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Dificuldades e desafios no exercício do trabalho docente

Ao observar o momento de entrada na carreira docente, surgiu nos depoimentos dos sujeitos da presente pesquisa um dos indicadores referentes às dificuldades encontradas na inserção à docência.

Os professores Daniel e Waldir demonstram que a solidão é o maior desafio que enfrentam no trabalho docente, conforme declaram,

Acho que o maior desafio é a sensação de, muitas vezes, estar sozinho na escola, [...] porque se você tem um problema, aquele problema pode ser a ruína da sua vida profissional, mas, para a escola, é algo comum que está acontecendo, eles pedem para você ter calma, que vai melhorar, mas não estão preocupados em saber se você está conseguindo, se o seu emocional está bom ou não. Então, a gente vê professor chorando, professor que é agredido fisicamente, verbalmente e nada é feito. É mais fácil o professor sair da escola do que o próprio aluno. Isso é o maior problema. Essa situação de humilhação que o professor passa e a sensação que dá é que você está para servir o aluno e você é o próprio escravo. Ele te agride e você é o errado (Waldir).

[...] houve um caso onde uma aluna falou que eu a tinha agredido, porque eu a tirei da minha sala, não tinha porta, e eu não estava contendo o pessoal da minha sala por causa disso. Levei-a pelo braço e coloquei-a na sala devida, porque não estava na sala dela, estava na minha. Depois de um dia, a menina chegou com a mãe dizendo que eu tinha agredido ela. A minha sorte foi que tinha dois professores presentes e viram quando eu a levei pelo braço e confirmaram toda a história e conversaram com a mãe junto com a mediadora. Mas, mesmo assim, naquele dia, fiquei assustado justamente por estar numa situação onde não tem certo ou errado, só quem pode dizer é quem estava na hora e achei que poderia alguém não ter visto o jeito ou não querer ficar ao meu lado, nessas horas, ninguém quer ficar ao lado de ninguém na escola [...] (Daniel).

Nesse sentido, Rocha (2006) assinala que a condição elementar de sobrevivência na carreira docente é assinalada por um conjunto de dificuldades, sendo, muitas vezes, acometido pela solidão e pelo isolamento, o que tem movido muitos professores ao abandono da carreira. A situação vivenciada por Waldir e Daniel é reveladora das condições atuais de trabalho que são marcadas na atualidade pela falta de respeito pelo profissional professor. A falta de reconhecimento de um trabalho tão complexo pela sociedade em geral afeta as relações com o aluno na sala de aula.

Ao descrever seus desafios, Marina afirma estar preparada para superá- los, e são esses próprios desafios que se renovam a cada dia que a faz fazer tentativas de vencê-los. Quando não consegue, pede auxílio a seus superiores e colegas de trabalho

São os obstáculos, os desafios que a gente encontra no dia a dia na sala de aula que eu já encontrei e que nos faz sentir preparados. Preparado nos 100%, eu acho que a gente nunca está, porque todo dia é um desafio novo que você encontra, todo dia é uma tentativa que você faz, e no final do dia é que você vai dizer: realizei ou não. Mas eu me sinto preparada a ter esse desafio. No dia em que não consigo vencer esses desafios vou até os meus superiores e aos meus colegas e peço ajuda para poder sanar numa próxima vez esses desafios (Marina).

A professora Marina é taxativa ao afirmar que seu foco concentra-se no aluno.

Quanto aos desafios, são os mesmos, na escola de bairro, de periferia ou na escola central. Mas, me propus a fazer o meu melhor e aquilo que já falei para você: não trabalho para a Gestão, não para me aparecer, mas para o meu aluno, porque é ele que vai me dar a resposta, por mais que a Gestão goste ou não de você, quem dá resposta mesmo é o aluno, eu tento fazer o melhor para todo mundo, mas o meu aluno é o foco (Marina).

Por meio dessas narrativas, os docentes, em início de carreira, mencionam suas expectativas referentes ao auxílio dos pares e superiores, mas percebem que nem sempre isso ocorre, o que os força, assim, a tomarem decisões e isso ocorre, muitas vezes, solitariamente.

Cavaco (1995) examinou o desenvolvimento da vida particular e profissional de vários professores e igualmente enfatiza que, em seu discurso, essa experiência é continuamente descrita com “grande riqueza de pormenores, expressividade e proximidade emotiva”. Para a autora, alguns esquemas e ação desse primeiro momento continuam e são utilizados no enfrentamento das dificuldades diárias. Nas suas palavras:

O início da atividade profissional é, para todos os indivíduos, um período contraditório. Se, por um lado, o ter encontrado um lugar, um espaço na vida ativa, corresponde à confirmação da idade adulta, ao reconhecimento do valor da participação pessoal no universo do trabalho, à perspectiva da construção da autonomia, por outro, as estruturas ocupacionais raramente correspondem à identidade vocacional definida nos bancos da escola, ou através das diferentes atividades socioculturais, ou modelada pelas expectativas familiares. Assim, é no jogo de procura de conciliação, entre aspirações e projetos e as estruturas profissionais, que o jovem professor tem de procurar o seu próprio equilíbrio dinâmico, reajustar, mantendo, o sonho que dá sentido aos seus esforços (CAVACO, 1995, p. 162-163).

A autora também declara que as contradições, a incerteza e a necessidade de pertencimento assinalam essa fase importante.

Na pesquisa que aborda o processo de aprendizagem da docência, Moraes (2006), enfocando professores de um curso pré-vestibular, demonstra a maneira contínua do desenvolvimento profissional docente. Apontando o início da carreira docente, a autora diz que os depoimentos dos professores de sua pesquisa indicam que

[...] a influência de elementos da experiência adquirida como alunos, em todos os níveis de ensino, não necessariamente a mais recente, mas as experiências mais significativas [...]. Com base nesse saber é que os professores se sentem mais ou menos autônomos ou seguros e independentes para agirem como agem e tomarem as decisões que tomam no cotidiano da sala de aula, seja no planejamento ou na condução de suas aulas (MORAES,

2006, p. 121).

De acordo com a autora, a experiência docente possibilita ao professor amadurecimento e segurança para tomada de decisão necessária para a boa prática em sala de aula.

Os relatos dos professores iniciantes apontam a forma como enfrentam os desafios e as dificuldades ligados ao exercício da docência nas séries finais do Ensino Fundamental.