• Nenhum resultado encontrado

3 IDENTIDADE DAS EMISSORAS: PROGRAMAÇÃO E PRODUTOS

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.3 Processo de construção do método deste Estudo de Caso

O estudo de caso está dividido em duas partes. A primeira entende-se o caso principal, que é a TVU RN enquanto matriz, tentando compreender como uma televisão tradicional está utilizando as plataformas em um ambiente de convergência. Sempre levando em consideração que a convergência com a segunda tela para uma emissora pública de televisão possibilita: participação do público local e até de outras localidades; conhecimento sobre o público; engajamento a partir da participação; ganho de novos conteúdos; extensão dos conteúdos; depósito desses conteúdos; e divulgação da identidade da emissora e de toda a oferta produzida.

Apresentamos o caso principal a partir da história da emissora, o modelo de gestão, as metas institucionais e o organograma realizada por meio de pesquisa bibliográfica e documental. Em seguida, levando em consideração as ferramentas digitais que a própria emissora emprega, realizaremos uma análise comparada entre o site anterior da emissora, que foi elaborado em 2010 e ficou acessível durante uns sete anos, e o atual, que foi lançado em 2017. A análise é necessária por considerarmos que o site é a casa digital de qualquer instituição. Depois, realizaremos a análise das redes sociais em que a emissora está presente: YouTube, Facebook e Instagram. A análise será realizada com o entendimento de como a emissora reforça a sua própria identidade, a autopromocionalidade e a autorreferencialidade.

Figura 4 – Esquema dos pontos de análise do caso principal do estudo de caso

Fonte: autora

Após a compreensão de como a emissora pública está presente na internet e como usa as ferramentas acima delineadas, adentramos em uma segunda fase do estudo, quando as subunidades integradas também foram analisadas.

No estudo de caso único ainda podem ser integradas subunidades de análise, para que seja desenvolvido um projeto mais complexo (ou integrado). As subunidades podem acrescentar, muitas vezes, oportunidades significativas para a análise extensiva, favorecendo os insights ao caso único. No entanto, se for dada demasiada atenção a essas subunidades e se os aspectos holísticos maiores do caso começarem a ser ignorados, o próprio estudo de caso terá mudado sua orientação e modificado sua natureza. (YIN, 2015, p.59).

Primeiro, contextualizamos as subunidades, que são os programas TVU Notícias e Grandes Temas. Depois, três veiculações de cada uma das unidades escolhidas foram monitoradas. Os dias escolhidos para a análise são devido ao Apagão Analógico, que desligou definitivamente o sinal antigo em Natal e região no dia 30 de maio de 2018. Assim, as primeiras datas são anteriores ao desligamento e a última após a emissora ficar apenas com o sinal digital. Com relação ao dia da semana, optamos pela segunda-feira por ser o dia de exibição do Grandes Temas.

Para a criação dos relatórios individuais de cada subunidade, um total de seis arquivos foram assistidos pelo aparelho televisor (transmissão broadcast), revistos posteriormente por meio de arquivo fechado e disponibilizado pela emissora, analisados a partir de um roteiro de análise estabelecido (Apêndice A). O roteiro é um instrumento criado pela pesquisadora para a construção dos registros das subunidades com finalidade de organizar, classificar e editar os dados brutos para assim condensá-los (Patton, 1990; Gray, 2009). Como também, houve o acompanhamento do episódio nas redes sociais do programa e da emissora antes e

depois do possível arquivamento do material na internet. Os arquivos disponibilizados pela emissora serão arquivados para posterior análise.

O roteiro está dividido em quatro partes. A primeira, relata-se os dados gerais do produto analisado, como o programa, a retranca, a data e horário de exibição, tempo total e a ficha técnica. A segunda é a análise do material quando transmitido pela própria emissora e recebido pelo telespectador através da emissão broadcast. São especificadas as configurações técnicas do material transmitido ao vivo; a divulgação do site e das redes sociais da emissora; a divulgação das redes sociais do programa; a participação do telespectador/usuário; as ferramentas de segunda tela oportunizadas ao telespectador; e o uso de artifícios como a hashtag. Na terceira, a análise do programa na internet, observando se houve transmissão live-

streaming; se ocorreu a divulgação anterior do programa na internet; e como o programa está arquivado nas redes sociais utilizadas. Na quarta parte, se o programa realiza conteúdo transmídia, dessa maneira, se há participação do público nestes conteúdos extensivos; se há hipertexto e se os conteúdos potencializam as características dos meios em que estão inseridos (multimidialidade). Assim, o objetivo da coleta de dados a partir dos documentos (arquivos de vídeo e publicações das redes sociais) é estudar as estratégias e os mecanismos empregados por cada produção para compreender como acontece o uso dos recursos disponíveis pelas novas mídias tanto na tradicional transmissão da emissora quanto na segunda tela.

Após a coleta de dados qualitativos efetuada a partir do roteiro, foi elaborada a narrativa de cada episódio analisado da unidade de análise. O relato detalhado é conseguido com base nas observações que foram registradas no roteiro, com um padrão pré-determinado em texto corrido como exemplificado no Quadro 3, que foi elaborado para validação da ferramenta de coleta de dados. A ideia é que este não seja um instrumento fechado, podendo haver acréscimos dependendo das particularidades de cada produto analisado. A ferramenta foi criada com base na lógica da replicação para que também possa produzir resultados contrastantes (YIN, 2015), sendo um esquema de codificação prefigurado com a abertura para códigos adicionais que surjam durante a análise (CRESWELL, 2014).

Quadro 3 – Modelo após a coleta de dados

O Programa Grandes Temas sobre “Mulher e mercado de trabalho” exibido ao vivo dia 5 de março de 2018, às 20h30, teve um tempo total de 1 hora e dez minutos e 13 segundos, dividido em três blocos: o primeiro com 19 minutos e 34 segundos, o segundo com 26 minutos e 38 segundos e o terceiro com 24 minutos e um segundo.

Ficha técnica:

Produção | Arthur Rocha, Laiza Félix, Luiz Henrique Gehlen Apresentação | Sérgio Dela Sávia

Equipe de estúdio | Ariston Bruno, Diogo Medeiros, Edilson Américo, Fábio Izaias, Hailton Filho, Izaías Bezerra, Rodivan Barros, Taiane Cristina

Técnico | Juscelino Maciel Gerência técnica | José Garcia Chefe de operações | Max Hebert

Chefe de produção e programação | Arthur Rocha Direção da TVU | Gorete Gurgel

Superintendência de Comunicação | José Zilmar

Configurações técnicas do material transmitido ao vivo: resolução 720x480, SDTV, Tela 4:3, áudio stéreo.

Durante o programa o site e as redes sociais da emissora não foram divulgados, apesar do programa ter sido arquivado no YouTube da TVU RN. A fanpage do Grandes Temas foi divulgada no final do programa, com a imagem do logo do Facebook e o texto “\GTtvu” no canto inferior esquerdo, conjuntamente com a fala do apresentador convidando os telespectadores para acompanhar programas que foram ao ar, sugerir temas para os próximos programas e curtir o debate que a gente faz toda segunda-feira, 20h30 da noite, pela sua TV Universitária. A divulgação da página do Facebook do programa durou dezoito segundos no ar.

Quanto à participação do telespectador, ao todo foram quatro participações, uma no primeiro e outra no segundo bloco, e duas no último bloco. A participação do telespectador foi estimulada quatro vezes durante o programa por fala do apresentador. A participação pode ser realizada apenas por WhatsApp e não fica claro ao telespectador as funções das ferramentas (vídeo, imagem, áudio ou texto), pois o tipo de mensagem solicitada para a interação não é especificada. Neste programa, a participação do telespectador foi apenas por pergunta e nenhuma hashtag foi utilizada. Dois fatos devem ser relatados: a produção enviou um questionamento se passando como telespectador; e foi exibido um depoimento realizado no próprio estúdio da emissora.

Sobre o programa na internet, o produto não foi transmitido ao vivo em nenhuma plataforma. O programa foi divulgado no mesmo dia de exibição, no Facebook, com texto e imagem de boa qualidade ( 841 x 561 pixels ) com direitos autorais. A fotografia é de uma mulher com vestimentas de obra, rebocando uma parede. A postagem tem três curtidas (do apresentador, da produtora e de um telespectador). Não há comentários na postagem. O texto diz: A temporada 2018 do Grandes Temas começa hoje!

No primeiro programa do ano, o tema desta segunda (05/03) é a mulher no mercado de trabalho. O Dia Internacional da Mulher está chegando e esse é um momento de luta, debate e reflexão. Reconhecendo as conquistas sociais, econômicas e políticas já conquistadas, sabemos que ainda há muito a se trilhar, principalmente quando se trata de direitos e espaços das mulheres. É na TV aberta e com participação do público. Toda segunda, ao vivo, às 20h30, na TVU, canal 5. Foto: Cícero Oliveira.

Enquanto arquivo, o programa pode ser revisto no YouTube da emissora e no Facebook do programa.

No Youtube, o programa está dividido em três blocos, sem o logo da emissora, sem o logo do programa, com a vinheta de abertura e encerramento do programa, com os caracteres dos entrevistados e apresentadores, sem informações de exibição na descrição, sem minutagem. Em blocos, o usuário precisa procurar as partes que estão aleatórias. O primeiro e o segundo bloco levou para outro canal do YouTube e o terceiro bloco foi para outro bloco, de outro tema, do Grandes Temas. O programa foi publicado dia 8 de março. O primeiro bloco tem 39 visualizações, o segundo 21 e o terceiro 88. Nenhum usuário clicou no deslike , sendo duas curtidas no bloco 1 e 2 e, no bloco 3, nove curtidas. Não há comentários em nenhum dos blocos. O usuário pode assistir ao programa no YouTube com uma qualidade de até 480p, o que é baixa, além de ter a presença de barras pretas nas laterais do vídeo. Sem miniatura personalizada.

No Facebook, o programa está dividido em trechos, sem o logo da emissora, sem o logo do programa, sem vinheta , com caracteres dos entrevistados, sem informações da exibição, com link para o programa no YouTube. Quatro trechos do programa foram publicados, além do depoimento. O primeiro trecho (publicado em 10 de março, às 20h00) tem 1’32” , 32 visualizações, cinco curtidas e uma reação “amei”. Não há comentários e compartilhamento. O segundo trecho (publicado em 10 de março, às 20h15) tem 1’15”, 44 visualizações, duas curtidas (sendo uma de uma pessoa da equipe do estúdio) e dois compartilhamentos do apresentador do programa. O terceiro trecho (publicado em 10 de março, às 20h30) tem 1’04”, 60 visualizações, uma curtida e um compartilhamento do apresentador do programa. O quarto trecho (publicado em 10 de

março, às 20h45) tem 50”, 20 visualizações e uma curtida. O depoimento (publicado em 12 de março, às 16h00) gravado em estúdio tem 2’09”, 31 visualizações e uma curtida, sem caracteres, sem logo da emissora ou do programa, sem vinheta de abertura ou encerramento. Sem miniatura personalizada e qualidade técnica dos materiais expansíveis até 480p. O Instagram não se aplica ao programa Grandes Temas.

Sobre o conteúdo Transmídia, não foram criados conteúdos extensivos, apenas trechos do programa como relatado anteriormente.

Fonte: autora

Outras fontes de evidências escolhidas com objetivo de esforço à coleta de dados primários deste estudo é a observação direta. Levando em conta a complexidade da observação, ela é participante, oculta e não evasiva, considerando principalmente que a pesquisadora não tem nenhum controle sobre os eventos comportamentais do fenômeno estudado (YIN, 2015). Estando o pesquisador implicado com o objeto estudado por ser de fato um profissional-pesquisador, algumas considerações são válidas a serem refletidas neste tipo de pesquisa:

O profissional-pesquisador é alguém que faz pesquisa dentro e, muitas vezes, em nome de sua organização. Como pesquisador, portanto, está em posição ideal para entender a cultura, os pontos fortes e fracos da organização, bem como as necessidades que esta desenvolve [...] Entretanto, uma das limitações ao uso de profissionais-pesquisadores é que eles podem estar imbuídos do etos e das atitudes da organização e, assim, ter dificuldades de adotar perspectivas e abordagens novas. (Gray, 2009, p.324)

Segundo Yin (2015), a análise das evidências do estudo de caso é um dos desafios deste tipo de método, pois não há “receitas prontas”. A análise foi feita com “base nas proposições teóricas originais” (GRAY,2009, p.214) discutidas nos primeiros capítulos de fundamentação teórica.

Figura 5 – Esquema dos pontos de análise das unidades individuais (programas ao vivo)

Figura 6 – Esquema dos procedimentos metodológicos deste estudo de caso

Fonte: autora

Consequentemente, optamos pelo encadeamento de evidências das unidades com a descrição, classificação e interpretação dos dados encontrados nas fontes múltiplas de informação. De acordo com Creswell (2014, p.152):

Interpretação em pesquisa qualitativa envolve abstrair além dos códigos e

temas para um significado maior dos dados. É um processo que se inicia com o desenvolvimento dos códigos, a formação de temas a partir dos códigos e depois a organização de temas em unidades maiores de abstração para compreender os dados.

Após a interpretação de cada unidade e da correspondência entre elas, voltamos ao caso principal do estudo para a representação e visualização dos dados, apresentando “um quadro em profundidade do caso usando narrativa, tabelas e figuras” (CRESWELL, 2014, p.90). Por fim, concluimos o estudo de caso abordando possíveis encaminhamentos para a instituição e futuros pesquisadores.