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3 IDENTIDADE DAS EMISSORAS: PROGRAMAÇÃO E PRODUTOS

3.2 Produtos: categoria, gêneros e formatos

Os produtos de uma dada emissora são pensados e produzidos a partir de um determinado formato que é geralmente e prontamente reconhecido pelo público por meio de um contrato estruturado e reconhecível. De acordo com o estudo de referência do De Souza (2004), pode-se considerar que essa identificação dos programas é feita a partir de uma classificação de gêneros, o que gera uma linguagem própria para as produções televisivas. O pesquisador realizou uma análise da programação de emissoras abertas e comerciais, o que motivou a classificação dos programas brasileiros em categorias, gêneros e formatos.

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De acordo com Cannito (2010, p.82), é a tecnologia que permite o envio de informação multimídia através de pacotes, utilizando redes de computadores, sobretudo a internet. Quando a ligação de rede é banda larga, a velocidade de transmissão da informação é elevada, dando a sensação de que o áudio e o vídeo são transmitidos em tempo real.

A pesquisa (com o intuito pedagógico e não limitante) sinalizou cinco categorias, são elas: Entretenimento, Informação, Educação, Publicidade e Outros. “A divisão dos programas em categorias inicia o processo de identificação do produto, seguindo o conceito industrial assumido pelo mercado de produção” (DE SOUZA, 2004,p.38). Apesar de ter definido “entretenimento” como uma categoria sozinha, para o autor, os programas televisivos precisam sempre entreter, pois devem despertar no telespectador a vontade em assistir ao produto. Assim também pensam Duarte (2004, p.50), ao afirmar que “tevê é entretenimento”, e Wolton (2007, p.64), ao dizer que “a televisão permanece um espetáculo e não pode ser uma escola com imagens”.

A divisão em categorias foi uma maneira encontrada para organizar grupos diferentes, os chamados gêneros. O autor não apresenta um conceito fechado do que seja gênero, de maneira geral: “no Brasil, os gêneros são definidos pela emissora segundo o seu entendimento e as suas estratégias de marketing” (DE SOUZA, 2004, p.181). Esse “entendimento” das emissoras diz respeito também ao horário de exibição e ao perfil da programação. A classificação fica a cargo de cada emissora, e os gêneros podem se alterar de acordo com os formatos escolhidos. Duarte (2007, p.15) vai além ao dizer que “por gênero televisivo, compreende-se uma macro-articulação de categorias semânticas capazes de abrigar um conjunto amplo de produtos televisuais que partilham umas poucas categorias comuns”. Para a pesquisadora brasileira, os gêneros vão se manifestar nos subgêneros e nos formatos.

Mas e o formato? Para De Souza (2004, p.183), “é a linguagem desenvolvida pela televisão para dar forma a um gênero de programa de televisão e transmiti-lo”. Um gênero, como mostra na imagem 1, pode ter vários formatos e toda a construção da linguagem do programa vai depender da maneira como a emissora irá tratar essa produção.

Figura 2 – Classificação de categorias e gêneros

Fonte: DE SOUZA (2004, p.92)

As escolhas técnicas, de conteúdo e o tempo são fatores que justificam o formato, que também pode agregar “elementos de vários gêneros e assim possibilitar o surgimento de outros programas” (DE SOUZA, 2004, p.46). Sobre essa hibridização e dinamicidade do gênero, Cannito (2004, p.56) fala que:

Entre os gêneros que se definem e se misturam, como telejornais, novelas e talk shows, reality shows, existem pontos que os aproximam e os distinguem, trabalhando e alterando a dialética do gênero. Elementos visuais (cenários, enquadramentos, maquiagem), sonoros (música, diálogos) e estruturais – como edição, corte de cenas, planos e montagens – servem para aproximar subgêneros, misturá-los, e fazer do gênero televisivo uma entidade dinâmica como é a comunicação em si. Nesse meio podemos incluir os recursos de intertextualidade, alusões, repetições, elementos de complexidade do produto televisivo.

Enquanto De Souza (2004) trabalha com a ideia de categoria, gênero e formato, Duarte (2004,2007) acrescenta ainda a noção de subgênero, que para a pesquisadora, está entre o gênero e o formato, falando ao telespectador sobre o produto muito mais que o gênero e o atualizando. Segundo Duarte (2004, p.68), gênero é:

[...] antes de tudo, uma estratégia de comunicabilidade, e é como marca dessa comunicabilidade que se faz presente e é analisável no texto. Os gêneros são então categorias discursivas e culturais que se manifestam sob a forma de subgêneros e se realizam em formatos.

Dentro de inúmeras possíveis possibilidades que as emissoras têm ao criarem produtos e ofertarem, reafirmando assim “as regras do contrato com o público” (CANNITO, 2010), a pesquisa do De Souza (2004) classificou – com referência a partir da programação das emissoras pesquisadas, um total de cinco categorias, 37 gêneros e 31 formatos, como mostra a Imagem 1. Já em estudo mais

recente sobre gêneros e formatos, o pesquisador brasileiro Aronchi de Souza criou juntamente com outros pesquisadores a “Roda dos Gêneros da TV Digital Interativa”, a partir principalmente da pesquisa apresentada anteriormente. Nessa nova configuração levando em consideração o digital, a proposta determina os produtos televisivos em quatro categorias (Educação, Entretenimento, Informação e Propaganda) e amplia para 51 gêneros, 33 formatos, além de também poder observar os programas através das formas de gravação, de exibição, de transmissão, da periodicidade, do dia da semana, do horário e classificação indicativa por faixa etária. “Combinando as opções de cada círculo, os profissionais e pesquisadores descobrem e organizam os elementos que compõem a criação de programas para multiplataformas digitais” (Aronchi, 2013, p.4). O produto é intuitivo e abarca apenas as emissoras de TV de canal aberto e nacional (Bandeirantes, Globo, Record, Rede TV!, SBT e TV Brasil), ofertando ao final uma lista de opções de acordo com as escolhas do usuário, que pode também visualizar as “características do programa”.

Figura 3 – Roda dos gêneros da televisão digital interativa

O projeto pode ser acessado por meio do site5 e propõe intuitivamente uma combinação aleatória de um ou mais elementos que compõe hoje as produções televisivas, estas que não estão mais limitadas a um televisor, mas sim, estão em todos os lugares, em diversas telas e atingindo públicos inimagináveis.

O principal motivo para a elaboração da Roda dos Gêneros da Televisão Digital Interativa é criar uma taxionomia para a área multimídia para ser utilizada pelos pesquisadores, profissionais, estudantes e pelo mercado audiovisual. Porém, a aplicabilidade e usabilidade serão apontadas pelo usuário, o público, o telespectador e, por fim, a dona de casa e o jovem ou a criança que detém o controle remoto ou o teclado ou a tela mobile. A Roda é uma pesquisa aplicada e seu conceito propõe soluções para resolver problemas com os quais o público se depara: o que é isso que estão me mostrando? É isso que eu quero assistir? Como vou encontrar um conteúdo que me agrade? (ARONCHI, 2013, p.11).

Duarte (2004, p.70) considera que “é necessário ter presente que a condição natural de toda produção televisiva é a complexidade e a hibridização”. Atenta Rossini (2007) que esse hibridismo é ocasionado pela convergência tecnológica, que possibilita que cada meio se reinvente e crie as próprias bases de manutenção e existência. Sem dúvida os elementos escolhidos não reduzem dois telejornais diferentes a um mesmo formato. Por exemplo, um telejornal como o TVU Notícias, da TVU RN, vai se diferenciar ou não em vários aspectos de um outro que não seja local, de uma emissora comercial, transmitido em um horário matutino. A hibridização é hoje uma das maneiras com que a televisão vai produzir os conteúdos, pois suportes tecnológicos diferentes do tradicional aparelho de televisão muitas vezes potencializa novas linguagens para novos públicos. E isso não quer dizer que a televisão deixa de ser televisão. Pelo contrário, a hibridização da linguagem e a convergência digital oportuniza a reinvenção de uma mídia tradicional.

A TV se tornará ainda mais TV, com todo seu potencial de séries narrativas e possibilidades de conteúdo sob demanda, que permitirão aos autores tornarem os enredos mais atraentes, pois não terão de se preocupar com o espectador que perdeu algum episódio, tal como já fazem as grandes séries americanas. Além disso, a ficção televisiva será construída como narrativa transmidiática, que perpassa várias mídias, elaborando universos em que o público poderá imergir e participar. (CANNITO, 2010, p.218 -219)

Em vista disso, o formato indica ao telespectador o que será mais ou menos oferecido e adquirido, e a precisão do que Duarte (2004) chama de promessa, parte primeiro do despertar do interesse do público, de produção de sentido e afeto

5Site do “Roda dos Gêneros da TV Digital Interativa”: http://www.rodadosgenerostv.com.br/. O aplicativo mobile

(CASETTI; ODIN, 1990) independente de como e onde assiste ao produto. Para Chambat-Houillon (2007, p.142) “o formato participa da interpretação da emissão (programa), construindo um tipo de relação entre o telespectador e o programa”. Muitas vezes os produtos de emissoras distintas parecem semelhantes em muitos aspectos, mas é exatamente o formato que faz com que “na chegada, tenhamos efetivamente programas muito diferentes” porque o formato “serve também para distinguir, conforme Pierre Bourdieu, os telespectadores”. (CHAMBAT-HOUILLON, 2007, p.144). Assim também aborda Duarte (2007) ao considerar que o formato diferencia os programas, pois é o que identifica como o material televisivo é produzido e a forma como ele é construído.

4 CULTURA DA CONVERGÊNCIA: QUANDO O CIBERESPAÇO INVADE O