abr.1890, p.2).

É no clima de incerteza com o futuro administrativo do estado que se revela, para desapontamento dos marianistas, a nomeação do republicano Albino Meira para o governo de Pernambuco. Buscando minimizar quaisquer interferências à sua administração, Meira, em carta enviada à redação d’A Provincia, assegura que, enquanto o governo estivesse em suas mãos, não haveria mudanças políticas, prometendo admitir o conselho e a “crítica desapaixonada” para empenho na direção dos rumos do estado. Com reservas à mensagem política de Meira, a redação resigna-se a acatar a nomeação desde que representasse a continuação da “política larga e conciliadora” do antecessor, sem ocorrência de perseguições (A PROVINCIA, 24 abr.1890, p.1). Logo no primeiro ato do novo governo, no entanto, já se mostra acirrada a disputa pelo controle administrativo. Anulando a recém-concedida vitaliciedade para funcionários públicos com mais de cinco anos de serviço – uma das últimas medidas tomadas por Simeão no dia 19 – Meira cai em desfavor dos marianistas, que imaginam a volta do “julgo aviltante e desesperador das reações políticas” com o fim das garantias aos servidores. Estes organizam um meeting de protesto para o dia 30, o qual os republicanos se apressam em classificar como uma manifestação sediciosa, “sujeita assim ás leis repressivas” (JORNAL DO RECIFE, 29 abr.1890, p.2). Não obtendo apoio da classe militar, e sem comando político – os marianistas negam qualquer envolvimento em sua organização, apesar de acusados por telegrama enviado do Recife e publicado na imprensa da Capital Federal – a manifestação, ainda assim, gera desgastes, e em pouco tempo, o grupo volta a divulgar abertamente a intervenção de Martins Júnior no chamamento de Simeão à Capital Federal, em virtude da permanente campanha para tornar José Mariano persona non

grata aos olhos do governo provisório (A PROVINCIA, 29 abr.1890; e 10 maio.1890).

José Marianno não vale mais nada; mas, entretanto, o Sr. Dr. Martins Junior chega a emprehender uma viagem ao Rio de Janeiro para mais facilmente intrigal-o com o Governo Provisorio dizendo que elle estava de mãos dadas com o Marechal José Simeão, e assim mais facilmente obter a posse do

poder [...] O Sr. Dr. Martins Junior conseguio os seus fins de occasião, mas talvez não consiga por muito tempo gozar da sensualidade do poder (A PROVINCIA, 21 maio.1890).

Não sendo um fato isolado a revogação do decreto que dava vitaliciedade aos funcionários públicos, tomado pelo governante histórico como um “ato de mera ostentação” e “prova de desconfiança” de seu antecessor (JORNAL DO RECIFE, 25 maio.1890, p.2), logo fica exposta a tendência dos republicanos em controlar o aparelho administrativo. Meira, governador do estado, cedendo às pressões do líder histórico, que lhe enviava ordens do Rio de Janeiro, inicia uma política com o objetivo de revogar atos do governo anterior. Assim, são removidos funcionários da justiça nomeados por Simeão, além de exonerados promotores públicos de postura independente, recolocados em municípios longínquos para atuar como juízes, “para assim mais facilmente serem attendidos os interesses de bastarda politicagem local”. Outro decreto, expedido a 17 de maio e publicado sete dias depois, revoga de vez todas as leis e regulamentos que estabelecem condições para o provimento de cargos públicos estaduais, reforçando a conveniência partidária de domínio jurídico-administrativo. Um dos casos mais salientes de demissão, segundo os marianistas, é a remoção de Henrique Augusto d’Albuquerque Milet do cargo de 1º promotor da capital. Tendo-se feito inimigo de Martins Júnior durante um concurso na Faculdade de Direito do Recife, a demissão de Milet tornara- se desejo do líder republicano, o que o teria levado ao rompimento com o governador José Simeão, por ter sido resistente às suas demandas, apresentadas antes de sua viagem à Capital Federal. Segundo a folha “deletéria”, meses antes tentara Martins Júnior, já ocupando a posição de chefe de polícia após o quinze de novembro, conseguir a dispensa de Milet, levando ao Coronel Cerqueira Lima – então governador provisório - a informação de que o mesmo havia mandado prender republicanos no dia da proclamação (A PROVINCIA, 24 maio.1890, p.1). Confirmando a animosidade entre Martins Júnior e Henrique Milet, embora suavizando-a em suas proporções, Meira tenta desconstruir quaisquer arbitrariedades sobre as demissões a título de entendimentos pessoais com cada um dos promotores, negando perseguições alegadas pela folha marianista mas revelando o desejo de reclamar, para si, “a mais ampla liberdade de acção em relação ao funccionalismo publico, quer se trate de nomear quer de demittir”. Dizendo-se um “amigo” dos funcionários públicos, considerava-se, no entanto, sem embaraços em tomar as medidas “reclamadas pela lealdade politica, pelo bem do serviço publico, e por uma economia rasoavel” (JORNAL DO RECIFE, 25 maio.1890, p.2).

2.4 MARTINS JUNIOR: LIDERANÇA E CONTESTAÇÕES NO PARTIDO