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UM OLHAR SOBRE OS OMBROS: a ação dos intelectuais da educação na conformação das reformas educacionais

2.1. Apontamentos sobre os intelectuais da educação sergipanos

Para compreender a ação dos intelectuais no campo educacional sergipano é preciso avaliar não só sua formação, mas sua produção cultural e educacional, seu envolvimento com iniciativas reformadoras e, principalmente, suas relações com a classe dirigente e dos cargos por eles ocupados.

66 Muitas vezes articulados com as organizações partidárias, instituições culturais e mesmo com o serviço público, esses intelectuais da educação escreveram um caminho peculiar na história da educação sergipana. A disseminação dos ideais reformistas através das conferências, a produção de livros e ensaios, os debates nos jornais, as ações públicas determinadas por órgão administrativos da instrução, a fiscalização e as orientações das práticas escolares, a implementação de programas, currículo e regulamentos foram os meios pelos quais esses intelectuais da educação interferiram na formatação do campo educacional. Assim, entende-se nesse estudo como intelectuais da educação não só aqueles que pensam ou elaboram situações ou soluções para os problemas educacionais, mas que através delas interferiram na conformação do próprio campo.

A pretensão aqui não é definir o que seria intelectual da educação, mas estabelecer critérios que poderiam caracterizá-los a partir das suas ações e do nível de influência que exerciam sobre o campo educacional. Nesse rol foi possível identificar um número apreciável de profissionais liberais, funcionários públicos e particulares, efetivos da carreira docente e administradores públicos. Funções que traduziam, em ampla medida, as possibilidades de acesso, a influência e o poder de interferência no campo. Entre os intelectuais da educação que atuaram no campo educacional sergipano nas primeiras décadas republicanas estavam presidentes de estado, diretores da instrução pública, inspetores do ensino, delegados do ensino, professores, médicos, advogados e farmacêuticos. Não era incomum encontrar nesse período a presença dos profissionais liberais ocupando cargos de gestão das atividades públicas, principalmente no campo educacional no qual ainda não havia um número significativo de profissionais formados na área.

Não resta dúvidas que parte desses agentes que atuavam no campo educacional e que contribuíram para a difusão dos princípios da Pedagogia Moderna tinham aproximações com a classe dirigente devido às ligações materiais e sociais de suas famílias e/ou por laços de empatia. Muitos deles, ligados ou não aos cargos administrativos da instrução pública, galgaram certas posições no campo por pertencerem a famílias de grande representação no campo político, como o caso de Rodrigues da Costa Doria, Gracho Cardoso, Carvalho Neto e Manoel Dantas. Conforme Miceli(1977) muitos letrados utilizavam-se do capital das relações sociais como um dos

67 únicos meios de galgar ingressos em carreiras políticas, ou mesmo para conquistar cargos públicos de relevância e de prestigio social.

O recrutamento desses intelectuais coincidiu justamente com a expansão de mercado e de postos disponíveis principalmente no setor público. Dentre eles é possível citar Adolpho Ávila Lima, Ítala da Silva, Clodomir Silva e Manoel Franco Freire que contribuíram para institucionalizar as atividades culturais e educacionais sergipanas. Outros cuja influência era fruto dos cargos que ocupava como Helvécio de Andrade, Carvalho Neto e Manoel Franco Freire que atuaram como professores, inspetores e diretores da instrução pública. Além deles é possível identificar Abdias Bezerra, Augusto da Rocha Lima, Penélope Magalhães, Baltazar Goes e Edgar Coelho que atuaram ou como professores e/ou como inspetores. Dente eles, destacam-se a atuação de Abdias Bezerra, Franco Freire, Penélope Magalhães e José Augusto da Rocha Lima que atuaram também como técnicos que viajaram para outros estados com a intenção de observar os sistemas educativos aplicados nesses locais e implantá-los em reformas sergipanas.

As ações quase sempre eram definidas pela posição do sujeito no campo, desse modo a função que estavam ocupando contribuía para aumentar seu poder de interferência. Essas interferências, por conseguinte, ajudava a entender as ações, mas não eram determinantes delas, isto porque muitas vezes a atuação do inspetor ou mesmo do professor, por exemplo, pode ter sido mais incisiva do que as ações de um presidente de estado ou diretor da instrução pública ao emitir leis, ofícios, pareceres. Isto não quer dizer que os instrumentos legais oriundos desse poder não lhes concedessem capacidade de intervenção, mas o que se esta afirmando é que a posição no campo ajuda a compreender o nível de interferência, mas não é determinante. Em alguns casos, a atuação de um professor poderia ser mais incisiva nas mudanças na configuração geral da educação do que a própria lei.

A atuação desses intelectuais da educação destacava a reavaliação das funções escolares e dos planos de reformas direcionados a construir caminhos para restaurar a civilidade, para recuperar o atraso brasileiro, para instaurar a ordem e o progresso. Acreditavam que esse atraso era, sobretudo, conseqüência no número de analfabetos. A proposta então discutida circulava em torno da necessidade de reformar a escola tornando-a acessível, ou seja, defendiam um sistema educacional uniforme, público e

68 gratuito com a finalidade democratizar o ensino. Entendiam que os problemas educacionais poderiam ser minimizados com reformas que empreendessem nexos entre as necessidades educacionais as necessidades determinadas pela complexidade social decorrente do movimento de industrialização pelo qual passava o País.

Para alguns dos intelectuais da educação desse período a causa da ausência de instrução era atribuída a falta de políticas publicas que implementasse um sistema eficiente que abrangesse todas as modalidades do ensino, que fosse público e obrigatório. Mas não só isso, achavam que as mazelas que atingiam a nação era conseqüência do descaso e que a educação era primordial para o desenvolvimento da nação. Como apontou Nagle(1974), a educação era tida por muitos como o único e grave problema da nacionalidade e eram essas idéias que permeavam os textos e as preocupações da ex normalista Ítala Silva de Oliveira.

Formada pelo curso normal do Atheneu Sergipense, foi uma mulher que se destacou no cenário aracajuano das primeiras décadas do século XX, não só pelas interferências no campo educacional através das publicações de artigos sobre educação, sobre os problemas educacionais, sobre a atitude e idéias de alguns intelectuais da educação na imprensa sergipana, mas por ter participado da fundação da Liga Sergipense Contra o Analfabetismo. Principalmente por causa da sua participação na defesa da disseminação da educação pública, obrigatória a todas as classes sociais. Pois corroborava com a idéia de que o analfabetismo era a chaga que impedia a propagação do progresso. Difundia suas idéias contra o analfabetismo numa série de artigos chamadas “Contra o analfatetismo”, publicadas no jornal Diário da Manhã em 1916.

Na luta em defesa contra o analfabetismo afirmava que sempre estava pronta para dignificar as boas ações e as nobres idéias pedagógicas. Influenciada pela efervescência das idéias reformistas provenientes de São Paulo, Ítala Silva e juntamente com Ávila Lima, Deodato Maia, Evangelino de Faro, Florentino Menezes, José da Silva Ribeiro, Possidônio Pinheiro da Rocha, Edgar Coelho e José Maria dos Santos Melo empenharam-se em difundir a instrução primária através de campanhas de alfabetização e da multiplicação de escolas, fundando a Liga Sergipense conta o Analfabetismo (FREITAS,2003). A Liga Sergipana Contra o Analfabetismo era fruto da atuação de diferentes forças da sociedade civil e do Estado que buscavam intervir nos rumos do

69 País embasados nas propostas educacionais ajustadas pelo ideal de regenerar a sociedade por meio da alfabetização(SOUZA,2004:62).

Em textos publicados nos jornais sergipanos, Ítala Silva demonstrava também sua inclinação ao feminismo. Foi uma defensora da criação de uma escola noturna no Centro Operário Sergipano para que a mulher operária tivesse acesso a instrução. Afirmava que “Não havia em nosso meio uma só escola nocturna feminina, e eu desejava que Sergipe imitasse os grandes Estados da Federação, no tocante a este assumpto. Dirigi pois meu apello á Diretoria do Centro Operário”(OLIVEIRA,1916:01). A educação feminina nessa época ainda era restrita às instituições primárias, às escolas confessionais e ao ensino normal, dessa forma lutou para que a mulher conquistasse outras esferas que até então eram restritas ao universo masculino.

Desde meados do século XIX, os discursos dos médicos enfatizavam o papel maternal da mulher. Sob o signo da ciência, suas falas ganhavam legitimidade e construíam a idéia de que a mulher deveria aceitar seus dotes inatos, sua vocação natural para a maternidade, bem como para o magistério. Ao discutir sobre o papel social da mulher Rago afirmava que “Tudo que ela tinha que fazer era compreender a importância de sua missão de mãe, aceitar seu campo profissional: as tarefas domésticas”(RAGO;1985:75). Talvez o curso noturno não fosse uma opção na qual a sociedade aracajuana considerasse viável naquele momento. Isto porque, como afirmou Borges, “a desonra feminina não era um assunto individual, mas coletivo: recaía sobre toda a família, repercutindo negativamente em seu meio social”. (BORGES;1995:39).

As preocupações de Itala Silva de Oliveira com a educação feminina eram públicas, afirmava que as ações públicas deveriam se guiar pelo bem social comum a todos e não vinculá-las a determinações de uma moral que não condiz mais com a realidade econômica exigida pelo ideário republicano. Afirmava ainda que “patriota era aquele que prova com acções o amor que tem ao seu paiz” na organização de uma instrução pública igualitária. Isto porque acreditava que a educação proporcionaria a mulher operária uma melhora significativa das suas condições sociais. Defendia que: “educar a mulher quer dizer preparar as gerações futuras para o trabalho e para o engrandecimento da pátria” e continuava afirmando que “...companheira do homem e sua auxiliar na educação da prole, (...) comprehendendo-a, forçosamente, transmittirá

70 aos filhos as noções desta virtude”.(OLIVEIRA;1916:01). Em relação a produção dessa professora, Freitas afirmou que:

No período de 1914 a 1917, além de publicar artigos no jornal “Diário da Manhã”, Ítala Silva colaborou em Sergipe nos seguintes periódicos: “O Estado de Sergipe” e “O Democrata”. Fora de Sergipe, no “O País” do Rio de Janeiro, e na Revista Feminina, editada em São Paulo. No final da década de 20, contribuiu Almanack de Sergipe que tinha entre seus fundadores seu irmão Jéferson Silva de Oliveira.(...) Também se utilizou da imprensa para denunciar injustiças e as negligencias das autoridades educacionais do Estado (FREITAS,2003:139).

Freitas se referiu nesta citação ao diretor da Instrução pública, Helvécio de Andrade. As apreciações de Ítala Silva enfocaram com mais destaque as atitudes deste diretor frente à administração da Instrução Publica e da Escola Normal. Mas não só isso, discutia também em relação às idéias que esse diretor difundia. Numa série de doze artigos intitulados “Nos domínios da Instrução Pública”, Ítala Silva de Oliveira fez várias críticas às atitudes de Helvécio de Andrade ao ponto de pedir publicamente que ele fosse destituído do cargo, em 1916.

Observando a forma como se comunicavam percebe-se que cada sujeito envolvido com a educação procuravam grupos engajando-se na tentativa de conferir suas idéias. Como ex-normalista e ex-aluna do professor Ávila Lima, Itala Oliveira projetava suas colocações apoiadas por outros intelectuais. Direcionava várias críticas a Helvécio de Andrade como diretor da instrução pública e professor da Escola Normal. Dessa forma, Ítala Silva conseguiu uma posição segura dentro do grupo que era a favor de Ávila Lima, ex professor de Pedagogia da Escola Normal, e teve suas ideias legitimadas por esse grupo, o que lhe deu o reconhecimento do seu nome adquirindo um valor diferencial. Para Bourdieu, isso seria compreendido como acúmulo de capital, como revelou: “acumular capital é fazer um ‘nome’, um nome próprio, um nome conhecido e reconhecido, marca que distingue imediatamente seu portador, arrancando- o como forma visível do fundo indiferenciado...”. (BOURDIEU,1998:132).

As relações entre os sujeitos, sejam estas de atração ou de rivalidade, são conduzidas pelas formas de sociabilidade definidas dentro do próprio campo. Assim, os

71 debates hostis efetuados pelos intelectuais da educação evidenciavam a tensão destes que partilhavam interesses comuns ou dos que discordavam. Essas querelas proporcionavam uma visão de como era a vivencia do campo educacional de uma época.

O posicionamento de Ávila Lima em relação a Helvécio de Andrade formava-se principalmente por volta do inicio de uma publicação de Helvécio direcionada as alunas da Escola Normal chamada Curso de Pedagogia. Era um livro didático sobre a Pedagogia, Pedologia, Psicologia Experimental e Noções de Higiene Escolar publicada em 1913. Essas críticas referiam-se ao modo com o qual Helvécio de Andrade apresentava suas ideias sobre a Psicologia, apresentando-a como uma ciência experimental. Lima afirmava que: “por melhores que sejam as intenções do seu auctor, não prehenche absolutamente o fim que foi collimado, uma vez que foi escrito sob o ponto de vista abstrato e estéril, confuso e anarchico....” (LIMA,1914:02).

Formado em Direito na Academia de Recife em 1910, o professor Avila Lima teve uma atuação importante no campo educacional sergipano. Além de professor de Pedagogia do curso normal do Atheneu Sergipense, foi inspetor geral de ensino, foi membro do Conselho de Instrução e diretor da Liga Sergipense contra o Analfabetismo. Em relação a esta últimadizia que sua aspiração era transformar a sociedade sergipana em um modelo de civilidade. Ressaltava que “apaixonado até as raízes d’alma pela santa causa da civilisação nacional, (...) sinto-me diveras desvanecido ao assegurar-vos aqui que a fundação de uma ‘Liga contra o Analfabetismo Nacional’ trará para as nossas massas humanas uma somma bem considerável de bem estar e segurança (LIMA,1919:272).

Como professor e inspetor da instrução pública foi incisivo em suas colocações e participou da discussão em torno da modernização do ensino. Publicou diversos artigos demonstrando os problemas que identificou como professor e, principalmente, como inspetor. Através de conferências que proferia demarcou sua apropriação sobre o movimento de modernização pedagógica. Dentre os artigos e conferências publicadas podem ser citados: Conferência cívica realizada a 13 de maio de 1913 na cidade da Estância publicado no jornal “A Razão”, Nos domínios da ciência moderna – No mesmo jornal em 1913; Nos domínios da filosofia pedagógica, publicado no “O Estado de Sergipe” em 21 de setembro de 1913; Conferência cívica lida no dia 21 de abril de 1914 no Colégio “Tobias Barreto”, como Inspetor geral do ensino. Relatório Geral

72 apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Helvécio de Andrade, d.d. Diretor interino da Instrução Pública do Estado; Em relação as querelas que travou com Helvécio de Andrade publicou Críticas e ensaios de psicologia pedagógica numa série de 12 artigos no jornal Diário da Manhã em 1914, Réplicas e tréplicas numa série de 18 artigos no mesmo jornal em 1914. Além desses artigos, é possível encontrar seus posicionamento contra esse diretor da instrução pública no texto Em defesa da verdade e da honra publicado no Jornal O Estado de Sergipe, Carta pedagógica. Fragmentos de uma homenagem, em 1915, e Recapitulações Pedagógicas. Em 1916 pronunciou as conferencias Liga contra o analfabetismo no Brasil e Esboço histórico da Instrução pública no Brasil.

As produções fruto das atividades desenvolvidas por esses intelectuais da educação refletem a forma como construíam o conhecimento sobre a modernização pedagógica e como o difundiam. Além do mais, foi através das reformas educacionais que buscavam institucionalizar a atividade intelectual e ao mesmo tempo garantir a legitimidade das práticas escolares tidas como aptas para preparar o homem republicano. Assim, tanto instituições culturais como educacionais eram utilizadas por esses intelectuais da educação como palco para a propagação dos ideais republicanos para a educação, dos ideais da Pedagogia Moderna.

O Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, a Biblioteca Pública Epiphanio Dória, a Escola Normal, o Atheneu Sergipense, os gabinetes de leitura, a Hora Literária, a Academia Sergipana de Letras eram instituições que serviam como instâncias de consagração cultural e reconhecimento dentro do campo educacional e cultural. Como instituições leigas, também serviam para direcionar e orientar as atividades intelectuais. Nesse período, Sergipe apresentou um crescimento visível da produção literária com a instalação de instituições dedicadas à difusão do conhecimento.

Era através da Hora Literária fundada em 1911, mais tarde se transformou na Academia Sergipana de Letras, do Centro Literário Educativo(1914) e do Centro Pedagógico Sergipano de 1918 que esses homens de saber discutiam as principais diretrizes para as reformas educacionais. O Centro Literário Educativo, fundado com o apoio de Helvécio de Andrade, tinha a pretensão de servir para o desenvolvimento intelectual do Estado. Suas intenções foram difundidas numa conferência dirigida as alunas da Escola Normal, em 1914, intitulada “o Beijo” e publicada no jornal Correio de Aracaju. Já o Centro Pedagógico Sergipano foi destinado a congregar em seu seio as atividades intelectuais que se aplicavam ao ensino público por uma ação conjunta de

73 médicos e professores para impulsionar e sustentar o movimento de modernização pedagógica.

Helvécio de Andrade sob o pseudônimo de Evandro Alves afirmava que: “Centro Pedagógico Sergipano logo que inicie as suas funções, deve ser considerado de utilidade pública”(ALVES,1918:01). Florentino Menezes teceu um breve artigo publicado no Jornal do Povo, em agosto de 1918, expondo as práticas dessa instituição e os objetivos da mesma. No entanto, ao analisar o Livro de Ata encontrado no Arquivo do Estado de Sergipe, percebeu-se que essa instituição teve uma vida muito efêmera, apesar da importância de sua proposta para a formação de uma intelectualidade sergipana a par das discussões pedagógicas.

Nesses espaços os intelectuais da educação promoviam conferências, palestras, aulas, debates, produziam artigos sobre educação, sobre as atividades escolares, sobre as novas propostas metodológicas. Funcionavam não só como difusores de cultura, mas também como agencias pedagógicas que engendravam os projetos das reformas educacionais. Nesses locais o trânsito da intelectualidade sergipana era respaldado pela congregação e representação destes no campo. Além disso, nesses ambientes participavam ativamente do processo de modernização como também ajudavam na construção da identidade sergipana.

Um aspecto marcante do campo intelectual sergipano nas primeiras décadas do século XX eram os pronunciamentos, os discursos e as publicações. Eles assinalavam a representatividade dos intelectuais junto à sociedade. Chartier, ao explicitar a noção de representação, disse que ela permite articular três registros, a saber:

As representações coletivas que incorporam nos indivíduos as divisões do mundo social e organizam os esquemas de pensamento a partir dos quais eles classificam, julgam e agem: por outro lado, as formas de exibição e de estilização da identidade que pretendem ser reconhecidas; enfim, a delegação a representantes (indivíduos particulares, instituições, instancias abstratas) da coerência e da estabilidade da identidade assim afirmada.(CHARTIER,2002:53).

Muitos desses intelectuais da educação tinham projeção nacional, como era o caso de Rodrigues Dória, Helvécio de Andrade, Augusto da Rocha Lima que assumiam cargos de prestigio por conseqüência das posições que ocupavam no campo educacional

74 e intelectual sergipano. Enquanto que Rodrigues Dória foi deputado federal e professor de Medicina e Direito na Bahia, Helvécio de Andrade foi inspetor em Santos, trabalhou como médico na Santa Casa de Misericórdia, participou das reformas paulistas juntamente com Caetano de Campos e atuou por muitos anos como diretor da instrução pública em Sergipe.

Nessa mesma direção, José Augusto da Rocha Lima foi professor da Escola Normal, inspetor e técnico para assuntos educacionais. Foi convidado a visitar o ensino paulista com o objetivo de avaliar as transformações pedagógicas que estavam acontecendo nesse local para que fizesse um diagnóstico das inovações do ensino que poderiam ser adaptadas a Sergipe. Essa viagem pedagógica e a publicação do relatório das suas impressões de viagem corroboraram não só para aumentar o nível de influencia dele no campo educacional, mas serviu também para determinar sua posição de poder.

Recebido por Lourenço Filho, Rocha Lima conheceu o funcionamento das modalidades de ensino. Suas impressões falam das ações promissoras pelas quais o professorado e o sistema tem passado na transição dos modelos e formas de ensino. Dispõe sobre a intensa propaganda que estava sendo realizada por meio das