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sucção. São observadas também características muito semelhantes com o caráter oral.

O conflito psicopático se dá na relação entre a independência e a intimidade. Na infância a necessidade de intimidade foi repetidas vezes frustrada por algum progenitor, ou seja, a busca da criança por suas necessidades de intimidade através do contato físico foi rejeitada, inibindo o impulso com um afastamento de suas emoções.

I.V. Segmento Diafragmático

"Debaixo d'água ficaria para sempre, ficaria contente Longe de toda gente, para sempre no fundo do mar Mas tinha que respirar Todo dia"

Arnaldo Antunes

Assim como a função do segmento cervical é conectar as cavidades torácica e cefálica, o segmento diafragmático também é um estreito entre cavidades, com a função de comunicar as cavidades torácica e abdominal. Segundo Stolkiner (2008), fazem parte deste segmento:

…não só o diafragma, mas todos os órgãos deste segmento: estômago, duodeno, baço, fígado, pâncreas, rins, glândulas suprarrenais, vesícula biliar; também a parte superficial do corpo, como as três últimas costelas mais os músculos interpostos ligados a elas; algumas partes do sistema neurovegetativo, como, por exemplo, o plexo solar e suas ramificações; ainda as partes relacionadas com a coluna vertebral nessa altura; e os músculos paravertebrais, neste nível. 77

Tal estreitamento que esse segmento representa, está relacionado com os limites de resistência natural. Se a energia pulsional não encontra um limite para seu fluxo, não há função nela. Na eletricidade, por exemplo, “se você tem uma

passagem de eletricidade sem presença de uma resistência, não haverá luz.” E a 78 função do segmento diafragmático é gerar esse campo de energia pulsional.

STOLKINER, Jorge. Abrindo-se aos mistérios do corpo: seminários de Orgonomia. Porto Alegre:

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Alcance, 2008. p. 193. Ibid, op. cit. p. 194.

Stolkiner (2008) ilustra, através das representações de imagens de santos, essa correlação de campo.

Quando vocês veem os desenhos de figuras de orientais e dos santos no ocidente (com aquele halo em volta da cabeça), veem dois campos, um ao redor da cabeça e outro grande ao redor do corpo. Este grande que vocês veem é o campo geral. 79

O primeiro campo descrito pelo autor está relacionado à resistência natural do segmento cervical, enquanto o segundo campo, à resistência natural do segmento diafragmático. Vale ressaltar novamente que a energia pulsional vista por Reich (1961) está ligada a algo concreto como a eletricidade, apesar de na época não haver uma forma de comprovar cientificamente a existência dessa energia, e o que Reich pôde constatar eram suas manifestações emocionais; portanto, tal energia, ainda imensurada, porém observada, não era para Reich (1961) algo etério, e sim algo material.

Tal resistência natural no corpo humano determina a quantidade de energia pulsional que passa, como a quantidade de resistência do diafragma, a energia pulsional do corpo humano. Tal como Reich (1961), Stolkiner (2008) utiliza a analogia da eletricidade para compreender tal segmento.

Quer dizer que, por exemplo, a intensidade do campo luminoso está em função de duas coisas: da quantidade de eletricidade que passa e da resistência que se oferece à quantidade de eletricidade que passa. E no corpo humano ocorre igual. Isso vai dar, digamos, a tensão geral e a intensidade do campo, como funcionamento energético. 80

Num funcionamento natural, diante da necessidade de cada situação, esse campo também pulsaria, contraindo e expandindo. Porém com um funcionamento encouraçado, esse campo estaria num funcionamento rígido, só expandido ou só contraído. A esse funcionamento Stolkiner denomina de

hiperognonia e anorgonia ou hipo-orgonia, respectivamente.

A anorgonia é um colapso desse sistema de proteção do campo energético. Há funções, como as musculares, cuja característica também é de proteção, porém necessitam de uma maturação mais lenta no processo de

STOLKINER, Jorge. Abrindo-se aos mistérios do corpo: seminários de Orgonomia. Porto Alegre:

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Alcance, 2008. p.193. Ibid, op. cit. p. 193.

desenvolvimento humano; um bebê recém-nascido não consegue controlar sua musculatura, segurar e sustentar objetos. Há maneiras de proteção mais primitivas, como os mecanismos oculares dissociativos e a anorgonia. Quando levamos um susto, ou seja, quando somos pegos despreparados, os sistemas de proteção muscular, na função de fuga ou ação, ficam sobrecarregados, entrando em ação esses sistemas primitivos. Fechar os olhos ou não desfocar é uma dessas funções no campo da ocularidade; já a anorgonia tem como função diminuir esse campo energético através da contração do diafragma, como forma de proteger o centro da pulsação, o cerne.

Já a hiperorgonia é um estado em que a carga de pulsação “arrebenta” essa resistência. E quando essa resistência do segmento diafragmático ocorre, há expressões emocionais de cólera e angústia, que são mais comuns a nossa sociedade. Da mesma forma que as disfunções do fluxo da eletricidade, geram disfunções na qualidade da luz, ou ela fica bem fraca, ou então aumenta, até que queime ou até que quebre a lâmpada. Antes que isso ocorra, há um fenômeno de muita luz. Assim também ocorre no corpo humano; esse sistema fica constantemente sobrecarregado até que “explode”. Podemos relacionar esse fenômeno a situações de estresse.

Ambos os funcionamentos são necessários em situações diversas, porém a permanência de apenas um estado (anorgonia ou hiperorgonia) no funcionamento do sujeito leva-o a um funcionamento neurotizado, segundo Stolkiner (2008).

E, se estou tolerando, suportando ou aguentando algo, quer dizer que não posso fazer nada a respeito. O “muscular” é o mecanismo usado para fazer algo a respeito. As couraças musculares significam que eu estou controlando basicamente a ação. 81

A quantidade de carga pulsional nos músculos é um dos termômetros para se observar o fenômeno do encouraçamento. Se o indivíduo sente raiva, vontade de bater e não pode expressar essa emoção, isso gera uma contração dos músculos cervicobraquiais (hipertonia), como encontrado na hiperorgonia, ou então deprime esses músculos (hipotonia), como na anorgonia. Se os movimentos são feitos com um excesso de carga ou peso necessário, ou se é um movimento resignado, como se “nada pode ser feito a respeito”, são funcionamentos que

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contam sobre a história da pessoa. Um dos exemplos comuns a esse funcionamento é “aguentar”; “as couraças hipotônicas foram produzidas, em geral, em

circunstâncias de resignação”, resignar à ação, diante de grande parte das 82 situações de vida. Outro exemplo é aquela pessoa que parece ligada no 220v, que não pode parar de agir, ou seja, suporta o quantum energético através da sobrecarga muscular, através da ação.

I.VI. Segmento Abdominal

O segmento abdominal abrange o ponto misterioso na escola da Bioenérgética, da Orgonomia e da Economia Sexual. As vísceras são os órgãos que correspondem a esse segmento, e a principal função biológica é a peristalse. Stolkiner (2008), em um Congresso em Massachusetts, apud (Body Oriented Psychotherapy, 1996), disse haver um estudo cuidadoso sobre os movimentos peristálticos, que são ligados à digestão, mas é apenas uma pequena parte que se encarrega desse trabalho, e que “do ponto de vista da fisiologia médica, não cumpre

nenhuma função”. De acordo com o autor, há um fluido envolvido nesse 83 movimento peristáltico que, segundo Boysen (1986), desempenha uma função de homeostase emocional no ser humano.

Diz, ainda que a homeostase é um tipo de descarga para fora, semelhante ao que ocorre quando descarregamos uma emoção, expressando-a, socando, gritando, chorando, ou quando descarregamos energia através do orgasmo, ou quando também descarregamos através do ânus. Essa descarga peristáltica se daria sempre que algo necessitasse ser descarregado, com objetivo de buscarmos o equilíbrio. 84

O encouraçamento visceral, do segmento abdominal, está ligado à diminuição dessa atividade peristáltica, formando o que o autor chama de “peristalse fechada”. Assim, a atividade de descarga pulsional através da emoção se relaciona com esse segmento, na medida de seu encouraçamento, com a capacidade de um

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Alcance, 2008. p. 213. Ibid, op. cit. p. 266.

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Ibid, op. cit. p. 266.

organismo expressar de forma intensa as emoções. Stolkiner (2008) escreve tal encouraçamento como se levássemos um susto, o intestino se contrai, gerando a diminuição do movimento peristáltico e da expressão emocional.

… o encouraçamento visceral ocorre quando paralisamos interiormente essa resposta, através de um reflexo de alarme, e ficamos todo o tempo preparados para uma situação de perigo. Esse encouraçamento, que ocorre dentro do intestino, faz com que a descarga peristáltica diminua por alguns momentos e, de certa forma, quase desapareça. 85

O movimento encouraçado desse segmento fala a respeito de ficar estático nessa situação de perigo. A diferença se dá quando num organismo flexível, passada a situação de perigo, o sistema parassimpático se encarrega de abrir a peristalse novamente, levando a uma descarga desses fluidos e, consequentemente, uma descarga emocional.

Há ainda em Lake (1987) a ligação entre tal segmento e a relação das emoções intrauterinas, e de puerpério, desse período fusional-simbiótico com a mãe. O cordão umbilical tem uma função de nutrir o feto, e carregamos esses eventos até o fim da vida, com uma cicatriz que chamamos de umbigo. É importante para o educador ficar atento ao encouraçamento dessa área, que pode surgir através de sintomas como lombalgias, ou até érnias umbilicais, devido à pressão não descarregada das emoções.

O intestino, importante órgão relacionado ao segmento abdominal, é responsável também pelo processo de digestão. Quando incorporamos o que nos alimenta (informações, comida e ar) através dos primeiros segmentos (ocular e oral), quando essa matéria chega ao intestino, é responsável pelos processos de separação, o que de fato vai ser incorporado e o que vai ser excretado.

O intestino possui a função de digerir tudo que incorporamos: alimentos físicos, uma ideia, uma emoção, um casamento. Na realidade primeiro se incorpora, depois disso começa o processo de digestão. 86

As mudanças inerentes à vida, e a forma como o indivíduo “digere” tais situações, representam um dos termômetros para a percepção dos processos de

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Alcance, 2008. p. 266. Ibid, op. cit. p. 276.

encouraçamento: como o indivíduo incorpora e separa as situações, as pessoas, se está sempre num estado de alerta, simpaticotonia; ou sempre num estado relaxado, parassimpaticotonia.

As funções umbilicais também vão revelar a capacidade de vinculação com outro. Como já dito, a nossa primeira ligação com o mundo externo é através do cordão umbilical. Logo, os vínculos são também sentidos nesse segmento.

Exemplos dessas situações podem ocorrer depois de um término de uma relação amorosa, da morte de alguma pessoa, de afastamento do trabalho, ou de perda de fé na religião ou desilusão com um partido político, qualquer caso que tenha perdido o “tampão simbiótico”. Nesses momentos, é provável, que o afeto umbilical esteja acessível. 87

A forma como o indivíduo vai lidar com os processos de união e separação diante das situações da vida pode fazer emergir essa memória emocional inerente às fases das primeiras separações da história da vida desse indivíduo, o parto e o purpério. Quando esses processos ocorrem na infância, de separação dos pais para adentrar na escola, de fechar ciclos de séries, ou quaisquer mudanças que representem um tampão simbiótico, por exemplo, podem irromper certas emoções, dependendo de como foram vividas essas primeiras separações.

I.VII. Segmento Pélvico

"Mas eu não estou interessado Em nenhuma teoria Em nenhuma fantasia Nem no algo mais Longe o profeta do terror Que a laranja mecânica anuncia Amar e mudar as coisas Me interessa mais”

Belchior

O segmento pélvico, assim como os segmentos cervical e diafragmático, representa um limite entre o indivíduo e o mundo. É no diafragma pélvico que se encontram os órgãos reprodutores e excretores, de qualidade fixa, bem como as

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pernas, de qualidade móvel. Diferente da cavidade craniana, na qual a principal função é de entrada, através dos olhos, da boca, do nariz e dos ouvidos, a função do segmento pélvico é a de saída.

Há em Stolkiner (2008) uma ligação entre as cavidades cranianas e abdominopélvico que, segundo o autor, formam um par funcional. A entrada dos 88 ditos alimentos (informação, matéria e ar) é realizada pela cavidade craniana; o fluxo de energia pulsional criada com essa entrada segue seu curso através do corpo, passando pela parte dianteira, até chegar à pélvis. Nem toda energia é utilizada por esse segmento, e então acontece um movimento ascendente, pela parte posterior do corpo.

Como nem toda energia que chega à pélvis é utilizada, além da que já foi sendo consumida no caminho, em diferentes funções, parte da energia retorna ao corpo humano, num movimento contrário de subida, em direção à cabeça, pela parte posterior do corpo. Dessa forma, se estabelece um movimento circular: da cabeça à pélvis, em movimento descendente pela frente; e subindo em direção à cabeça, pela parte posterior. 89

Para o entendimento da função desse segmento, é interessante entendermos a função através de seu par funcional e a relação desse par com os outros segmentos. Como ja foi visto anteriormente no Capítulo 2, a relação entre fluxo e pulsação está ligada a esses segmentos da seguinte forma: a cabeça e a pélvis estabelecem um fluxo, de contato com o mundo, enquanto o centro, onde se encontram os órgãos pulsáteis, estabelece uma pulsação. Forma-se, portanto, uma relação entre centro e periferia, na qual a cabeça e a pélvis determinam a função de periferia, contato com o mundo, enquanto o peito determina a função de centro. Ou

STOLKINER, Jorge. Abrindo-se aos mistérios do corpo: seminários de Orgonomia. Porto Alegre:

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Alcance, 2008. p. 285. Ibid, op. cit. p. 286.

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DIAGRAMA 5 – PAR FUNCIONAL