• Nenhum resultado encontrado

procedimentos gerais e delimitações

No documento 1996 Limonad Os Lugares da Urbanizacao[1] (páginas 85-90)

3. A ESCALA TERRITORIAL DA URBANIZAÇÃO

3.7 procedimentos gerais e delimitações

Nossa intenção é partir da hipótese conceitual da urbanização enquanto um processo integrante da estruturação espacial da sociedade para numa aproximação espaço temporal analisar a estruturação de um objeto específico: o interior do estado do Rio de Janeiro e suas interações com a metrópole carioca2.

A urbanização, como vimos, concerne as duas esferas da reprodução das relações sociais de produção e da reprodução da força de trabalho, que se manifestam em 1

A tensão entre a diferenciação e equalização espaciais emergiram na década de 70 nas teorias do imperialismo que trabalhavam na escala regional-internacional. SOJA, 1993 :133.

2

composta pela capital, (cidade do Rio de Janeiro, anterior Estado da Guanabara, Distrito Federal , sede do Império e da Colônia) e por um conjunto de cidades, relativamente recentes, em seu entorno, pertencentes antes da fusão, em 1975, ao antigo Estado do Rio de Janeiro.

E ste r Limon a d - O s Lu g a re s d a Urb a n iza çã o

diferentes níveis e escalas na distribuição das atividades produtivas e da população no território. Não será possível no atual trabalho, contemplar estas duas esferas de forma eqüitativa.

A primeira, relacionada diretamente com o econômico, exigiria uma investigação e análise das interações (redes) e distribuição das empresas de diversos setores no território considerado, no sentido de estabelecer os efeitos das transformações das relações espaciais de produção dada a formação de novas estruturas produtivas (empresariais) horizontais e verticais. Há, neste sentido, diversos trabalhos já finalizados e em andamentos sobre a distribuição espacial das empresas no estado do Rio de Janeiro1, em particular no Médio Vale do Paraíba; sobre a formação de novas redes empresariais (RANDOLPH, 1994) e de comunicação a nível territorial (RIBEIRO, 1990 e EGLER, 1989 :119-134); sobre as potencialidades da região da Baía da Ilha Grande, entre outros, que futuramente poderão contribuir para o desdobramento deste trabalho em outras análises, a partir das hipóteses aqui levantadas.

É o segundo veio que investigamos com maior profundidade; no seu âmbito existem diversos trabalhos principalmente no concernente a relocalização da população rural nas periferias urbanas. Optamos por trabalhar neste âmbito, da distribuição da população no território, para averiguar o comportamento demográfico e das atividades econômicas da escala local (distrito) à escala regional (regiões de governo). Por considerarmos que a análise da distribuição da população e das atividades que desenvolve possa se constituir em um indicador da urbanização na medida em que as lógicas apontadas conjugadas à disputa das mobilidades do capital e do trabalho pelo espaço tendem a excluir social e espacialmente os trabalhadores em pontos específicos do território o que propicia o surgimento de novos padrões de distribuição da população e das atividades produtivas.

Realizaremos, portanto, uma análise da urbanização em um território (estado do Rio de Janeiro) e período (1970 a 1991) limitados que pretende traduzir operacionalmente sua compreensão enquanto integrante e determinante da estruturação espacial. Dentro desta visão, a procura pela identificação de padrões de urbanização passa necessariamente por uma investigação de distintas formas desta estruturação que se manifestam, articuladamente, em diferentes escalas espaciais - desde estruturas locais (distritais), municipais até regionais (estadual ou regiões de governo). Índices ou taxas de urbanização, como usamos anteriormente, não deixam de ter uma determinada

E ste r Limon a d - O s Lu g a re s d a Urb a n iza çã o

utilidade (dependendo dos objetivos de cada investigação), mas são por demais simples para retratar um padrão dentro da nossa concepção da urbanização.

Serão necessárias as três escalas que acabamos de mencionar para a identificação de possíveis padrões de urbanização. Em princípio, nenhuma parece, ex ante, privilegiada. Não as encaramos, em relação aos dados, como simples níveis diferenciados de sua agregação ou desagregação. Todavia, ao pensar a urbanização como propagação e instalação do "urbano" - um "princípio" de estruturação espacial - como já assinalamos, a escala municipal parece-nos de importância especial. Esta escala realiza a intermediação - inclusive por causa de sua expressão superestrutural (jurídico-política e ideológica) - entre processos a nível (micro) local e (macro) regional. É esta "função" na estruturação espacial que nos faz insistir no município como principal unidade territorial de referência mesmo quando observadas as outras duas escalas (intermunicipal e intramunicipal).

O "padrão" - a padronização - da urbanização será construído a partir de uma série de características que dizem respeito à estruturação espacial nas suas múltiplas dimensões como argumentamos nos últimos dois capítulos. Selecionamos, para as três escalas referidas, alguns critérios ou índices que parecem-nos contribuir para a identificação e posterior discriminação de padrões entre diferentes regiões (de governo) no interior do estado do Rio de Janeiro. Apresentados de uma forma esquemática procuraremos caracterizar os padrões da seguinte maneira:

1. escala regional (estadual e regiões de governo)

• participação da população (urbana) das aglomerações populacionais na população (urbana) total da região (concentração ou dispersão entre diferentes centros urbanos);

• alterações desta participação durante o período de investigação (mudanças na concentração);

• participação do PIB municipal no PIB da região (neste caso pode ser interessante observar a relação com o estado);

• movimentos intermunicipais da população (deslocamentos pendulares).

1

Pesquisas em andamento no Laboratório de Gestão do Território do Instituto de Geociências da UFRJ sob a coordenação do Dr. Cláudio A.G. Egler.

E ste r Limon a d - O s Lu g a re s d a Urb a n iza çã o 2. escala municipal

• distribuição da população economicamente ativa (PEA) entre os diferentes setores econômicos (primário, secundário, terciário);

• distribuição da população entre sede e distritos dentro do município e desloca- mentos entre estas áreas;

• mudanças desta distribuição durante o período de investigação; • forma de ocupação territorial (contigüidade, descontinuidade física); • infra-estrutura viária existente.

3. escala distrital (local)

• distribuição da população entre áreas urbana e rural; • crescimento populacional (urbana, rural, total);

• funções dominantes (dormitório/residencial, atividades econômicas etc.) e especificidades singulares (presença de grandes empreendimentos industriais, agrícolas etc.; grandes proprietários, por exemplo)

O padrão de urbanização constroi-se, portanto, do abrangente (regional) para o específico (local) como, também, do particular (local) para o geral (regional). Tenta refletir, com este procedimento, a complexidade (pelo menos uma pequena parte) da estruturação espacial da qual a urbanização é componente cada vez mais importante. Com isto, entendemos que a urbanização, nas suas práticas e relações urbanas, extravasa os limites físicos da aglomeração e que o modo de vida urbano, enquanto quadro de vida e modo de inserção os trabalhadores no processo produtivo, extravasa os limites da aglomeração física e da concentração e ganha uma abrangência territorial com a aglomeração disposta em múltiplos núcleos com uma grande diversidade.

Repetimos, a urbanização precisa ser investigada em várias escalas; não se pode mais partir do pressuposto que o "lugar" da urbanização é pura e simplesmente o "urbano" e confundi-lo com a sua manifestação físico-aparente: a cidade. E, muito menos seu padrão ser identificado dentro desta visão. Vale ressaltar que via de regra a população urbana das cidades corresponde à população urbana municipal que pode ser distribuída entre diversas vilas (sede e distritos) sem contigüidade física entre elas. Portanto, tais "cidades" são de fato muitas vezes compostas por diversas aglomerações urbanas

E ste r Limon a d - O s Lu g a re s d a Urb a n iza çã o

dispersas no território do município e, por vezes, inclusive sem articulação física e viária com as respectivas sedes municipais.

Em termos do estudo concreto deste padrão de urbanização, é supérfluo destacar que sempre há uma certa lacuna entre a conceituação e sua operacionalização, por um lado, e entre a operacionalização dos conceitos e a real disponibilidade de dados (uma vez que foi necessário recorrer a dados já disponíveis), por outro. Temos outro problema ainda, como veremos mais adiante, que além de dificuldades com a fidedignidade dos dados existem problemas em relação às datas de seu levantamento (nem sempre coincidentes e/ou compatíveis).

Antes de apresentar a análise e discussão dos padrões de urbanização propriamente ditos (no 6. Capítulo), observamos, no capítulo seguinte, o processo histórico durante o qual se formou e modificou o conjunto dos municípios no interior do estado do Rio de Janeiro que representam, como mencionamos há pouco, a principal unidade territorial de referência para nossa investigação. O que requer que realizemos uma recuperação da ocupação e povoamento deste território.

Procederemos, assim, a um resgate histórico num contexto geral, com ênfase nas particularidades para extrair conclusões ainda que parciais que subsidiem a compreensão de sua situação atual.

Não haverá uma preocupação em estabelecer cortes temporais específicos nem em proceder a uma periodização precisa dada a especificidade da historiografia do espaço, conforme apontamos, que não pode ser confundida com uma cadeia causal de eventos históricos, nem se limitar a um corte temporal único como se antes e depois fosse o nada. Na compreensão de que a recuperação histórica da urbanização de um território específico deve compreender uma superposição de fases sem início e fim demarcados, na medida em que um modo de produção não desaparece e é substituído por outro de imediato.

Após esta recuperação histórica, procuraremos desenhar as grandes linhas de desenvolvimento econômico e setorial que fornecem o pano de fundo para os processos específicos a nível estadual, regional e municipal.

E ste r Limon a d - O s Lu g a re s d a Urb a n iza çã o

4. ORIGENS, OCUPAÇÃO E URBANIZAÇÃO NO RIO DE JANEIRO

No documento 1996 Limonad Os Lugares da Urbanizacao[1] (páginas 85-90)