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TERRA ÁGUA E HOMEM: BASES PARA UM PROJECTO TERRITORIAL Textos para um ciclo de lições

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Textos para um ciclo de lições

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No decurso duma prova académica com est as caract erísticas, as minhas lembranças vão, neste moment o, para dois antigos professores: Rafael González Sandino e Juan Luis Dalda Escudero.

Enquant o aluno monit or do Depart ament o de Teoria da Arquit ect ura da Escola de Sevilha (1981), O primeiro ensinou-me, ent re muit as out ras coisas, a import ância da escolha de imagens adequadas susceptíveis de reforçar um discurso.

O segundo, durant e a minha especialização em Urbanismo na Corunha, abriu-me os olhos para o t errit ório galaico minhot o, ao qual regresso, como é hábit o no meu périplo, ainda que agora do out ro lado da front eira.

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3 I.Indice

TERRA ÁGUA E HOM EM : Bases para um projecto territorial

Pág.

I Indice 3

II Sumário 7

III Coment ários prévios 9

IV Int rodução 10

V Quest ão prévia: a t ransversalidade 17

M OM ENTO 1

1 AS RAZÕES DIALÓGICAS DOS GESTOS ARQUITECTÓNICOS: ANTROPOS E TOPOS

19

1.1 O espaço com o local “ pract icado” 19 1.1.1 Paisagem: conceit o polissémico 29

Imagem e paisagem 33

A int rodução da paisagem no discurso arquit ect ónico

36

Lugar e paisagem 39

1.1.2 A relação ent re paisagem e agricult ura 49

1.1.3 M em ória e paisagem 53

1.1.4 A dinâmica t ransformadora das paisagens 57

1.2 A pequena escala t errit orial 61

1.2.1 Propriedades, est radas, cult uras e casas 65

1.2.2 Apont am ent os para a definição dos element os const it ut ivos da paisagem em pequena escala

68

1.3 Topos : Alt o M inho 73

1.3.1 Descrição física 74

1.3.2 A ocupação do Solo. Implicações no ordenam ent o t errrit orial

79

1.3.3 Est udo de caso: Est orãos e as suas t ransformações paisagíst icas

83

2 TERRA

2.1 Arquit ect uras na t erra 89

2.2 Elem ent os de com posição arquit ect ónica na t erra 92

2.2.1 As lindes 92

2.2.2 O M uro 95

2.2.3 Os socalcos 96

2.2.2.1 Fact ores físicos e m orfológicos 96 2.2.2.2Fact ores agronóm icos e económ icos 96 2.2.2.3 Fact ores t écnicos e ergonómicos 97 2.2.2.4 .Fact ores dem ográficos e de assent am ent os

97

2.2.2.5 Fact ores sociais e cult urais 98 2.2.2.6 Os valores formais dos socalcos 100

2,3 Os espaços públicos agrários 103

2.3.1. Agras e paisagens 103

2.3.2 Os espaços da t rilha: as eiras 109

2.4 Arquit ect uras do vinho 113

2.4.1 Considerações gerais 113

(5)

4 2.4.3 Arquit ect uras do vinho.Tipologias 119

2.4.3.1 Uveiras 120

2.4.3.2 Cruzet as 122

2.4.3.3 Bardos 125

2.4.3.4. Lat ada/ consola 128

2.4.3.5 Ramadas 129

2.4.3.6 Arjões 134

2.4.3.7 Eido 135

2.4.4. A dinâmica t ransformadora da arquit ect ura do vinho

137

2.4.4.1 Escala unifamiliar 138

2.4.4.2 Escala t errit orial. 138

2.4.5 Incidências da arquit ect ura do vinho na paisagem limiana

139

2.4.6 Os espaços públicos gerados pela arquit ect ura do vinho

142

2.5 Arquit ect uras no Caminho 144

2.5.1 O caminho de Sant iago 144

2.5.2 Os espaços públicos com o cont ent ores da mem ória.

147

2.5.3 Religiao, fest a e m ort e 148

2.5.4 Elem ent os para uma arquit ect ura do Caminho

150

2.5.4.1 Nichos 151

2.5.4.2 Cruzeiros 153

2.5.4.3 Capelas 156

3 ÁGUA 157

3.1 A água como sist ema: Presenças e ausências 157 3.2 Elem ent os para uma arquit ect ura da água 158

3.2.1 Font es 160

3.2.2. Chafarizes 161

3.2.3 Lavadouros 163

4 O HOM EM 165

4.1 A humanização do t errit ório, com o m odelo 166

4.1.1 A ocupação em encost a 169

4.1.2 A ocupação no vale 171

4.2 Os espaços públicos em t errit órios de baixa densidade

172

M OM ENTO 2

5 A EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA DO TERRITÓRIO 173 5.1 O ensino do project o arquit ect ónico 173

5.2 As experiências pedagógicas aproximadoras à Paisagem

175

5.2.1 “ Arquit ect uras na Raia”i 176

5.2.2 Infrascape 179

5.2.3 Programa de dout orament o QuoD 181 5.2.4 A paisagem como m ot or de desenvolvim ent o – O OPPTerr

185

(6)

5 Est orãos e Correlhã

5.2.5 O t rabalho em rede 190

5.3 O ensino do urbanismo 191

5.3.1 A sit uação do ensino do Urbanism o no início do processo de Bolonha

191

5.3.1.1. O ensino em Port ugal 191

5.3.1.2. O ensino em Espanha 194

5.3.1.3. O ensino em It ália 197

5.3.1.4. O ensino comparado: Port ugal, Espanha e It ália

200

5.3.2 A sit uação específica da UFP 203

5.3.3 A sit uação específica na Universidade de Trent o

203

5.4 A propost a f ormal 205

5.4.1 A represent ação do suport e t errit orial 206 5.4.2. A propost a int egradora. A reivindicação de 1/ 500 como escala de project o

209

5.4.3. Est udos de Caso: Correlhã,Est orãos e --- 210

M OM ENTO 3

6 PROJECTO E POLÍTICA TERRITORIAL 213 6.1 O project o t errit orial com o est rat égia 213

6.1.1. Linhas gerais do problema 213

6.1.2 A visão global do project o: o project o t ot al 219

6.1.3 Diversas visões na Europa 221

6.1.3.1 A visão it aliana 221

6.1.3.2 A visão espanhola 224

6.1.3.3 A visão port uguesa 227

6.2 O project o t errit orial com o est rat égia polít ica 230 6.3 O conceit o do project o t errit orial : A-22 232 6.4 No final o Homem… Algumas quest ões finais 233

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 237

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7 II.Sumário

A pequena escala caract eriza de forma geral grandes áreas de t erritório. O nosso habit at , part icularmente na cornija nort e-ocident al da Península Ibérica, requer um olhar especial, uma perspectiva específica face à sua articulação. A pequena escala exige uma ment alidade diferent e qualquer que seja o pont o de vist a.

Estas exigências são ainda mais claras nos casos do planeament o, na definição das políticas mais apropriadas para a sua gest ão, na escolha de est rat égias que possibilitem o desenvolviment o eficaz e adequado. É a escala onde possivelment e se sent em mais próximos os conceitos de “ Terra” e “ Homem” .

O t errit ório, como result ado dos diversos processos de ant ropização, tem vindo a t ornar-se object o de planeamento continuado.

O t ítulo dest e ciclo de lições pret ende realçar a necessidade de uma reflexão acerca do Territ ório que, na sua máxima expressão formal, designaremos por Paisagem. E é nest a reflexão - a relação ent re o t rinómio Terra, Água e Homem - que incide a nossa especial preocupação, explicando a part ir do

mesmo, a necessidade das arquit ect uras de pequena escala. Especificamente, est a escala deve est ar pat ent e ao longo de t odo o discurso, de modo a relacionar o nosso habit at e a aplicabilidade da propost a. Est a aplicabilidade deve ser o ponto inicial para a elaboração conceptual do project o arquit ect ónico, sejam quais forem as suas escalas.

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"A paisagem é sempre uma herança. Na verdade, ela é uma herança em t odo o sent ido da palavra: herança de processos fisiográficos e biológicos, e pat rimónio colectivo dos povos que hist oricament e as herdaram como territ ório de act uação de suas comunidades." Aziz Ab'Saber (1977)

III.Comentários prévios

Decorria o ano 1974. Port ugal prot agonizava a sua Revolução do 25 de Abril e eu iniciava o curso de Arquitect ura na Universidade de Sevilha.

Tempos de manifest ações, greves e ausência de aulas: Universidade fechada por ordem governat iva e um ano perdido. Gust avo Gili vendia os livros de Arquit ect ura e comprei um deles: Amos Rapoport…. Qual a razão para est a compra? Ainda não sei. Algo me chamou a atenção, ainda que dum modo inconscient e. Trint a e cinco anos depois, Amos cont inua present e. A ideia de ligar a Ant ropologia e a Arquit ect ura é, neste caso de modo conscient e, t ão apaixonante quanto necessária.

No ano de 1992 decorreu um concurso de Escultura na Semana da Pedra no concelho de Ourém. Um dos escult ores premiados,

Norbert o Jorge escrevia deste modo na pedra: Terra, Água, Homem, …” M ais uma vez, Terra e Homem ligados ent re si, e a Água como element o balsâmico.

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10 IV.Introdução

A Arquit ect ura sempre se aliment ou da simbiose de conheciment os t eóricos e prát icos. Simult aneament e, a distância virt ual ent re Arquit ectura e Urbanismo criou falsos afast ament os e dificuldades acrescidas no sent ido de compreender o Territ ório como um t odo.

No âmbito do ensino, a relação ent re várias unidades curriculares dum curso de M est rado Int egrado em Arquit ectura

propiciará valências positivas ao aluno que o ajudarão a percepcionar as diversas áreas de conhecimento.

A ideia da concent ração de esforços num det erminado cont ext o favorece a percepção int egral de det erminados t erritórios, orient ando-a na perspectiva de ent endiment o dos t erritórios como verdadeiros laborat órios. Não se t rat a duma ideia nova, mas infelizmente o fact o de ident ificar experiências pedagógicas que somam esforços é mais est ranho do que possa parecer.

O object ivo final dum curso de Arquitectura e Urbanismo é a preparação do aluno para poder gerir os meios e conheciment os, de modo a enfrent ar a t arefa pessoal e

int ransmissível de gerar o seu próprio mét odo de criação do projecto.

Num cenário da aprendizagem dos t ais conheciment os de modo progressivament e mais virtual, torna-se necessário o cont act o real com os problemas, com os objectos, com os sentiment os e com os espaços. É import ante poder consciencializar os alunos acerca da necessidade de não perderem o cont act o com a realidade. Não podemos deixar de colaborar com os alunos, sob pena de perderem a noção da escala. Torna-se, pois, imprescindível valorizar a Arquitectura como element o t ransversal face a uma série de conhecimentos. Dest e modo, as visões gerais e particulares cruzam-se, e as escalas acabam por ser formas diversas de olhar para o mesmo objecto. Em resumo: o object ivo deverá ser criar prévias e possíveis est rat égias para o project o, capazes de serem aplicadas num mesmo t errit ório.

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11

int erligando mét odos e result ados, sob pena dest a ideia parecer sempre alterada, interrompida, descont ínua.

As relações ent re Arquit ect ura e Urbanismo devem realizar-se at ravés dum t erceiro element o crucial: o Homem. A Ant ropologia deverá ajudar o fut uro arquitecto a conhecer as relações dest as dimensões ocult as que deram origem a publicações várias.

A separação ent re Arquit ect ura e Urbanismo reflectiu um quart o element o int ermédio: a Paisagem. O aluno tenderá sempre a t rat ar cada element o separadament e, se não receber mensagens no sentido opost o. Os perfis profissionais de arquitectos, urbanist as e arquit ectos paisagist as confirmam ainda mais est a opção.

É conhecida a dificuldade nat ural do aluno para perceber o seu objecto project ado num cont ext o determinado, num profundo relacionament o com aquilo que supost ament e devem ser as compet ências profissionais. Será neste pont o que residirá algum int eresse pela propost a pedagógica, e que se articula

com maior força no seio de Inst it uições nomeadament e o OPPTerr.1

A análise foi o mét odo ut ilizado nas diversas áreas de conheciment o, como metodologia de aproximação às respect ivas realidades e estudos de caso. As Ciências da Terra não foram excepção nest e sent ido.

A perspectiva mais usual e comum foi a parcelização, de acordo com duas escalas: uma dist ribuição física parcelar e uma parcelização disciplinar. Trat a-se, no fundo, da reint erpret ação do binómio forma-função. Em qualquer um dos casos, os result ados foram diversos. Volt aremos a est a quest ão mais à frent e.

Num moment o em que a globalização invade os espaços culturais e de pensament o, parece lógico observar com algum cuidado as possibilidades abertas pela mesma, no que respeit a ao t errit ório. É nest e território que encont ramos um conceito que parece responder às característ icas comuns a diversos olhares e aproximações: a Paisagem.

1

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O t ermo “ Paisagem” foi já reconhecido a nível científico. O seu

ent endiment o como suport e ou contentor das acções ant rópicas é object o de especial at enção da Est ét ica, sem esquecer out ras áreas.

A paisagem compagina-se como suporte físico da ant ropização. Deve ainda ser entendida como a relação do homem com o Territ ório, e como aut or dessa ant ropização. A Política,por seu lado, deverá ser entendida como recept áculo do pensamento humano, logo “ coisa social” .

No nosso entender a Universidade, como Inst it uição social, tem o dever supremo de formar, fazendo-o com especial cuidado no que se refere às novas gerações. A Invest igação, plasmada neste objectivo, deve ajudar neste processo de formação. Acredit amos que formação e invest igação est ão int imamente ligadas a est a função social da Universidade. De fact o, não se pode ent ender uma sem a relacionar com a out ra. Não se devem separar ambas as funções. A Universidade deve ser o expoent e máximo capaz de plasmar, at ravés da investigação aplicada, a vocação de serviço à sociedade onde est á inserida.

Consciente dest a vocação, o present e ciclo de lições mais não é do que a necessidade pessoal de comprovar a validade dest as

funções e a aplicabilidade dos conceit os, frut o de anos de reflexão.

O t rabalho baseia-se em part e nas experiências didáct icas desenvolvidas em t rês países: Port ugal, It ália e Espanha, em função da reflexão cont ínua das relações ent re Política, Territ ório e Ant ropização. São três experiências realmente distint as. Ainda que os t rês países se encont rem na mesma região, a Euro-M ed, apresent am visões muit o diferent es,assim como realidades cult urais radicalment e diversas no que respeit a às relações ent re Homem e Território. Ao mesmo t empo t rat a-se de t rês experiências com um pont o comum: Paisagens e Território são geradas basicament e a partir da int eracção de t rês element os: Terra, Água e Homem. Nenhum destes element os deve ser descurado.

Part indo de uma relação direct a ent re Homem e Territ ório, apercebemo-nos dos diferentes result ados que assent am em fact ores de est rat égia política, independent ement e dos diversos significados do termo “ t errit ório” .

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13

correlacioná-la direct ament e com as est rut uras globais impost as por uma cult ura cibernét ica. 2

Nest e cont exto assist imos, muit as vezes impávidos, ao processo de esvaziament o t errit orial impost o pela polarização t erritorial e as baixas t axas de fertilidade. O envelhecimento populacional não permite, a curt o prazo, augurar result ados brilhant es em t ermos demográficos porque frequent emente somos incapazes de ent ender que se t rat a de uma quest ão t emporal geracional.

A agravar este quadro est ão as limit ações dos planos quadrienais que “ impõem” leit uras polít icas subjacent es aos mandat os nas diversas inst it uições, e acabam por conduzir a uma imprevisibilidade. Est a imprevisibilidade conduz a que as acções de caráct er t errit orial possam ser assumidas de forma realist a pelas inst it uições de menor escala/ import ância, apesar de serem elas as que mais próximas se encont ram dos problemas quot idianos do Homem em relação ao seu território.

2

Itália e Espanha alteraram as respectivas estrut uras administrativas

com a introdução dos níveis regionais com maior ou menor grau de autonomía

Estamos conscient es da existência de planos est rat égicos ainda que, em muit as ocasiões, sem result ados aplicáveis. Est amos igualment e conscient es da existência de um planeamento t erritorial que, pelo menos t eoricament e deve definir as relações a est abelecer com as escalas mais pequenas. Apesar disso, t odas elas continuam genericament e a falhar impedindo a sua aplicação direct a, no dia-a-dia. Est a realidade t em vindo a demonst rar problemas, quer na aplicabilidade das conclusões emanadas pelas est rut uras superiores, quer pela cont radição grit ant e das necessidades reais dos t errit órios. A melhor prova do que acaba de ser dit o é a crua realidade da crise generalizada que assola sobret udo Espanha mas que é comum a out ros países. A concent ração no lit oral, especialment e na zona M editerrânica, deu lugar à criação de um desmesurado parque habit acional, a consumos de uma água que não exist e, bem como a consumos de paisagens e solos que se desequilibraram definit ivament e, a favor de um parque habitacional em que o que falt a é precisament e o últ imo destinat ário: o Homem.

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são forçados a funcionar a 150%, nos rest antes quat ro ou cinco. Uma região mediterrânica pensada no seu conjunt o para sat isfazer uma pot encial população que acaba por nunca chegar; um modelo export ado na act ualidade para out ras sub-regiões dent ro do espaço Euro-med, e que se t raduz numa colonização territorial perversa.

Por fim, a falt a de ident idade por part e do potencial usuário de um t errit ório, que assume, maiorit ariament e, o papel de cliente do mesmo, mas não o sent e nem como habit ant e nem como aldeão deste espaço.

Interessa-nos particularmente uma at itude abert a da Arquit ect ura em relação às out ras áreas de conheciment o que nos possibilitem ent ender os processos de conformação da pequena escala t errit orial. É do nosso int eresse, neste sent ido, a génese dos espaços públicos nas pequenas comunidades, nos pequenos grupos sociais, associados à pequena escala t erritorial gerada. Nest e sent ido a relação com a Ant ropologia é fundament al para perceber est es processos de criação de espaços a partir da relação ent re o indivíduo e o seu “ hint erland” .

Esta escala, origem da composição formal e funcional das paisagens da cornija atlânt ica da Península Ibérica, merece uma at enção especial, por forma a act uar com as ferrament as apropriadas em relação ao seu futuro compatível com um mundo global.

Esta concepção da pequena escala não é um t ema limit ado a est e t errit ório. Os vales alpinos de Valst agna reflect em, no meio duma ânsia expansionist a do nort e da It ália, algo t ão “ simples” como a sua sobrevivência.

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17 Um problema prévio: a transversalidade

O problema da t ransversalidade est rá sempre present e neste ciclo. A visão int egradora das várias perspect ivas provenient es das diversas áreas de conhecimento vai no sent ido opost o ao que t em sido norma: a divisão, a decomposição do problema nos seus múlt iplos element os que permit am uma visão reduzida de uma única realidade complexa e mult ifacetada.

A própria apresent ação do candidat o para a obt enção do grau

agregado remet e-nos para est a quest ão. Est a t raduzir-se-á na apresent ação do índice da lição segundo t rês moment os, de acordo com uma linha de pensament o: t odos eles são convergentes no que respeit a ao Territ ório como suporte físico de uma série de act ividades que geram as paisagens. Est a convergência irá ser mais clara nas conclusões dest as lições.

Um exemplo claro do que ant eriorment e foi dit o é a necessidade de encont rar terrenos comuns e significados análogos em conceitos como “ lugar” , “ espaço” , “ t erritório” “ paisagem” . As considerações de Amos Rapoport , arquit ect o e ant ropólogo, ajudaram na elaboração dest a linguagem comum.

O conjunto do ciclo de lições apresent a-se organizado segundo t rês moment os e uma série de conclusões, de acordo com o seguinte índice:

M OM ENTO 1

As razões dialógicas dos gestos arquitectónicos: antropos e topos

M OM ENTO 2

A experiência pedagógica do Território

M OM ENTO 3

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19 M OM ENTO 1

1. As razões dialógicas dos gestos arquitectónicos: antropos e topos

1.1.0. O espaço como local “praticado”

Hoje em dia verifica-se uma confusão ent re os conceit os de

espaço e lugar. Os conceit os não são realment e sinónimos, como se poderá crer. O espaço é uma dimensão vazia, uma dimensão física concebida de modo geomét rico. O lugar (chamado pelos gregos topos) carece de dimensões fixas.

Da perspectiva da Ant ropologia, o espaço é objecto dum int eresse progressivament e maior no ámbit o das Ciências Sociais, chegando-se a falar duma “ viragem espacial” . Na Ant ropologia, est a “ viragem” t eve múltiplas expressões.

Apesar dos ant ropólogos terem partido “ t radicionalment e” do est udo das realidades constit uídas espacialment e – o sít io, a aldeia, ou a área cult ural – só recent emente foram apresent adas est as categorias como problema, reconhecendo-se dest e modo est as espacialidades. Ao mesmo t empo, foi reconhecida a produção de conhecimento ant ropológico, nomeadamente o et nográfico, como prát ica espacial.

Dest e modo, a ant ropologia e a etnografia foram const ruindo novos object os de est udo relacionados com os espaços e as espacialidades, focalizando a sua at enção no estudo das formas onde a paisagem e a “ aura” do lugar são produzidos.

Poderemos falar acerca da interacção exist ent e ent re o social e o espacial, aliment ando-se reciprocament e, e da relação ent re as paisagens e lugares que são const ruções sociais.

O pont o de partida do discurso arquitect ónico é o lugar. De fact o, parece t rat ar-se dum t ermo polissémico. Poderá pensar-se que há vários conceitos de lugar, quando de fact o a realidade do lugar é única.

As linguagens especializadas e a necessidade de realizar as análises dos espaços ou est udos de caso para poder observar o problema com maior rigor levaram-nos à act ual sit uação concept ual.

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Esse ser-se humano, esse est ado de existência e essa “consciência da nossa ident idade”3.

O lugar é, port ant o, o out ro corpo – é a dilat ação do corpo de alguém que ao ser envolvido pelo object o arquitectónico o sensibiliza, quer dizer, o humaniza, o t orna sensível; o lugar é, no fundo, um espaço de represent ação do corpo, é onde o corpo se project a, é a Arquitectura.

A existência do lugar pressupõe a t ransformação do espaço. Esta t ransformação inicia-se com o uso e a sua vivência e experiência vit al. Ist o é, o modo como nós vivemos a t al t ransformação.

Julgamos que a dimensão do lugar ult rapassa a sua simples expressão física. Ent endemos que os diversos locais exist ent es

3

“ [...] t emos consciência da nossa identidade através do t empo. Sentimo-nos sempr e est e mesmo ser indecifrável e evident e, do qual seremos et ernamente o único espectador. M as as impressões que asseguram a estabilidade dest e sentiment o, t ornase- nos impossível traduzi-las ou sequer sugeri-las.” Raymond ARON cit. por LYOTARD, op. cit., p. 93

na paisagem acabam por se configurar como “ lugares” para os habitantes de det erminadas comunidades, para os lugareños4.

Os lugares acabam por ser locais, sít ios, aos quais os lugareños at ribuem determinadas caract erísticas, nomeadament e a memória, singular ou colect iva. A experiência continuada desse local, a prática continuada sobre o mesmo local, determina a consideração de lugar. Est es lugares, no seu todo, definem o espaço colectivo dessa pessoa. A comunidade assumirá como lugares os espaços comuns ao conjunt o dos seus integrant es conforme a consideração de lugar. Ao mesmo tempo, do ponto de vist a da definição duma identidade própria, a comunidade sublinhará det erminados espaços como os seus próprios lugares.

4 O termo “ lugareño” admite algumas traduções, mas é em cast elhano

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… do ” lugar ant ropológico” (ident itário, relacional e histórico) ao “ não-lugar” (provisório, efémero, compromet ido com o t ransitório e a solidão),

O conceit o de “ não-lugar” apenas pode ser aceit e como metáfora de uma nova vivência do “ lugar” e não a sua negação.5

Estes espaços, previament e sent idos

individualment e, desde que apreendidos por uma det erminada comunidade, t ransformam-se em

espaços colect ivos, em espaços públicos.

Deveremos ter sempre present e que a

caract erização deste “ espaço público” é feit a sempre numa pequena escala. Numa escala a mais próxima possível do individual ou familiar.

Nest e sent ido devemos lembrar o capítulo X “ As dist âncias no ser humano” do livro de Edward T.Hall “ A dimensão ocult a”6 onde independentement e dos valores absolutos serem discut íveis em função dos diversos grupos e cult uras, é

5

CAM PELO, Álvaro. 2010 “ Espaço, construção do mundo e as suas representações” , In Dos montes, das pedras e das águas, ed. Ana Bett encourt; Lara Bacelar Alves, 191 - 206. ISBN: 978-989-8351-02-9. Braga: CITCEM ; APEQ., pag 193

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22

cert ament e uma referência a não esquecer. Report a-mo-nos às distâncias “ pessoal” e “ social-modo próximo”

A memória, individual ou colectiva, aliment a-se das experiências direct as, das prát icas destes espaços públicos, em função das distâncias. M as uma acumulação dest es espaços, sem o devido relacionament o ent re eles, não poderá gerar um sist ema de ordem superior.

Esta necessidade de art icular os espaços ent re si foi est udada por out ros especialist as. Álvaro Campelo refere na sua obra

“ Espaço, const rução do modo e as suas representações” este aspect o:

“ A questão que se levant a, ao falarmos de espaço, é saber até que ponto a leit ura do mesmo, enquanto lugar praticado pode ou deve ser feita dent ro de um discurso da lógica, de um princípio organizador, a que acedemos pragmat icament e, e que est ruture a cognição. Pode-se dizer que é a prát ica do espaço que o est rutura e o organiza num sist ema compreensível: estabelecem-se percursos, limit es, zonas de habitar, de caçar, de cultivar, de convívio, de part ilha e de int imidade; do público e do privado,

do profano e do sagrado, de domínio ou poder, do permitido e do proibido, do seguro e do inseguro, da vida e da mort e; zonas marcadas pelo género, pela idade e pelo status, et c. Talvez “ as coisas no seu lugar” seja a base de uma gramát ica do espaço!”7

As arquit ect uras surgem como respost a à necessidade de expressar e materializar est es espaços e vivências.

A expressão de det erminadas relações é est abelecida at ravés de “ gestos” que contém as caract eríst icas dos seus autores, os homens que sentiram, experiment aram, prat icaram est es espaços. Estes gest os t ransmit em efect ivamente as essências destes lugares. As arquit ect uras serão, dest e modo, a concret ização física espacial da prática dum lugar, individual ou colect ivo.

Os espaços da memória acabam por definir est es pequenos gestos que surgem no território. Eles são absolut amente

7

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23

necessários para qualificar est es espaços como lugares. A religião como forma de expressão humana e social assume o papel de “ ponte” , de referência comum, a estes diferent es colect ivos.

Assim, os nichos, como element os de menor escala, definem uma relação pessoal expressa e comunicada à sociedade. São espaços do reconheciment o e da memória, dedicados quer às pessoas ou seres queridos, quer às divindades.

Neste sentido são comparáveis os nichos da cornija nord-ocident al da península Ibérica com os da ilha de Cret a.

Quando este espaço da memória passa a ser domínio dum colect ivo, a escala do element o cresce proporcionalmente. As capelas, apropriadas como referências para um det erminado colect ivo, cumprem análogas funções. Os cruzeiros referem pont os, marcando dest e modo determinados t errit órios.

(25)

24 Ilustração 6: Nicho na EN-204. Searar- Freguesia de Correlhã.

Ponte de Lima

Ilustração 7: Nicho no caminho de Asfrata-Creta

(26)

25

Em quaisquer dos casos ant eriores, foram est abelecidas relações ent re os diversos est ádios dest a memória colect iva e

as suas sociedades. Ocupam os mesmos espaços no t rabalho e na fest a, onde vida e mort e convivem para definir uma relação

mais direct a e mais abert a, se compararmos as tipologias de cemitérios nas met ades nort e e sul de Portugal.8

Todos est es espaços da memória, iniciados at ravés dum gesto projectual do nicho ou do cruzeiro, definem em maior ou

8 Uma diferença substancial entre os cemitérios do Norte e Sul de

Portugal é a relação estabelecida através duma parede que permite ou não a visão ext erior. No Nort e esta relação é mais transpar ent e, mais directa. Dalgum modo, a morte está presente na vida, o que não acont ece na metade Sul, com muros brancos altos que definem uma separação clara entre vida e morte no quotidiano

Ilustração 8: Cemitério de São Tomé – Freguesia de Correlhã-Ponte de Lima

(27)

26

menos escala, espaços arquit ect ónicos. Estes gest os ganham progressivamente presença, quer ao nível de espaços arquitectónicos, quer ao nível da memória colectiva.

Esta presença repetida da memória ajuda à definição das paisagens, convert idas dest a forma em arquivos das respect ivas memórias. Todavia não deveremos esquecer que a simples acumulação dest as arquit ect uras não gera, por si mesma, um

sist ema de relações de ordem superior ao qual iremos designar como paisagem.9

Lavadouros

A paisagem surgirá at ravés da relação ent re as diversas arquitecturas prat icadas sobre um territ ório, sobre um suporte físico. Est as relações não são unicament e criadas pela perspectiva física, mas t ambém pela cognitiva. Os sentiment os fazem t ambém parte desse t ipo de relações. A paisagem gera-se, finalment e, como “ lugar de lugares colect ivos” A paisagem

9 A noção de paisagem é recent e e foi inventada pela Pintura. Não só a

paisagem, tal como nós a ent endemos hoje e a utilizamos enquanto conceito, é recente como foi, insist o, inventada pela Pintura. Os pintor es do século XVI começaram por dar alguma importância à paisagem, servindo-se dela como cenário ou pano de fundo. A paisagem viria a servir, desde o Renascimento até meados do século XIX, de contexto sobr e o qual as narrativas pictóricas eram veiculadas. Essas narrativas que ocupavam o primeiro plano da repr esentação acont eciam sobre uma paisagem que criava a atmosfera e a profundidade, mas lá longe. Lá longe é como a paisagem ainda hoje pode ser entendida – uma imagem longínqua a perder de vista onde se cont empla a distância entr e mim e ela lá longe. E, assim, a paisagem define, em confront o comigo, um ponto: o meu pont o-de vista, o ponto que institui uma certa maneira de ver e a partir da qual aquilo que se vê pode ser visto. Este foi o critério que a Pintura usou desde o Renascimento at é ao Naturalismo novecentista para dar figura à paisagem.

(28)

27

aparece como cont ent or das memórias espaciais dum colect ivo.

Ilustração 11: Espigueiros em Lindoso-Ponte da Barca-PT

A quest ão levant ada por CAM PELO no seu t rabalho é absolut amente pert inent e:

“ Haverá uma “ cultura espacial” , onde conflui o resultado da relação ent re as condições orográficas, ecológicas, e físicas do espaço, com a sua prát ica e apropriação? Nesta “ cultura espacial” as representações mentais configurariam sentido,

Renovando uma relação com o espaço, paut ada por referências passíveis de reconheciment o e de

reprodução pelo grupo, como sejam os

acont eciment os decorridos nesse espaço, as formas orológicas naturais que se destacam ou os elementos humanizados”

(29)
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29 1.1.1.Paisagem: conceito polissémico.

O t ermo “ paisagem” é um conceit o polissémico, sujeit o a diversas int erpret ações ao longo dos t empos e condoant e as culturas.

Etimologicamente Paisagem é uma palavra compost a formada por “ pagus” , que significa campo, aldeia; e por ” aticum” “ agem” – que designa colecção (BUENO: 101971; AZEVEDO:11 1971), t endo a sua origem no lat im. A sua origem é remot a. Segundo M ESQUITA12 (2001), o termo “ pagus” foi int roduzido

no século I a.C. pelos romanos na Gália (França),

correspondendo a ” marco para delimit ar espaços agrícolas” . A sua versão espanhola “pagos” ainda é utilizada.

Segundo AZEVEDO (1971), “ pagus+at icum” evoluiu para o francês “ pays+age” (no século XVI aparece o t ermo “ paugâge” , depois no séc. XVII em 1656 “ paysage” ), que significa – país, aldeia, e o sufixo “ age” que significa “ porção de um” (BUENO:

10 BUENO, Francisco da Silveira. Dicionário Etimológico - mimeo, 1971.

11

AZEVEDO, Domingos. Dicionário Etimológico, mimeo 1971

12 M ESQUITA, Liana de Barros. Compreensão Ecológica da Paisagem:

Text o do curso de extensão - Pensar a paisagem, projetar o lugar; Laboratório da Paisagem/ CECI, UFPE, Recife, 10 a 20/ 09/ 2001

1971). Também em It ália, no séc. XVII aparece “ payzano” , ét imo relacionado com as pessoas do campo.

O t ermo “ paisagem” evoluiu desde o século XV at é hoje, vindo do conheciment o pict órico da Renascença, simult aneamente da aprendizagem do desenho em perspect iva e da pintura da

paisagem (TANDY:13 1982; LEITE: 1982; ZUKIN: 142000;

M ESQUITA: 2001) relacionando-se t ambém com pessoas do lugar (cidadão) (BLEY: 1999). A paisagem, como pint ura ou imagem dum lugar, aparece no séc. XVIII na França. Em 1844, o t ermo paisagist a designa as pessoas que pint am paisagens.

BUENO15 (1974) define o termo paisagem como sendo:

“O aspect o complexo de um lugar, a vista do país.

Provem da linguagem dos pintores, que

reproduziam cenas campestres” .

13

TANDY, Cliff. (Dir.). M anual de Paisagem Urbano. M adrid: H.Blume Ediciones, 1982. 351 p.

14 ZUKIN, Sharon. In O espaço da diferença / ARANTES, Ant onio A..(Org.)

Campinas: Papirus, 2000. p.104-105 15

(31)

30

Considerando-se o termo paisagem, ent ende-se assim que a ident idade dest as t ambém revelava as formas de t ransformação empregadas pelos seus povos e não soment e as suas formas naturais, evidenciando sua cult ura, as suas relações de produção e as relações sociais.

Circunscrevendo-nos á lit erat ura castelhana, o t ermo país poderá encont rar-se em 1597; a palavra paisagem, em 1708. Esta carga etimológica acaba por perder-se no significado moderno; na primeira acepção do Dicionário da Língua Espanhola (pint ura ou desenho que represent a uma cert a ext ensão de t erreno), o sent ido espacial t orna-se sobreponível ao art íst ico, e esta quest ão repet e-se na segunda acepção (porção de t erreno considerada no seu espaço art íst ico). Apesar disto, exist e sempre um subst rat o comum formado por um espaço, porção de t erreno, situs e uma det erminada percepção desse t errit ório. Por out ras palavras, há uma realidade espacial que se percebe dum cert o prisma: uma fonte de informação mais ou menos direct amente assimilável que se recolhe t ambém em maior ou menor medida. (P. CIFUENTES, S. GONZÁLEZ Alonso, A. RAM OS, 1993).

A concepção da paisagem foi mudando ao longo dos t empos. Eugenio TURRI refere a paisagem, de acordo com uma perspectiva pictórica, dest e modo:

Como sujeito pictórico, ligado à cultura muito ant es do que na Europa, poderemos encontrar na China, onde é percebido como manifest ação natural do mundo, enquanto sínt ese vital de princípios opostos, no sentido taoist a – através de element os percept íveis como “ montanhas” e “ águas” ou “ vento” e “ luz” (de fact o é assim como são pronunciadas expressões referidas à “ paisagem” no dialecto han).16

Assumindo que a generalização implica normalment e riscos, podemos afirmar que em França paysage é uma acepção que se refere ao olhar dirigido do exterior, aparent emente mais ligado á percepção do observador, algo ext erno a si próprio.

A visão focalizada na vida e a cult ura concret iza-se na palavra

que nasce nas línguas românicas: paysage, paisagem, paisatge,

16

(32)

31

paessagio. A sua origem est á no lat im pagensis, campesino,

aquele que vive no campo; at ravés do francés pays,

inicialmente t errit ório rural.

A relação ent re pais e paisagem é óbvia. Ult rapassa claramente a simples relação artística que é posteriormente at ribuída.17

No que se refere a Portugal, o Dicionário Et imológico da Língua Portuguesa18, indica a proveniência francesa do vocábulo. Segundo M orais, já no século XVI, embora faça…

“ … not ar, porém, que nos primeiros t empos da presença dest e voc.em Port . Nem sempre os nossos autores o utilizaram sob est a forma; assim Gois empregou-o de maneira que, a crer na fidelidade do t ext o que ut ilizo, bastant e o disfarçou:” Has figuras dest as images todas t rouxe Fernam Perez d Andrade, pintadas em panos de paugage,& arvoredos quasi do mesmo modo que sam hos

17 COROM INAS Joan. Diccionario Crít ico et imológico cast ellano e

hispánico, Ed Gredos, 1997

18 M ACHADO, José Pedro: “ Dicionário etimológico da Língua

Portuguesa” Ed. Horizont e

panos pint ados que faze em Flandres…” IV,cap.25,p.59…”

Num sentido oposto, em It ália paesaggio est á mais vinculada á visão artificial da nat ureza que recria o jardim medit errânico. Trat a-se duma visão mais cent ralizada na ideia de “ aggiornament o” uma visão cénica, de caráct er est ét ico, ainda que pareça mais interiorizada. É um apelo à cult ura latina. É como o refere Emilio SERENI (1961) 19.

As diversas visões do projecto, que mudam no decorrer da Hist ória nest e país, encont ram-se referidas no t ext o de Sónia M ARINO20. Est a consciência é de t al modo que, no âmbit o do Direito, é propost a em 1887 a necessidade de retirar do Direito privado t udo o que refere à agricult ura, como element o que ult rapassa a esfera do privado face a um conceit o mais abert o, mais colect ivo.

19

SERENI, Emilio, 1961,” Storia do Paesaggio agrario italiano” , Bari,Ed. Laterza.

20 M ARINO, Sonia “ Evoluzione do concett o do paessaggio nella cultura e

(33)

32

No que respeit a à Holanda, landschape est á direct amente relacionado com a visão pict órica da paisagem. Est a visão nasce da própria pintura holandesa, ainda que assumida por out ros aut ores ao longo dos séculos. A produção hist órica que chegou at é hoje é a melhor prova dist o.

Na Inglaterra, landscape refere mais a consciência hist órica do que o territ ório e o seu ordenament o, em tempos da arist ocracia vitoriana.

Foram muit os aut ores a abordar o problema da paisagem.

Álvaro Cunqueiro, célebre homem das let ras galegas do século XX, definiu a paisagem como:

"... algo que está poblado de cosas que águardan uma mirada interesada e significat iva"

Const at ámos anteriormente que a paisagem é um conceito intimament e ligado ao Homem e à sua cultura. Algo ligado á cultura dos usos do lugar, do espaço. Ao mesmo tempo, algo que é confront ado e cont rast ado emocionalmente com os desejos, os anelos, as necessidades, os int eresses, a alt ura…, sempre por referência ao sujeito que cont empla.

Na percepção da paisagem int egram-se t odos os sent idos: a paisagem vê-se, mas t ambém podemos ouvi-la, cheirar, apalpar, sentir... É um elemento complexo uma vez que se int erligam uma série de vivências.

Dai a dificuldade de poder avaliar de modo subject ivo a paisagem. É, segundo as diversas definições, uma t arefa cont rária ao próprio espírit o do conceit o.

Como indica César Port ela Fernández Jardón21:

“ Cualquier paisaje es la imagen de uma realidad y la realidad no es ot ra cosa que la permanente dialéct ica ent re objet ividad e subjetividad. Por ello puede afirmarse que el paisaje es algo objet ivo que cada uno de nosot ros ve y siente subjet ivament e.”

21 PORTELA, FJ C. In ZOIDO N.,F. (coor d.), VENEGAS M oreno, C. (coord.)

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33 Imagem e paisagem

A relação ent re imagem e paisagem será sempre uma const ante. Est a relação direct ament e relacionada com o âmbito fenomenológico. A obra de Christopher TILLEY int itulada “ La Fenomenología del Paisaje: Lugares, Rut as y M onument os (Exploraciones en Ant ropología)” ,22 parece-nos, nest e sentido, icónica: oferece uma nova abordagem à percepção da paisagem, result ando num ext enso ensaio fot ográfico acerca das caract erísticas t opográficas da paisagem. Aqui se int egram abordagens filosóficas da percepção da paisagem com estudos ant ropológicos da import ância da mesma nas sociedades de pequena escala. Est a perspect iva é utilizada para examinar a relação ent re os sítios pré-hist óricos e a sua configuração t opográfica. O aut or defende que a arquit ect ura funerária de pedra do Neolít ico act ua como uma espécie de lente da câmara, cent rando a sua at enção nas caract erísticas da paisagem t ais como aflorament os rochosos, vales dos rios, mont anhas e o seu envolviment o imediat o. Est es monument os

22

TILLEY , Ch. “ La fenomenología del paisaje: Lugares rutas e monument os (Exploraciones en Antropología) ” . Ed Berg. 1997 e os text os r eferidos ao Seminário “ Teoria e paisagem. Reflexiones desde miradas interdisciplinarias” da Universidade Pompeu i Fabra, 25-26 Fevereiro de 2011. htt p:/ / w w w .upf.edu/ paisatge/ #03

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34

desempenharam um papel act ivo na socialização da paisagem e na criação de significados.

A Fenomenologia da Paisagem é inusual, dado que liga no campo edit orial dois tipos de publicações que est iveram separadas na arqueologia: livros com fot ografias e t exto académico. O primeiro most ra os monument os, com t extos e int erpret ação mínimos. O segundo, em que as palavras tentam subst it uir as imagens visuais.23

Será nesta subjectividade da definição de paisagem que incidirá a publicação de Anne Cauquelin “ A invenção da paisagem”24:

"Aquilo que é dado a ver, a paisagem pint ada, é a concret ização do elo ent re os diferent es elementos e valores de uma cultura, ligação essa que oferece uma disposição, uma ordenação e, por fim, uma "ordem" para a percepção do mundo."

23

Para um maior aprofundamento nest e âmbito sugere-se a leitura de “ La morfología del paisaje” da aut oria de Carl O. Sauer Universidade de California Publications: Vol. 2, No. 2, pp. 19-53. October 12, 1925. Tradução de Guillermo Castro H.

24

CAUQUELIN, A .A Invenção da Paisagem Lisboa, M aio de 2008 Edições 70.Colecção: Art e & Comunicação, n.93, Pagina 12

A figura de Ant onio Bonet Correa serve para concluir que est á provada a subject ividade da paisagem, at ravés do seu ensaio sobre a paisagem, t it ulado “ Variaciones sobre el Paisaje” :

“ La caract eríst ica esencial del paisaje es que, si bien que los elementos que lo componen pert enecen a la Naturaleza, ésta de por sí no lo constituye. Para que un paisaje exista, la primera condición es nuest ra mirada. La segunda condición es nuest ro espírit u. La últ ima es la Naturaleza.”

"... de una part e hay o modelo, de ot ra su t ransformación, su t raducción plástica o invent iva. Los elementos de u paisaje están dados de ant emano. Su exist ência é independient e de la obra artíst ica. Sin embargo, su realidad está sujeta al hombre que los recrea, que los aprehende en su t emát ica. De ahí que se componga no sólo de elementos nat urales, sino también de element os humanos incorporados a su conjunto".25

25

(36)

35

Considerando a paisagem como uma área de conheciment o, a mesma foi abordada de diversas perspect ivas. De acordo com Rogerie e Berout chat chvili26 (1991), a ciência da Paisagem como disciplina científica, percorreu diversas fases hist óricas:

Génese (1859 – 1920): Surgem as primeiras ideias físico-geográficas sobre a int eracção dos fenómenos nat urais e as primeiras formulações da paisagem como noção científica.

Desenvolvimento biogeomorfológico (1920 – 1930): São desenvolvidas as noções de int eracção ent re os diversos component es da paisagem, por influência de out ras ciências

Estabelecimento da concepção físico-geográfica

(1930-1955): São desenvolvidos os conceit os sobre a diferenciação em pequena escala das paisagens (zonalidade, regionalização).

Análise estrutural-morfológica (1955-1970): A at enção principal volt a-se para a análise dos

26

ROUGERIE, G; BEROUTCHATCHVILI, N. Geossyst emes et paysages. Colin Edit ores, 1991. 302p

problemas de nível regional e local (t axonomia, classificação e cart ografia).

Análise funcional (1970 – at é hoje): São int roduzidos os mét odos sist émicos e quantit at ivos e desenvolvida a Ecologia da Paisagem.

Integração geoecológica (1985 – at é hoje): A at enção principal volt a-se para a int errelação dos aspect os est rut ural-espacial e dinâmico funcional

das paisagens e a integração numa mesma direcção

cient ífica (Geoecologia ou Ecogeografia) das Concepções biológicas e geográficas sobre as paisagens.

(37)
(38)

37 A introdução do conceito da paisagem no discurso

arquitectónico

A Arquit ect ura, ent endida como área de conheciment o sempre assumiu conceit os provenient es dout ras áreas de forma t ardia. Tal acont eceu, por exemplo, com o conceit o de “ não lugar” . No que respeit a ao t ermo “ paisagem” a sua inserção no discurso arquitectónico é relativament e recent e. Só Christ ian Norberg Schulz27 ut ilizava a palavra “ paisagem” , sendo clarament e preferido o termo “ territ ório” . O discurso da “ Tendenza” est á cheio de referências ao Território, o que é visível no documento que define melhor est e moviment o, o número 87-88 de “ Edilizia M oderna” int it ulado “ La forma del territorio“ em 1965. Nas palavras de Pedro Borges, na sua t ese de dout oramento:

“ … A paisagem foi usada programat icament e para nomear um conceit o que alargava indefinidamente os seus limit es de modo a abarcar tudo o que

27

NORBERG-SCHULZ, C., Genius Loci: Paesaggio, Ambiente, Architectura, M ilano, Electa, 1979

t ivesse a ver com o espaço, da escala doméstica à escala geográfica.”28

M as a ligação ao dia-a-dia da paisagem, a abordagem cient ífica segundo perspectivas diferent es, mais ligadas ao âmbit o do ant ropológico, vêm da part e de John Brinckerhoff JACKSON. Desde 1951 est e arquit ect o americano, considerado o promot or dos estudos de paisagens vernaculares, edit ou a revist a “ Landscape” , t endo finalizado uma colecção de nove ensaios com o t rabalho “ How t o study landscapes”29

Os seus est udos baseiam-se numa aproximação à realidade at ravés da visit a ao local, da observação da realidade. A partir deste conhecimento profundo dos locais avança com uma definição dos códigos compositivos das paisagens.

Nest e sentido poder-se-á fazer uma leit ura comparada ent re os element os est rut urant es da arquitect ura da cidade definidos

28

BORGES, Pedr o M aurício de Loureiro Costa.“ O desenho do t erritório e a construção da paisagem na ilha de S. M iguel, Açor es, na segunda metade do século XIX, através de um dos seus protagonistas.” Tese de doutoramento apr esentada na Univ. de Coimbra em 2007 p.23 29

(39)

38

por Aldo Rossi nos seus est udos, e estes element os, que poderemos chamar primários, na leit ura realizada por Jackson.

Sendo a est rut ura da propriedade o element o basilar na leitura do território, da cidade e das paisagens, é fácil reparar na coincidência de pont os de vist a ent re ambos os autores. As infra-est rut uras que ROSSI considera element os primários, no caso de JACKSON são armações que est rut uram o territ ório. Propriedades, est radas e casas, são element os que explicam o desenvolviment o de determinadas arquit ecturas sob o t erritório ou sob a cidade, segundo a escala de percepção e observação. A casa, como expressão máxima do fenómeno da habitação nos territórios e paisagens, como element os edificados neles, será o element o diferenciador ent re os discursos de Jackson e Rossi. Quando Rossi admit e a forte relação ent re casa e hist ória da forma urbana, nest a obra30 Jackson vê uma forte relação que refere as acções const ruídas no t errit ório, prévias à inst alação da casa: a ant ropização t erritorial previamente prat icada.

30

ROSSI, Aldo. “ Arquit ect ura da cidade” Edições Cosmos, Lisboa 2001. Primeira edição em italiano: L'architet tura della città, Ed.M arsilio, Padova, 1966

Do ponto de vist a da Paisagem em relação à Arquit ect ura e ao Territ ório, t ent ando fornecer uma noção mais complexa e abrangent e acerca da Paisagem, devemos lembrar as ideias acerca da Paisagem vertidas por M osè Ricci na publicação “ High_Scapes Alps.”

A paisagem é a nossa riqueza. É o valor mais alto

que nós podemos most rar no mercado

int ernacional. É a nossa ident idade cultural. ….

Se o Território pedia á Arquitectura estabilidade e persist ência no t empo (no fundo é a Arquit ectura quem lut a cont ra o t empo), e demandava o projecto como decisão de autor a paisagem pede á arquit ectura t empos não definidos, pede-lhe o facto de poder envelhecer conjuntamente, de poder alt erar de modo conjunto e pede ao projecto para ser est rat ificado, pensado e compartilhado por muitos, de modo a cont ribuir para a construção de um ret rato que é o ret rat o duma sociedade e não dum autor.

(40)

39

sua população, ou que, no sentido opost o, não deve envelhecer mas sim permitir as variações e mut ações que a economia da sociedade cont emporânea t rás consigo para encont rar novas forças e uma nova evolução desta paisagem…. A paisagem, no sentido oposto, é… aquilo que eu levo dent ro de mim, o meu olho, a minha cultura, o meu pont o de vista, o modo como eu olho, represent a a nossa ident idade.31

31

RICCI, M osè: in SCAGLIONE Pino: High_Scapes, alti paesaggi le Alpi” Ed List, Barcelona, 2009. Páginas 44-45, tradução do autor deste t ext o

Lugar e paisagem

Volt ando ao discurso de Álvaro Campelo, no que se refere às relações ent re lugar, paisagem e t errit ório, este autor est abelece uma relação int eressant e para explicar as diversas relações sobre o t errit ório:

“ O que define o t erritório são as suas característ icas est ruturais e morfológicas, passíveis de uma dinâmica relacional. É na qualidade de“ element os em relação” que est as caract erísticas conferem ao t errit ório a sua identidade.

Enquanto próximas, porque demarcadas pelos limit es da unidade t erritorial a que se referem, t ambém se afirmam por uma densidade de relações e de memórias vividas, que const ituem a história desse t erritório. ”32

Percebemos que o que é definido no t ext o ant erior como

“ história desse t errit ório” é para nós a Paisagem. Est a relação permite-nos int uir o valor hist órico da paisagem, como

(41)

40

cont ent or das vivências que se t ransmitem ao longo do t empo, como contentor de memórias colect ivas.

Este valor hist órico vê-se reforçado pela sua previdência, at ravés da const rução repet ida da paisagem, dest as arquitecturas que definem os seus valores identit ários.

“ A cont inuidade de prát icas sociais num t erritório confere-lhe uma “ densidade” que permit e o desenvolvimento de det erminadas compet ências, de

uma aprendizagem e a reprodução de

conhecimento.

E é isso que permit e aos usuários de um t erritório um domínio mínimo na apropriação do mesmo, part ilhável na multiplicação das experiências – que lhes confere segurança –, e na const rução de um “ olhar” sobre o mundo, base cognitiva de relações credíveis e significativas.”33

Surge, assim, o valor pat rimonial da paisagem fort emente ligado á const rução das identidades.

33

HARRIS, M . 1964. Le Nature of Cultural lings. New York: Random House, pag 196

De facto a int eracção ent re os conceit os de “ História” e “ Paisagem” refere inevit avelment e out ra visão dest a últ ima: a paisagem como arquivo da memória; como arquivo do Territ ório.

Interessa-nos particularment e o conceit o do Património, como recurso para a const rução cult ural da Paisagem, part indo de uma reflexão sobre os conceit os de Paisagem e Pat rimónio.

A abordagem do t ema do Pat rimónio, inserido na paisagem e em diálogo com ela, permit e apont ar para uma ordem no t erritório que se encont ra aparent ement e fragmentado.

Const at amos que o pat rimónio cultural duma determinada paisagem est á sediment ado no palimpsesto34 do t errit ório

podendo ser um element o endógeno para a criação da

paisagem posit iva.

É passando pelo entendiment o das temáticas da Paisagem e do Pat rimónio e analisando os fragment os de informação genét ica

34 Em termos arquit ect ónicos o palimpsest o remet e para uma situação

(42)

41

de diversas origens que é possível perceber o sent ido de uma est rat égia de valorização do t errit ório.

Part indo da leitura da informação do território, procura-se apont ar caminhos para a valorização da paisagem rural.

E mais uma vez constat amos a singularidade das paisagens, na medida em que cada paisagem é única e espelha t ant o os aspect os culturais como a hist ória natural de um t errit ório, daqueles que o t ransformaram ao longo da sua exist ência.

É nest e cont ext o que inrompe a ideia do lugar em relação às arquitecturas:

É quando o objecto arquit ect ónico envolve o corpo, ou, do pont o de vist a inverso, é quando o corpo se sente envolvido por ele, que ele-object o- (ali) deixa de ser objecto e passa a ser lugar (aqui)35

35 Passa a ser lugar-(num “ pont o-aqui” ): “ Com este criterio [o do que o

espaço existe através da percepção de quem nele se encontra], o espaço está muito mais próximo de ser equivalent e a si mesmo do que em todas as part es como nos ensinam geógrafos e geómetras; Por outro lado, est e espaço conta como um ponto de referencia que o polariza em redor do ser e constit ui uma espécie de 'Point ici' que

No caso das relações ant ropológicas da Paisagem, os gest os ligavam-se às memórias, costumes e rit os. No caso das arquitecturas do territ ório, em relação á forma como o Homem t em vindo a modelar estes t errit órios, nasce a relação dialógica mais direct a ent re o “ topos” , com as caract eríst icas físicas do lugar. Eugenio TURRI 36 aborda est as quest ões apresent ando uma perspect iva mult idisciplinar. Nos parágrafos infra, t raduzidos da versão it aliana, pode-se const at ar este cruzament o:

“ Qualquer acção humana, at é a mais funcional, é

mot ivada int ernament e pela sociedade,

considerando-a como filt ros psicológicos, as

memórias históricas, as ideologias, as

representações, as comunicações internas, t odas elas ligadas int imament e aos modos de operar no ambiente, e de utilizá-lo economica, est et ica, ludicament e, et c. …

establece for mas privilegiadas a partir da maior o menor influencia que exerce sobre est e espaço.” Abraham M OLES in EKAM BI-SCHM IDT, Jézabelle . La percepción del habitat, Barcelona Ed Gustavo Gili 1974, p. 7

(43)

42

A sociedade humana, considerada como organismo biológico, tende ao equilíbrio de recursos que impliquem situações o mais estáveis possível para sobreviver, mas ao mesmo t empo, enquanto organismo social é obrigada a uma série de “ urti” da História que alt eram os equilíbrios ant eriores project ando-os para novas combinações de relação com o Ambient e. É uma espécie de oscilação ent re a Ecologia e a História, ent re regiões naturais e regiões históricas onde a Cult ura int ervirá como mediador ent re os diferent es requesitos da própria sociedade.

É esta subject ividade que dificulta a investigação acerca da paisagem, que leva geógrafos ra abandonar est e t ipo de investigações, … A paisagem não pode dar tot alment e uma informação acerca da funcionalidade dest es espaços, salvo uma certa ideia acerca da organização do espaço. Não é por acaso que o homem de hoje é mais facilment e levado a projectar espaços do que a projectar paisagens. Trat a-se de operações mais directas, mais simples e “ ÚTEIS” . A paisagem deixa-se viver, o espaço deixa-se projectar.

A aproximação à paisagem pode ser esquemat izada em duas fases: Uma primeira refere-se à percepção

da paisagem, ist o é, tal e qual nós a reconhecemos, observamo-la, gozamo-la e sentimo-ao t endo como apoios os nossos parâmetros culturais e at é as nossas próprias inclinações int ernas. É o processo de identificação t erritorial através da paisagem. É um processo análogo do reconhecimento duma pessoa at ravés do seu aspecto ext erior, a sua fisionomia, a sua forma de vestir, o seu modo de revelar-se à percepção.

A segunda fase t em a ver com o conhecimento da paisagem percebida. É a paisagem da percepção dos sinais at é às suas descodificações, da fisionomia à fisiologia É como se quisessemos reconhecer a pessoa ident ificada, os seus dados “ anagrifici” , os laços familiares, a sua profissão, o seu papel social, et c. …

Isto equivaleria ao conhecimento da paisagem como projecção do espaço orgânico, const ruído segundo as condicionant es ecológicas, económicas, históricas, est éticas, lúdicas, jurídiaos, etc. …

Os usos culturais que poderemos fazer da paisagem dependem do ant eriorment e referido: O seu

posicionamento epist emológico e a sua

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O problema é que cada uma doa condicionant es exige uma aproximação específica ao tema da paisagem, aproximações provenient es de diversas disciplinas, por vezes incomunicaveis ent re si. Dai a dificuldade da invest igação da paisagem, dai a necessidade de int eragir a part ir de diversas perspect ivas

A paisagem é feita dia a dia, momento a moment o. E uma paisagem que vive, e propõe factores concretos na relação Homen-Nat ureza, de modo a reinventar-se continuament e a relação humana e o ambiente. Seja do “ lugareño” que vive e t rabalha, seja do «cidadão que anima e faz a cidade, ou do poeta que observa e goza… Est a paisagem t em uma dimensão t emporal que não poderá ser um único moment o, mas sim um somat ório de moment os. É uma paisagem cheia de event os, que poderão ser mínimos, at é gest uais, quer desde o devir de event os singulares, quer de event os rot ineiros e quot idianos.

E est es eventos podem ser est ritament e humanos, supostament e sem qualquer vinculação com o ambiente, mas geram um momento e provocam na memória colect iva det erminadas paisagens: Por exemplo, os presépios.

Trat a-se certament e dum event o considerado excepcional, mas que acaba por marcar e gerar paisagens, isto é concretizações da memória, como part e da nossa exist ência, part e de nós próprios.

Paisagem e paisagens

Cada homem, enquant o participant e duma det erminada cult ura, gera as suas próprias experiências de paisagem e descobre e estabelece relações com a sua própria paisagem

Um indivíduo que nunca t enha saído para o ext erior do seu t erritório, as paisagens que possa referir serão poucas. M uitos idosos em det erminadas paisagens nunca t erão saído dos respect ivos vales, aldeias, paisagens, at é há relativament e pouco t empo. O mundo seria para eles esses respect ivos lugares, que actuavam como um espelho da globalidade do mundo Obviament e estas situações, com a chegada dos meios de comunicação, deixaram praticament e de exist ir.

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A t ransformação das paisagens enquadra-se mais na evolução das culturas do que na sucessão das gerações que ocuparam de modo continuado um det erminado t erritório.

A paisagem cont ém a história que está dent ro de si e nas suas formas uma det erminada dimensão t emporal. Trata-se duma quarta dimensão indispensável para poder ler, int erpretar e viver as paisagens actuais. Dest e modo, a arqueologia da paisagem gera uma investigação dos elementos do passado e das suas mot ivações para as respect ivas exist ências em relação aos respect ivos estados act uais. Facto dest es elementos não poderem revelar os seus significados originais ao homem de hoje, que nunca será o mesmo homem que os const ruiu, a ausência da sua funcionalidade original no mundo act ual, impede uma leitura clara hoje, digamos que falam uma língua já desaparecida, uma língua defunta. É assim como Umberto ECCO37 refere a necessidade de regist ar as funções

originais, a impossibilidade de perceber

semiológicament e os significados de t rabalhos e monumentos arqueológicos.

37

ECCO,Umberto “ La strut tura assente” (la com unicazione architettonica e la storia) M ilano Ed Bomiani, 1968, pp 207-218

Pode dizer-se que cada processo de humanização, no mínimo nas antigas civilizações, iniciava-se com sinais religiosos. Act o religioso era a “ recinzione” dos espaços dest inados a acolher a aldeia ou a cidade, como a “ recinzione” dos espaços cult ivados ou dos espaços t abu nas civilizações agrárias baseadas sobre uma relação mágica com o solo. Cruzes e cruzeiros no meio dos campos, ainda hoje t est emunham, nas nossas paisagens, um recurso do “ lugareño” de caráct er mágico e, ao mesmo t empo religioso, para invocar para os seus campos e culturas a prot ecção e defesa das calamidades ou dos espíritos adversos.

Imagem

Ilustração 1: Escultura castelo de Ourém (Porrtugal)
Ilustração 5: Cruzeiro Caminho de Santiago junto á Ermida de  São Sebastião. Freguesia de Correlhã
Ilustração 8: Cemitério de São Tomé – Freguesia de Correlhã- Correlhã-Ponte de Lima
Ilustração 11: Espigueiros em Lindoso-Ponte da Barca-PT  A  quest ão  levant ada  por  CAM PELO  no  seu  t rabalho  é  absolut amente pert inent e:
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Referências

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