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UM OLHAR SOBRE OS OMBROS: a ação dos intelectuais da educação na conformação das reformas educacionais

QUADRO II: MATRICULA DA ESCOLA NORMAL DE SEGUNDO GRAO

3.3. A Reforma de Olimpio Campos e a Escola Normal republicana

Não foi por acaso que foram emitidos um número considerável de regulamentos durante as primeiras décadas de existência do curso normal. Além dos projetos de lei que determinavam a criação e as reformulações da estrutura desse curso, foi possível perceber que sua implantação não foi um processo simples. Enquanto que em outros estados brasileiros as Escolas Normais estavam se consolidando, em Sergipe ele estava ainda em vias de estruturação. A constante dissolução do curso enfraquecia-o e gerava a idéia de que talvez não fosse necessário investir nessa modalidade de ensino.

Esse momento político, marcado pelo fortalecimento das oligarquias, e conseqüentemente, pela hegemonia do grupo Olimpista, foi favorável a sua consolidação. A administração de Olimpio Campos exerceu grande influência na configuração do campo educacional do inicio do século XX, não só por priorizar reformas educacionais que abrangesse os ideais presentes na Pedagogia Moderna mas por enfatizar uma formação mais prática para a normalista, por instituir o método intuitivo através da disciplina Exercícios Intuitivos e pela aquisição de materiais escolares que pudessem contribuir para uma melhor compreensão das matérias ensinadas, essas mudanças constituíram a tônica dos seus discursos sobre educação.

Ao assumir a presidência do Estado, Monsenhor Olimpio Campos, desferiu uma nova proposta de reforma para a qual a grande preocupação era restaurar a Escola Normal que havia sido extinta no governo anterior, de Martinho Garcez. Essa reforma de 1900 significou não só a restauração, mas a renovação da estrutura e proposta do curso normal. Modificou currículo, programas, os livros adotados e priorizou uma formação não só teórica, mas também prática quando instituiu horários fixos para as atividades práticas das normalistas, apesar de continuar com um currículo cuja maioria

128 das disciplinas tinham um caráter de conhecimento geral. Mas não só isso, valorizou o diploma de normalista quando estabeleceu que só as formadas poderiam lecionar no magistério público primário.

Porém, essa reforma mantinha a mesma estrutura do curso que continuava a funcionar durante o período de três anos, com as mesmas normas para o processo de admissão, de exames, normas para atuação, direitos e deveres dos professores e as mesmas normas de rigor disciplinar para os estudantes. As mudanças introduzidas por essa reforma foi a inclusão dos exercícios intuitivos, de disciplinas como Metodologia e Higiene Doméstica demonstrando que essa reforma estava em sintonia com os ideais da Pedagogia Moderna proferidos no campo educacional sergipano desde meados da segunda metade do século XIX.

O currículo aprovado por essa reforma estava composto de Gramática Nacional e Caligrafia, Matemáticas elementares, Geografia Geral, História do Brasil e de Sergipe, Instrução Moral e Cívica, Pedagogia e Metodologia, Elementos de Ciências Físicas e Naturais, Noções de Agronomia e de Higiene Doméstica ministrada através do método intuitivo e experimental. Além das aulas práticas, as alunas teriam aulas com uma mestra em Economia doméstica para aulas de corte e manufatura de vestuário, prendas e trabalhos domésticos. Além dessas disciplinas, as normalistas ainda tinham aulas sobre a Constituição Federal e Estadual e o Código Penal, no entanto elas deixam de existir em 1903, no governo de Josino Meneses, por pedido da própria instituição que tinha dificuldades para encontrar professores que ministrassem esses conteúdos.

A prática pedagógica das normalistas foi uma das preocupações dessa reforma, para isso foram criadas duas aulas anexas supervisionadas por professores públicos primários. Renovou o material didático, organizou um projeto para a instalação de uma biblioteca, do gabinete de História Natural, comprou uma coleção de pesos e medidas para as aulas de Aritmética, um esqueleto humano, mapas e globos terrestres.

Nos moldes da organização educacional dispensada nessa reforma educacional, é possível visualizar a proximidade que as normas tinham dos ideais da Pedagogia Moderna, além das disciplinas, dos programas e conteúdos revisados, a reforma institui como oficial o método intuitivo. Em vários momentos o texto fala sobre a necessidade de um ensino mais experimental que decorativo, fala da necessidade de aulas práticas e valoriza o trabalho escolar.

129 Mesmo não tendo uma comissão para analisar as reformas educacionais anteriores, as dissidências políticas e as organizações intelectuais discutiam em torno das mazelas, dificuldades e, principalmente, da qualidade do ensino público. No entanto o que permeava as discussões era na realidade a necessidade de reorganizar o estado e consolidar os ideais republicanos. Nessa via, a educação permaneceu como um campo fértil para as discussões, não era diferente das preocupações nacionais para as quais recaiam a idéia de que a educação era a porta de entrada do progresso, como muitos autores apontam. Entretanto, é possível visualizar que nesse período as reformas educacionais resguardavam o direito de tornar o ensino laico, várias foram as reformas nacionais e estaduais que nesse momento garantiram a determinação da aplicação do princípio da laicidade, da gratuidade e da obrigatoriedade.

Em Sergipe o movimento foi inverso, defendia-se o ensino público e de qualidade, assim como acreditavam na obrigatoriedade do ensino primário, mas os próprios intelectuais da educação desse período argumentavam que para tornar o ensino obrigatório seria necessário antes que o Estado fosse capaz de matricular todos aqueles que estivessem em idade própria ou mesmo obrigados por lei. Como o número de escolas isoladas, primárias elementares ou superiores era ainda pequeno, não havia condições de torná-lo obrigatório.

Em 1901, as normas para a matrícula na instituição continuavam praticamente as mesmas da época da fundação em 1870. Exigia-se a habilitação nas matérias do curso primário, atestado de conduta moral e civil, ter sido vacinado num período de no mínimo quatro anos, não sofrer moléstias contagiosas, ter uma idade mínina de 16 anos para os estudantes do sexo masculino e 15 anos para as candidatas do sexo feminino comprovado ou através de certidão ou justificação judicial e ter o consentimento do pai, tutor ou protetor, caso o candidato seja menor de idade. No entanto, para dar inicio aos procedimentos da matricula, era necessário que os candidatos antes passassem pela prova de admissão. Dessa forma, os interessados com os referidos documentos pediam deferimento da sua inscrição para as provas de admissão.

Conforme a Ata dos Exames de Admissão de 1901 foi formada uma comissão com os professores da instituição para avaliar os candidatos. Para esse ano foram convocados o professor Severiano Cardoso, Baltazar Góes e Manoel Francisco de Oliveira, sob a presidência da banca Manoel dos Passos de Oliveira Teles, diretor da Escola Normal.

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Fig.: 06. Livro de Atas dos Exames de Admissão da Escola Normal. Fonte: Arquivo do IERB. Aracaju. 1901. Autoria: Cristina Barroso.

No ano de 1901, a comissão deu o parecer de que todas as alunas matriculadas nesse ano estavam habilitadas a freqüentar o curso normal. As candidatas inscritas foram:

QUADRO III: AS CANDIDATAS AO CURSO NORMAL EM 1901