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3 AS QUESTÕES ORÇAMENTÁRIAS E FISCAIS DAS PPPs

4.1 Das Boas Práticas

Do exame do procedimento administrativo da Parceria Público-Privada das escolas infantis de Belo Horizonte, de seu desenrolar contratual, bem como dos apontamentos e análises já feitos nesse trabalho, temos algumas boas práticas relacionadas às questões orçamentárias e fiscais que merecem ser destacadas.

Um ponto que merece destaque é que se percebe muito facilmente, tanto no exame do procedimento administrativo como em conversas informais com servidores da PBH ligados ao contrato, certa preocupação com os impactos orçamentários e fiscais que um contrato como esse pode gerar nas contas do ente. A simples lembrança de que as despesas ocorrerão por muito tempo nos instrumentos contábeis do ente federado ronda, com alguma insistência, os documentos do procedimento administrativo e os discursos de servidores e dirigentes.

É óbvio que esta preocupação vem da própria cogência ou enforcement – pra usar uma palavra da moda atualmente do Direito Administrativo – que a própria Lei das PPP estipula aos entes federados que realizarem contratos daquela tipologia. O desenho do artigo 10 da Lei das PPP, assim, pode ser considerado indutor de comportamentos a manterem o equilíbrio das contas públicas, salvo algumas poucas restrições, a que faremos menção logo à frente.

Portanto, é ponto a se considerar como boa prática, pelo município de Belo Horizonte, e ao menos no que concerne ao vislumbrado neste contrato de PPP das escolas infantis, a busca pelo atendimento das balizas orçamentárias e fiscais para instauração e desenvolvimento de contratos de PPPs, tal qual o mandamento legal; ressalvadas – como já dito – as exceções que pontuaremos abaixo. Ainda neste raciocínio, acreditamos que esta preocupação com os aspectos fiscais e orçamentários da contratação tenha sido fator determinante para o relativo sucesso alcançado por esta PPP.

Outro ponto que merece destaque quanto a boa prática neste contrato, trata- se da informação, logo antes da contratação, de planejamento a considerar os limites

da Receita Corrente Líquida (RCL) – tal qual explicitado no item 3.2.1.2 e tabela 1 acima – em relação às despesas com a contratação da PPP objeto deste estudo.

Com efeito, como já alinhado acima, a tabela 1 foi elaborada com vistas a se quantificar as despesas públicas previstas com o contrato em todo o seu decorrer; inclusive, o texto que o acompanhava era incisivo neste ponto, em expresso atendimento ao artigo 10, incisos II e IV da Lei de PPP. No entanto, ao declinar a projeção das despesas públicas, o então Secretário de Finanças Públicas já juntou também a previsão da RCL e o respectivo comprometimento com as despesas daquele contrato.

É fato que aquele documento – tal qual produzido – teve o condão de substituir o Anexo da LDO que deveria conter especificamente as projeções de despesas de todas as PPPs do ente federado e que já deveria existir à época, como já alinhado no item 3.1.2.1 acima. No entanto, não deixa de ser louvável a apresentação do comprometimento da RCL já anteriormente à instalação do projeto – mesmo que só contemplasse as despesas de um contrato, e não de todos – como um esforço de demonstrar capacidade do município de suportar os fluxos de despesas necessários para fazer frente ao contrato.

Não se desconhece as críticas ao artigo 28 da Lei de PPP, inclusive conforme incessantemente declinado no item 3.1.1.10 acima, com todas as ponderações sobre a sua – até agora, suposta – inconstitucionalidade, além de atecnia ou mesmo desnecessidade. No entanto, há que se reconhecer que o cálculo do compro- metimento além de objetivo, é facilmente mensurável e não deixa de ser um aferidor – ou um apontador – de saúde das finanças públicas (ou não), em relação às despesas das PPPs.

A RCL – da mesma forma já citada no item 3.4.1 acima – também não é isenta de críticas, mas é um número objetivo e que também aponta receitas que podem dar lastro a contratações da monta de um contrato de longo prazo, tal qual o estudado neste trabalho.

Assim, a par das críticas que ambos os números possam receber, e também da variabilidade que eles tenham a depender do aumento ou diminuição das receitas, o fato é que preliminarmente à contratação já dar sinais que há estudos – por estes

instrumentos que seja – de viabilidade quanto à pujança destes números, denota por parte da Administração uma preocupação muito salutar com as finanças públicas; razão pela qual tem-se esta ação como boa prática do município de Belo Horizonte nesta contratação específica.

Outra boa prática observada foi em relação aos instrumentos orçamentários do município. Conforme os itens 3.2.2.1 a 3.2.2.3 acima, a PPP da educação desde sua origem sempre teve a previsão regrada e estabelecida nos instrumentos orçamentários do Executivo. Em que pese seja uma obrigação legal a presença de tais valores para seus dispêndios, não deixa de ser uma boa prática às menções que tais instrumentos fazem às impossibilidades de limitações de empenho das despesas destes contratos, ou ainda a retirada de dotação orçamentária das despesas das PPPs para alocação em outra rubrica, por conta do artigo 17 da LRF.

Este tipo de preocupação da Administração em sempre deixar os valores reservados nos instrumentos orçamentários para tais contratos, em que pese não os transforme em garantia absoluta de que estes dispêndios aconteçam nos contratos aos quais aludem, não deixa de ser uma maneira de tranquilizar os parceiros privados que entabulam estas avenças com o município de que, pelo menos os instrumentos orçamentários, tem preocupação com a destinação de tais recursos.