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transformações políticas, sociais e econômicas

No documento 1996 Limonad Os Lugares da Urbanizacao[1] (páginas 106-108)

4. ORIGENS, OCUPAÇÃO E URBANIZAÇÃO NO RIO DE

4.3 de fortificação defensiva à Capital da República

4.3.3 transformações políticas, sociais e econômicas

No decorrer do século XIX ocorreram transformações substantivas na cidade do Rio de Janeiro1 e no Brasil . A vinda da família real e da corte portuguesa em 1808, em fuga das tropas napoleônicas, impôs ao Rio de Janeiro uma nova classe social e novas demandas materiais para atender aos anseios dessa classe e facilitar o desempenho das novas atividades econômicas, políticas e ideológicas que a cidade passava a exercer.

A chegada de D. João VI aumentou o poder político em âmbito nacional, em uma época onde aqui prevalecia o poder dos senhores rurais. A abertura dos portos brasileiros às "nações amigas" e a transformação do Brasil em sede do Reino Unido de Portugal e Algarves representou o fim do estatuto colonial e possibilitou ao Brasil adquirir sua autonomia de fato (SILVA, 1976 :39). O fim das restrições ao comércio internacional e a liberação de manufaturas2, até então privilégio da metrópole reinol, contribuíram para tornar a cidade do Rio de Janeiro um pólo de atração econômica.

No século XIX o ciclo do café, a decadência das lavras mineiras e abolição gradativa da escravatura geraram nova expansão econômica e a Província do Rio de Janeiro apresentou, em vista disso, um crescimento acelerado. Em busca de novas fontes de trabalho a mão de obra ocupada na mineração, os escravos libertos e os egressos da Guerra do Paraguai (SANTOS, 1988) tenderam a migrar para a Província do Rio de Janeiro, onde a produção de café, localizada principalmente nas encostas dos morros da Baía de Guanabara e no vale do Paraíba, aparecia como alternativa tanto para a mão de obra quanto para o capital (BRASILEIRO, 1979 :16).

A decadência da mineração e a ausência de caminhos freqüentados obrigou as áreas mais remotas a subsistir em economia quase fechada ao redor de pequenos centros. O

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“No século XIX a cidade do Rio de Janeiro começa a se transformar e a apresentar uma estrutura sócio-

espacial estratificada. Até então, ocupava uma área originária da drenagem de brejos e mangues, entre os Morros do Castelo, S. Bento, Santo Antônio e Conceição, com alguns tentáculos para os "sertões" do sul, oeste e norte. ... A diferenciação social fazia-se pela forma aparência das residências e não por sua localização”. ABREU, 1987 :2 e BRASILEIRO, 1979 :16.

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No fim do século XVIII a construção naval no Rio de Janeiro era uma atividade significativa devido a disponibilidade de matérias-primas e pela necessidade de embarcações baleeiras e de navios negreiros. Apesar da proibição de existência de manufaturas, desenvolvia-se esta atividade no Rio de Janeiro, além da fabricação de cordas, óleo de baleia e sal, etc. vide LOBO, 1978 e FERNANDES Fº,1983 :8-9.

E ste r Limon a d - O s Lu g a re s d a Urb a n iza çã o 9 1 gado e as roças garantiam a subsistência, o algodão o vestuário, mas o comércio de sal permaneceu indispensável (BERNARDES, 1964 :60).

Entrementes o sul de Minas estabelecia vínculos diretos de abastecimento com a cidade do Rio de Janeiro, que com o fortalecimento de suas características institucionais despontava como mercado de consumo crescente, suprindo-o de gêneros de subsistência, bois, porcos, laticínios e fumo. Abriram-se, para tanto, novos caminhos entre o Planalto Sul-Mineiro e o Vale do Paraíba como "a estrada do Picu, que abreviava as ligações com o vale do rio Verde (anteriormente feitas por Cachoeira Paulista) e da estrada do rio Preto, que levava diretamente ao distrito do Rio Grande." (BERNARDES, 1964 :60).

Entre Campos e o Rio de Janeiro desenvolveram-se em função do açúcar, novas cidades e vilas, entre eles Magé, Macaé e Maricá. Porém, a cidade do Rio de Janeiro já cumpria um importante papel político-administrativo no país, como sede do Governo, além de ser o centro financeiro mais importante, o que fez com que Campos, Vitória e outros centros litorâneos, antes sem vínculos com a cidade do Rio de Janeiro a ela se subordinassem (BERNARDES, 1964 :58 e SOARES, 1987 :20).

b) independência

Com a Independência, em 1822 a cidade do Rio de Janeiro manteve-se como sede do poder central, enquanto Município da Corte. Sob a égide da Constituição de 1824 o Município da Corte compreendia territorialmente a Província do Rio de Janeiro, até ser dividido por decreto, em 15 de janeiro de 1833, em seis comarcas, uma delas englobando a cidade do Rio de Janeiro e a Vila Iguaçu (BRASILEIRO, 1979 :11 e 37). A separação político-administrativa da cidade do Rio de Janeiro da Província de mesmo nome deu-se com o Ato Adicional à Constituição do Império de 12/08/18341, que substituiu os Conselhos Gerais por Assembléias Legislativas Provinciais. Este Ato Adicional dispunha sobre a organização e funcionamento do município-sede da Corte e deu início a descentralização administrativa da Província do Rio de Janeiro, ao equipará- la às outras províncias através da criação de sua Assembléia. Até então a administração da Província do Rio de Janeiro, de suas cidades e vilas encontrava-se sob a jurisdição direta do cidade do Rio de Janeiro, através do Ministério do Império. Em 1835 a Vila

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"Art. 1 - O direito reconhecido e garantido pelo art. 71 da Constituição será exercido pelas Câmaras dos

distritos e pelas assembléias, que, substituindo os conselhos gerais se estabelecerão em todas as províncias, com o título de assembléias legislativas provinciais. A autoridade da assembléia legislativa da província em que estiver a Corte não compreenderá a mesma Corte, nem o seu Município" Brasil,

E ste r Limon a d - O s Lu g a re s d a Urb a n iza çã o 9 2 Real da Praia Grande, zona rural e freguesia da cidade do Rio de Janeiro, foi elevada a cidade com o nome de Niterói e tornou-se capital da Província (Lei nº 2 de 26/03/1835). A Província do Rio de Janeiro contava, em 1834, com quase 600 mil habitantes, dos quais 130 mil na cidade do Rio de Janeiro. O resto da população distribuía-se pelas grandes fazendas fluminenses ou em vilas e cidades algumas já com certa expressão demográfica. Na Vila Real da Praia Grande (Niterói) moravam cerca de 30 mil habitantes. Segundo o 1º censo oficial do Brasil, em 1/8/1872 o antigo estado do Rio de Janeiro tinha 782.724 habitantes e o Município da Corte 274.972 (BRASILEIRO, 1979 :39).

Após a Independência, durante o século XIX, a economia fluminense permaneceu baseada na "plantation" escravista e as atividades comerciais mais importantes eram a exportação de açúcar, algodão e café e importação de escravos (LOBO, 1978 e FERNANDES Fº, 1983 :11). As atividades industriais agrícolas possuíam, ainda, um caráter marginal dadas as limitações do mercado internacional e a ausência de uma política para a produção interna1. Estas atividades porém não chegavam a alterar o caráter agro-exportador da economia fluminense e apesar de algumas medidas pontuais, protecionismo tarifário em 1844 por exemplo, apenas no fim do século a indústria começou a se destacar na Província do Rio de Janeiro (FERNANDES Fº, 1983 :11-12).

O período entre a Independência e o Estado Novo (1822/1930) marca a efetiva integração do Brasil ao comércio mundial, à divisão internacional do trabalho e a passagem para uma “forma produtiva superior: a forma capitalista. As instituições primitivas como a escravidão herdadas da antiga colônia, são banidas pelas novas forças produtivas que se vão formando e desenvolvendo no correr do século passado" (PRADO Jr., 1957 :91).

No documento 1996 Limonad Os Lugares da Urbanizacao[1] (páginas 106-108)