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44 A t ransformação das paisagens enquadra-se mais

establece for mas privilegiadas a partir da maior o menor influencia que

44 A t ransformação das paisagens enquadra-se mais

na evolução das culturas do que na sucessão das gerações que ocuparam de modo continuado um det erminado t erritório.

A paisagem cont ém a história que está dent ro de si e nas suas formas uma det erminada dimensão t emporal. Trata-se duma quarta dimensão indispensável para poder ler, int erpretar e viver as paisagens actuais. Dest e modo, a arqueologia da paisagem gera uma investigação dos elementos do passado e das suas mot ivações para as respect ivas exist ências em relação aos respect ivos estados act uais. Facto dest es elementos não poderem revelar os seus significados originais ao homem de hoje, que nunca será o mesmo homem que os const ruiu, a ausência da sua funcionalidade original no mundo act ual, impede uma leitura clara hoje, digamos que falam uma língua já desaparecida, uma língua defunta. É assim como Umberto ECCO37 refere a necessidade de regist ar as funções originais, a impossibilidade de perceber semiológicament e os significados de t rabalhos e monumentos arqueológicos.

37

ECCO,Umberto “ La strut tura assente” (la comunicazione architettonica e la storia) M ilano Ed Bomiani, 1968, pp 207-218

Pode dizer-se que cada processo de humanização, no mínimo nas antigas civilizações, iniciava-se com sinais religiosos. Act o religioso era a “ recinzione” dos espaços dest inados a acolher a aldeia ou a cidade, como a “ recinzione” dos espaços cult ivados ou dos espaços t abu nas civilizações agrárias baseadas sobre uma relação mágica com o solo. Cruzes e cruzeiros no meio dos campos, ainda hoje t est emunham, nas nossas paisagens, um recurso do “ lugareño” de caráct er mágico e, ao mesmo t empo religioso, para invocar para os seus campos e culturas a prot ecção e defesa das calamidades ou dos espíritos adversos.

Na perspect iva das antigas civilizações a posse e a conquist a de um espaço era marcada pelo eregir dum t emplo. Assim, o t emplo constitui o primeiro sinal de humanização dum t erritório, ligando int enções íntimas do indivíduo, mas ao mesmo t empo, as intenções mais públicas, como as relacionadas com o conjunto da sociedade.”

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O livro de Amos RAPOPORT “ House form and cult ure” foi escrit o em 1969 e originalmente publicado numa colecção de set e livros da série “ Fundament os de las séries culturais da geografía” edit adas por Philip Wagner. Est a série considerava as const ruções t eóricas subjacentes que formaram, e continuam formando, o ambient e const ruído, incluindo a religião, a crença, cost umes e forças sociocult urais. Rapoport apresent ou de modo exaustivo as relações ent re as formas da cultura e da casa. Igualment e revisou uma série de estudos chave que ent recruzam os âmbit os da habit ação, do edificado, do planeament o e da geografia cult ural.

Para Rapoport a forma da casa não é simplesmente o result ado de forças físicas ou qualquer out ro fact or de t ipo causal mas a consequência de t odo um leque de factores sociocult urais vist os de uma perspect iva mais ampla:

“ house form is not simply t he result of physical forces or any single causal factors, but is the consequence of a whole range of socio-cultural factors seen in their broadest t erms.”

Rapoport aport a uma visão distint a da arquit ect ura e do ambient e const ruído at é hoje por out ros hist oriadores ou est udosos do fenómeno da arquitectura. Em vez de olhar desde a perspectiva dos seus edifícios mais emblemát icos ou até desde os seus monument os, o olhar de Rapaport part e da arquitectura vernacular e dos element os mais simples produzidos pelas diversas cult uras.

O t ít ulo do ciclo de lições, Terra, Água e Homem compõem um t ripé e um conjunt o de relações sobre as quais assent amos a caract erização dos diversos lugares, das prát icas relacionadas com os mesmos, das ident idades territ oriais, das paisagens. O ciclo t ent a aproximar o discente aos modos de relação ident ificados, e a sua valorização para a sua interpret ação e eventual consideração na propost a projectual.

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A configuração subject iva e específica de lugares e paisagens: «L'uomo abita quando riesce ad orientarsi in um ambiente e ad ident ificarsi con esso, o più semplicemente, quando esperisce il significato di um ambiente. Abitazione quindi vuol dire qualcosa di più di um rifugio: essa implica che gli spazi dove la vita si svolge siano luoghi nO vero senso della parola. Um luogo è uno spazio dot at o di um caratt ere dist int ivo. Fin dall'ant ichità il genius loci, lo spirito do luogo, é stat o considerato come quella realtà concret a che l'uomo affront a nella vita quot idiana. Far dell'archit et tura significa visualizzare il genius loci: il compito dell'archit et to è quello di creare luoghi significat ivi per aiutare l'uomo ad abitare.»38

No âmbit o da Ant ropologia, A. BERQUE é uma referência face à int erpret ação cultural do conceito “ paisagem” . O seu art igo “ Des Toit s, des Ét oiles” ,39 com fortes raízes nas culturas orient ais, apresent a ao leitor a dimensão simbólica da paisagem relacionando espaço natural e const ruído.

38

NORBERG-SCHULZ, Ch.in Genius loci, paesaggio, ambient e, 1979 39

In “ Annais da r eceherche Urbaine” nº 74, Dez. 1995

M as Augustin Berque t ambém t rabalha os problemas de concepção social da cidade e da Nat ureza, como element os complement ares. No livro “ Cinq proposit ions pour une t héorie du paysage”40, refere as relações dest es temas com o conceit o de paisagem, surgindo ela como uma apropriação cognitiva, como uma leitura pessoal Surgirão nest e caso apreciações de caráct er subject ivo, ainda que part indo da ideia mais object iva do enquadrament o, do cenário físico. Est a subject ividade, ligada à própria apreensão que venha a exercer o observador acerca do element o puramente object ivo, define um raro equilíbrio ent re a objectividade e subject ividade.

Dest e modo BERQUE acabará por definir a paisagem como “ …a consciência ent re a imagem sensível e os seus dados reais, físicos e objectivos; a paisagem como um acto de t ransformação simbólica do espaço.” M as o conceit o social de Paisagem, isto é, avançando neste raciocínio, a Paisagem, desde uma perspect iva grupal, será uma represent ação social, derivada da relação da sociedade com o

40 BERQUE, Augustin, CONAN, M ichel, DONNADIEU, Pierre; LASSUS, Bernard, ROGER, Alain, “ Cinq propositions pour une théorie du paysage ». Ed Champ Vallon, 1994

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seu ambient e e const it uiria uma ent idade nem object iva nem unicamente subjectiva (uma met áfora), est ando cont ida ent re est es dois pólos t eóricos, não sendo só uma simples represent ação subject iva, mas uma t raject ion, emergindo geohistoricamente de uma mediação ent re sujeit o e object o. João Paulo do Rosário M art ins, na sua t ese de dout oramento sob o título “ Os espaços e as prát icas. Arquit ect ura e Ciências sociais: habit us, est ruturação e rit ual” , dedicou um espaço import ant e para o est udo destas relações. Assim, refere:

“ O valor na paisagem está em liderar indivíduos ou grupos, em definir as suas relações com o ambient e. De acordo com A. Berque, o ambient e pode ser visto como um campo de relações criadas por um grupo com o seu ambient e, ent relaçando factos mat eriais e representat ivos.

As represent ações são const ruídas com o uso do ambiente, e inversament e, a t ransformação do t errit ório é det erminada pelo grupo que a const rói. Est as duas dimensões, uma simbólica e fenomenológica, e a out ra ecológica e material, combinam-se com o fact or t empo, para formar uma t rajection. Berque não refere o valor na teoria, mas a noção reforça as suas ideias, e está implícit a no

que ele chama mediance, o sent ido de ambient e, envolvendo objectivo, cognit ivo, e significado. M ediance é a produção via a t raject ion. A paisagem aparece-nos assim como um símbolo de uma dialéctica ent re a nat ureza e cultura, onde a natureza é o modelo do dado em si, do cont exto, o conjunto de representações do génio do homem continuamente const ruídas ao longo do espaço t emporal.

É mais que um conceito, é um campo pluridisciplinar de conhecimento, estando int eirament e relacionado com um sujeit o. Diferent es campos disciplinares observam diversos sujeitos – indivíduos, grupos sociais, culturas – e a part ir dest es elaboram quadros conceptuais e metodologias de conhecimento da paisagem. Por exemplo para o artist a int eressa a sua visão pessoal, para o geógrafo int eressa a perspectiva dos grupos sociais e a sua int eracção com o territ ório, para o historiador poderão int eressar os t rês níveis de percepção. Os diferent es sujeitos são portadores de diferent es mentalidades, culturas, formações e int encionalidades, fact ores que condicionam a sua int erpretação do mundo que os rodeia.”

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