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3. PRINCÍPIOS – ALICERCES DA NEGOCIAÇÃO

3.4 Princípios peculiares da Negociação

3.4.4 A razoabilidade (das pretensões)

O significado léxico da palavra razoabilidade remete a idéia de que os objetos da controvérsia devem ser compreendidos como dignos de aceitação230. Logo, a

228

PINTO, José Augusto Rodrigues Pinto. Op. Cit. p. 189.

229

Sobre os agentes da vontade na negociação ver Capítulo 5.

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razoabilidade está para a negociação como o princípio sustentador de propostas dignas de aceitação, que venham sempre a proporcionar melhorias para ambos os lados e garantir o sucesso na negociação.

No entanto, para se alcançar este grau de razoabilidade é necessário, principalmente no âmbito particular, que os empregados possuam acesso à informação a fim de adquirirem o sustentáculo necessário para a formulação de pretensões adequadas a um crescimento operacional e, conseqüentemente, a uma melhoria social. Por este motivo, a razoabilidade quando aplicada à negociação de trabalho possui vínculos diretos com alguns outros direitos essenciais da formação dos pactos coletivos, quais sejam: o acesso à informação e o não-retrocesso.

No tocante ao acesso e/ou o fornecimento de informações, este é indispensável para a formulação de propostas adequadas, transformando-se em mera obviedade o fato de que para “[...] garantizar la plena capacidad negociadora de las partes y su

más próxima situación de paridad en el proceso, éstas deben tener acceso a toda la información que eventualmente pueda series útil” 231

No entanto, esta razoabilidade oriunda do direito à informação, apesar de ser considerado um dever recíproco ou bilateral, torna-se imperfeito porque afetará em maior grau o empresário, a quem, por certo, será exigida uma maior profundidade de informação do que os empregados. ESTHER SÁNCHES TORRES, destaca, inclusive, que a doutrina232 ainda não firmou um entendimento uníssono sobre o real significado da informação, ou melhor, qual a natureza jurídica do direito de

informação ‘ad negotiationem’233.

A autora explica que para o fim de estabelecer uma propensão para consecução do acordo, estabeleceram-se duas teorias. A primeira sustenta que o dever de informação reveste total independência com respeito ao dever de negociar. Esta teoria, oriunda do Direito Inglês, defende que este dever independe da utilidade.

231

TORRES, Esther Sánches. El deber de Negociar y la Buena Fe en la Negociación Colectiva. Op. Cit. p. 123 (“[...] garantir a plena capacidade negociadora das partes e sua proximidade na situação de paridade no

processo, estas devem ter acesso a toda a informação que eventualmente possa ser útil.”- tradução nossa)

232

Notadamente a doutrina espanhola.

233

Se trataría de un mecanismo concebido como instrumento de extensión de la negociación colectiva hacia la democracia industrial y que reviste una especial significación precisamente como consecuencia de la previsión en el ordenamiento jurídico inglés, de una serie de deberes de consulta para los supuestos de despido colectivos, transmisión de empresas, seguridad e higiene, sistemas de pensiones, etc.234

Já a outra teoria afirma que deve existir vinculação entre a formulação da proposta e a informação pretendida, necessária exclusivamente para se alcançar o fim desejado. ESTHER SÁNCHES TORRES, com precisão e acerto, vincula-se a esta última teoria, defendendo que o vínculo do dever de prestar a informação é possuidor de certo rigor. Para a obtenção da informação faz-se necessário uma série de outras condutas conexas, uma vez que não se deseja que os agentes possam incorrer em práticas retardatárias ou enganosas, isto porque

[...] los derechos de información ad negotiationem se erigirían como una institución unitaria y autónoma, fundamentada teleológicamente no en el deber de buena fe, sino en las funciones representativas atribuidas a los representantes de los trabajadores y, en concreto, en el mismo derecho a la negociación colectiva.235

Já quando se trata da negociação coletiva com o Estado, o princípio da informação vincula-se mais diretamente com o entendimento, compreensão desta informação do que necessariamente com a sua obtenção. Ocorre que, no Estado às informações orçamentárias são públicas, acessíveis inclusive na internet236, mas a dificuldade está na necessidade de se aprender e/ou aperfeiçoar conhecimentos a respeito do manejo do orçamento público, pois é nele, que in casu, se encontra tanto a informação quanto a base de cálculo para a formulação das propostas que venha a onerar o erário público.

Significa dizer que no tocante à razoabilidade nas propostas apresentadas pelos servidores, é indispensável a extração da informação das leis que compõem o

234

TORRES, Esther Sánches. Op. Cit. p. 125. (“Se trataria de um mecanismo concebido como instrumento de

extensão da negociação coletiva para a democracia industrial e que reveste uma especial significação precisamente como conseqüência da previsão no ordenamento jurídico inglês, de uma série de deveres de consulta para possíveis demissões coletivas, transmissão de empresas, seguridade e higiene, sistemas de pensões, etc” – Tradução nossa).

235

TORRES, Esther Sánches. Op. Cit. p. 126. (“[...] o direito à informação " ad negotiationem " foi erigido

como uma instituição unitária e autônoma, fundamentada teleologicamente não no dever de boa-fé, mas nas funções representativas atribuídas aos representantes dos trabalhadores e, em especial, no mesmo direito de negociação coletiva.” – Tradução nossa.)

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orçamento público, bem como, ser respeitado o que se extrai do caput do Art. 7º da CF/88, ao qual destaca que os direitos dos trabalhadores estão elencados nos seus incisos, “além de outros que visem à melhoria de sua condição social”, conhecido como a proibição do retrocesso social237.

EDILTON MEIRELES e ANA CRISTINA MEIRELES destacam inclusive que o Art. 7º da Constituição Federal é uma série mínima e fundamental de direitos sociais e que outros só deverão ser preenchidos se promoverem a melhoria social. E com razão destacam que

[...] não se pode admitir norma constitucional derivada (emenda) ou norma infraconstitucional que tenda a não gerar uma melhoria na condição social do trabalhador. Ela seria inconstitucional por justamente não preencher esse requisito constitucional da melhoria da condição social do trabalhador.238

Por estas razões é que a razoabilidade nas propostas é indispensável, ainda mais quando se trata de uma negociação sui generis. Sua celebração, necessariamente, fará com que seus agentes, principalmente os representantes dos trabalhadores, se debrucem sobre o arcabouço teórico e indispensável de todo o funcionamento do orçamento público, em função de que, apesar da autonomia coletiva existente, não se admite, em regra, a modificação in pejus, com ressalva apenas na flexibilização das normas, oriunda da criatividade das normas coletivas.239