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Psicopatologia e Risco Psicossocial na Adolescência

3. Factores de risco psicossocial para o desenvolvimento de psicopatologia na adolescência

3.1. Vulnerabilidade e Risco psicossocial

A Organização Mundial de Saúde (2002) define como risco a probabilidade de uma pessoa desenvolver um problema de saúde adverso ou ainda, um factor que aumente essa probabilidade12. O conceito de risco diz respeito a quaisquer variáveis descritivas ou correlacionais que estão empiricamente associadas com o aumento da probabilidade de manifestação de uma perturbação (por exemplo, a pobreza, a exclusão social, etc.). A investigação sobre o risco trata de estudar a identificação de factores que acentuam ou inibem as doenças e os estados deficitários e ainda os processos que lhe estão subjacentes (Garmezy, 1996). Tratando-se de um conceito útil para prever a possibilidade de disfunção, não nos proporciona no entanto, uma associação causal directa com o desencadear de uma desordem (Ingram & Price, 2001).

Ingram e Price (2001) entendem que o conceito de vulnerabilidade não é um sinónimo de risco, pois a vulnerabilidade diz respeito a características do indivíduo (ou variáveis internas) que fazem parte dos mecanismos que contribuem para as causas da perturbação13. A vulnerabilidade representaria o pólo oposto da invulnerabilidade ou

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No original, “Risk is defined as a probability of an adverse health outcome, or a factor that raises this probability” (p.11)

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Por exemplo, os traços de personalidade, como sejam a capacidade tolerância à frustração ou a impulsividade.

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resiliência do indivíduo14. No entanto, referem estes autores, o risco e a vulnerabilidade estão empiricamente relacionados, pois ambos os tipos de variáveis tendem a operar de forma concertada na etiologia da perturbação.

Rutter e colaboradores (1998), por sua vez salientaram a necessidade de fazer a distinção entre indicadores de risco e mecanismos de risco para psicopatologia. Assim, entende-se por indicadores de risco as variáveis que têm conexões indirectas com os processos causais, mas que em si mesmas não são parte dos mecanismos que estão directamente associados com a causalidade. Os acontecimentos negativos (life events) são aqui entendidos como indicadores de risco.

É sabido que as crianças que vivenciam acontecimentos de vida marcadamente negativos estão em maior risco para desenvolver problemas de comportamento e/ou perturbações emocionais (Harland et al., 2002; Lerner et al., 1998; Sandberg & Rutter, 2005). Será então de esperar a existência de uma relação entre uma história de acontecimentos de vida negativos (como a separação face aos pais por doença ou morte de figura parental, o divórcio parental, os maus-tratos infantis e ainda a institucionalização da criança) e a expressão sintomática do sofrimento mental causado.

São ainda indicadores de risco para psicopatologia e comportamento desviante, o tamanho da família (família numerosa), a estrutura da família (nomeadamente, a monoparentalidade) e os baixos recursos sócio-económicos da família (Baer, 1999).

É exemplo de um mecanismo de risco para psicopatologia e comportamento anti- social, o conflito parental que está associado à separação e ao divórcio parental. Rutter e

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De notar que estes autores concebem a resiliência como uma característica interna ao indivíduo. Esta questão será desenvolvida no capítulo 3.

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colaboradores (1998) sugeriram que se existe um risco para o aumento das perturbações psicossociais na adolescência, elas devem estar associadas aos conflitos familiares e à falta de supervisão parental, mais do que à estrutura familiar em si. Ou seja, não é a separação ou o divórcio dos pais que levará ao desencadear de problemas psicopatológicos, mas o conflito parental que antecede e precede a separação ou divórcio.

Segundo Balbernie (2002), um risco não é directamente psicopatogénico, mas é uma representação da probabilidade de se tornar patogénico. No entanto, um conjunto de riscos pode conduzir a um resultado desenvolvimental desfavorável, afigurando-se como provável que cada factor de risco específico seja composto pela aglomeração de uma série de factores de risco menores agindo de forma convergente.

Estudos longitudinais sugerem que quando se acumulam os impedimentos ao desenvolvimento, o número total de condições de risco que afectam uma criança, predizem mais seguramente futuros resultados negativos em termos psicossociais, do que prevê a exposição a um só risco (Sameroff, 2000). Neste sentido, uma apreciação das consequências a longo termo dos factores de risco é útil porque, ao conseguir-se identificar o problema ou problemas, podemos não só melhorar a eficácia das intervenções mas ainda dirigir a nossa atenção para o conjunto mais vasto dos problemas sociais que necessitam de intervenção

A conceptualização do conceito de acontecimento stressante ou negativo (life event), se bem que tenha tido na sua origem o grau de mudança que dado acontecimento implicou na vida de dado sujeito, a dimensão mais importante a considerar para o risco de desenvolvimento de psicopatologia é a ameaça psicológica envolvida (Sandberg & Rutter, 2005). Desta forma, as transições de vida normativas que envolvam grandes mudanças, tais

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como a experiência da puberdade ou ainda os acontecimentos externos como a mudança de escola, podem não acarretar riscos, estando dependentes, da forma como a pessoa vivencia o acontecimento à luz das suas circunstâncias particulares de vida (idem).

As formas ou os processos pelos quais as famílias em circunstâncias de vulnerabilidade social, colocam os seus filhos em risco para trajectórias de vida negativas, são temas pertinentes tanto do ponto de vista académico, quanto do ponto de vista da criação e implementação de políticas e de programas de intervenção (Serbin & Karp, 2004). Assim, a identificação de factores de risco familiar e de factores contextuais mais vastos, e ainda, a identificação de factores protectores, face ao desenvolvimento de psicopatologia e aos percursos de vida delinquentes, pode contribuir para quebrar os ciclos que ajudam a sustentar a vulnerabilidade psicossocial.