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CAPÍTULO 2 – O GÊNERO AUDIÊNCIA PÚBLICA

2.1 A SEMENTE DA AUDIÊNCIA PÚBLICA: A ÁGORA GREGA

O clima convida, na maior parte do ano, à vida ao ar livre. Mesmo os dias mais quentes do verão são amenizados quer pelos já citados ventos etésios, quer por brisas locais e cotidianas. Numa atmosfera transparente, sob um céu azul, o grego encontra seus amigos, trata de seus interesses e discute os assuntos do Estado. Esse contacto permanente dos homens tem repercussões familiares, sociais e políticas (GIORDANI, 1984. p. 30).

A Grécia é considerada o berço da democracia, os historiadores costumam datar seu início no século V a.C. Nessa democracia, como uma forma de governo, tinha co mo fundamento três direitos essenciais dos cidadãos atenienses: igualdade, liberdade e participação no poder. O exercício da democracia grega ateniense ocorria em assembleias de cidadãos, de forma direta (KELSEN, 2006), ainda que não fossem todos os integrantes da sociedade a participar do debate.

Observamos que o exercício da democracia direta foi facilitado tanto pela geografia grega, como pela composição social, em que apenas parte da sociedade possuía o status de cidadão80 e participava ativamente das decisões sociais, políticas etc.. No que se refere à democracia brasileira, esta ocorre de forma indireta, por meio representativo e participativo, com alguns instrumentos que proporcionam a participação de forma direta.

Segundo Amossy (2002a, p. 371),

Todos incluíam apenas os cidadãos de Atenas capazes de buscar um acordo na polis e não, por exemplo, escravos, bárbaros ou mulheres. Além disso, na visão de

Aristóteles, todo o corpo de cidadãos atenienses pode ser substituído não apenas

por uma elite de sábios ou especialistas que os representam, mas também pelo julgamento de autoridades indiscutíveis como os deuses, o pai ou os senhores.

Sua opinião é a verdade digna e respeitável, porque eles próprios são dignos e respeitáveis (Tradução nossa) (Grifos nossos).

Assim, na cultura grega, a autoridade81 é bem demarcada, por isso, em determinado momento histórico, passou-se a ter um estímulo para o desenvolvimento de certas habilidades da linguagem82. Segundo Vernant (2002), a transformação da Grécia se deu entre os séculos VIII e VII, colhendo os frutos desse reconhecimento, quando retorna as atividades com o Oriente, no helenismo. Para Vernant (2002, p.11)

80Nossa tradução do inglês: “In ancient Greece, this positive consensus omnium did not, however, have the scope it acquiredin modern democratic regimes. Everybody included only the citizens ofAthens capable of seeking an agreement in the polisand not, for instance, slaves, barbarians, or women. Moreover, in Aristotle’s view, the whole body of Athenian citizens can be replaced not only by an elite of wise men or experts representing them, but also by the judgment of undisputable authorities like the gods, the father, or the masters”.

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O argumento de autoridade será abordado no próximo Capítulo 3 e 4. 82

Alguns autores apontam a escravidão como possibilidade de devoção integral do tempo do cidadão grego à atividade pública, inclusive à arte do falar.

A Grécia se reconhece numa certa forma de vida social, num tipo de reflexão que definem a seus próprios olhos sua originalidade, sua superioridade sobre o mundo bárbaro: no lugar de um Rei, cuja onipotência se exerce sem controle, sem limite, no recesso de seu palácio, a vida política grega pretende ser objeto de um debate

público, em plena luz do sol, na Ágora, da parte de cidadãos definidos como iguais e de quem o Estado, é a questão comum (Grifos nossos).

As primeiras ágoras eram abertas para a comunidade e o acesso era livre. Havia uma tendência de se estabelecer esse “ponto de encontro” nas encruzilhadas ou nas principais vias da cidade:

[…] A região rural grega estava cheia de pessoas, mas arquiteturalmente vazia. Excetuando alguns complexos ocasionais de templos construídos longe das cidades, o edifício significativo só existia nos grades centros. Com o decorrer dos tempos, a população foi aumentando de tal forma que o conjunto adquiria por norma uma configuração muito desordenada. As muralhas eram fortes, mas, irregulares e as portas muitas vezes não levam às principais artérias interiores. […] As ruas eram estreitas e tortuosas. A praça pública, a ágora, tendia a tornar-se num caos em

redor das esquinas, porque os edifícios se apertavam uns aos outros, havia uma invasão das mesas do mercado e as estátuas e pedras dedicatórias eram colocadas por todo lado. Atenas é um bom exemplo: aparte a existência de uma superfície aberta sem pavimento, com cerca de dez acres, em pleno centro, não consegue discernir-se uma única idéia por detrás da arquitetura de sua ágora.

Ou então, a desordem de Delfos onde, o Caminho Sagrado - que levava à colina do principal Templo de Apolo - era delimitado por edifícios e objetos dedicatórios que se acumulavam século após século, enquanto os antigos se desfaziam e alguns eram demolidos (FINLEY, 1984, p. 133.) (Grifos nossos).

Em meio a todo esse “caos” urbano, a ágora era um espaço aberto que aos poucos foi se fechando, pois a cidade antiga foi se organizando e passou a ter uma delimitação territorial por quarteirões e pelo plano ortogonal. Esta ideia de um plano regular foi atribuído – na tradição clássica – a Hipódamo, que teve seu auge em meados do século V a.C, quando foi um reformador, um planificador e um teórico político utópico (CASTELLAN, s.d).

Esse processo foi um longo caminho percorrido, segundo Austin e Naquet (1984), a palavra ágora também sofreu mutação de sentido, pois o vocábulo agorien, no século VIII a.C., significava discutir, deliberar, tomar decisões; mas, com o passar dos séculos, seu sentido foi mudando e já, no século IV a.C., agorien significava comprar, fator que acompanhou a questão logística do espaço social. Por ser um local físico, pudemos perceber que a mudança se dá em relação à construção de outros ambientes para realizar as deliberações e tomar as decisões ficando na ágora: os movimentos da vida privada que ser referia a discussão com os amigos e aos próprios atos negociais, que são tão caros ao dia a dia grego, como já dito. Assim,

Era na ágora que as pessoas de uma mesma comunidade se relacionavam, elas saiam de dentro de seus oikos e iam se reunir nesse grande centro de circulação de

produtos idéias e pessoas, ou seja, um ponto de reunião – independente de haver troca de bens - era este o sentido que a ágora tinha. Esta “praça” pública se caracterizava como um espaço construído, permanente e fixo, que, tinha também um sentido político – era o lugar onde se deliberavam assuntos importantes para a vida dos cidadãos e da sociedade como um todo (AUSTIN; VIDAL-NAQUET, 1986, p. 124) (Grifo pertence ao original).

Os gregos saiam de suas casas para participar do social, de encontros públicos entre amigos, para tratar de interesses pessoais e também assuntos de Estado, o que se refletia nas bases familiares, sociais e políticas. Inclusive porque a família era o cerne social e econômico da sociedade grega. Além disso, a ágora representava deliberação, que segundo Castellan (s.d.), representava valores democráticos

[…] esta “praça” pública se caracterizava como um espaço construído, permanente e fixo, que, tinha também um sentido político – era o lugar onde se deliberavam

assuntos importantes para a vida dos cidadãos e da sociedade como um todo.

Neste sentido, encontraremos uma contraposição entre os povos que tinham a

ágora e os que não a tinham. Estes últimos eram considerados bárbaros, pois, na maioria das vezes, tinham como forma de governo a monarquia e, como tal, não deliberavam, pois, entendiam não ser necessária a discussão uma vez que

apenas uma pessoa decidia por todas as outras (Grifo nosso).

O significado da palavra ágora (ἀγορά) atualmente é traduzido por mercado, mas, segundo Anthon (1870), pode ser considerada como "assembleia", "lugar de reunião". É derivada da palavra "reunir" (ἀγείρω), que é um termo grego cujo significado designa reunião de qualquer natureza. Ela foi empregada por Homero como assembleia geral do povo, uma reunião geral de pessoas. Parece ter sido considerada uma parte essencial na constituição dos primeiros estados gregos (ANTHON, 1870).

A ágora era geralmente convocada pelo rei, como, por exemplo, por Telêmaco na ausência de seu pai, e parece ter sido também convocada por chefes destacados, como, por exemplo, por Aquiles antes de Tróia. O rei ocupava o assento mais importante nessas assembleias, e perto dele sentavam-se os nobres, enquanto o povo se sentava ou ficava em círculo ao redor deles. O poder e os direitos das pessoas nessas assembleias têm sido objeto de muita discussão. Alguns autores, comentando a Odisséia, sustentam que o povo podia falar e votar; enquanto outros pensam que os nobres era os únicos que podiam propor medidas, deliberar e votar, assim as pessoas só estavam presentes para ouvir o debate e para expressar seu sentimento como um corpo (ANTHON, 1870). Nesse segundo sentido, há uma aproximação das Aps, quando a forma de promover o diálogo por pessoas específicas na sociedade, detentores de conhecimento, caberia ao povo ouvir e expressar opinião como integrantes da sociedade, mas não individualmente. Se bem que, quanto ao povo falar e votar, caso pensemos na questão dos cidadãos gregos, parcela que tinha autoridade naquela

sociedade, compreendemos também que era, de certa forma, uma democracia de representação por grupo privilegiado a falar em nome de todos em decorrência da nacionalidade.

O nome ágora foi transferido cedo da própria assembleia para o local em que a assembleia foi mantida; e assim, como o já dito, veio a ser usado para o mercado onde mercadorias de todas as descrições eram compradas e vendidas. A expressão mercado/shopping foi usada para significar a hora da manhã até o meio-dia, isto é, das nove às doze horas, mas em Creta, o nome original continuou a ser aplicado às assembleias populares até mais tarde (ANTHON, 1870).

A partir do século VII a.C., a realidade grega passou a se contextualizar com a aristocracia em baixa, a humanização das técnicas, a mundanização das relações sociais, a divulgação da escrita, a passagem do privado ao público, o que se configura na guerra, nos cultos religiosos, na justiça e na política; a substituição da vingança pelo ato jurídico e a afirmação da ágora – e não mais do palácio real – como centro da polis (VERNANT, 2002).

A ágora constitui-se como algo inteiramente novo: centro econômico, cultural, social e político. O palácio era restrito à aristocracia enquanto que a ágora é de livre acesso. A acrópole torna-se o centro de culto às divindades, frequentada publicamente pelos cidadãos, que têm acesso aos símbolos sagrados, antes reservados à aristocracia. As práticas sociais, antes restritas à aristocracia, tornam-se, com a pólis, atividades públicas, a qual o povo (cidadão grego) participa em maior ou menor grau, dependendo do momento histórico em que se vivia (VERNANT, 2002).

Podemos perceber que a vida pública do cidadão grego pode explicar a evolução política dele, pois, acostumado a debater, tem apego a suas ideias, a liberdade de manifestá- las, de fazê-las triunfar (GIORDANI, 1984, p. 31). Esse fato pode ser atrelado à retórica, como parte da democracia grega, por volta do século IV a.C., pois há um reforço social da retórica (em um contexto político e jurídico), o fim da tirania e o início dos procedimentos orais junto aos tribunais em busca dos direitos de terra que foram tomados dos gregos anteriormente83. Nesse contexto, a democracia propiciaria um ambiente vasto para os direitos serem discutidos e para a retórica, como arte e como instrumento, a qual permite a amplitude desses espaços por mecanismos discursivos categorizados por ambientes em que se desenvolveriam as habilidades necessárias, entre elas, as de se falar em público. A ágora serviria a esse conceito de desenvolvimento pessoal/social.

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Assim, a ágora é o espaço onde se forjaram cidadãos conscientes, decididos a influírem nos destinos daquela pátria (BONAVIDES, 2014). Em virtude da existência dela, os cidadãos conviviam uns com os outros, era, portanto, o espaço da cidadania. Na Grécia - devido à

ágora - a democracia foi praticada na forma direta; era a chamada democracia clássica, na

qual os membros de uma comunidade deliberam diretamente, sem intermediação de representantes. Isto era possível na prática, porque a cidade era de reduzidas dimensões e a população diminuta, mas, como já afirmamos, eram poucos os participantes ativos que representavam apenas uma parcela da sociedade. Segundo Bonavides (2014, p. 288),

A Grécia foi o berço da democracia direta, mormente Atenas, onde o povo, reunido no Ágora, para o exercício direto e imediato do poder político, transformava a praça pública “no grande recinto da nação”. A democracia antiga era a democracia de uma cidade, de um povo que desconhecia a vida civil, que se devotava por inteiro à coisa pública, que deliberava com ardor sobre as questões do Estado, que fazia sua assembléia um poder concentrado no exercício da plena soberania legislativa, executiva e judicial. Cada cidade que se prezasse da prática do sistema

democrático manteria com orgulho um Ágora, uma praça, onde os cidadãos se congregassem todos para o exercício do poder político. A Ágora, na cidade grega, fazia pois o papel do Parlamento nos tempos modernos (Grifos nossos).

Segundo Nitti, apud Bonavides (2014, p. 288) “Um povo sem Ágora era um povo escravo, como hoje o é um povo sem liberdade de opinião e sem direito ao sufrágio (Francesco Nitti, La Démocratie, t. I, p. 53)”. Podemos, então, dizer que a ágora representava a deliberação democrática e o ato de discursar foi fundamental para a construção das sociedades modernas, principalmente, das democracias. O falar em público era considerado uma das mais importantes qualidades de um cidadão84, e, atualmente, tal fato vem ressurgindo nas sociedades modernas, o que vem sendo reforçado pelas construções das teorias contemporâneas de argumentação. Isso porque a sociedade deve contribuir de maneira mais efetiva com o debate de ideias, o que era o pilar formador da sociedade grega antiga. Os discursos, na Grécia, eram proferidos em um local específico: as ágoras, onde eram feitas as contribuições intelectuais para tornar as sociedades melhores, onde os filósofos se reuniam para discutir os temas mais relevantes para a polis, onde se reuniam para os julgamentos, onde ocorriam os atos negociais. Assim, os debates tinham como objetivo construir algo: solução prática para os problemas sociais, jurídicos etc. Os gregos desejavam consolidar a democracia, um dos mais importantes conceitos criados por eles, e as ágoras possuíam papel fundamental para isso, na formação política das cidades, pois eram os locais onde aconteciam as manifestações da opinião pública, enquanto exercício da cidadania.

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Ainda que pertencer a essa classe fosse privilégio de pessoas nascidas de mulheres gregas e que mantivessem essa condição social, pois, poderia perdê-la e se tornar homem livre, mas sem os privilégios de exercer as funções governamentais.

Em Atenas, como vimos, a ágora era uma grande praça, que ficava ao lado dos edifícios públicos e nas proximidades ocorriam as feiras. E não eram só os debates que aconteciam na ágora, pois, ao redor dessas “praças”, outras atividades eram desenvolvidas: sociais, religiosas, administrativas, performances teatrais, comerciais e legislativas. As ágoras eram o centro, o pulsar, das cidades da Grécia Antiga (CASTELLAN, s.d.), e, assim, os discursos proferidos nesses locais foram a base do conhecimento na época.

Quanto a base de conhecimento, reconhecemos que as APs como processos discursivos semelhantes aos que ocorriam na ágora em relação ao contexto de socialização e de debate nos valores sociais, políticos e econômicos, pois, os debates ocorridos nas ágoras ficavam ao encargo dos cidadãos gregos, assim quem não participasse ativamente, por não pertencer à classe, poderia ouvir e compreender as razões a serem definidas como regulamentares nas diversas áreas, como ocorre nas APs. Como nas ágoras gregas, a AP permite à sociedade formar ideias e participar dos debates envolvendo conteúdos sociais, econômicos, jurídicos etc., mesmo que de forma indireta, já que os oradores/expositores são representantes dos grupos sociais que serão atingidos pela norma diretamente e que toda a sociedade deverá seguir enquanto regra após o julgado. Podemos afirmar que o ato de debater é fundamental para a construção das sociedades modernas e, principalmente, das democracias, que inserem o cidadão como sujeito de ação e não apenas receptor das ações estatais85. Podemos inferir que a praça pública grega, de certa forma, respeitando as diferenças históricas, sociais, econômicas, etc., alcançou seu espaço, no Brasil, na modernidade, quando os três poderes inseriam a possibilidade de utilização da AP, já que não é possível o exercício da democracia direita86. É necessário instrumentalizar institutos que permitam deliberar assuntos importantes para a vida dos cidadãos e da sociedade como um todo. É preciso considerar que a participação da sociedade na res publica (coisa pública) atualmente tem sido facilitada em função das novas tecnologias de informação e comunicação87, sobretudo a

internet, exatamente como ocorre nas APs, que são divulgadas ao vivo pela TV Justiça, além

da divulgação pela mídia comum e a disponibilização pelo YouTube.

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Compreendemos que essa questão ainda necessita ser desenvolvida no seio social, pois o papel do cidadão político ainda é pouco reconhecido pelo próprio cidadão, por inúmeras questões de ordem histórica, social, entre outros fatores.

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Lembramos que o exercício da democracia direta na Grécia Antiga era exercício de poucos também, somente homens gregos, considerados cidadãos, que exerciam o poder e participavam das deliberações decidindo o que seria adequado ou não, julgando, etc..

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As votações para o orçamento participativo também já ocorre online em alguns locais, sabemos que adisponiobilização nem sempre movimenta a participação ou representa que o papel democrático é compreendido e exercido, na presente pesquisa, entendemos que há um longo caminho a ser percorrido, mas que a disponibilização do atos para conhecimento e participação já permite ampliar o acesso aos cidadãos no exercício da cidadania.

A internet, hoje em dia, faz parte do cotidiano de uma parcela significativa da população e permite a divulgação e o acesso a uma grande quantidade de informação, em várias áreas e nas mais diferentes esferas de poder: executivo, legislativo, judiciário, em nível federal, estadual ou municipal. A utilização da internet como ferramenta democrática possibilita que um número maior de cidadãos possa discutir os problemas da sociedade e isso independente do local onde ele esteja, ampliando o espaço físico da ágora para o espaço cibernético. Independente dessa questão, a AP, na Jurisdição Constitucional, tem um espaço físico de funcionamento semelhante ao que ocorria na ágora, com a convocação efetuada por uma autoridade, que delimita o âmbito da discussão e permite a participação de sujeitos da sociedade que representam autoridades na temática e a participação como ouvinte de toda a sociedade88.

Compreendemos que os gêneros são adaptáveis a novas situações sociais, permitindo que se modifiquem, com o passar do tempo, acompanhando a história das atividades sociais. Os gêneros textuais podem, inclusive, separar-se de suas funções originais, atendendo a finalidades às quais, outrora, não atendiam, ampliando, portanto, sua possibilidade de ocorrência, isto é, a diversidade textual que determinado gênero pode abarcar. Esses desvios a modelos preestabelecidos fazem com que os gêneros contribuam constantemente para sua própria evolução histórica, sendo um fator importante verificar como o gênero atualmente circula e o alcance e acesso permitido pela própria tecnologia. Pensando nisso e considerando que o grau de formalidade atribuído a gênero pode ter sido abrandado ou intensificado com o decorrer das práticas sociais, bem como o modo de circulação dos textos e seu público alvo, vamos discorrer no próximo item sobre a AP no Direito, compreendendo que o fundamento histórico dessa formação de gênero encontra-se na história grega.