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139 2.4.5.Incidências da arquitectura do vino na paisagem limiana

76 Tomado do Dicionário Priberam

139 2.4.5.Incidências da arquitectura do vino na paisagem limiana

Toda paisagem é reflexo da act ividade económica que suport a a est rut ura social exist ente. No caso de est aruturas sociais ligadas mais direct ament e à t erra, est e reflexo refere direct ament e as produções de t ipo agrário e os seus derivados. Nas palavras de Ana Lavrador e Jorge Rocha:

“ … a vinha const it ui act ualment e uma das excepções posit ivas do sect or agrícola, conjugando: afirmação económica, adaptabilidade aos terroir93 e um valor ambiental significativo para as regiões medit errâneas. Nest e cont exto, a preservação e qualificação das paisagens inerent es é um important e desafio t écnico e deve const ituir uma questão política prioritária. Ao mesmo t empo, est as paisagens de vinha permitem evidenciar singularidades regionais. A divulgação dessas singularidades pode passar a ser inst rumento de

93TRUBEK Amy B. “ The Taste of Place: A Cultural Journey Into Terroir” University of California Press London, 2008. Para muit os, o t ermo terroir evoca imagens de solo, r ocha ladeira, e sol. O goût du t erroir e um Chablis podem evocar os minerais de aço de uma t erra rica em calcário. M as o conceit o de terroir é dit o no sentido de ser um tanto místico, uma inquantificável sensibilidade, filosofia, hist ória.”

desenvolvimento uma vez que coloca em evidência elementos de int eresse ambiental e est ét ico. Por seu lado, consolidar e/ ou const ruir a ideia de identidade vinhat eira associada a uma região, pode atrair visitant es e invest idores.

Nesse propósito, é desejável associar a qualidade do vinho à qualidade da paisagem (singularidade, grau de preservação ambiental, t ipo de prát icas culturais, out ros). Essa int eracção t rará melhores frutos se houver consenso em torno de element os da paisagem (marcas) que possam const ituir símbolos da cultura e da ident idade de uma região. Considera-se que a fixação dessas marcas no market ing dos produtores e promot ores turísticos, assim como uma divulgação art iculada ent re os últ imos, pode ajudar a promover a região e os produt os vínicos, ajudando à afirmação de ambos no mercado global.”

Estas característ icas expressam por sua vez, uma est rutura social em moviment o, em mudança. O Vale do Lima é um espaço em mudança, com uma predominância est rutural da vinha como paisagem e como formalidade espacial visual. O vale conforme o conhecemos na act ualidade est á em ext inção, o const ant e abandono da cult ura vidigueira de subsist ência,

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deixa a sua marca, os t errenos deixam de est ar limit ados por vinhas e apenas algumas vedações resist em, evidenciando-se o plano e t opografia out rora nat ural.

Divesos autores most ram a sua preocupação relat iva às mudanças na paisagem, já não só desde uma perspect iva meramente poaisagist ica, mas também desde uma perspect iva de branding t erritorial:

Assim, Ana Lavrador e Jorge Rocha referem dest e modo: Os resultados para a região demarcada dos Vinhos Verdes são preocupant es, t endo-se provado existir perda de valores t erritoriais emblemáticos a par de um apagamento da identidade da região. Com efeit o, além do abandono rural e da substituição de est ruturas e element os do Bocage por out ros de mais fácil manut enção e rendibilidade, reconheceu- se haver uma rejeição dos mesmos por part e de alguns inquiridos e ent idades promocionais, sobret udo produtores, por ventura por se acreditar que podem depreciar a região e os seus produt os face às exigências de qualidade do mercado global e requisitos das novas procuras turísticas. É important e equacionar o que se deve preservar, como o fazer e onde int ervir, bem como promover

novas funcionalidades para os element os t radicionais, recriando os mesmos na const rução das novas paisagens. No fundo, ir ao encont ro da Convenção Europeia da Paisagem (2000) e das novas directrizes da Política Agrícola Comum (PAC) que apontam para a importância da requalificação das paisagens e da preservação da ident idade das regiões rurais aliadas ao reforço dos sentimentos de pertença, como facilitadoras da comunicação ent re os diferent es act ores, dinâmica fundament al numa sociedade que se procura ambiental, económica e socialment e mais empenhada e desenvolvida.94 Ao mesmo tempo, out ro fact or composit ivo das paisagens limianas é o socalco.Na paisagem de mont anha dest a região a est rut ura de socalcos na vertente consit ut i “ per se” um marco de ident idade. Ao mesmo t empo, configura-se neste enquadrament o a práct ica de irrigação, baseada em sist ema de regas t radicionais, sendo est e element o ext remamente import ant e face ao desenvolviment o de est rat égias de desenvolviment o agro-past oril nos diversos t ipos de socalcos.

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LAVRADOR, Ana, ROCHA Jorge: A região demarcada dos vinhos verdes, uma paisagem e uma identidade ameaçadas. In Actas do XII Colóquio Ibérico de Geografia. Faculdade de Letras Universidade de Porto, M aio 2010.

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Com o abandono e com a falt a de manut enção dos socalcos, est es acabam por se dissiparem, aparecendo agora um terreno continuo, que perde as suas plat aformas t rabalhadas durante séculos, a t erreno mont anhoso volt a ao seu est ado nat ural a exemplo do acontecido nout ros locais no planet a, nomeadamente com os socalcos const ruídos pelos incas que foram abandonados e consequentement e se aut o-dest ruíram pela força da veget ação e pela força da nat ureza. Est e mesmo fact o t ambém se verificou nalguns casos em It ália, onde, em poucas décadas, as est rut uras em socalcos desapareceram complet ament e.

A alteração da est rut ura vidigueira sempre teve as suas adapt ações e influências na paisagem. Em t empos, as Uveiras dominavam a paisagem como se pode ver na fot ografia do lugara de Ant as, temos uma act ualidade com a predominância da “ Lat ada” , do “ Bardo” e da cruzet a mas nunca nos confront amos com o abandono em grande escala e com a t endência para a produção em escala indust rial.

A diversidade é uma característ ica evidente no vale do Lima, a veget ação verde, a força da vinha com as suas várias plat aformas, é a predominância de uma est rut ura que agora est á em t empos de mudança.

Na sua forma são est rut uras abert as, limit adas pela videira que se ergue, criando o grande espaço oco no cent ro do t erreno. A Região Demarcada Vinhos Verdes, se bem que detentora de unidade interna reconhecida pela projecção conjunt a das Sub- regiões nos primeiros Eixos fact oriais, surge num plano secundário relativament e às out ras regiões nos diferent es eixos e nas diferent es cat egorias em avaliação, aliando-se frequent ement e às regiões beirãs.

Este facto denot a falt a de afirmação face às rest antes regiões, o que represent a uma perda para uma região cujo agir t radicional (minifúndio, policultura, socalcos, vinha alt a, bordaduras líticas, et c.) é símbolo de uma das mais fort es ident idades à escala nacional.

A incidência dest as mudanças poder ser observada nas diversas escalas pat ent es nest e t errit ório: Iremos referir nest e caso as escalas unifamiliar e t errit orial.

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