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3 AS QUESTÕES ORÇAMENTÁRIAS E FISCAIS DAS PPPs

3.4 O Comprometimento da Receita Corrente Líquida (RCL) e a

3.4.3 A RCL e Todos os Contratos de PPP de Belo Horizonte

Para se ter um panorama completo da influência do artigo 28 da Lei de PPP nas finanças de um município, é necessário avaliar, também, todos os contratos desta tipologia que o município tem em execução.

Belo Horizonte, e Minas Gerais de maneira geral, têm destacada atuação em relação a projetos de concessões e PPPs no cenário nacional. Em razão do estado de Minas Gerais ser um dos entes federativos com grande número destes projetos – até em razão de seu marco legal para tais contratações ser pioneiro no Brasil, até anterior ao federal – a existência de vários contratos daquela tipologia é natural; e o surgimento dos projetos aconteceram não só por conta do próprio pioneirismo do estado e sua capital, mas também da experiência que os entes foram acumulando em relação a estes contratos conforme eles aconteceram.

Acredita-se, por exemplo, que esta cultura tenha sido um dos motivos para que a PPP da educação demonstrasse o desenvolvimento contratual relativamente estável que apresentou até agora; já que desde seus estudos iniciais, este contrato atravessou duas administrações municipais, de colorações ideológicas distintas. Mas há outros motivos, tais como o próprio objeto do contrato e o corpo técnico envolvido na contratação.

Em conversas informais com servidores do Município e também com técnicos do Tribunal de Contas do Estado de MG, constatou-se que a educação, por ser política pública de grande apelo frente à população, exatamente por ser este tema tão sensível, também contribuiu decisivamente para esta situação de estabilidade contratual. Também, o corpo técnico, não só do município, nas secre- tarias interessadas pelos projetos, mas principalmente da PBH Ativos, constituída especificamente para auxiliar a elaboração de estudos destes contratos de longo prazo, e contando com profissionais de muita experiência neste tipo de projetos, traz não só segurança, mas qualidade nas discussões antes, e durante o desenrolar dos contratos.

Com isso, o terreno em Belo Horizonte sempre foi fértil para o acontecimento de contratos deste tipo. Quase que paralelamente à assinatura do contrato objeto de estudo deste trabalho, BH se viu envolta também com a assinatura do contrato de uma PPP – também social – de um hospital.

No procedimento administrativo da contratação da PPP das escolas, em variadas situações há a juntada de atas da reunião do Comitê Gestor das PPPs de BH – principalmente nas deliberações da realização dos aditivos –; e em vários deles percebe-se que há uma cultura destes contratos na cidade; onde além do contrato das escolas e do hospital, ainda havia estudos e deliberações para implementação de vários outros projetos. Como veremos abaixo, além dos dois contratos já citados, BH ainda conta com despesas relativas a PPPs de resíduos sólidos e de iluminação pública.

Com o panorama posto, e com a existência de mais de um contrato, começa a haver a preocupação com o limite do artigo 28 da Lei de PPP.

A tabela 9 também tem como base o Anexo 13 – Demonstrativo das Parcerias Público-Privadas – do Relatório Resumido de Execução Orçamentária de Belo Horizonte, além de informações da Secretaria Municipal de Educação. Os números das PPPs de BH, são os da tabela a 9 seguir:

Tabela 9 - Comprometimento da receita corrente líquida de Belo Horizonte com as despesas das PPPs contratadas do município Ano Contratos de PPPs TOTAL RCL % RCL Escolas Infantis Hospital Metropolitano/ Saúde Iluminação Pública Resíduos Sólidos(1) 2012 (2)1.439.212,80 - - 32.241.248,59 33.680.461,39 6.092.781.463,02 0,55 2013 (2)899.302,38 - - 33.238.400,61 34.137.702,99 6.617.300.702,30 0,52 2014 83.512.120,21 - - 34.266.392,38 117.778.512,59 7.402.546.140,20 1,59 2015 155.899.041,90 56.982.187,44 - 35.295.667,03 248.176.896,37 7.825.485.297,77 3,17 2016 64.411.000,00 56.432.000,00 - 32.783.000,00 153.626.000,00 8.749.961.000,00 1,76 2017 66.364.000,00 82.847.000,00 9.459.000,00 35.950.000,00 194.620.000,00 8.576.298.000,00 2,27 2018 67.304.000,00 102.000.000,00 9.459.000,00 45.347.000,00 224.110.000,00 8.576.298.000,00 2,61 2019 69.509.000,00 107.994.000,00 41.006.000,00 43.128.000,00 261.637.000,00 10.170.731.000,00 2,57 2020(3) 69.509.000,00 112.638.000,00 75.438.000,00 43.128.000,00 300.713.000,00 10.227.615.000,00 2,94 2021 69.509.000,00 117.481.000,00 91.749.000,00 43.128.000,00 321.867.000,00 10.284.817.000,00 3,13 2022 69.509.000,00 122.180.000,00 87.667.000,00 43.128.000,00 322.484.000,00 10.342.338.000,00 3,12 2023 69.509.000,00 127.068.000,00 68.307.000,00 43.128.000,00 308.012.000,00 10.400.182.000,00 2,96 2024 69.509.000,00 132.150.000,00 71.722.000,00 43.128.000,00 316.509.000,00 10.458.349.000,00 3,03 2025 69.509.000,00 137.436.000,00 75.308.000,00 43.128.000,00 325.381.000,00 10.516.841.000,00 3,09 2026 69.509.000,00 142.934.000,00 79.074.000,00 43.128.000,00 334.645.000,00 10.575.660.000,00 3,16 2027 69.509.000,00 148.651.000,00 83.028.000,00 43.128.000,00 344.316.000,00 10.634.808.000,00 3,24 2028 69.509.000,00 154.597.000,00 87.179.000,00 43.128.000,00 354.413.000,00 10.694.288.000,00 3,31

Fonte: Elaboração própria com base nas LOAs e LDOs de Belo Horizonte de 2003 a 2020.

(1) Em relação às despesas com a PPP dos Resíduos Sólidos – nos anos de 2012 e 2013 – as mesmas observações feitas na nota (1) da tabela 7 também se aplicam no caso deste contrato.

(2) Vide nota (1) da tabela 7.

(3) Do ano de 2020 em diante, as projeções são do Anexo 13 do RREO de Belo Horizonte – 6.º bimestre de 2019.

Como se vê do quadro acima, do que foi realizado, o ano de 2015 realmente foi um ano preocupante, com percentual de comprometimento da RCL de mais de 3%. Com efeito, a maior despesa foi justamente a da PPP da educação, com valores quase 3 vezes superiores as despesas da PPP do Hospital Metropolitano, a segunda maior em total de despesas.

Posteriormente a isso, e do que foi executado até o momento, as despesas das PPPs de BH concentraram-se num patamar entre 2 e 3% de comprometimento da Receita Corrente Líquida.

Como se vê, apesar de respeitado o percentual definido pelo artigo 28 da Lei de PPP, a situação não é de todo tranquila para a cidade de BH. Com efeito, as projeções futuras já indicam que o índice passará dos 3% com direção firme no sentido de alcançar rapidamente os 3,5%.

A situação se complica, na medida em que como já dito acima, o município tem histórico de relativo sucesso na realização destes contratos, o que lhe estimula

a realizar mais contratações, além da possibilidade de aumento de escopo dos próprios contratos já existentes,111 o que pode impactar significativamente os

números acima, aproximando-se perigosamente do limite estipulado pelo artigo 28 da Lei n.º 11.079/04.

É certo que não haverá proibição de contratação de novas PPPs ou aumento das já existentes caso este limite seja atingido – conforme já afirmamos acima –, mas não se concebe um município hoje no Brasil, por maior e mais bem administrado que seja, sem acesso a garantias ou transferências voluntárias da União.

111 Conforme item 2.3.7 acima, para autorizar a venda da SPE para empresa de fora do ramo da construção, o município de BH condicionou a autorização para venda ao compromisso da adquirente de que caso fossem autorizados mais aumentos quantitativos, a nova SPE deveria relacionar 3 possíveis empresas da área de construção a ser subcontratadas para as obras para aprovação do Poder Concedente.

4 BOAS PRÁTICAS E PONTOS A MELHORAR OBSERVADOS DO ESTUDO