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A Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR)

CAPÍTULO II A Construção das Ações Afirmativas no Brasil

3.7 A Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR)

A Conferência de Durban constituiu um marco importante para a redefinição da agenda das relações raciais no Brasil. As conclusões finais da Conferência solicitavam dos países signatários a adoção, quando necessário, de medidas apropriadas para assegurar que os cidadãos pertencentes às minorias nacionais, étnicas, religiosas e lingüísticas tenham acesso a bens sociais fundamentais.

Como responsabilidade iminente dos Estados participantes as medidas da Conferência deveriam ser aderidas como política nacional através da construção do Plano de Ação Pós-Durban. Essa tarefa, portanto, seria herdada pela gestão federal em curso, o governo Fernando Henrique Cardoso e a futura gestão que se avizinhava com o governo de Luís Inácio Lula da Silva a empreenderem esforços para elaboração do Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

Com a presença efetiva do movimento negro, como proponente, participante crítico ou componente do processo de monitoramento da implementação das políticas públicas, as ações afirmativas apresentaram-se como desafio à nova gestão. Nesse sentido,

“As políticas de ação afirmativa e a relação com as chamadas “áreas duras”, como planejamento, economia e infra-estrutura, foram as principais recomendações do Relatório de Transição do Governo. Acrescente-se a proposição para criação de um órgão com responsabilidade de coordenação de políticas, orientado pela transversalidade, incorporando as dimensões de raça, classe social, gênero e a presença de negros e negras na estrutura do poder do governo federal” (Ribeiro, 2006: 27).

Seguindo os indicativos da proposição de um projeto voltado para promoção da igualdade racial, o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva criou a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), em 21 de março de 2003, destacando a data instituída pela ONU – Dia Internacional Contra Todas as Formas de Discriminação Racial.

A SEPPIR é um órgão de assessoramento direto e imediato ao presidente da República. Seu objetivo centra-se em,

“Promover a igualdade e a proteção dos direitos dos indivíduos e grupos raciais e étnicos afetados pela discriminação e demais formas de intolerâncias – negros, indígenas, ciganos árabes, palestinos, judeus e outros, com ênfase à população negra; acompanhar e coordenar políticas de diferentes ministérios e outros órgãos do governo brasileiro para a promoção da igualdade racial; articular, promover e acompanhar a execução de diversos programas com organismos públicos e privados, nacionais e internacionais; acompanhar e promover o cumprimento de acordos e convenções internacionais assinados pelo Brasil, que digam respeito à promoção da igualdade e ao combate à discriminação racial ou étnica; auxiliar o Ministério das Relações Exteriores nas políticas internacionais em relação à aproximação de nações do continente africano” (Brasil, 2004: 43).

Em sintonia com esses objetivos da Secretaria, foi elaborada a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR), que apresenta diretrizes para todas as áreas do governo e para sociedade brasileira. Essa medida foi incluída no Plano Plurianual (PPA) 2004 – 2007, no capítulo “Inclusão Social e Redução das Desigualdades Sociais”, com o desafio de promover a redução das desigualdades raciais,

“Desenvolveu-se um conjunto de ações prioritárias que abrangem diferentes órgãos governamentais: política para remanescentes de quilombos; desenvolvimento, trabalho e geração de renda; educação e cidadania; diversidade cultural e combate à intolerância religiosa; saúde e qualidade de vida; segurança pública e ordenamento jurídico; políticas de relações internacionais” (Brasil, 2003-2006: 44).

A SEPPIR também se caracteriza pelo trabalho conjugado com a sociedade civil, por meio da atuação conjunta com o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR) e o Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial (FIPIR)23,

23

“O Fipir agrega atualmente 470 localidades – 23 estados e 447 municípios, dos quais 184 criaram órgãos executivos relacionados à temática racial” (Brasil, 2003-2006: 42).

“O Conselho é um órgão de caráter consultivo composto por entidades e instituições da sociedade civil representativas dos diversos grupos raciais, com a finalidade de propor, em âmbito nacional, políticas que visem reduzir as desigualdades raciais. O Fórum, que em 2005 expandiu sua adesão a 23 governos estaduais e 373 governos municipais, é constituído por administrações que possuam organismos executivos e ações de promoção da igualdade racial com o objetivo de consolidar estratégias dentro dessa finalidade. Instituído em 2005, o Ano Nacional de Promoção da Igualdade Racial teve como intuito intensificar as articulações políticas para ampliar o debate sobre a necessidade de implementação imediata de políticas de ações afirmativas no Brasil, potencializando ações conjuntas entre os governos federal, locais e sociedade civil” (Brasil, 2003-2006: 46).

No âmbito da educação superior, cenário em que iremos nos ater, consideramos a atuação da SEPPIR no que diz respeito à elaboração de proposições legislativas que estabelecem reserva de vagas para estudantes negros e egressos de escolas públicas nas universidades públicas. A proposta do governo encaminhada em 13 de maio de 2004 para o Legislativo, hoje incluída no Projeto de Lei 73/1999, indica a implantação do sistema de reserva de vagas no ensino superior público para alunos oriundos de escola pública considerando o percentual de negros e indígenas proporcionalmente à sua participação na população das respectivas unidades da federação, segundo os dados do IBGE.

“Essa formulação foi síntese do trabalho realizado pelo Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) coordenado pelo MEC e pela SEPPIR em 2003. Baseou-se na análise dos projetos de lei que tramitavam na Câmara Federal” (Brasil, 2003-2006: 82).

Desde então, a SEPPIR acompanha a tramitação do projeto nas comissões pertinentes no Congresso. Nesse sentido, foram monitorados debates relativos à educação e ações afirmativas no Congresso Nacional que se propuseram aprofundar diálogos para o encaminhamento dos projetos de lei para votação.

vagas para negros e indígenas e apontar os caminhos para amadurecer as questões que cercam o tema das cotas nas universidades a partir da análise dos casos concretos. Para tanto, em agosto de 2006 foi realizado o Seminário Experiências de Políticas Afirmativas para Inclusão Racial no Ensino Superior pela Universidade de Brasília (UNB), a SEPPIR e a Secretaria de Educação Superior (Sesu/MEC).

No seminário foram apresentados dados que mensuraram o desempenho acadêmico dos alunos cotistas, os seus rendimentos e a avaliação do nível acadêmico dos alunos pelos professores.

É inegável que as ações afirmativas estabeleceram-se como pauta das questões nacionais e encontram-se sob a atenção do Estado brasileiro ao inserir essa discussão no campo da política pública. A SEPPIR é resultado desse momento a quem se destina o tratamento da promoção da igualdade racial a partir da ação conjunta entre governo e sociedade civil.

No caso das universidades que optaram por aderir o sistema de cotas depararam-se com o fato de que os desafios avolumam-se após a sua implantação, pois os desdobramentos extrapolam o campus universitário e se vinculam a negociações e posicionamentos distintos que indicam caminhos para democratização do acesso e para supressão das desigualdades na sociedade.

No capítulo seguinte, para entender quais são os desafios impostos pelas cotas nas universidades traremos a realidade de algumas e as diferentes formas que assumiram em cada campus, ou seja, as várias formas de implantação.

CAPÍTULO III