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A Resistência Empresarial na Tramitação da Lei Brasileira de Inclusão

IV. A Reserva de Vagas na Iniciativa Privada

4.6. A Resistência Empresarial na Tramitação da Lei Brasileira de Inclusão

Durante a elaboração do Projeto de Lei do Senado nº 6/2003 (PL 7699/2006 na Câmara dos Deputados), houve diversas tentativas de retrocessos em relação às questões relativas ao direito ao trabalho da pessoa com deficiência, sendo que em determinado momento da redação do projeto constava diversas teses empresariais.

A primeira delas foi a tentativa de exclusão no cálculo da cota das atividades de risco, perigosas ou penosas, como se houvesse presunção de impossibilidade de a pessoa com deficiência trabalhar nessas áreas226. Quer dizer, ao invés de eliminar os riscos do trabalho,

como determina o art. 7º, XXII, da Constituição Federal, e tornar a empresa acessível para receber as pessoas com deficiência, inclusive com constante qualificação profissional, as empresas pressionavam para excluir as pessoas com deficiência de seus quadros. Felizmente, tal proposta foi retirada do projeto de lei

Outra tentativa foi a instituição de medida compensatória a ser fixada em regulamento227. Seria uma porta aberta para a exclusão, que, na mesma sorte, foi retirada do

projeto.

226 Constava no Projeto de Lei do Senado nº 6/2003 (PL 7699/2006 na Câmara dos Deputados): “Art. 120. O art.

93 da Lei n° 8.213, de 24 de julho de 1991, passa a vigorar com a seguinte redação: ‘§ 3° Em empresas com quadro de pessoal com percentual de no mínimo 70% (setenta por cento) de cargos ou funções que envolvem atividades de elevados riscos, perigosas ou penosas para as quais se exija habilitação específica e, cujas exigências e requisitos desestimulem ou dificultem o interesse das pessoas com deficiência ou beneficiários reabilitados da Previdência Social em realizá-las, será permitido completar o cumprimento da reserva em outras empresas do mesmo grupo econômico, constituídas na forma do § 2°, art. 2°, da CLT. / § 4° A dificuldade de contratação referida no § 3º deverá ser demonstrada junto aos órgãos de fiscalização, de maneira a evidenciar as tentativas da empresa no cumprimento de reserva. / § 5° Na hipótese do § 3º, será obrigatório o cumprimento da parte da reserva sobre o número correspondente dos demais cargos de seu quadro que não tenham as características de elevados riscos, perigosas ou penosas’”.

227 Constava no Projeto de Lei do Senado nº 6/2003 (PL 7699/2006 na Câmara dos Deputados): “Art. 120. O art.

93 da Lei n° 8.213, de 24 de julho de 1991, passa a vigorar com a seguinte redação: ‘§ 6º No caso de a empresa não pertencer a um grupo econômico e não conseguir demonstrar o cumprimento da reserva conforme o § 3º, o Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Trabalho e Emprego, em conjunto e seguindo regulamentação, decidirão por medidas compensatórias de habilitação, reabilitação, qualificação e serviços prestados pelo Estado e pelas entidades representativas das pessoas com deficiência ou beneficiários reabilitados da Previdência Social, sediados nos estados em que as empresas estão localizadas. / § 7º As medidas compensatórias previstas no § 6º não implicam em liberar as empresas do cumprimento da reserva, mas aguardar que futuros recursos tecnológicos assistivos e habilitação específica das pessoas com deficiência e beneficiários reabilitados da Previdência Social permitam a ocupação dessas vagas. / § 8º A autorização para o cumprimento de medidas compensatórias de que trata o parágrafo 6º deverão ser revistas pelo menos a cada 5 (cinco) anos’”.

Da mesma forma, tentou-se limitar a atuação do Ministério Público do Trabalho e Ministério do Trabalho e Emprego228, mas em razão da pressão desses órgãos e da sociedade

civil organizada, a proposta também foi alterada.

O movimento em defesa da pessoa com deficiência conseguiu, em relação ao tema trabalho, dentre outros, dois avanços importantes: o primeiro foi a reserva de uma vaga também para empresas com número de empregados entre 50 e 99; o outro foi reserva de percentual de 10% em cursos de formação inicial e continuada ou de qualificação profissional, de educação profissional técnica de nível médio, de educação profissional tecnológica e de graduação e pós- graduação.

No apagar das luzes, mesmo tendo aprovado tais medidas no congresso nacional, as forças de empresarias conseguiram vetar as conquistas quando da sanção presidencial.

Com poucas palavras, a Presidente da República vetou conquistas resultantes de uma luta de mais de 10 anos:

Razões dos vetos

[para reserva de uma vaga também para empresas com número de empregados entre 50 e 99]

“Apesar do mérito da proposta, a medida poderia gerar impacto relevante no setor produtivo, especialmente para empresas de mão-de-obra intensiva de pequeno e médio porte, acarretando dificuldades no seu cumprimento e aplicação de multas que podem inviabilizar empreendimentos de ampla relevância social.”

Razões do veto

[reserva do percentual de 10% em curso]

“Apesar do mérito da proposta, ela não trouxe os contornos necessários para sua implementação, sobretudo a consideração de critérios de proporcionalidade relativos às características populacionais específicas de cada unidade da Federação onde será aplicada, aos moldes do previsto pela Lei no 12.711, de 29 de agosto de 2012. Além disso, no âmbito do Programa Universidade para Todos - PROUNI o governo federal concede bolsas integrais e parciais a pessoas com deficiência, de acordo com a respectiva renda familiar.”

Como se observa, são vetos sem sentido e sem explicação, muito mais resultante da disputa de força políticas que qualquer outro motivo jurídico, social ou econômico.

Isso tudo revela o quanto é forte a resistência à inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho no Brasil e o quanto é necessário a participação dos órgãos públicos para vencer tal força.

228 Constava no Projeto de Lei do Senado nº 6/2003 (PL 7699/2006 na Câmara dos Deputados): ‘Art. 120. O art.

93 da Lei n° 8.213, de 24 de julho de 1991, passa a vigorar com a seguinte redação: § 12 Os termos de compromisso de ajustamento de conduta firmados com o Ministério Público do Trabalho serão encaminhados ao Ministério do Trabalho e Emprego para a fiscalização de seu inteiro cumprimento, tempo em que as empresas signatárias não sofrerão a incidência de multa pecuniária administrativa pela inspeção do trabalho’”.

Em relação ao trabalho, as poucas alterações trazidas pelo Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015) foi a alteração dos tipos penais previstos no art. 8º da Lei 7.853, de 1989, dentre os quais “III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promoção à pessoa em razão de sua deficiência”, embora com pouca eficácia prática, porque até o momento não se tem notícia de qualquer pessoa que foi punida por praticar tais crimes.

4.7. Sistema de Reserva de Vagas ou Sistema de Metas? A Desnecessária

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