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a substituição dos laranjais pelos loteamentos

No documento 1996 Limonad Os Lugares da Urbanizacao[1] (páginas 138-142)

4. ORIGENS, OCUPAÇÃO E URBANIZAÇÃO NO RIO DE

5.3 a ocupação da Baixada Fluminense

5.3.2 a substituição dos laranjais pelos loteamentos

Ao fim dos anos 30, em razão da industrialização e de outros fatores os subúrbios cariocas estavam ocupados ou mantidos como reserva de valor. À crescente população de baixo poder aquisitivo, dada a necessidade de trabalhadores para a indústria e serviços (ABREU, 1988 :94), só restava a opção de radicar-se além das fronteiras do Distrito Federal.

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Desde a década de 30 o Rio de Janeiro e São Paulo, constituíram-se nos principais destinos migratórios, com um acentuado incremento nos períodos posteriores. O pique da migração pode ser associado ao crescimento do setor industrial e de serviços no eixo RJ/SP e ao incremento das atividades no terciário. A redução do índice de migração na década de 60 não representou, em absoluto, um declínio no volume das migrações. Conforme dados do IBGE in BERNARDES, 1983 :40.

E ste r Limon a d - O s Lu g a re s d a Urb a n iza çã o 1 2 3 A partir da década de 30 a ocupação urbana da Baixada foi facilitada pela estrutura fundiária dos laranjais com predomínio das pequenas propriedades1 e pela oferta de terras baratas liberadas da citricultura, devido à doença dos laranjais (mosca do Mediterrâneo), da crise de 1929 e da proibição de exportações por ocasião da 2ª Guerra. Somam-se a estes fatores a ação do Estado (BERNARDES, 1983 :33 e ABREU, 1988 :107-109) através de:

1) obras de saneamento realizadas nos anos 30 pelo DNOS através do Serviço de Saneamento da Baixada Fluminense, que visava criar um cinturão agrícola no Distrito Federal para tornar seu abastecimento independente de transportes longos e dispendiosos, e evitar os problemas ocorridos durante a lª Guerra Mundial;

2) eletrificação da Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) a partir de 1935;

3) instituição da tarifa ferroviária única em todo o Grande Rio (que beneficiou sobretudo os subúrbios afastados e os municípios da Baixada); e

4) abertura da Av. Brasil, em 1946.

O primeiro destes fatores viabilizou a ocupação urbana da Baixada e os outros contribuíram para aumentar a acessibilidade de seus municípios e aproximá-los em termos de tempo da cidade do Rio de Janeiro. Sua concatenação resultou na substituição dos laranjais por loteamentos de casas autoconstruídas, carentes de infra- estrutura, muitos sem atender os requisitos legais.

Os dados a seguir (Vide Tabela e Gráfico 5.3.2 a), apesar de se referirem apenas aos lotes aprovados pelas prefeituras indicam, parcialmente, o crescimento na ocupação urbana entre 1930 e 1950 nos municípios da Baixada, exceto por Nilópolis, quase todo loteado antes de 1930, quando pertencia a Nova Iguaçu. São João de Meriti, apesar de apresentar um decréscimo na quantidade de lotes aprovados nos anos 30, em relação ao período anterior, passou por novo surto imobiliário nos anos 40, devido ao saneamento de parte do seu território e da eletrificação da EFCB. Duque de Caxias, beneficiado pela abertura da rodovia Rio-Petrópolis em 1928, apresentou um intenso parcelamento do solo nos anos subseqüentes, mormente após se desmembrar de Nova Iguaçu, na década de 40, quando grande parte de sua área foi saneada pelo DNOS (ABREU, 1988 :109-111).

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"A área urbana ampliou-se de duas formas: pelo desmembramento progressivo das chácaras que

rodeavam o antigo núcleo de laranjais e pelo loteamento de áreas mais amplas vizinhas à cidade".

E ste r Limon a d - O s Lu g a re s d a Urb a n iza çã o 1 2 4 Tabela 5.3.2a Lotes aprovados por localização e década de aprovação

até 1929 1930-39 1940-49 1950-59 1960-69 1970-76 Niterói 296 4.419 4995 1.622 3092 S.Gonçalo 922 38.617 82.614 19.510 15724 Duque de Caxias 3.302 9.169 36.959 86.299 44.386 15095 Nova Iguaçú 866 311 25.592 166.816 72.293 45.572 S. João de Meriti 5.356 3169 10.386 19.623 3.479 1.244 Nilópolis 11.000 2.770 88 461 Fonte: ABREU, 1988 :110 e 121

Gráfico 5.3.2 Lotes Aprovados (1929 -1976)

0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 120.000 140.000 160.000 180.000 até 1929 1930-39 1940-49 1950-59 1960-69 1970-76 ano de l o te s Niterói S.Gonçalo Duque de Caxias Nova Iguacu S. João de Meriti Nilópolis

E ste r Limon a d - O s Lu g a re s d a Urb a n iza çã o 1 2 5 Na orla oposta da baía da Guanabara, a ocupação foi intensa em São Gonçalo (município vizinho a Niterói, ligado ao Rio de Janeiro através de barcas e por uma estrada no fundo da baía), que apresentou um crescimento industrial acelerado durante e após a 2ª Grande Guerra (GEIGER, 1963 :159).

Após 1945 o processo exacerbou-se, em razão da concentração industrial e do incremento demográfico, aumentou a quantidade de loteamentos nos subúrbios e intensificou-se a ocupação da Baixada Fluminense (SOARES, 1987 :23 e BERNARDES, 1983). A área entre a Central e a Linha Auxiliar foi povoada tão densamente (BERNARDES, 1983 :46), que entre 1940 e 1950 desmembraram-se de Nova Iguaçu: Duque de Caxias, Nilópolis e São João de Meriti, intensamente loteados. A partir da década de 50, ápice da febre loteadora, declinou a intensidade dos loteamentos nestas áreas (vide Tabela 5.3.2a). Este declínio estaria relacionado ao início do esgotamento das áreas disponíveis e não a uma redução no volume migratório, que se manteve ao menos até os anos 70.

O período 1930-50 foi o de maior expansão dos limites físicos da atual metrópole do Rio de Janeiro. No início da década de 50 a ocupação urbana atingira quase os limites atuais. Os anos seguintes caracterizaram-se menos por um avanço espacial no território circundjacente e mais pelo adensamento da ocupação e proliferação de favelas, que nas décadas seguintes se expandiram, alcançando algumas inclusive a dimensão de pequenas cidades (ABREU, 1988 :107-111; LEEDS & LEEDS, 1978; VALLADARES, 1980; SANTOS, 1981; PERLMAN, 1977 entre outros).

O adensamento populacional dos subúrbios mais distantes, em particular dos situados aquém e além dos limites do Distrito Federal, entre 1930 e 1950, contribuiu para estruturar a região metropolitana e abrigar contingentes expressivos da mão de obra barata atraída pelas oportunidades geradas por esta mesma região metropolitana1. Uma das conseqüências do crescimento exponencial da população urbana entre 1940 e 1960 foi a alteração do quadro de distribuição da população (rural-urbana), com uma concentração nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e respectivos entornos (futuras regiões metropolitanas). Nesse período houve uma intensa mobilidade da força de trabalho e o pique máximo dos fluxos migratórios, entre 1950 e 1970 (vide

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"Se, até l946, essa região não fora alcançada pela onda loteadora, a razão disso fora a extraordinária

vitalidade da citricultura, apoiada na exportação .... A crise da laranja iria pôr abaixo essa barreira à urbanização. . . Pôr em ação os tratores e transformar o campo em cidade foi a solução adotada, uma vez que a metrópole precisava de terra para localizar suas indústrias . . .e para instalar as populações que a ela tinham afluído para trabalhar nessas indústrias.” SOARES, 1962 :216-217; BERNARDES, 1983 :33 e

E ste r Limon a d - O s Lu g a re s d a Urb a n iza çã o 1 2 6 Tabela 5.3.2b), coincidiu com as necessidades da economia brasileira, em fase de expansão (BERNARDES, 1983 :39).

Tabela 5.3.2b Variação do Crescimento Urbano devido à migração (%)

1920/40 1940/50 1950/60

Rio de Janeiro 45,52 66,05 53,68

São Paulo 57,42 70,83 63,64

Fonte: BERNARDES, 1983 :29

A ocupação da Baixada Fluminense nos anos 50 deveu-se à absorção de amplos contingentes migratórios; e nos anos 60 dada a intensa remoção de favelas na cidade do Rio de Janeiro, em parte provocada pela valorização do solo urbano equipado em suas áreas privilegiadas, registrando-se ao final dos anos 60 o boom da construção civil, quando estas passaram a ser cobiçadas para as camadas médias e altas da população (BERNARDES, 1983 :47). Uma evidência da acelerada transformação de antigas áreas rurais em urbanas está no aumento da ocupação urbana em Nova Iguaçu (vide Tabela 5.3.2c).

Tabela 5.3.2c Transformação de uso do solo em Nova Iguaçu (1950-70)

1950 1960 1970

rural 46,6 28,34 0,39

urbana 53,4 71,66 99,61

Fonte: BERNARDES, 1983 :47

O crescimento industrial da cidade do Rio de Janeiro e a desarticulação do cultivo em seu hinterland, como vimos, constituir-se-iam nos fatores de maior peso para explicar seu incremento demográfico, com a atração de mão-de-obra dos estados próximos e dos estados nordestinos. Este crescimento em razão das migrações contribuiu para o crescimento dos subúrbios e dos municípios da Baixada Fluminense (ABREU, 1988 :96) para compreendermos estes processos e seus desdobramentos, no período subseqüente, não podemos deixar de considerar o papel do setor industrial.

No documento 1996 Limonad Os Lugares da Urbanizacao[1] (páginas 138-142)