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O significado de Princípios para o Direito do Trabalho

3. PRINCÍPIOS – ALICERCES DA NEGOCIAÇÃO

3.1 O significado de Princípios para o Direito do Trabalho

A partir de uma análise vernacular, princípio encontra-se relacionado à origem, seja este nascedouro de uma ação ou de um conhecimento134. Por sua vez, MIGUEL REALE esclarece que estes são “[...] certos enunciados lógicos admitidos como

condição ou base de validade das demais asserções que compõem dado campo do saber”135 e em complemento CUSTÓDIO e PIETROCOLA, destacam que:

Para além dos casos da língua, dentro do domínio das ciências empíricas, de uma forma semelhante, um princípio denota este significado, como um ponto de partida, um primeiro estado de um processo. Eles caracterizam-se como conhecimentos de um nível diferente daqueles no qual se encontram os conceitos e as leis.136 Em um estudo mais afastado da acepção de sustentáculo, NOBERTO BOBBIO defende o posicionamento de que princípios, em geral, são normas, ou seja,

Os princípios gerais são apenas, a meu ver, normas fundamentais ou generalíssimas do sistema, as normas mais gerais. A palavra princípios leva a engano, tanto que é velha questão entre os juristas se os princípios gerais são normas. Para mim não há dúvida: os

princípios gerais são normas como todas as outras137.(grifos nossos) Sem divergir do conceito de BOBBIO (princípios como normas), DIRLEY DA CUNHA JÚNIOR acrescenta que em razão de sua força valorativa, os princípios “[...]

determinam o conteúdo das demais normas e condicionam a compreensão e aplicação destas à efetivação dos valores que eles consagram. São, em síntese

134

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Século XXI. Nova Fronteira Ed. (CD-ROM). v. 3.0, 1999.

135

REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 303.

136

CUSTODIO, José Francisco e PIETROCOLA, Maurício. Princípios nas ciências empíricas e o seu

tratamento em livros didáticos. Ciênc. educ. (Bauru) [online]. 2004, vol.10, n.3, pp. 383-399. ISSN 1516-7313.

Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v10n3/06.pdf> Acesso em: 20 nov. 2009. p. 385.

137

BOBBIO, Noberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. Tradução Maria Celeste Cordeiro Leite dos Santos. 6ª ed. Brasília: Editora UnB, 1995. Título original: Teoria dell’ordenamento giuridico. p. 158.

apertada, as fundações normativas vinculantes de um dado sistema jurídico.” 138

(grifos nossos)

Já em uma abordagem mais pragmática da legislação brasileira, JOSÉ AFONSO DA SILVA explica que o vocábulo princípio possui interpretação ambígua e que, em verdade, a expressão princípios fundamentais disposta na Carta Magna vigente não apresenta a acepção de começo ou início, mas a noção de mandamento nuclear de

um sistema139, que se difunde sobre diversas normas, servindo-lhes de critério para sua compreensão.140

Portanto, os princípios apresentam-se como um sustentáculo indispensável para a reflexão de todo jurista, uma vez que, expõem-se como núcleo, fundação ou origem de quaisquer normas presentes no ordenamento. Por sua vez, de maneira mais aplicada, busca-se aqui poder extrair o significado daqueles aplicáveis nas discussões acerca das relações laborais, haja vista que a própria Carta Magna insculpiu os valores sociais do trabalho, como um dos fundamentos141 e ainda estabeleceu que “A ordem social tem como base o primado do trabalho e como

objetivo o bem-estar social e a justiça social”142.

Conseqüentemente, o Estado, por meio da Constituição atribuiu ao trabalho um valor inestimável, ou seja, nas palavras de BENEDITO CALHEIROS BOMFIM: “[...]

nossa Constituição, não apenas erigiu o trabalho em valioso bem individual e social, como, mais ainda, o incorporou à ordem jurídica e o integrou à sociedade.”143.

Dada esta importância, o Direito do Trabalho144 surge como o ramo jurídico especializado em dirimir quaisquer controvérsias a respeito do tema, que além de possuir princípios estruturais próprios indissociáveis do arcabouço principiológico

138

CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de Direito Administrativo. 5ª Ed. Salvador: JusPodivm, 2007. p. 12.

139

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. Op. Cit. p. 91.

140

José Afonso da Silva filia-se ao raciocínio de Celso Antonio Bandeira de Mello expresso na obra Curso de

direito administrativo, creditando-lhe a autoria da expressão “mandamento nuclear de um sistema”.

141

CF/88, art.1º, IV

142

Ibidem. Art. 193

143

BOMFIM, Benedito Calheiros. A despedida arbitrária e a dignidade do trabalhador. Disponível em <http://www.oab.org.br/oabeditora/users/revista/1211290538174218181901.pdf>. Acesso em 20/11/2009.

144

A doutrina já se manifesta para a criação do chamado Direito Administrativo do Trabalho cujo objeto de estudo são as normas jurídicas relativas ao trabalho subordinado existente entre o empregado e a Administração Pública. Para saber mais: FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. O Estado no Direito do Trabalho: As

presente em todo ordenamento, destaca-se também por possuir em maior quantidade a presença do pluralismo jurídico, quer seja pela dinâmica acelerada das relações de trabalho ou pela elaboração de normas jurídicas tanto pelo Estado e por grupos sociais145.

Assim, para a doutrina mais clássica deste ramo jurídico, por todos, ORLANDO GOMES e ELSON GOTTSCHALK, destacam que os princípios informam todo o Direito do Trabalho e é “[...] à sua luz que as outras disposições legais devem ser

interpretadas.”146. Em uma visão doutrinária mais contemporânea, MAURÍCIO

GODINHO DELGADO assinala que os princípios exprimem proposições ideais oriundas da consciência dos indivíduos e/ou grupos sociais, em função de certa realidade, destinadas à sua compreensão, reprodução ou recriação.147

Não obstante, ALICE MONTEIRO DE BARROS chama atenção em relação aos princípios, posto que, quando aplicados em especial na seara trabalhista seguem uma divisão doutrinária em princípios gerais do direito, princípios constitucionais e princípios peculiares ao Direito do Trabalho.

A autora explica, forte na lição de CELSO RIBEIRO BASTOS, que os princípios gerais do direito são, em verdade, valores considerados como princípios porque se compreendem como causa, origem, gênese148 e se distinguem dos princípios constitucionais “pela generalidade absoluta de sua incidência”149. Por sua vez, os

princípios constitucionais são verdadeiras “[...] súmulas que permitem melhor

caracterizar a Constituição e compreendê-la”150, além de também formarem a “síntese dos valores mais relevantes da ordem jurídica”151

No tocante aos princípios peculiares do Direito do Trabalho, ela destaca que estes são verdadeiras normas que “[...] inspiram o ordenamento jurídico-trabalhista, de

145

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. Cit. p. 178.

146

GOMES, Orlando. GOTTSCHALK, Elson. Curso de direito do trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 36.

147

DELGADO, Mauricio Godinho. Princípios de direito Individual e Coletivo do Trabalho. 2ª ed. São Paulo: LTr, 2004. p. 15-17

148

BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 2.ª Ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 163

149

Id. Ibidem.

150

Id. Idem. p. 164. (grifos no original).

151

BARROSO, Luis Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. São Paulo: Saraiva, 1998 apud BARROS, Alice Monteiro de. op. cit.. p. 164

acordo com critérios distintos não encontrados em outros ramos do Direito [...]”152.

Neste particular, LUIZ DE PINHO PEDREIRA DA SILVA chama atenção que são princípios especiais153 principalmente porque imprimem uma unidade e coesão à disciplina154.

Enfim, os princípios em função de seu papel e importância não podem mais podem ser colocadas de forma subsidiária, principalmente no Brasil que se consagra como sendo um Estado Democrático de Direito,

[...] destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e

individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o

desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social que busca o bem estar social.155 (grifos nossos) Portanto, demonstrado o significado de princípio para o Direito do Trabalho, resta agora extrair a premissa deste significado para a compreensão dos princípios no Direito brasileiro contemporâneo, principalmente àqueles que regem as resoluções de conflito com escopo laboral, exteriorizando o amálgama do sistema jurídico atual156, indissociáveis das normas positivadas pelo órgão legislativo ou oriundas por outras fontes não-estatais.