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92 2.2 Elementos de composição arquitectónica na terra

4,4 pessoas por família; Est orãos com 179 (4,4); M oreira com 272 (4,3);

92 2.2 Elementos de composição arquitectónica na terra

2.2.1. Os lindes

Foi referida a importância dos lindes na est ruturação das diversas arquit ect uras a partir da est rut ura fundiária exist ent e. De fact o os lindes provocam diversas percepções espaciais em função das suas text uras e morfologias. No nosso espaço laboratorial podemos dist inguir diversas modalidades de vedações, part indo do simples fact o duma plant ação de espécies veget ais que servem de demarcação de lindes ent re diversos prados73. Ent re os element os veget ais que servem para definir lindes de t errenos fica a vidigueira. Posteriormente dedicaremos uma atenção especial a este t ipo de divisões. A caracterização dos lindes est á patente na maior part e dos campos de cultivo do Alto M inho. O perímet ro é remat ado pela ramada libertando o seu cent ro para a lavoura mais ampliada, sendo o terreno que est á por baixo das videiras aproveit ado para pequena agricultura (ort as).

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A espécie Vicia sepium L. é referida por J. GONZÁLEZ em 2003 como modo de definição dest es lindes.

Na sua forma são est ruturas abert as, limit adas por o elemento videira que se ergue, criando o grande espaço oco no cent ro do t erreno.

Ilustração 40:Pastas em eiras da Estrada M anuel Espregueira – Vila Franca. Viana do Castelo

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A art iculação com pedras do lugar a duas alturas foi o modo convencional de definir est es lindes em muit as das terras do Vale do Lima. Tal pode ser observado na margem esquerda da Ribeira do Lima no percurso da est rada de M anuel Espregueira na freguesia de Vila Franca no concelho de Viana do Cast elo. Definem-se assim, duas percepções que dependem da maior ou menor perspect iva que se criam com a cont inuidade dest as past as.

95 2.2.2.O muro

A est ruturação da propriedade rural no Alt o Minho e a relação criada ent re os assent ament os e as hort as anexas permit iram a aparição do muro como element o configurador dest as paisagens. Trat a-se da presença da pedra que formaliza os limit es das propriedades, a fábrica de pedra seca, assente ocasionalmente com argamassa, servindo de suport e parcial nalguns casos às ramadas. Uns e out ras configuram est a paisagem do rueiro, conceit o próximo á ideia de rua,74 mas que acrescent a a ideia do lugar. O muro, num esquema de propriedade dividida em porções muit o pequenas define uma base de element os horizont ais em cot as inferiores e, ao mesmo t empo são remat adas em leit uras t ransversais pelas lat adas ou ramadas em cot as que ficam acima de 1,60 de alt ura.

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Segundo o Diccionario da Real Academia Galega: rueiro s.m. 1. Grupo de casas que forman um conxunto separado das outras do lugar ou da vila. Gaña a carreira o primeiro que dea a volta ó rueiro. 2. Praza ou terreo común no centro da aldea. No rueiro faise a festa da patroa. 3. Terreo ó redor da casa labrega no que están o hórreo, os alpendres, a horta, etc. Cada casa ten o seu rueiro, máis grande ou máis pequeno. u SIN. quinteiro

96 2.2.2. Os Socalcos

Os socalcos definem um sist ema de aproveit ament o do terreno t ransformando-o de modo radical. Nascido duma necessidade funcional, como é a adapt ação do meio físico para a sua

exploração agrária mais convenient e conforme as

caract erísticas edáficas dos terrenos, não é menos apelat iva a sua componente formal, esculpindo-se deste modo as elevações do t errit ório, assumindo uma caracterização ident it ária de est a região.

Este element o est ruturante territorial não é exclusivo dest as lat it udes, fornecendo uma respost a análoga em latitudes que apresent am o mesmo tipo de problemas.

Devemos t er em cont a que na definição dos socalcos, int ervêm uma série de fact ores provenient es de diversas perspect ivas Definimos a seguir os fact ores considerados mais import antes: 2.2.2.1. Fact ores físicos e morfológicos

Os socalcos surgiram como respost a às necessidades de suavizar as inclinações nat urais dos terrenos, t ent ando de seguir sensivelmente as curvas de nível do territ ório e

favorecendo uma série de condições que implicará uma maior funcionalidade dest es t errenos desde uma perspect iva agrária. Os socalcos aparecem em det erminadas condições de altura (relacionada com a exist ência da necessidade de det erminadas funções agrícolas) e de inclinação natural do terreno.

2.2.2.2. Fact ores agronómicos e económicos

A aparição de menores inclinações dos t errenos de culturas, gerou um menor nível de erosão destes terrenos por causa do arrast e de águas pluviais, e ao mesmo t empo, uma maior capacidade de retenção de águas. Est es fact ores, ligados aos casos dum soleamento favorável, opt imizariam as condições

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dos t errenos para dest e modo obt er uma maior produt ividade agrária.

Esta configuração peculiar foi assumida em regiões com escassos recursos de solo agrário, comparados com as necessidades de produção ligados á presença duma densidade populacional relat ivamente import ante. Est e processo espalhou-se históricamente em diversos períodos.

2.2.2.3. Fact ores t écnicos e ergonómicos

A organização em socalcos favorece as condições ergonómicas das t arefas agrícolas e a aplicação de det erminadas técnicas, nomeadamente nos casos de pendent es naturais elevadas dos t errenos.75 Est e fact or poderá ser de maior interesse na act ualidade.

2.2.2.4. Fact ores demográficos e de assent ament os

A sistematização de socalcos propiciaría ao mesmo t empo um aumento da área de cult ura, chegando a ocupar terrenos ant eriorment e exclusivos da florest a, o que ajudava á resolução de produção agrária necessária para responder posit ivamente aos problemas derivados da explosão demográfica.

O aparecimento dos socalcos provocou um fort e impacto ambient al, t ransformando de forma radical não só as paisagens assim configuradas, mas a est ruturação económica das sociedades respectivas.

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The National Instit ute for Occupational Safety and Healt h publicou edições em espanhol que per mitem garantir os melhores resultados desde esta perspectiva nos casos de socalcos, sempre desde a abordagem da Ergonomia Agrária.

Ilustração 43: Levantamento de área de socalcos e esquema de rede hídrica

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O sucesso dest a operação mot ivou a sua implant ação nout ras zonas agrárias mais favoráveis, t ais como zonas lit orais. Também não podemos esquecer out ras funções de t ipo ornament al, como acont eceu nos jardins das grandes residências da época. Est amos a falar neste caso dos séculos XVI e XVII.

A segunda explosão demográfica e a aparição de pragas No cultivo da vide, determinam, de modo separado a existência de uma segunda t ransformação t errit orial e paisagíst ica.

2.2.2.5. Fact ores sociais e cult urais

Em t ermos gerais, é assumido que os sist emas feudais de regime da propriedade, dada a dependência social criada, propiciaram no decorrer da Idade Média, a exist ência deste t ipo de obras, que exigiram inevitavelmente uma grande quantidade de mão-de-obra

Parece provada a exist ência dest as operações de t ransformação t errit orial no decorrer dos séculos XIII e XIV, principalmente nas proximidades dos cent ros rurais, ou em áreas próximas aos most eiros da época, e sempre relacionados

com a exist ência de culturas medit errânicas, t ais como cít ricos, vide e oliveiras. Est a operação implicaria pela sua vez uma t ransformação de t errenos existent es ent re os 200 e 600 met ros de alt ura.

Em quaisquer dos casos, as razões da aparição dest as t écnicas ficaram relacionadas com a exist ência de pendent es no terreno que convert iam os mesmos em áreas improdutivas e a necessidade de melhorar níveis de produção agrária nos respect ivos grupos sociais da época.

a.-Necessidades funcionais

Estas necessidades funcionais, ligadas ao problema da micro- part ição do t errit ório e a est rut ura da propriedade de caract erísticas muit o reduzidas, provocam a aparição dos socalcos que na região do Alto M inho parecem similares idént icas paut as ao que foi est udado nout ras zonas de idênt icas caract erísticas (Eslovénia, Alpes, et c.) o elemento diferenciador é a implant ação do sist ema de policulturas, onde na mesma t erra, na mesma unidade agrária procede-se á realização de diversas funções compatíveis de forma conjunt a. Tal é o caso da cult ura da vide, que se pode desenvolver em altura

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part ilhando out ras funções t ais como o milho, obt endo-se uma configuração paisagíst ica muit o específica.

b.-O sist ema de policulturas

Este sist ema, implant ado no decorrer de muit os anos, cont inua a ser a base da produção agrária t radicional do t errit ório. Est e

regime de policulturas gera paisagens análogas no caso de parcelamento, se bem com diversas dimensões e algumas diferenças nas definições das lindes.

c.-Redes de água. A sua dist ribuição

A geração de sist emas de socalcos ligados ao regime de policult ivo, especialment e do milho, provocou a necessidade de criar um sistema de irrigação capaz de garant ir a existência de água no conjunt o dest es t errenos, apesar da existência de desníveis.

Esta infraest rut ura, sobrepost a á est rut ura formal da const rução do t errit ório, ainda irá ver-se confirmada por uma t erceira est ut ura, a est rut ura cadast ral ou fundiária, o que acabará por perpet uar uma det erminada sit uação ao longo dos séculos.

Esta sobreposição de est ruturas, confirma a exist ência de sinais neste territ ório capazes de perpet uar determinadas sit uações, capazes de configurar por si próprias sinais de identidade t erritorial.

Ilustração 44. Ficha tipo de socalcos. Freg. de Bárrio –

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