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Ensino e Reforma: as propostas de mudanças para o curso normal 1911-

UM OLHAR SOBRE OS OMBROS: a ação dos intelectuais da educação na conformação das reformas educacionais

QUADRO IV: BANCA DE EXAMES DA ESCOLA NORMAL EM

4.3. Ensino e Reforma: as propostas de mudanças para o curso normal 1911-

Os compromissos assegurados pela reforma de 1911 evidenciaram-se nos resultados das reformas para o curso normal. Não só por causa da construção de um prédio próprio, mas pela definição de programas curriculares, dos métodos de ensino, redistribuição de disciplinas e revisão dos conteúdos ensinados. Além disso, a reforma de 1911 possibilitou a abertura para as disciplinas Sociologia, Psicologia, Pedologia e da Pedagogia que influenciaram na formação da normalista. No entanto existiu outro fator foi preponderante para que ocorressem essas mudanças, as querelas e disputas entre os intelectuais da educação.

Os acontecimentos posteriores a reforma de 1911 e a conseqüência dos acertos complementares sugeridos pela reforma de 1912 acompanharam um cenário de conflitos entre diretores da instrução pública, inspetores, professores e normalistas. Conflitos que marcaram o processo de implantação da Pedagogia Moderna no campo educacional sergipano e que contribuíram para a compreensão das mudanças implementadas na Escola Normal.

Esses conflitos podem ser visualizados na imprensa sergipana durante o período compreendido entre os anos de 1913 a meados de 1927. Apesar do inicio dos debates terem sido gerados por causa da publicação de um livro de Pedagogia produzido por Helvécio de Andrade em 1913, o fulcro das discussões estava nas suas diferentes

158 concepções pedagógicas. A maioria dessas discussões pode ser visualizada nos artigos publicados pelo Sergipe Jornal, Jornal O Estado de Sergipe, Jornal Correio de Aracaju e Diário da Manhã.

Os debates entre os professores Ávila Lima e Helvécio de Andrade pela concepção das noções científicas das disciplinas Psicologia e da Pedagogia, motivou-os a colocações eivadas de ofensas pessoais. Entender essas alocuções como dispositivo de consagração permite entender a razão da insistência em discutir, publicamente, um tema comum aos professores.

Nos artigos intitulados “Criticas e Ensaios de Psicologia Pedagógica”, “ Criticas e Ensaio de Psicologia pedagógica: refutação”, “Psicologia Pedagógica: réplicas e tréplicas” e “Nos domínios da Instrução pública” discutiam sobre Pedagogia, sobre Metodologia, sobre as práticas das normalistas, sobre os programas curriculares da Escola Normal e sobre as bases da Pedagogia Moderna.

Desse conflito foi possível evidenciar como as idéias sobre o método intuitivo e o método de leitura analítica, a prática das normalistas e o estudo da Psicologia, introduzidos pela reforma de 1911, eram concebidas por esses intelectuais. Foi possível perceber nesses textos os diferentes entendimentos sobre a importância dos métodos, bem como a forma como eram disseminados. Mas não só isso, esses textos apontam tanto as dificuldades de implementar as metodologias de ensino, como demonstra a resistência não só dos professores primários, mas também dos próprios professores da Escola Normal em adotar esses métodos de ensino.

Essas acusações demonstram que possivelmente as reformas pensadas para a Escola Normal não eram aplicadas. Essas críticas ressaltavam que as práticas escolares da referida escola não estavam em consonância ao que Helvécio de Andrade e Carlos Silveira pregavam em seus discursos. Diz Itala Silva, ex-normalista, que: “a liberdade de escrever não anda à mercê de qualquer na sociedade em que vivemos não é o direito da Instrução Pública censor ou arbitro; aqui não é facultado fazer o que é feito lá pela Escola Normal, onde o feudalismo ainda empéra”.(OLIVEIRA,1916:02). As rivalidades e os debates demonstravam o grau de tensão das redes de intelectuais que compartilhavam interesses ou estabeleciam concorrências entre si. 3301-9123

As acusações sugerem ainda que mesmo depois da reforma de 1912, ratificando vários aspectos da reforma anterior e incluindo novas determinações para o sistema

159 educacional sergipano persistiam muitos problemas de estrutura das aulas primárias e normais, em relação a aquisição de materiais escolares, de assiduidade dos professores, da freqüência dos alunos matriculados e na formação da normalista.

Além disso, nas argumentações que foram apresentadas nos textos demonstram as resistências de parte da sociedade em aceitar certas mudanças proporcionadas por essas reformas, principalmente em relação aos hinos escolares e a prática de educação física. Sob esse aspecto discursava Nemo1 nos artigos que publicou no Diário da Manhã e no Correio de Aracaju. Além das acusações contra o diretor da instrução pública, falava do descaso das políticas públicas em relação a educação primária, a falta de condições higiênicas e de materiais para a realização das aulas principalmente nas escolas isoladas e nas escolas reunidas.

As mudanças pensadas pelas reformas de 1911 e 1912 na Escola Normal estavam muito aquém do que era proposto nas críticas desses intelectuais da educação. Apesar de não descurar dos interesses administrativos, a inclusão dos preceitos da Pedagogia Moderna nessa instituição aconteceu de forma lenta, gradual. Mesmo que os discursos já estivessem prontos, mesmo que houvesse uma mobilização de divulgação desses preceitos através dos artigos de jornais, sua apropriação pelos professores primários e normais não foi imediata. Isso significa dizer que nem sempre as determinações legais das reformas educacionais eram aceitas ou prontamente executadas.

As reformas estudadas nesse capítulo estavam articuladas aos pressupostos da Pedagogia Moderna e o discurso que professavam estava arraigado a expectativa de reconstrução moral da sociedade com base na eficiência, como uma forma legitima de obter planejamento e inferir na formação da sociedade. O ideal de regeneração por meio da educação figurava nos discursos de Rodrigues Dória, Helvécio de Andrade e Carlos Silveira. Nos artigos que publicavam no Sergipe Jornal expunham claramente o papel da escola no reordenamento da sociedade e se apresentavam como sujeitos propagadores das inovações didáticas.

Na realidade o interesse nesse momento é averiguar até que ponto a reforma de 1911 e 1912 professaram esse ideal, identificar quais mudanças elas provocaram na conformação do campo educacional sergipano, mais precisamente na estrutura da

160 Escola Normal. Estudar essas reformas significa compreender como o discurso da modernização pedagógica foi apropriado pelas políticas públicas, mais ainda possibilita verificar como os discursos professados por esses sujeitos fabricaram “verdades” sobre a educação.

Mesmo com enfoques voltado para a idéia da modernização do ensino, essas reformas significaram mais que simples propostas para adequar a Escola Normal aos moldes da Pedagogia Moderna, significaram estratégias pedagógicas e administrativas para mudar a instituição, para difundir o discurso modernizador adotado por essa gestão e para consolidar esse grupo de reformadores no poder ou para legitimá-los como porta vozes da modernidade. Como salientou Faria Filho(2010:14) ao dissertar sobre a retórica das reformas afirmou que, na realidade, ela precisa ser analisada levando em consideração seu discurso, ou seja, identificando não só o conteúdo da mensagem, mas identificar que é o emissor, com quem ele dialoga, quem é seu interlocutor, qual a intenção da mensagem, de onde ela emana e para quem ela é produzida.

Ao analisar a experiência de Caetano de Campos, em 1890, durante o governo de Prudente de Morais, ao elaborar uma reforma do campo educacional inserindo dispositivos que estivessem em sintonia com os anseios republicanos de modernização e uniformização do ensino, esse reformador determinou que principal objetivo dessa reforma seria criar uma escola que servisse de modelo às instituições de ensino dos outros Estados. Assim, a Escola Normal e a Escola Modelo constituíram o núcleo dessa reforma.

Pensou que para regenerar a sociedade pela educação era vigente discutir que tipo de educação era necessário para tal empreendimento. Melhor, para o sucesso dessa transformação era imprescindível reavaliar as práticas escolares que estavam sendo aplicadas até então. Repensar o modo como as futuras professoras eram formadas e as medidas que deveriam ser tomadas para qualificar esse ensino foi prioridade na reforma de Caetano de Campos. Isto porque, segundo Carlos Monarcha:

Tudo falta: regulamentos, uniformização dos métodos didáticos, corpo de inspeção digno do nome, prédios escolares, material didático, compêndios, salários compatíveis com a importância do cargo, servidores do estado, mestres qualificados, famílias responsáveis, discípulos dedicados. Tudo falha: o governo provincial, o professor de primeiras letras, a sociedade. Mas, principalmente, falha a Escola Normal, pois é

161 incapaz de responder às urgências sociais, culturais e políticas de sua época. (MONARCHA, 1999:44).

Desde a construção de um prédio próprio para o funcionamento da Escola Normal até a formulação de novos programas disciplinares foram ações que marcariam o momento que deu inicio à modernização do ensino. Mas esse não foi o único acordo cumprido do amplo projeto de civilização, era preciso que a instrução ministrada nessa escola modelar estivesse em conformidade com os princípios da Pedagogia Moderna.

O prédio da Escola Normal da praça foi inaugurado em 1894, e foi concebido como o lócus de formação profissional, o lugar de onde seria difundido o progresso intelectual. A instituição ganhou uma representação que figurava não só nas falas e nos discursos, mas no imaginário social. Era a construção de uma escola normalizadora das regras de postura/prática do professor. O discurso reformador de Caetano de Campos deixa entrever a elaboração de um novo sistema pedagógico e, por isso, da construção de uma nova Escola Normal.

Direcionada a uma formação profissional, com métodos e currículos próprios nos quais a parte da prática pedagógica ganhou uma posição de destaque. Dentro dessa proposta de um ensino que favorecesse a prática das normalistas, foi pensado nessa reforma a construção de uma escola primária anexa ao prédio da Escola Normal, a Escola Modelo. Para assumir a direção dessa escola foram indicadas Miss Browne e Maria Guilhermina Loureiro de Andrade. (SAVIANI, 2004:23).

Ao molde dessa proposta reformadora de São Paulo foi pensada a Reforma de 1911 para a Escola Normal. Em 3 de dezembro de 1910, Rodrigues Dória deu início as obras de um prédio para a Escola Normal e que foi instalado em anexo uma Escola Modelo para servir para a prática das normalistas, tal como havia sido proposta na Reforma Caetano de Campos. Em novembro de 1910, o governo liberou a quantia de trinta contos de Réis para a construção de um grupo escolar.

Esses projetos atrelavam a retórica arquitetônica à racionalidade pedagógica, reinventando a escola, tornando-a um símbolo de progresso. A construção do prédio da Escola Normal foi um exemplo desse ideário. Seu projeto compreendia uma serie de dispositivos que iriam conferir à escola uma dimensão esperada pelo imaginário republicano. Esses dispositivos estavam acompanhados pela orientação de um espaço escolar saudável.(VALENÇA,2005:47)

162 Monumental em sua fachada, o novo prédio estava localizado na praça Olímpio Campos, suas instalações compreendiam boas condições de iluminação e ventilação. A disposição das salas de aula facilitava a fiscalização dos bedéis, além delas, no edifício eram encontradas salas destinadas ao atendimento médico e dentário, sala da diretoria, dependências sanitárias e biblioteca. Essas dependências eram ligadas por corredores e no centro figurava um grande pátio, à semelhança de um claustro, dedicado aos momentos de lazer de modo que as jovens pudessem ser bem visualizadas pelos próprios professores. (VALENÇA,2005:47).

Fig. 10: Fachada da Escola Normal. Fonte: Arquivo do IERB. Aracaju. s/d. Autoria não identificada.

Situado na praça antes conhecida como Mendes de Moraes, hoje praça Olimpio Campos, o novo prédio da Escola Normal tinha a finalidade de imprimir através da sua monumentalidade o ideal reformador republicano. Para dirigi-lo, Rodrigues Dória conseguiu, por intermédio do deputado federal Pedro Dória, seu irmão, entrar em

163 acordo com o secretário do Interior de São Paulo, Carlos Guimarães, para que fosse colocado a disposição do governo de Sergipe o diretor do grupo escolar da Avenida Paulista, Carlos Silveira que ficou a frete na direção da Escolas Normal e Anexas. Conforme mensagem presidencial emitida em 1914 o prédio construído para servir ao curso normal era visto como um palácio, como algo que engrandeceria a instrução pública, instrumento de louvor ao progresso e a civilidade. Diz a mensagem que:

Os edifícios que lhe servem de cenário são reais palácios que decoram a nossa capital com a sua arquitetura elegante de linhas bem conformadas.(...) menos se não poderá falar dos 2 outros grandes estabelecimentos de ensino: Escola Normal e Atheneu Sergipense. No primeiro destes estabelecimentos acha-se a testa o Dr. Helvécio de Andrade, profissional habilitado, a quem está entregue, presentemente, na falta da efectiva diretoria da instrução pública. (SERGIPE,1914:15).

O prédio-palácio era composto por uma diretoria, onde também funcionava a direção da Instrução Pública, uma secretaria, hall de entrada, uma sala dos professores, banheiro, pátio e salas de aula. Posteriormente foi-lhe acrescentado um gabinete dentário e uma sala médica, um laboratório de Física, Química e História Natural e uma Biblioteca.

Fig. 11: Sala da diretoria da Escola Normal. Fonte: Acervo do IERB. Aracaju. s/d. Autoria não identificada.

164 Fig. 12: Secretaria da Escola Normal de 1911. Fonte: Acervo do IERB. Aracaju. s/d. Autoria não

identificada.

Nessa reforma de 1911, Rodrigues Dória junto com Carlos da Silveira elaboraram uma lista dos materiais necessários para compor as novas escolas. Estes deveriam estar em consonância com os ideais de modernização do ensino presentes nas reformas paulistas. Para implantar essa modernização pretendida por Rodrigues Dória e Carlos da Silveira, foram importadas dos Estados Unidos quinhentas e cinqüenta cadeiras automáticas de um e dois assentos. Estas foram distribuídas entre a Escola Normal, escolas anexas e outras instituições escolares do Estado. Conforme Pires Wynne: “1908-1911 – Rodrigues Dória: (...) Inaugura-se no dia 15 de agosto de 1911 a Escola Normal. Edifício que erguia na praça Olimpio Campos, (...) muito amplo e com 550 carteiras importadas da América do Norte(...).”(WYNNE:1973:366).

165 Fig.12: Carteira importada dos Estados Unidos em 1911.Fonte: Arquivo do IERB. Aracaju. s/d. Autoria não identificada.

A Reforma de 1911 tinha uma clara preferência pelo ensino normal. Não só porque construiu um palácio para adequar o ensino normal às condições exigidas pela modernização do ensino, como inferiu revisões no currículo, programa e regimento interno dessa instituição. Mas não só isso equipou o curso com materiais escolares, com carteiras importadas e salas de aula que estavam em consonância com os ideais de higiene escolar.

Fig. 13. Sala de aula da Escola Normal em 1911. Fonte: acervo do IERB. Aracaju. s/d. Autoria não identificada.

166 Segundo Viñao Frago(1998) a relação entre a disposição dos espaços, das pessoas e dos objetos é que conformam um fazer histórico e a sala de aula, lugar por “excelência da atividade instrutiva”, é onde a composição espacial configura uma pedagogia. Ao pensar na disposição das pessoas e dos objetos em um espaço é pensar nas propostas e praticas de um modelo de ensino de uma determinada época. A disposição dos objetos, o tipo de mobiliário, a orientação das carteiras, dos lugares próprios para cada objeto, diz muito da função pedagógica dos espaços.

A linearidade e a imobilidade das carteiras, as paredes pintadas com cores específicas e determinadas pelas regras de higiene arquitetônica também revelam as preocupações e intenções impostas na educação desse período. Analisando as imagens da sala de aula da Escola Normal nos três períodos correspondentes às reformas pode-se verificar que houve pouquíssimas variações. O púlpito e a mesa fechada deixam de existir, dão lugar a mapas e globos para o estudo da Cartografia. As estantes pretas preenchiam as laterais fazias com materiais escolares como o sistema de pesos e medidas para o estudo da Aritmética, mapas e cartas de Parker. Diz Viñao que as salas estavam dispostas conforme o método de ensino praticado pelo professor e essa organização das pessoas e objetos em sala de aula “não era senão um dispositivo mecânico, com toda a precisão de um relógio, aplicado a seres vivos num espaço fechado e reduzido.”(VIÑAO FRAGO, 1998:130).

167 Fig. 14. Sala de aula da Escola Normal de1920. Fonte: Arquivo do IERB. Aracaju. s/d. Autoria não

identificada.

Construído como símbolo da República e do progresso que correspondiam aos postulados do modernismo e do higienismo que se constituía num fator importante da racionalização do ensino, da regeneração social. Dessa forma, os espaços também desempenham uma função pedagógica, curricular de ordenamento, de civilidade e de clareza. Diz Viñao que “a arquitetura é também por si mesma um programa, uma espécie de discurso que institui na sua materialidade um sistema de valores como ordem, disciplina e vigilância”.(VIÑAO,1998:26).

Observando ainda os espaços internos do prédio da Escola Normal de 1911, é possível visualizar que sua arquitetura estava em consonância a construção das escolas européias, não só por causa da monumentalidade, mas sim por causa da sua arquitetura e estrutura em forma de “U” que possibilitava a vigilância interna constante.

168 Fig. 15. Pátio interno da Escola Normal. Fonte: Arquivo do IERB. Aracaju. s/d. Autoria não identificada.

A Reforma determinou para esta instituição algumas modificações tão expressivas quanto a construção de um prédio próprio para o curso. As mudanças podem ser visualizadas na constituição da Cadeira de Pedagogia que acrescentou a esse estudo as lições de Metodologia, Psicologia Experimental e Pedologia. Aumentou de três para quatro anos de estudo sendo acrescidas novas disciplinas e as já existentes obtiveram maior carga horária.

Além disso, foi modificada a forma como eram conduzidos os exames finais, com bancas formadas essencialmente por professores e pelo diretor. A reforma determinou mais idade para os candidatos ao curso normal. Dizia que as provas sem critério e as aprovações em massa tinha como resultado “uma aluvião de normalistas, crianças sem o critério e habilitações necessárias para exercer o magistério”(SERGIPE,1911:55). Reclamava Dória que as avaliações eram falhas, havia certa condescendência nas aprovações, sem medir ao certo se as normalistas realmente dominavam o conteúdo, ou se tinham compreendido as disciplinas ensinadas. Assim exigiam na hora da matricula documentos de certidão de nascimento para comprovar idade adequada, cartão de vacina, diploma expedido pela escola primária e uma carta através da qual os candidatos pediam deferimento nas suas inscrições para a prova de admissão.

169 Fig. 16. Documento de pedido de inscrição nos exames admissionais.

Fonte: Arquivo do IERB. Aracaju. s/d. Autoria não identificada.

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Outras providências também foram tomadas. Em 1911, ano que o professor Carlos Silveira voltou a São Paulo, Helvécio de Andrade foi nomeado por Rodrigues Dórea lente das Cadeiras de Pedagogia, Pedologia e Higiene Escolar da Escola Normal. Assumiu as cadeiras e com a pretensão de executar as diretrizes definidas pela reforma, definiu um programa para a Cadeira que iria ocupar. Nessa direção, divulgou no Jornal Correio de Aracaju, no mês de dezembro de 1911, sete artigos intitulados “Sobre a nova cadeira de Pedagogia da Escola Normal”. Nesses artigos foram discutidos temas referentes aos ideais presentes dos discursos de Carlos Silveira, Helvécio de Andrade e Rodrigues Dória através dos quais discutiam a importância dos professores primários instigar nos alunos o amor ao saber, e a necessidade de cultivar a inteligência.

Esses artigos também faziam um diagnóstico do sistema educacional apontando suas falhas referentes ao sistema educacional, às matérias de ensino, aos programas escolares e aos métodos utilizados pela maioria das escolas primárias públicas, principalmente em relação aos procedimentos dos professores que aplicavam castigos físicos como método colaborador da aprendizagem. Para esses reformadores, os castigos físicos eram o meio disciplinar mais utilizado nas escolas sergipanas e significavam o atraso metodológico do campo educacional. Acreditavam que escola moderna não deveria mais submeter-se aos processos condenados pela ciência pedagógica,

170 acreditavam Helvécio de Andrade e Carlos Silveira. Nesses artigos, o professor de Pedagogia sergipano relatou um fato curioso sobre a presença da palmatória nas escolas sergipanas.

Em um móvel de uma das mobílias recolhidas ao primeiro grupo escolar organizados este ano, encontrou o dr. Carlos Silveira uma palmatória. Logo que a proprietária do amável traste deu pela sua falta, foi um tanto commovida pedir licença para verificar se estavam no dito móvel uns papeis que lhe eram pertencentes. O distincto educador, risonho respondeu: lá só havia isso, cujo cabo desastradamente quebrei. Peço desculpas do prejuízo que involuntariamente dei a v. ex. (ANDRADE,1911:02)

É importante registrar que o acontecimento narrado acima representa a base que sustentou a reforma da Escola Normal em 1911 empreendida por Rodrigues Dória e que estava em evidencia nas palavras do professor de Pedagogia. Nessa direção, a reforma de 1911 foi importante para iniciar algumas transformações na estrutura curricular e de