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mobilidades do capital e do trabalho na estruturação

No documento 1996 Limonad Os Lugares da Urbanizacao[1] (páginas 73-75)

3. A ESCALA TERRITORIAL DA URBANIZAÇÃO

3.2 condicionantes da estruturação territorial

3.2.2 mobilidades do capital e do trabalho na estruturação

Os modelos tradicionais relativos à localização das atividades produtivas apresentam uma certa rigidez e pouca agilidade em relação à mobilidade do trabalho, como vimos no segundo capitulo. Estes modelos tendem a se aproximar da abordagem geográfica tradicional e tratar a mobilidade da força de trabalho como transferência. Ignoram, assim, o que lhe antecede e segue: a expropriação, expulsão, transformação dos que ficam e da natureza de seu produto em excedente para o mercado ampliado pelos que foram e perderam a condição de produtores de sua subsistência.

A existência de infra-estruturas sociais e físicas, imóveis e estáveis é necessária para garantir a acumulação do capital e a reprodução da força de trabalho, e para dar condições para ambos se moverem rápido e a baixo custo. Porém, conforme deixa de haver um comprometimento da produção e/ou dos trabalhadores com as infra-estruturas existentes sua viabilidade é posta em risco. Em conseqüência, segundo Harvey, as mudanças geográficas na circulação do capital e na disponibilidade da força de trabalho geradas pela acumulação, pelas mudanças tecnológicas e pela luta de classes tendem a minar a coerência regional da circulação do capital e da força de trabalho. Resulta daí uma instabilidade crônica das configurações espaciais e regionais.

Configura-se, assim uma tensão entre a livre mobilidade espacial da força de trabalho e a organização da produção num território confinado, tanto para o capital quanto para o trabalho.

a) a mobilidade do capital

A mobilidade do capital não pode ser analisada in totum. Sua análise deve envolver sua decomposição na mobilidade de diferentes capitais. A produção e a efetivação da mobilidade espacial de cada capital, conforme Harvey (1985 :145-153) em quem nos apoiaremos nesta parte, exige infraestruturas fixas e uma complexa matriz de serviços

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sociais e físicos disponível in situ que se configura espacialmente em um sistema de transportes estável, infra-estruturas de abastecimento e de serviços e na existência de sistemas eficientes de telecomunicações, crédito, finanças e instituições legais.

Os custos de investimento e a dependência de infra-estruturas físicas interferem com a mobilidade do capital. Nos últimos vinte anos, todavia, os diferentes capitais conseguiram maximizar suas mobilidades, por um lado, através da redução dos custos e tempos do fluxo de investimento e da circulação de mercadorias propriamente dita, conforme outros agentes (entre eles o Estado) assumiram maiores parcelas dos custos de infra-estrutura física. Por outro lado, se a dependência do capital de equipamentos fixos de longa duração (infra-estruturas) diminuía sua capacidade de se mover sem desvalorização, isto tende a ser superado através dos atuais processos de reengenharia industrial que resultam na terceirização da produção; que tende a diminuir os custos de investimento e a necessidade de estruturas fixas e maximiza a mobilidade dos capitais em questão (BENKO, 1993).

Os diversos capitais, segundo Harvey, possuem diferentes capacidades de circulação e mobilidade espacial. Estes diferenciais introduzem tensões no processo de circulação no espaço, com um deslocamento diferenciado de firmas e indústrias que afeta a mobilidade do trabalho.

b) a mobilidade da força de trabalho

A mobilidade do trabalho constitui-se, segundo Gaudemar (1976), em condição necessária, senão suficiente da gênese do capital e indício de seu crescimento; expressa na (re) produção da força de trabalho, em sua utilização no processo produtivo, em sua circulação espacial e ocupacional, e em sua liberação que compreenderia tanto a transformação do campesinato em trabalhadores assalariados rurais e/ou urbanos quanto a constituição de camadas intermediárias. Configura-se, portanto, como fruto das estratégias de diversos agentes sociais, entre eles o Estado1 e as companhias privadas para moldar mercados de trabalho regionais.

A livre mobilidade espacial da força de trabalho e sua fácil adequação constitui-se em condição necessária à circulação do capital no espaço. Paradoxalmente por preferirem uma parcela da força de trabalho estável num território delimitado os capitalistas

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A estratégia do Estado para aumentar a mobilidade social e espacial da população está contida em todas as suas políticas. Ao promover atração em massa de migrantes através de programas oficiais de colonização o Estado condiciona os fluxos migratórios.

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individuais tendem a apoiar ações estatais que restrinjam a livre mobilidade da força de trabalho (HARVEY, 1985 : 148).

As transformações recentes da reengenharia industrial acompanhada da modernização da agricultura aumentaram a mobilidade setorial e espacial do trabalho e fragmentaram a estrutura de classes com uma ampliação da margem de pobreza.

Na atual conjuntura a existência de uma força de trabalho polivalente coloca um limite a proletarização total e torna-se condição necessária para a organização de um mercado de trabalho regional. A mobilidade espacial e setorial da força de trabalho, concretizada em ocupações sazonais possibilita a complementação da renda dos trabalhadores e permite compatibilizar a contradição entre a necessidade de atrair força de trabalho sem lhe dar legalmente a terra e a necessidade de dar a terra para produção de alimentos (subsistência) e diminuir as tensões sociais (BECKER, 1982 :109-122 e MACHADO, 1982 :182-183).

Os trabalhadores para melhorar seus salários e condições de vida e trabalho podem se organizar coletivamente, construir suas próprias infraestruturas sociais e físicas, lutar pelo controle do aparato de estado; e conforme obtenham sucesso vêem-se em condições de suportar restrições a livre mobilidade geográfica da força de trabalho. Caso contrário tenderão a buscar maximizar sua mobilidade espacial através de migrações. Em caso de sucesso das reivindicações dos trabalhadores em espaços delimitados, o capital tende a se evadir gradativamente e migrar para outras áreas. Em síntese, frente às novas condições espaciais da produção os diversos capitais buscam maximizar suas respectivas mobilidades e tornar-se quase que independentes do espaço; enquanto os trabalhadores procuram maximizar sua mobilidade espacial através de diferentes estratégias no âmbito das relações de trabalho e de sobrevivência no cotidiano. Temos, assim, movimentos antagônicos, entre capital e trabalho e entre diferentes capitais, para maximizar suas respectivas mobilidades, mediados pela ação do Estado em dotar o espaço de infra-estrutura (meios de abastecimento e comunicação) (HARVEY, 1985).

No documento 1996 Limonad Os Lugares da Urbanizacao[1] (páginas 73-75)