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A socialização profissional docente: apoio ao iniciante

O processo de socialização que ocorre no início da carreira docente é um tema abordado por diversos autores. Nesse período, o professor iniciante adquire e toma para si crenças e valores da cultura docente.

Para Tardif e Raymond (2000), a socialização é um processo de formação do indivíduo que se estende por toda a história de vida e comporta rupturas e continuidades. No ensino, os trabalhos dedicados à vida de professores remontam aos anos 1980, e os que são dedicados à socialização pré-profissional datam somente de uma década. Esses trabalhos defendem a ideia de que a prática profissional dos professores põe em jogo saberes oriundos da socialização anterior à preparação profissional formal para o ensino.

Essas pesquisas sobre a socialização docente unem-se com outros campos de pesquisa sobre o professor, como a formação docente, incluindo as políticas de formação; o conhecimento/saber do professor; o desenvolvimento profissional e a profissionalização.

Existe uma nítida relação entre o conceito de socialização com o de construção da identidade individual. Segundo Dubar (1991), “a socialização profissional consiste, para os indivíduos, em construir sua identidade social e profissional, através do jogo das transações biográficas e relacionais”. A identidade profissional não se confunde com a identidade social, mas tem relações estreitas com ela (LÜDKE; MOREIRA, 1992 apud DUBAR, 1991, p. 9).

Marcelo Garcia (2010) salienta que, nesse período, o iniciante tem de apropriar-se dos conhecimentos, modelos, valores e símbolos da profissão, integrando-os em sua identidade, e precisa adaptar-se ao meio social em que se desenvolve sua atividade docente.

Tal adaptação pode ser fácil quando o entorno sociocultural coincide com as características do professor iniciante. No entanto, tal processo pode ser mais difícil quando deve se integrar a culturas que lhe são desconhecidas até o momento de começar a ensinar (GARCIA, 2010. p. 30).

Garcia (2010), faz a comparação entre os dois processos de socialização do professor iniciante e dos imigrantes. Do mesmo modo que os imigrantes se mudam para um país cuja língua, normalmente, não conhecem, assim como sua cultura e normas de funcionamento,

O professor iniciante é um estranho que muitas vezes não está familiarizado com as normas e símbolos aceitos na escola ou com os códigos internos que existem entre professores e alunos. Nesse sentido, os professores iniciantes parecem lembrar os imigrantes que abandonam uma cultura familiar para se mudar para um lugar atraente e, ao mesmo tempo, repelente (GARCIA,

2010, p. 30).

Freitas (2002) aponta nessa direção ao afirmar que para a compreensão do processo de socialização profissional, é necessário levar em conta tanto a história do professor iniciante, suas expectativas e projetos como as características do grupo profissional a que pertencerá.

Com a finalidade de abordar quais foram os apoios que os professores iniciantes de História sustentaram-se no início da carreira docente, foram reconhecidas algumas percepções da socialização.

Marina afirma que sempre obteve ajuda nas duas escolas em que atua. Trabalha em duas Unidades Escolares distintas e contou com o apoio, tanto dos iniciantes contratados, como ela, como dos mais antigos titulares no cargo, que também a acolheram bem.

Sempre tive ajuda. Aqui e na outra escola, tive muita ajuda, acho que por ser escolas de periferia, principalmente, entre os formados, e categoria “O” não teve disputas. Tive muita ajuda de todos, sendo que, os professores de História sempre me ajudaram muito. Os professores antigos também me receberam muito bem, enfim, nunca tive problemas (Marina).

Não se pode tomar como única a situação narrada pelos por Marina. Essa realidade de acolhimento e apoio não é vivenciada em todas as escolas. Cada escola estabelece sua própria dinâmica de intercâmbios pessoais e curriculares, embora se possam encontrar elementos comuns entre elas, cada uma atua de modo singular Perez Gómez (1998).

Essa variação ocorrida nas relações existentes no âmbito escolar é descrita por Waldir, que afirma que, em algumas escolas, fez amigos e em outras apenas companheiros de trabalho. Apesar dessa variante, o professor reconhece que o saldo é positivo.

A relação é boa, só que isso vai variando de escola para escola. Teve escola que encontrei companheiros de trabalho e teve escola que encontrei amigos. Isso vai divergindo muito. Mas, na maioria, encontrei pessoas que foram solidárias, não sabia fazer diário, lidar com a indisciplina e ficar dando bronca. Tive mais professor que estendeu a mão do que professor que virou as costas. Dentre tudo foi uma experiência positiva. Mesmo tendo alguns que se fizeram de indiferentes nas dificuldades (Waldir).

Daniel menciona que teve ajuda dos professores mais antigos, que já haviam sido seus professores. E que existe o vínculo de amizade

Sempre, até hoje, não posso reclamar. Quando tive problemas, foi com os novos que não me conheciam, que se unem, não para resolver problemas que surgem, mas para tumultuar e diminuir alguns colegas. Os meus antigos professores sempre me ajudaram em tudo. Se eu bagunçava com eles antes, como aluno, hoje, como professor faço pior, gosto muito deles (Risos) (Daniel).

Em contrapartida, houve alguns problemas ao relacionar-se com os professores que ele não conhecia e ressalta que, apesar de ser um grupo unido, esses professores mais novos na escola, não ofereceram ajuda para solucionar os conflitos que emergem.

No estudo realizado por Monteiro e Mizukami et al. (2002), no qual as posturas das colegas e, dentre outros motivos, foram também destacadas, como a importância que a socialização exerce no processo de integração das docentes

com a escola. Algumas professoras expuseram que não tiveram problemas e outras disseram que vivenciaram situações problemáticas.

5.4 Os professores iniciantes e a sua relação face a grade