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3 IDENTIDADE DAS EMISSORAS: PROGRAMAÇÃO E PRODUTOS

4 CULTURA DA CONVERGÊNCIA: QUANDO O CIBERESPAÇO INVADE O COTIDIANO E A TELEVISÃO

4.1 A televisão universitária e a inovação no serviço público

Com esse novo consumidor mais atuante e presente em diversas plataformas digitais, em um mundo cada vez mais online, as empresas de comunicação acabam tomando um posicionamento de marketing diferente do que acontecia há uns dez anos. Os planos de ação mudaram e as emissoras de televisão sabem que não podem mais esperar o telespectador ligar o televisor na hora marcada, que hoje as informações exploram o tempo real e perpassam pela mobilidade. É preciso

estimular que o público não somente assista naquele momento o conteúdo, mas possa assisti-lo depois e interagir com o que está sendo proposto, sendo não mais simples telespectadores, mas multiteleinterativos (GABRIEL, 2010). A chave está exatamente no conteúdo.

As plataformas de redes sociais digitais facilitam essa relação entre meios de comunicação tradicionais e internet. Como já discutido, o telespectador está presente no ciberespaço buscando alternativas para interação e mais conhecimento sobre o conteúdo que tem interesse, por isso, não se pode negar, tanto para as emissoras de interesse privado quanto para as do poder público, a ampla importância dessas novas mídias, sendo a convergência um caminho possível, “embora a indústria cultural continue existindo e produzindo mensagens dentro de uma lógica empresarial” (MARTINO, 2015, p.36).

O mais importante talvez das plataformas disponibilizadas na internet como o Facebook, o Youtube, o Instagram, o Twitter, é a gratuidade dessas ferramentas. Há uma democratização para que emissoras não comerciais possam estar nesses ambientes digitais, relacionando-se com os seus públicos e, porque não, conquistando novos públicos e fazendo diferente. “A TV tem sabido conviver bem com a internet, se apropriar de seus recursos e estabelecer com ela uma relação não de concorrência, mas de extensão” (FRANÇA, 2009, p.28).

Mas é preciso ir além. A extensão parte pelo conteúdo que é divulgado antecipadamente por meio de uma imagem ou vídeo; pela transmissão do produto ao vivo concomitante nas redes sociais; no arquivamento desse conteúdo posteriormente; no estímulo à participação através de recursos como hashtags9, comentários e sugestão de pautas; pelo compartilhamento desse conteúdo e apropriação e modificação dele, pelo monitoramento dos telespectadores, pela criação de um conteúdo diferente daquele transmitido na televisão (transmídia10), dentre outras formas de estar presente nesse espaço digital. “As marcas que aproveitarem esses espaços conseguirão gerar ressonâncias e lealdades duradouras, mas não basta estar presente, é preciso envolver-se com seus públicos de interesse” (TERRA, p. 42, 2011).

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Utilizada nas redes sociais digitais como Twitter, Facebook, Instagram e YouTube, a hashtag é antecedida pela cerquilha (#) e agrupa conteúdos como um hiperlink direcionando a pesquisa, divulgando o conteúdo e o metrificando.

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O conteúdo transmídia, segundo Gabriel (2009, p.110), é o uso integrado das mídias, de forma que uma

Para a pesquisadora Martha Gabriel (2010), as empresas precisam compreender a importância das estruturas de transmídia e convergência a fim de desenvolverem estratégias a partir do conhecimento do comportamento do público- alvo e da compreensão da relação dele com as mídias e plataformas que mais utiliza. Dessa maneira, entende-se que as emissoras de televisão precisam se reinventar e recriar maneiras de convergir com o ciberespaço. E as emissoras de televisão universitárias públicas? Como inovar em meio a essa nova configuração?

A televisão pública tem que estar na vanguarda desse processo; tem que ocupar os espaços que simplesmente não podem ser ocupados pela televisão privada, pela própria natureza de suas operações. Não é um problema de fácil solução. (HOINEFF, 2017)

Como abordado no capítulo da história da televisão brasileira, as emissoras educativas públicas surgem a partir de 1967 com questões jurídicas que as limitaram em conteúdo, recursos e expansão. O início dessa história reflete nos dias atuais, em que as emissoras sobrevivem com um baixo orçamento, sucateamento de equipamentos e dependência institucional. Por isso, acredita-se que a mudança só inicia a partir do melhoramento dos processos institucionais e do cuidado com uma gestão integrada e, claro, o pensamento de que a inovação é um dos caminhos para a criação de estratégias de melhoramento dos produtos e da relação com o telespectador. “O primeiro passo para implementar um processo de gestão da inovação na empresa é estabelecer uma estrutura organizacional adequada” (GEISLER, CORAL, 2009, p.45). Por isso, a comunicação organizacional surge como uma das possibilidades dessa mudança, a partir de um composto da comunicação integrada e estratégica que envolve: comunicação interna, comunicação institucional, comunicação mercadológica e administrativa (Kunsch, 2003). Para Bucci (2010), “não há possibilidade de que o espírito da programação e do modo de proceder das equipes não decorra do modo de gestão”.

As emissoras públicas não precisam caminhar na mesma direção das emissoras comerciais. Pelo contrário, é preciso sim ir de encontro ao que rege a lógica do mercado, possibilitando ao público um conteúdo que desperte novos caminhos, pois sabe-se o quanto o pensamento vigente da população - na política, na economia, nos hábitos, são moldados por quem dita as regras no país. Entretanto, as melhorias só são possíveis quando há a implementação de ações de apoio à inovação, em que há participação de todos e motivação para as mudanças.

A própria instituição na qual a emissora está inserida precisa valorizá-la. “Reduzir a comunicação a um site institucional, a perfis em redes sociais ou aos e-mails de comunicação interna é inadequado e simplista” (TERRA, 2011, p.23). Ir além é um fato que não ocorre em uma organização que tem como centro uma gestão fechada e antidemocrática que anula as possibilidades por acreditar estar no gerenciamento de uma empresa tradicional e imutável. Por isso, acredita-se no poder de inovar, pois:

A principal responsabilidade dos líderes consiste em promover a inovação, e para isso criar um ambiente que seja claramente baseado em equipes e que integre melhor as áreas de tecnologia e negócios. O papel das lideranças tem sido, cada vez mais, desenvolver maneiras de estimular e capacitar seus colaboradores na busca de soluções criativas e alternativas inovadoras. (GEISLER, CORAL, p.73)

Logo, inovar deve ser um dos princípios de uma emissora Universitária Pública de televisão, implementando o novo ou o que não é usual, ou simplesmente, tornando novo o que existe, como nunca foi feito em outros tempos. “O fato é que cabe a ela descobrir meios inventivos de diálogo com o seu público” (HOINEFF, 2017). A comunicação organizacional digital vem fortalecer esses caminhos a serem seguidos a partir da apropriação de novas possibilidades imersas na inovação, na tecnologia, na reorganização das práticas e, claro, na relação com o bem mais precioso: os telespectadores.