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150 2.5.4 Elementos para uma Arquitectura do Caminho

95 HALL, Edw ard T op.cit p

150 2.5.4 Elementos para uma Arquitectura do Caminho

Toda a context ualização do Caminho de Sant iago cont ribui para implement ar o conceito da sacralização do espaço público. O próprio Caminho, como it inerário, é um exemplo. E est a sacralização chega da part e da presença de element os religiosos e do cont rolo que est es element os exercem nos espaços onde se localizam. Deste modo, os cruzeiros, nichos e capelas são os element os que geram, nas suas respect ivas escalas, espaços públicos que definem deste modo as t ipologias rurrbanas, em clara relação com os elementos de composição da escala urbana subsequente.

Fazendo uma leitura sist émica, parece de interesse poder abordar o conjunto das arquitecturas existent es ao longo dum caminho. Fizémos uma primeira selecção das arquit ect uras existentes, de forma a considerar est a leit ura de sistema. O conjunt o das observações ant eriores permit e confirmar a existência de um número significativo de element os religiososos que configuram o caminho, ainda que os mesmos não t enham caráct er exclusivo.

Iremos diferenciar dois t ipos de arquitecturas: as que manifestam a religiosidade que originou e justifica o Caminho

como t al, e os espaços arquit ect ónicos de caract er público que servem de element os de relacionament os ent re as peças, com usos e funções de caracter público.

Dent ro do primeiro grupo iremos referir os Nichos, os Cruzeiros e as Capelas, sempre numa escala onde a relação é est abelecida fundament almente numa escala humana individual ou grupal de pequena escala.

Ilustração 91: Cruzeiro de Pedrosa-Freguesia de Correlhã- Caminho de Santiago-Ponte de Lima

151 2.5.4.1. Nichos

Os muros que definem de forma infinit a o Caminho de Sant iago recebem de forma continuada a inserção de nichos que rememoram qualquer event o, qualquer incident e ou acont eciment o.

Este cost ume não é exclusivo do caminho de Santiago, mas parece dar-se em maior medida no mesmo. Também não é um cost ume específico dest a sociedade, vist o que o surgiment o de nichos pode const at ar-se nout ras cult uras, t al como no caso da ilha de Cret a.

De uma perspectiva merament e funcional, os nichos expandem-se no plano da parede das propriedades, sendo pont o de veneração ou recordação de qualquer evento acont ecido ant eriorment e. São element os da memória pessoal que passam deste modo a pert encer de algum modo à memória grupal ou social. Não const ituem maior dimensão que a real, não exist indo um espaço virtual que possa ent ender-se pert encent e ou dominado pelo nicho na sua envolvente. Só na altura em que est es nichos aparecem num cant o ou num encont ro de ruas de lugares ou caminhos poderá sent ir-se uma sensação nest e sent ido.

Os nichos configuram pequenos gest os arquit ect ónicos que rarament e chegam a formalizar mais do que o seu próprio espaço. Neste sentido a incidência que est es element os têm enquant o a escala de espaço público é muit o limit ada. Constit uem espaços da memória grupal que quando superam est a escala, convert em-se em capelas com maior presença. De fact o a diferença subst ancial será passar da escala do plano (ent endendo est e plano como o element o onde é alojado o nicho - regra geral, um muro duma linde paralela ao caminho) para a escala do elemento isolado, como poderemos verificar no caso das capelas.

153 2.5.4.2.Cruzeiros

Os cruzeiros configuram-se como referências ao longo do Caminho, marcando e definindo lugares, simbolizando lendas, pontes ent re o mat erial e o imat erial.

M as os cruzeiros, na maioría dos casos, t ambém definem espaços de carácter mais ou menos público, fora da escala individual, part ilhados dalgum modo com out ros, recolhidos nas memórias de vários individuos, depósito da memória colect iva, espaços públicos em suma. Fizemos um levant ament o exaust ivo do espaço público definido pelo cruzeiro de Pedrosa na Freguesia de Correlhã.99

A primeira referência conhecida a est a freguesia dat a de 915 e report a-se à doação feit a por Ordenho II a Sant iago de Compost ela da "in ripa Limie villam quam vocit ant Cornelianam (...) et in ea ecclesiam Sanct i Thome apost oli".

No caso do cruzeiro é pat ente a capacidade de formalizar um

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Se trata duma freguesia do concelho de Ponte de Lima, com 8,04 km² de área e 3068 habitant es (2001). Densidade: 381,6 hab/ km². Foi, até ao início do século XIX, cabeça de cout o que incluía também a freguesia de Paradela de Seara.

espaço público, com característ icas similares nas urbes (“ largo” ), no aglomerado de casas exsitente. Neste caso, as ent radas dos edifícios vêm-se substit uidas por ent radas de diversas hort as e unidades de habit ação+hort a, de modo a “ abraçar” o cruzeiro que serve de referência clara conforme vamos avançando ao longo do Caminho em direcção a Ponte de Lima.

O cruzeiro em si cont ém um soco de t rês degraus quadrangulares escalonados onde assent a base em granit o, com inscrições nas almofadas das quat ro faces e na zona côncova, tendo na principal a memória const rut iva: "Bras Colosso Guerra mandou fazer - 1636"; "LOVVA/ DO SEA/ O SANT/ IO SSIMO/ CRANTO". Coluna facet ada sobre t oro, tendo sensivelment e a meia alt ura imagem da Virgem sobre mísula; capitel jónico e remat e em cruz de hastes simples com Crist o. Const ruído no Séc. XVII, em 1636 – mandado erigir por Brás Colosso Guerra, como se pode ver na inscrição da base. De t ipologia arquit ect ónica religiosa, seiscent ist a de est ilo maneirist a. Pode ser considerado como um dos melhores cruzeiros maneirist as do concelho. De carácter popular possui, no ent ant o, uma cert a riqueza decorativa ao fazer prevalecer dois grupos escult óricos. A represent ação da Virgem, com as

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mãos sobre o vent re, mant em-se muito presa à coluna e as roupagens amplas não permit em detect ar o volume corpóreo, t ornando-se assim uma imagem plana. A imagem cont orcida do Crist o, cont udo, já se dest aca mais e denot a maiores preocupações anatómicas, possuindo at é um certo equilíbrio ent re o t amanho dos braços em relação ao corpo.

No decorrer dest e Caminho de Santiago, no lanço exist ente ainda dent ro do concelho de Pont e de Lima poderá ser cont emplado mais um cruzeiro, do lado norte do rio Lima, depois da Quint a do Sabadão, conhecido como Cruzeiro da M ulher degolada.

O cruzeiro acaba por acompanhar o caminho, serve de simples referência, marco que desenvolve funções muit o smilares às

exercidas pelos nichos ant eriorment e referidos. O

enquadrament o dest e cruzeiro é no meio duma zonaagrícola,

a do lado direit o com plant ação recente de cast anheiros, prot egida por aglomerado denso de salgueiros que mais adiant e envolve t odo o caminho. Sent e-se o fresco e convida à paragem para repor forças. Implant ado na margem esquerda. Ao que parece, segundo afirmação de moradores que passam pelo local, este cruzeiro serve para marcar os confront os

violent os, causando mort es, na lut a pelas terras ent re gent es de Arcozelo e senhores da quint a de Sabadão.

A part ir da quint a até à igreja de Sant a M arinha em Arcozelo, percorre-se por ent re propriedades agrícolas os caminhos de servent ia a est as, algumas a necessit ar de obras de reabilitação, que dificult am a passagem do peregrino que t rás longas horas de caminho. Na aproximação à igreja é not ório o melhoramento de vias, t ant o ao nível do pavimento como as suas margens.

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