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A relação entre resiliência e saúde mental na adolescência

Factores Protectores Face ao Risco Psicossocial na Adolescência: O Estudo da Resiliência

3. Estudar a resiliência nos adolescentes

3.2. A relação entre resiliência e saúde mental na adolescência

Uma outra investigação (Masten et al., 2004) seguiu uma amostra de 173 sujeitos ao longo de vinte anos, centrando-se no estudo da relação entre a presença de adversidade e os recursos psicossociais relevantes na transição para a adultez. Os resultados indicaram que os recursos internos e externos na infância (i.e., presença de suporte de pelo menos um adulto, QI médio ou acima da média, estratégias de coping, projectos para o futuro e estatuto sócio-económico) previam uma transição bem sucedida da adolescência para a adultez. Os autores concluíram ainda que, para alguns sujeitos cujas capacidades resilientes mudaram ao longo do seu percurso desenvolvimental a transição para a adultez apresentou- se igualmente bem sucedida, o que coloca a tónica nas possibilidades de inversão face a um percurso desenvolvimental negativo que a adolescência proporciona enquanto período chave de transição.

3.2. A relação entre resiliência e saúde mental na adolescência

A utilização do bem-estar emocional como um padrão de funcionalidade é uma questão particularmente complexa, na medida em que a tendência para definir a resiliência adolescente somente em termos da manutenção de bem-estar emocional na presença de adversidade pode ser questionável. Será pouco realista acreditar que a repercussão emocional causada por ameaças graves à integridade psíquica e/ou física das pessoas (como sejam os maus-tratos físicos ou psíquicos) pode ser ultrapassada ou resolvida rápida ou facilmente, principalmente se essa pessoa for criança (Olsson et al., 2003; Garbarino, 2005a). Temos que atender a que o sofrimento psíquico, sendo um sinal de adversidade,

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não invalida a capacidade de lutar contra a adversidade e de adaptação. A este propósito Luthar, Doernberger e Zigler (1993) sugeriram que um indivíduo resiliente não é necessáriamente desprovido de sofrimento emocional e que o mesmo pode mostrar capacidades em lidar com as exigências do seu quotidiano. Da mesma forma Garmezy (1991, citado por Johnson & Wiechelt, 2004), refere que a característica chave do comportamento resiliente seria a manutenção de funcionamento competente em circunstâncias de stresse apesar da interferência de emocionalidade. De facto, se perspectivarmos a capacidade resiliente como um resultado adaptativo na presença de circunstâncias adversas, os jovens que são capazes de manter competências, apesar da presença de afecto negativo elevado, podem estar a demonstrar uma elevada capacidade de resiliência (Olsson et al., 2003).

De referir que as investigações que procuram tirar ilações sobre a resiliência nos adolescentes, baseando-se exclusivamente no estudo das relações entre medidas de desempenho (por exemplo, o desempenho académico) e medidas de bem-estar emocional (por exemplo, auto-estima ou auto-conceito), em populações não caracterizadas do ponto de vista de critérios clínicos (i.e., sem a utilização de medidas de avaliação psicopatológica devidamente sujeitas a estudos de validação), podem sugerir resultados enganosos relativamente às qualidades resilientes dos adolescentes. Segundo Olsson e colaboradores (2003), se um resultado resiliente é definido em termos de manutenção de competências sob stresse, então, as medidas de bem-estar psicológico podem estar a dar uma impressão enganosa sobre a resiliência de um adolescente. Assim sendo, não deveríamos avaliar a capacidade de resiliência unicamente através de medidas de bem-estar emocional.

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Por sua vez, Garbarino (2005a) aponta algumas limitações das grelhas conceptuais, quando se olha para as vidas das crianças e jovens que lidam com a adversidade: primeiramente, devemos lembrar-nos de que a resiliência não é absoluta, pois todos os jovens têm um ponto de ruptura5. Neste sentido, as crianças são “maleáveis” ao invés de “resilientes”, no sentido em que cada ameaça tem um custo para elas; em segundo lugar, em termos globais a resiliência pode obscurecer os custos reais à qualidade da vida interna de um indivíduo. Algumas pessoas conseguem evitar sucumbir ao risco do fracasso social definido pela pobreza e pela criminalidade mas, no entanto, experienciam os danos causados em termos de uma capacidade diminuída para relações íntimas bem sucedidas. Deste modo, mesmo o sucesso social evidente, como sejam uma boa performance profissional, evitar actividade criminal e formar família, pode obscurecer os custos reais de ter crescido num contexto de adversidade.

Num estudo conduzido por Tolan (1996) com rapazes de raça africana que viviam em bairros pobres e violentos de Chicago e em ambiente familiar abusivo a resiliência foi medida de acordo com os seguintes critérios: a criança ter completado um período de dois anos sem mais do que uma reprovação escolar, nem ter necessitado de serviços profissionais de saúde mental para lidar com problemas psicológicos. As conclusões deste estudo apontaram no sentido de que, se bem que seja esperado que todos os jovens mostrem efeitos negativos quando expostos a ambientes altamente stressantes e ameaçadores, segundo os resultados obtidos, nenhum dos adolescentes estudados correspondia ao critério de resiliente. Ungar (2005) chamou a atenção para a importância da forma como os jovens constroem as suas realidades, alertando que no estudo de Tolan

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(1996) pode ter sucedido que os jovens se tenham definido como “normais”, ou seja, percepcionando-se como não afectados. Apesar da relevância destes estudos, este é um problema que as investigações de cariz quantitativa colocam relativamente à pesquisa sobre a resiliência (e.g., Bender & Losel, 1997; Born, Chevalier & Humblet, 1997; Carbonell, Reinherz, & Giaconia, 1998; Carbonell et al., 2002; Corcoran & Nichols-Casebolt, 2004), deixando por responder à questão de como os adolescentes se percebem a si próprios.

3.3. Duas perspectivas sobre o estudo da resiliência: o modelo ecológico e o