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CAPÍTULO 3 – POSSÍVEIS PRÁTICAS DE FLEXIBILIZAÇÃO DO

II. A respiração e as emoções

A respiração cria sensações, e elas têm medo de sentir. Têm medo de sentir sua tristeza, sua raiva e suas apreensões. Quando eram crianças, seguravam a respiração para não chorar, puxavam o ombro para trás, tensionando o peito para conter a raiva, e apertavam a garganta para evitar um grito. O efeito de cada uma dessas manobras é a limitação e a

redução da respiração. Da mesma maneira, a contenção de qualquer sentimento resulta numa inibição da respiração. 105

Segundo Lowen (1984), a respiração é responsável por um efeito no corpo que limita ou expande a expressão emocional do indivíduo. Apesar de outras contrações também exercerem esse papel, o bloqueio da respiração é encontrado em grande parte dos estudos de caso dessa abordagem clínica. Por isso a importância do segmento diafragmático e a relação que estabelece com cada tipologia caracterial.

Segundo Bacri (2005), apud. Navarro (1995), um indivíduo com quadros de ansiedade apresenta respiração curta e acelerada, por exemplo; o que acontece nesse momento é uma reação simpaticotônica no sistema nervoso central que atribui ao organismo características de ameaça.

…a ansiedade também é percebida pelo bloqueio desse segmento, uma vez que ela origina-se de um estímulo que se descarregará nos músculos respiratórios, especialmente o diafragma, bloqueando sua funcionalidade. Isso explica a dificuldade de respirar em momento de grande ansiedade. O diafragma é o músculo da respiração; quando ele se contrai abaixando as costelas, provoca a inspiração e o ar entra. Quando ele relaxa, as costelas voltam à sua posição normal e o ar é expulso. 106

O bloqueio crônico da respiração é um dos principais responsáveis pela dicotomização do indivíduo com seu cerne, suas emoções. Quando ocorre essa situação bioenergética de paralisação muscular, o indivíduo com ansiedade, devido à contração diafragmática, entra num ciclo de respiração que gera estado de alerta. Como visto anteriormente aqui, esse estado de alerta ocasiona uma excitação que pode criar um pensamento, normalmente catastrófico, que provoca, por sua vez, uma reação de ameaça, contraindo ainda mais o músculo diafragmático. Entra, assim, novamente em voga o efeito de funcionalidade entre corpo e mente. É comum pensamentos gerados por esse estado acarretarem uma sensação de pânico, levando a pessoa a achar que está tendo um infarto, ou então morrendo, devido à contração diafragmática, e à não expulsão de CO2 do organismo, que gera uma reação biofísica de formigamento, tontura e até enjoo. Essas reações

LOWEN, A. Prazer: uma abordagem criativa da vida. Tradução Ibanez de Carvalho Filho. São

105

Paulo: Summus, 1984. p. 33.

BACRI, A. P. R. Influência dos bloqueios corporais na educação –Tese de Doutorado,

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biopsíquicas são hiperdimensionadas no estado ansioso, o que provoca pensamentos de angústia, retroalimentando ainda mais as reações de contração muscular.

É fundamental para a prática de profilaxia da neurose que o professor esteja atento à qualidade da respiração, pois ela é um importante identificador da qualidade da expressão emocional do educando. Distúrbios de respiração podem ser termômetros para indicar quadros de ansiedade, ou depressão, tão comuns ao nosso tempo, dificultando o processo de aprendizagem que perturbam todo o corpo e suas funções pela carência da quantidade de oxigenação do cérebro.

Avaliar a qualidade energética de uma pessoa está diretamente associado à avaliação da qualidade de sua respiração. A respiração faz parte do quadro de reflexos inatos, por isso, está diretamente ligada ao “bebê”. Os padrões de tensão corporal são refletidos na amplitude e no ritmo da respiração. O bloqueio tencional do diafragma é percebido pela respiração, que não chega até o abdômen. Por exemplo, podemos associar uma dificuldade de aprendizagem a problemas respiratórios. O cérebro não é bem oxigenado; podemos constatar esta situação em crianças com problemas de adenoide, sinusites, infecções e bloqueios das vias aéreas sequente. Estas crianças podem desenvolver dificuldades de atenção, falta de capacidade de concentração, sonolência, pesadelos, pois estão “intoxicadas” pela carência do oxigênio que baste para manter seu organismo. 107

Existem casos mais graves cuja má-formação física prejudica diretamente a capacidade de estabelecer uma respiração profunda, e nesses casos é necessária uma equipe de profissionais como médicos, fisioterapeutas, entre outros, para dar conta de tal quadro. Porém ainda assim é possível em casos de contração muscular crônica que o próprio educador consiga ser um facilitador do restabelecimento da capacidade de respirar profundamente, de forma rítmica, através de exercícios que de modo mecânico recuperem a expressão dessa área.

Ao recuperar a respiração natural, profunda e suave do educando, é possível irromperem emoções que estavam inibidas pela contração muscular do diafragma. Segundo Bacri (2005), “Através do controle dessa respiração, o indivíduo

pode controlar suas emoções, retendo a raiva (que pode ser uma raiva assassina)

PAGAN, Maria de Fatima Ferreira Perez Bonjuani. O holding suficiente: práticas corporais

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facilitadoras no cotidiano do educador. 2003. 90f. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual

ou indicando, também, emoções de prazer ou angústia”. Caberia ao educador ser 108 um canal de possibilidade para a expressão dessas emoções, acolhendo-as de forma amorosa e fornecendo ferramentas de autorregulação para o educando, 109 com o estabelecimento de um vínculo humano e o próprio contato com as emoções. Estar presente no seu fazer educativo e ser suporte para o desenvolvimento desse indivíduo são ferramentas imprescindíveis para uma educação emocional mais arraigada com a expressão pulsional e os desejos internos do indivíduo.