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Considerações Finais

Nestas páginas finais pretende-se recuperar algumas das questões levantadas no decurso deste trabalho.

As políticas de ação afirmativa são concebidas com o objetivo de corrigir desigualdades ou injustiças históricas, reparando erros do passado. Também são justificadas a partir da visão de que a persistente exclusão de determinados segmentos da sociedade dos benefícios coletivos e das oportunidades inibe o desenvolvimento do país como um todo. Se talentos são desperdiçados, deixamos de contar com a contribuição desses indivíduos para a construção do país que desejamos.

Hoje no Brasil nos deparamos com um grande número de universidades que estão aderindo as cotas e pudemos constatar as formas distintas de construção do projeto ao longo dos últimos seis anos. No entanto, há uma dificuldade em comum entre as instituições, ou seja, o sucesso dos programas de ação afirmativa estão fortemente correlacionados com a extensão em que cada universidade mobiliza seus recursos acadêmicos e financeiros para executar o projeto. Em comparação aos países com maiores experiências nesse tema, onde as melhores universidades têm volumosos recursos, as fontes para financiamento do ensino superior são maiores, em alguns casos os beneficiários da política podem arcar com determinados custos da educação universitária e onde a iniciativa privada dispõe sua contribuição, no caso brasileiro os programas dependerão, principalmente, dos compromissos assumidos pelo governo federal e estadual. O cálculo dos custos dos investimentos das ações afirmativas deve, então, ser o resultado de um desenho cuidadoso, da avaliação periódica dos programas e seus componentes, da análise das características do público-alvo beneficiado e dos objetivos educacionais e acadêmicos dos programas.

Por conta da heterogeneidade das condições de ensino em diferentes partes do país e dos recursos existentes nas diferentes universidades, talvez

no Brasil seria criar um programa institucional no Ministério da Educação ao qual cada universidade que queira adotar ação afirmativa submeteria suas propostas com objetivos identificáveis em termos de oportunidades educacionais e realizações acadêmicas, assim como os mecanismos para avaliação dos resultados.

No que diz respeito aos programas desenvolvidos pelos órgãos públicos, o ProUni é considerado uma das principais realizações do MEC, que estabeleceu ação afirmativa na forma de bolsas de estudos para alunos oriundos das escolas públicas, entre eles negros e indígenas. Apesar dos seus números serem considerados satisfatórios, quando em 2006 foram concedidas mais de 200 mil bolsas para estudantes negros (Brasil, 2003- 2006), questiona-se o fato do programa ser desenvolvido apenas em instituições privadas onde a qualidade do ensino é classificada como inferior em relação às universidades públicas.

Ao contrário do ProUni, as cotas não se tratam de nenhum programa ou política governamental, ou seja, foram adotadas voluntariamente por cada universidade, baseadas em procedimentos democráticos da sua administração e ainda passam por reformulações e ajustes, o que dificulta talvez a mobilização de recursos financeiros públicos, pois é certo que o apoio financeiro para projetos de ação afirmativa devem considerar um bom desenho do programa e um monitoramento cauteloso dada a magnitude que o processo de implantação das cotas alcançou no país.

Nesse sentido, estamos de fato assistindo ao alvorecer do debate nacional sobre a ação afirmativa e o tema ainda é dominado pela questão da validade ou não de tal iniciativa. Entretanto, no futuro esse olhar dividirá o espaço com um número crescente de trabalhos que procuraram avaliar o funcionamento da política apontando ganhos, perdas e possibilidades de aperfeiçoamento para criar alternativas de inclusão social e racial.

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ANEXO I