• Nenhum resultado encontrado

A Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência e o seu Status de

III. O DIREITO FUNDAMENTAL AO TRABALHO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

3.1. A Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência e o seu Status de

Deficiência.

3.1. A Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência e o seu Status de Norma Constitucional

As normas constitucionais, com vimos, são fartas na garantia do direito ao trabalho da pessoa com deficiência. Contudo, é preciso registrar que o Poder Constituinte Derivado Reformador foi muito mais além. Em 8 de dezembro de 2004, foi promulgada a Emenda Constitucional nº 45 introduzindo o art. § 3º no art. 5º, estabelecendo a equivalência entre emendas constitucionais e tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, quando

164 No RE 659079 / SP - SÃO PAULO, em que uma empresa questionava a legitimidade do MPT ajuizar ação

civil pública para assegurar a contratação de pessoas com deficiência na iniciativa privada, o STF consignado que é “inadmissível o recurso extraordinário quando sua análise implica rever a interpretação de normas infraconstitucionais que fundamentam a decisão a quo” (Lei 8.213/1991 e Decreto 914/1993. do Min. Ricardo

estes forem aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros.

Diante desse dispositivo, não há mais qualquer discussão doutrinária ou jurisprudencial sobre a natureza constitucional dos tratados e convenções de direitos humanos ratificados pelo Brasil, quando aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos.

A primeira convenção aprovada nesses termos foi justamente a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, assinada em Assembleia da Organização das Nações Unidas, realizada em Nova York, em 30 de março de 2007, tendo entrado em vigor através do Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009.

São mais de cinquenta artigos de normas de natureza constitucionais tratando somente da pessoa com deficiência. A primeira mudança importante da Convenção foi o conceito de pessoas com deficiência, como sendo “aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas” (art. 1).

A Convenção, em seu artigo 3º, consagrou princípios importantes no trato das questões envolvendo pessoas com deficiência165 e uma série de direitos como direito à vida, à proibição

de discriminação, à promoção da igualdade, ao acesso à justiça, à liberdade, à segurança, à acessibilidade, à educação, à saúde, ao trabalho, à conscientização da sociedade, a agir com independência, a participar na vida política, pública e cultural, dentre muitos outros.

Em seu art. 27, a Convenção prevê um leque amplos de direitos relacionados ao trabalho da pessoa com deficiência, incluindo ações afirmativas, liberdade de escolha, formação profissional, acessibilidade, meio ambiente de trabalho sadio, seguro e equilibrado, dentre muitos outros.

Merece registro a adoção pela convenção da expressão ação afirmativa, em seu art. 27, 1, alínea “h”166, e a incorporação de questões de pessoas que, além da condição de deficiência,

165 São princípios consagrados na Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência: “a) O

respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas, e a independência das pessoas; b) A não-discriminação; c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade; d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da diversidade humana e da humanidade; e) A igualdade de oportunidades; f) A acessibilidade; g) A igualdade entre o homem e a mulher; h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade”.

166 Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, que promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das

Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo - Artigo 27 - Trabalho e emprego - 1. (...) g) Empregar pessoas com deficiência no setor público; h) Promover o emprego de pessoas com deficiência no setor privado, mediante políticas e medidas apropriadas, que poderão incluir programas de ação afirmativa, incentivos e outras medidas;

estão sujeitas a múltiplas discriminações, como raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de outra natureza, origem nacional, étnica, nativa ou social, propriedade, nascimento, idade ou outra condição167.

Como afirma Ricardo Tadeu Marques Fonseca (2013, p. 13),

O que se busca a partir da ratificação constitucional do tratado é propiciar espaço para políticas públicas que, de forma transversal, superem as adversidades notoriamente existentes nas cidades e no campo em razão das barreiras arquitetônicas e da inadequação do transporte; nas escolas, em razão da falta de metodologia adequada para crianças e jovens com deficiências participarem das escolas comuns; nas empresas e administração pública, para que a independência que advém do trabalho próprio seja assegurada a esses cidadãos; nos espaços de cultura e lazer, de modo a se garantir que as barreiras linguísticas e arquitetônicas não os impeçam de vivenciar o contato libertário com a felicidade e o conhecimento artístico e cultural.

Para acompanhar a sua efetivação, a Convenção prevê a coleta de dados apropriados e de pesquisas, para melhor implementação de políticas, e um sistema de monitoramento. Sobre as estatísticas, o próprio governo reconhece que ainda “há muito a se melhorar quanto a estatísticas fidedignas, que possam subsidiar com mais propriedade as várias políticas públicas no Brasil”168.

Como se observa, atualmente no Brasil, é vasta a disciplina constitucional sobre a pessoa com deficiência. Como observa Flávia Piovesan (2014, p. 471), “(...) se no passado a

167 Conforme a Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência: “Os Estados Partes da presente

Convenção, / (...) p) Preocupados com as difíceis situações enfrentadas por pessoas com deficiência que estão sujeitas a formas múltiplas ou agravadas de discriminação por causa de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de outra natureza, origem nacional, étnica, nativa ou social, propriedade, nascimento, idade ou outra condição, q) Reconhecendo que mulheres e meninas com deficiência estão frequentemente expostas a maiores riscos, tanto no lar como fora dele, de sofrer violência, lesões ou abuso, descaso ou tratamento negligente, maus- tratos ou exploração, r) Reconhecendo que as crianças com deficiência devem gozar plenamente de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais em igualdade de oportunidades com as outras crianças e relembrando as obrigações assumidas com esse fim pelos Estados Partes na Convenção sobre os Direitos da Criança, s) Ressaltando a necessidade de incorporar a perspectiva de gênero aos esforços para promover o pleno exercício dos direitos humanos e liberdades fundamentais por parte das pessoas com deficiência; (...) Artigo 6 - Mulheres com deficiência - 1. Os Estados Partes reconhecem que as mulheres e meninas com deficiência estão sujeitas a múltiplas formas de discriminação e, portanto, tomarão medidas para assegurar às mulheres e meninas com deficiência o pleno e igual exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais. 2. Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para assegurar o pleno desenvolvimento, o avanço e o empoderamento das mulheres, a fim de garantir-lhes o exercício e o gozo dos direitos humanos e liberdades fundamentais estabelecidos na presente Convenção. / Artigo 7 - Crianças com deficiência - 1. Os Estados Partes tomarão todas as medidas necessárias para assegurar às crianças com deficiência o pleno exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, em igualdade de oportunidades com as demais crianças. 2. Em todas as ações relativas às crianças com deficiência, o superior interesse da criança receberá consideração primordial. 3. Os Estados Partes assegurarão que as crianças com deficiência tenham o direito de expressar livremente sua opinião sobre todos os assuntos que lhes disserem respeito, tenham a sua opinião devidamente valorizada de acordo com sua idade e maturidade, em igualdade de oportunidades com as demais crianças, e recebam atendimento adequado à sua deficiência e idade, para que possam exercer tal direito”.

168 Conforme Relatório de Monitoramento da Convenção 2008 – 2010. Disponível em

<http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/relatorio-de-monitoramento-da-convencao>. Acesso em 02/07/2014.

pessoa com deficiência era alijada da vida social com naturalidade, as transformações sociais e o desenvolvimento de novas tecnologias propiciaram a crescente participação deste grupo e, com ela, suas demandas, anseios e reivindicações”.

Evidencia-se, pois, que do ponto de vista constitucional, o direito ao trabalho da pessoa com deficiência está plenamente garantido, inclusive com novos paradigmas, tais como novo conceito de pessoa com deficiência, com ampliação do alcance e adoção do modelo social, previsão do direito fundamental a adaptação razoável, acessibilidade universal e incorporação de questões relacionadas à gênero, raça e crianças com deficiência, além de falar expressamente em ações afirmativas.

Outline

Documentos relacionados