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A temporada de 1769-1770

PARTE I – O TEATRO DO BAIRRO ALTO E A HISTORIOGRAFIA

II.7. A temporada de 1769-1770

Os operários e os artistas do Bairro Alto terão descansado após as festas do Carnaval, que terminaram na Terça-Feira, dia 7 de Fevereiro, e, em Março, voltaram à azáfama dos ensaios, das compras e da elaboração dos elementos cénicos que davam forma às ficções (CTBA, f. 140-141v113). A temporada iniciou-se com a contratação anual das irmãs Cecília e Luísa de Aguiar e dos já «habituais» João Florêncio, António José de Paula, Pedro António, Lourenço António «Bicho», Rodrigo César, João de Sousa, João de Almeida, José Cunha, Silvestre Vicente, agora com a sua filha114, e António Manuel (CTBA, ff. 135-135v). José Félix, que se encontrava doente em Maio, regressará em Julho, enquanto o nome de António Jorge, que adoeceu no mesmo mês (CTBA, f. 148), não volta a aparecer, tendo, possivelmente, morrido. Maria Joaquina e o seu pai, Francisco Xavier Vargo, não foram contratados para representar durante esta temporada e o nome de Luísa de Aguiar deixou de aparecer no rol de pagamentos de Julho, mês em que casou com o violinista da casa, mais exactamente no dia 28115. A ausência das cantoras foi colmatada, a partir de Julho, com a contratação de Bernarda Maria, que se estreou no espectáculo A esposa persiana (CTBA, f. 169v). Desconhecem-se outras informações sobre Bernarda Maria, que recebeu um salário equiparado ao das «cómicas-cantoras», mas, ainda assim, inferior ao da «estrela» da

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Cf. IV.2. O Tartufo do marquês de Pombal. 112

AHTC – Décima da Cidade, liv. 757 AR, 1768, ff. 20v-21v e f. 80. 113

O rol dos gastos refere-se aos pagamentos de Março e Abril, não sendo possível distinguir, na maior parte, os pagamentos que se fizeram antes e depois da inauguração da época.

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Poderá ser Antónia Henriqueta, que representa em 1772 no Teatro do Bairro Alto, mas Silvestre Vicente tem mais filhos que representaram no Teatro do Bairro Alto, durante 1769, registando-se pontualmente os seus pagamentos diários (CTBA, f. 168v, f. 177, ff. 180-184, ff. 191-193).

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companhia, Cecília Rosa. Joana Inácia, com um pagamento inferior ao das cantoras, apresentou-se em Dezembro, continuando a trabalhar até ao Entrudo; em 1771 e 1772, fará parte da companhia. Os bailes voltaram a animar as noites da casa da ópera durante a temporada com as interpretações de Peppa Olivares, Giovanni Neri, Lucrezia Battini, que recebia ordenado conjunto com o marido, o actor e bailarino Pedro António, Vittorio Perini, Francesco Pacini, Francesca Pirotti e Paolo Orlandi. Vittoria Varrè integra o grupo no início da temporada, ficando ajustada por onze meses (CTBA, f. 135v), e Chequina volta à sala de espectáculos do palácio do conde de Soure em Outubro, tendo, porventura, casado nesse ano com Vittorio Perini116.

Estando Bruno José em Itália, a organização da época teatral de 1769-1770 foi gerida por João Gomes Varela com o apoio dos seus colaboradores. Logo no início do ano, em 23 de Janeiro de 1769, Manuel José Neves dirigiu-se à Real Mesa Censória, onde entregou A mulher que não fala, ou O hipicondríaco [sic], texto inspirado em Epicoene or the silent woman de Ben Jonson, que recebeu o parecer favorável à representação no dia 22 de Fevereiro, sendo devolvido ao requerente no dia 23 (Cf. Apêndice 1). As partituras musicais continuaram a ser encomendadas, assentando-se as remunerações relativas à composição de uma ária para Cecília Rosa e de cópias de música e danças. Por sua vez, as equipas de pintores, carpinteiros e alfaiates receberam dinheiro por duas semanas de trabalho, que terminaram no dia 25 de Março, véspera do dia de Páscoa. O teatro foi lavado e caiado, o candeeiro da plateia foi limpo e reparado, assim como os encostos da plateia, ficando a sala pronta para receber o público no Domingo de Páscoa (26 de Março). A época foi inaugurada com a apresentação de duas danças novas com coreografia de Paolo Orlandi – a Dança dos moinhos e a Dança dos abarracamentos – e com representação d’O hipicondríaco (CTBA, f. 136v), cujas partes terão sido entregues aos actores atempadamente, logo no início de Março, assentando-se a remuneração do copista (f. 140). O texto chegou a ser publicado em 1769, na oficina de José da Silva Nazaré, com informações na folha de rosto que talvez constituíssem novidades para os espectadores dos teatros públicos: a comédia foi «traduzida do idioma inglês ao gosto da Corte de Lisboa; para se representar no Teatro do Bairro Alto»117.

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Regista-se o pagamento de uma casa em comum para os dois bailarinos (CTBA, f. 301). 117

É curiosa a referência ao «gosto da Corte de Lisboa», pois há um número considerável de folhetos que indica que as comédias são adaptadas ao «gosto do público português» ou ao «gosto do teatro português».

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Em Abril, os revedores da Real Mesa Censória examinaram várias comédias e emitiram as respectivas licenças ao longo do mês: no dia 5, autorizaram a representação de O doente imaginativo de Molière, O tambor nocturno (Le tambour nocturne, ou le mari devin) de Destouches, As irmãs rivais (Le sorelle rivali) de Chiari, e mais duas comédias – A beata falsa e Aspásia em Síria –, cujas autorias permanecem desconhecidas; no dia 8, acederam ao requerimento dos empresários, que pediam licença para pôr em cena a comédia Licore de Domingos Reis Quita e duas comédias de Goldoni: A bela selvagem, já conhecida do público do Bairro Alto, e A viúva enfatuada (La donna di testa debole o sia la vedova infatuada). Uma semana mais tarde, no dia 16, os censores admitiram a representação do texto As inconstâncias da fortuna ou

lealdade de amor – uma tradução e adaptação do texto castelhano Mudanzas de la

fortuna y firmezas del amor, de Monroy y Silva, levada a cabo por Nicolau Luís. O labor da empresa teatral prosseguiu sem sinais de abrandamento, havendo notícias de remuneração dos copistas, que entregaram as cópias e partes das seguintes comédias: O tambor nocturno, O doente imaginativo, que regressa ao palco da Rua da Rosa, As inconstâncias da fortuna ou lealdade de amor, Licore, Alexandre na Índia (Alessandro nell’Indie) de Metastasio; assentou-se ainda o pagamento da cópia de mais uma comédia de Goldoni, A herdeira venturosa (L’erede fortunata).

Estando os textos autorizados pela censura e as cópias pagas, as comédias foram, com certeza, apresentadas ao público, mas apenas se fixaram algumas informações sobre os espectáculos nas Contas do Teatro do Bairro Alto. Sabe-se que o texto de Destouches foi interpretado duas vezes pela companhia entre os dias 11 e 13 Abril (f. 145), a comédia As inconstâncias da fortuna ou lealdade de amor foi representada cinco vezes em Abril e esteve, pelo menos, mais dois dias em cena entre 13 e 15 de Maio (f. 153) e, no final do mês de Maio, o texto de Domingos Reis Quita foi representado três vezes (f. 155 e f. 156). Ainda no mês de Maio, copiaram-se árias para Cecília Rosa de Aguiar cantar na ópera Alexandre na Índia (f. 150v). As contas referentes a Maio não permitem identificar outros espectáculos que estariam a ser montados e representados. Porém, as responsabilidades dos empresários terão redobrado com a integração dos novos bailarinos contratados em Génova.

Uma longa viagem pela península itálica, iniciada por Bruno José do Vale em Novembro de 1768, terminou em Maio de 1769, altura em que o empresário chega a

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Lisboa acompanhado pelo casal Pacini, Gaetano118e Maria Flor, e Auguste. O casal terá começado logo a trabalhar, pois regista-se o pagamento de seges para ensaios do «dueto Pacini» e para o dia da apresentação da primeira dança (ff. 150-150v)119. Em Junho, o labor da casa da ópera parece intensificar-se, uma vez que os averbamentos dos gastos mencionam vários títulos de espectáculos: O criado de dois amos (Il servitore di due padrone) de Goldoni, que teve como protagonista Cecília Rosa (que envergou um vestido azul e cantou em dueto), foi representado quatro vezes, compraram-se tecidos para A bela selvagem e pagaram-se as cópias e partes de O conde de Alarcos (El conde de Alarcos) de Antonio Mira de Amescua e de outra comédia do autor veneziano, A

esposa persiana (La sposa persiana). Neste mês, o público apreciou mais duas récitas

de As inconstâncias da fortuna e seis récitas da comédia Escola de mulheres (L’école des femmes) de Molière.

As despesas extraordinárias referentes ao mês de Julho indiciam o apreço pela dramaturgia francesa e o seu fortalecimento no repertório do Teatro do Bairro Alto: preparava-se a tragédia Zaira (Zaïre) de Voltaire, que terá sido traduzida por Pedro António, e procedeu-se ao pagamento da cópia e das partes de O avarento (L’avare) de Molière, que obteve o parecer favorável da instituição censória no dia 5 de Junho como «digna de se representar publicamente pela grande instrução que contém e porque nela se não acha coisa que por algum princípio se deva reprovar»120. Lembramos que, ainda neste ano, foi publicado em Lisboa, na oficina de José da Silva Nazaré, O peão fidalgo «do senhor Molière, traduzida em vulgar pelo capitão Manuel de Sousa, para se representar no Teatro do Bairro Alto». As comédias castelhanas não foram esquecidas, pois também se pagam as cópias e partes de O príncipe tonto (Cuando no se aguarda y príncipe tonto) de Francisco de Leiva. Regista-se um título – Escola de casados – cujo autor desconhecemos. A actriz e cantora Bernarda Maria subiu pela primeira vez ao palco do Bairro Alto em Julho, altura em que recebeu o seu primeiro ordenado, estreando-se na comédia de Goldoni A esposa persiana (f. 169v). Em Agosto, a família

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Gaetano Pacini era irmão de Francesco Pacini, que já dançava no Bairro Alto desde Setembro de 1766. Nas Contas do Teatro do Bairro Alto faz-se, por vezes, a distinção entre o «Pacini pequeno» (Francesco), e o «Pacini grande» (Gaetano).

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O pagamento assentado mensalmente em nome de «Pacini» corresponde aos salários de Francesco, que dançou até ao final da temporada. O registo dos pagamentos do imposto da Décima distingue o «Pacini» do «irmão de Pacini» e da «Pacini, bailarina» (AHTC, Décima da Cidade, Livro 757 M, 1769, f. 42). O livro dos arruamentos dá os seguintes nomes e indicações, cuja grafia actualizamos de acordo com o estado da investigação: «Orlandi, Neri (ausente no segundo semestre), Perini (ausente no segundo semestre), Pacini, Pacini, irmão do sobredito, Peppa, Lucrécia, Varrè, Francisca Pirotti e a mulher do segundo Pacini» (AHTC, Décimas da Cidade, Livro 757 AR, 1769, f. 23 e ff. 24-24v).

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«Sabbatini» ocupou a Casa da Ópera do Bairro Alto e referimo-nos aos irmãos Anna, Carlo (bailarinos) e Vincenzo Sabbatini (coréografo). Acrescente-se a presença de mais um Sabbatini, rabecão, que integrou a orquestra do teatro121. Paolo Orlandi, por seu turno, concebeu a coreografia de Encantos de Circe, que esteve em cena Julho (f. 137 e f. 168). Até Janeiro de 1770, a casa da ópera terá tido dois coreógrafos – o mestre de danças Orlandi, que recebia um salário mensal, e Vincenzo Sabbatini, que coreografou os bailes intitulados Festa bacanal, Acampamento turco e Dança do Arlequim (CTBA, f. 137)122.

Agosto será marcado pelo litígio entre o casal Pacini e o empresário João Gomes Varela. Por contendas relacionadas com as condições contratuais, o casal despediu-se no dia 27 e, ainda nesse mês, os bailarinos interpuseram um processo judicial a Varela. Não obstante a perda dos bailarinos, as equipas dos alfaiates, dos carpinteiros e dos pintores laboraram para a primeira dança dos Sabbatini, que terá tido um lugar de destaque nas prioridades dos empresários. Por sua vez, os cómicos portugueses continuaram a estudar os seus diálogos e fizeram-se as cópias e partes de A beata falsa e as partes de A herdeira venturosa (ff. 177-178). Neste mês, os alfaiates ainda prepararam os trajes de Demétrio na Rússia, que nunca chegará a ser representada, pois foi proibida (CTBA, f. 137 e f. 177v).

Em Setembro, os trabalhadores da casa da ópera continuam a concentrar-se em textos de Molière: A escola de mulheres regressou à cena, sendo apresentada ao público mais duas vezes, e os alfaiates prepararam o vestuário de O avarento. Goldoni continuou a receber o apreço dos censores e do público, pois, até ao final do ano, confirma-se a persistência dos empresários em manter os seus textos em cena, sendo possível traçar o percurso de quatro comédias: A peruviana (La peruviana), A doente

fingida e o médico honrado (La finta amalata), O cavalheiro de bom gosto (Il

cavaliere di buon gusto) e A criada brilhante (La cameriera brillante). A primeira, que recebeu parecer favorável dos censores a 25 de Setembro, foi representada doze vezes em Outubro (CTBA, f. 197), mês em que os empresários do Teatro do Bairro Alto

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A proliferação de «Sabbatinis» dificulta a leitura dos registos de salários, pois os membros da família não vêm discriminados pelo seu primeiro nome. Segundo o que conseguimos apurar, Anna e Carlo receberiam o seu salário mensal em conjunto, no valor de 96$000 réis. Peppa Olivares recebia 58$180 réis, usufruindo do salário mais elevado do grupo. O registo de pagamento do ordenado do casal de irmãos só começa em Agosto.

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Vincenzo recebia 57$600 réis por cada coreografia, em pagamentos pontuais, o valor correspondente ao salário mensal do coreógrafo Orlandi. São pagos 57$660 réis «que se deu ao Sabbatini de compor a Dança» em Outubro (CTBA, f. 197), «Porque dei ao Sabbatini», em Dezembro (f. 215v), por «prémio a uma dança o Sabbatini» no Carnaval (CTBA, f. 247).

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voltam a requerer licenças de representação para mais comédias do autor veneziano: A doente fingida e o médico honrado, que foi entregue no dia 16 de Outubro, regressou prontamente às mãos dos requerentes no dia 19 do mesmo mês e foi seis vezes levada à cena em Novembro (CTBA, f. 206); O cavalheiro de bom gosto foi entregue no dia 19 de Outubro à instituição censória, que devolveu a comédia no dia 2 de Novembro, não se conhecendo o momento da sua representação. Em 22 de Novembro, A criada brilhante foi submetida à Mesa, sendo devolvida no dia 11 de Dezembro, mês em que se fizeram sete récitas123. O mentiroso recebeu licença de representação no dia 23 Novembro.

Os róis das despesas de Outubro e Novembro que foram assinaladas nas Contas do Teatro do Bairro Alto indicam múltiplas remunerações aos operários da casa que executaram os cenários e os trajes: fizeram-se os pagamentos à equipa de alfaiates (rol de 7, 13 e 16 de Outubro), à de carpinteiros (rol de 7, 14, 21 e 28 de Outubro) e os pintores foram pagos no dia 14 de Outubro (CTBA, ff. 196-197v). O trabalho intenso deu direito a «molhaduras aos alfaiates por noites que perderam» (f. 196v). Além das apresentações de A peruviana, chega até nós a notícia de mais quatro récitas da tradução de Nicolau Luís, As inconstâncias da fortuna ou lealdade de amor, que terá tido o apreço do público. As exibições de espectáculos mantiveram-se em paralelo com a produção de Ipermestra de Metastasio, da dança nova de Vincenzo Sabbatini e de uma pantomina, que teria por título Dueto da jardineira e talvez integrasse o bailado [ibidem]. As equipas não pararam de trabalhar e em Novembro fizeram-se as compras para A doente fingida e o médico honrado, que, como dissemos, ainda terá sido apresentada nesse mês, Alzira de Voltaire e a Dança dos turcos, ou O acampamento turco, com coreografia de Vincenzo Sabbatini. Os salários foram pagos nos dias 4, 18 e 25 de Novembro (CTBA, f. 207).

Em Dezembro, um copista foi remunerado pela entrega de O governo e da comédia Latino na Cítia ou a constante Clemene, de Pedro António Pereira, da qual também tirou as partes, e terão sido concluídos os preparativos de Dança dos Turcos e de A criada brilhante, que a companhia de cómicos apresentou sete vezes (CTBA, f. 225v). Em Janeiro voltaram à sala de espectáculos duas comédias de Molière: fizeram-se três récitas de A escola de mulheres, oito récitas de O doente imaginativo. Os últimos meses da temporada terão sido especialmente dedicados à produção da segunda

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As Contas do Teatro do Bairro registam o pagamento por «cópia e partes da Criada brilhante» em Novembro (f. 206), antes do parecer da Real Mesa Censória.

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parte de D. João de Espina de José de Cañizares, que incluiu música para coro (ff. 225- 225v), e da dança que fechava a temporada – A dança das mascaradas124, em que se destacariam os Sabbatini. O grande sucesso de D. João de Espina traduziu-se em doze espectáculos exibidos em Janeiro.

Durante o mês de Fevereiro de 1770, período marcado pelo Carnaval e pelo final de temporada de 1769-1770, foram entregues à Real Mesa Censória requerimentos para obter as licenças de representação de O soberbo, Adriano em Roma e A criada

amorosa de Goldoni (Cf. Apêndice 1). Sobre O soberbo não há notícia nas Contas do

Teatro do Bairro Alto e Adriano em Roma foi suprimido por ordem da Mesa. No entanto, registam-se despesas com A serva amorosa de Goldoni e, mais uma vez, o famigerado Tartufo de Molière regressou ao teatro do palácio do conde de Soure, assim como O doente imaginativo, que teve mais duas apresentações. A comédia Olinta, de autor desconhecido, terá sido representada em Fevereiro. Além da compra da armação da cama para a comédia de Goldoni, adquiriram-se seis máscaras de cara e máscaras de personagens da commedia dell’arte – Pantalone, Brighella e Doutor terão sido interpretados pelos bailarinos na última dança da temporada, que terá culminado com os engenhos de um fogueteiro (CTBA, ff. 235-236).

II.7.1. O desastre financeiro da temporada de 1769-1770

A exibição de 164 récitas durante a temporada de 1769-1770 deu à empresa do Teatro do Bairro Alto 14.925$230 réis (CTBA, f. 245), uma quantia que não chegou para o pagamento dos ordenados do pessoal da companhia. Os salários excederam as receitas de bilheteira em 751$064 réis. Os rendimentos totalizaram 15.978$000 réis, que incluem as habituais cobranças das casas e alguns extras, tais como o donativo de um «apaixonado do teatro» ou a venda de um cravo (CTBA, f. 246). Mas as despesas, destinadas, na sua maior parte, a sustentar a contratação de bailarinos italianos, superaram em muito este número – o total dos gastos atingiram 19.009$758 réis e o prejuízo ficou em 3.031$758 réis (CTBA, f. 248). O malogro financeiro da temporada, descrita como uma «grande perda» (CTBA, f. 134), assim como as dívidas recíprocas e acumuladas ao longo dos anos, entre Varela e Ferreira da Silva, ditaram o início da

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Talvez seja a mesma que vem referenciada nos róis de Janeiro como Dança do Entrudo (CTBA, f. 225).

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batalha judicial entre os futuros ex-companheiros e o abandono do fundador do teatro. A 6 de Julho do mesmo ano de 1770, João Gomes Varela formalizará a demissão no notário, onde assinará a escritura de cessão e trespasse do seu interesse na Casa da Ópera do Bairro Alto.