• Nenhum resultado encontrado

A equipa artística em 1767-1768

PARTE I – O TEATRO DO BAIRRO ALTO E A HISTORIOGRAFIA

II.5. O período dos cómicos portugueses (Julho de 1766 – Carnaval de 1767)

II.5.1. A equipa artística em 1767-1768

A temporada de 1767-1768 principiou com poucas alterações na constituição da companhia de cómicos, que continuaram a pagar impostos e a trabalhar no palácio do conde de Soure, tal como atestam os livros das Décimas da Cidade97. As Contas do Teatro do Bairro Alto incluem, no rol de pagamentos anuais referentes a 1767, além dos cómicos ajustados na temporada anterior, mais dois nomes de relevo na equipa: Luísa, irmã de Cecília, cuja voz e qualidades interpretativas terão rápido reconhecimento, e Silvestre Vicente, que já havia cantado e representado no Teatro da Rua dos Condes98. Por sua vez, Maria Joaquina continuou a acompanhar as cantoras do Teatro do Bairro Alto, adivinhando-se a sua aptidão para interpretar papéis de elevado grau de exigência vocal. A excelência técnica e artística reunia-se, agora, na Casa da Ópera do Bairro Alto, que também integrava Pedro António Pereira e sua mulher, com «obrigação de representarem e dançarem» (CTBA, f. 25). António Manuel, que também havia

Maria Joaquina, José da Cunha e João de Almeida (AHTC, Décima da Cidade, liv. 755 M, 1766, ff. 47-49 v).

93

Pagam o imposto referente ao primeiro e segundo semestres de 1766 (AHTC, liv. 755 M, 1766, ff. 47- 47v).

94

De acordo com o Livro 755 M, os bailarinos, cujos nomes surgem grafados, segundo a nossa leitura da caligrafia, «Rebaltão» [Antonio Ribaltone] «Vitaval» [Carlo Vitalba] e a dita «Madame Laurete», estão ausentes antes do vencimento ou sem exercício antes do vencimento (ff. 46v-47).

95

AHTC, Décima da Cidade, liv. 755 M, 1766, f. 47. 96

Mário Moreau indica que «o seu nome figura no livro de inscrições da Irmandade de Santa Cecília com a data de 11 de Agosto daquele ano [1766]» (1981, p. 58).

97

Registam-se os seguintes nomes: Pedrinho e sua mulher [Lucrezia Battini], Cecília Rosa de Aguiar, Francisco Xavier, Maria Joaquina, José Félix, João de Sousa, António Jorge, Rodrigo [César], José da Cunha, Lourenço António «Bicho», António José de Paula, João Florêncio, Teresa, João de Almeida (AHTC, Décima da Cidade, liv. 756 M, 1767, ff. 44-47v).

98

Embora não haja informação sobre as suas obrigações no Teatro do Bairro Alto, o contrato de 1764 indica que Silvestre Vicente também cantava (ADL 14).

86

pertencido à empresa de Agostinho da Silva, trabalhou de forma intermitente ao longo da temporada teatral.

As danças continuaram a ocupar um lugar de destaque no palco do Bairro Alto e para a temporada de 1767-1768 foram ajustados, em Cádis, Peppa Olivares, Giovanni Neri e Elisabetta Contrucci99. Por sua vez, «Vicência pequena» e Luigi Grazioli, Il Schizza, foram contratados em Lisboa (CTBA, ff. 26-26v). Nas Contas do Teatro Bairro Alto, registam-se, ainda, Luigi Berardi, já conhecido da empresa teatral da Rua da Rosa, Paolo Orlandi, mestre de dança100, e Nunziata101, que veio para Lisboa acompanhada pela mãe e pelas irmãs e terão morado juntas em casas pagas pelos empresários do teatro (CTBA, f. 31)102. A Vincenza, dita «pequena» (por ser, talvez, muito jovem), foi contratada «nesta cidade com seu pai e tutor Giuseppe Paggi» (CTBA, f. 26), que chegou a pagar o imposto indispensável ao exercício de uma profissão, enquanto responsável pela filha menor103. Acrescenta-se a presença fugaz de um «Joanino» em debandada, que deixou à empresa uma dívida de 24$000 réis, que «se lhe tinha mandado dar para se lhe descontar no ordenado» (CTBA, f. 27). Em dado momento, durante a temporada, um «dançarino novo, Monsieur Pasabiló, que veio de Londres», introduziu pas de deux novos (CTBA, f. 28). Ao longo de dez meses, os bailarinos interpretaram, no mínimo, onze danças intituladas O engenho do açúcar, A boa vista de sala real, O carácter jardineiro, A academia de pintura, As quatro partes

99

Os nomes dos bailarinos, tal como se encontram grafados nas Contas do Teatro do Bairro Alto, levantam dúvidas quanto à sua fixação, pois o escriturário escreve de acordo com as sonoridades dos nomes e, além da constante flutuação da forma escrita, só se assenta ou o nome próprio ou o apelido. «Centruxe» ou «Contruxe» poderá ser Elisabetta Contrucci, identificada no libreto da ópera Artaserse, dramma per musica del signor abbate Metastasio poeta cesareo da rappresentarsi nel teatro di Lucca nell’autunno dell’anno 1757 (libreto acessível no sítio http://www.internetculturale.it, acedido a 4 de Janeiro de 2016).

100

Embora grafado, ao longo da escrita contabilística referente à temporada de 1767-1768, como «Irlande, mestre», aparece uma ocorrência ao «mestre Paulo Orlande o qual pela Páscoa não saiu com elas por adoecer na semana de Ramos» (CTBA, f. 28), nome que corresponde ao registo do imposto da Décima em 1767: «Orlande, dançarino, quatro mil e oitocentos réis, 4800, Pago o primeiro e segundo semestre» (AHTC, Décima da Cidade, liv. 756 M, 1767, f. 48).

101

Grafado «Nuciatina», (f. 26v), «Nuciate» (f. 29v), «Luciate» (f. 31v), e, ainda, nos livros de registos dos impostos da Décima da Cidade, escreve-se «Nunciata Tomê» (AHTC, Décimas da Cidade, liv. 756 M, 1767, f. 48). Uniformizaram-se as diferentes formas para o nome italiano Nunziata, ficando por identificar o apelido da bailarina.

102

Apenas ocorre uma menção às irmãs da bailarina nas Contas, mas, ao comparamos o seu ordenado com o dos colegas, verifica-se que ele é bastante superior, o que nos leva a deduzir que o dinheiro seria distribuído pelas irmãs.

103

O nome aparece grafado de forma diferente: «José Poxe, pai da dançarina pequena, nove mil e seiscentos réis, 9600, Pago o primeiro semestre e ausente no segundo como constou em revista» (AHTC, Décima da Cidade, liv. 756 M, 1767, f. 48 v).

87

do mundo, A rosa do vento, Os trombeteiros, As carapuças, O fandango, Arlequim soberano suposto e Jardim transparente (CTBA, f. 28 e f. 79).

Desde a sua abertura, o teatro necessitaria de músicos para acompanhar os bailarinos e os cantores que foram sendo contratados desde 1762, mas as notícias sobre a constituição da orquestra só ocorrem, nas Contas, em folhas de pagamentos diários referentes a 1767-1768 e a 1769-1770. Na época teatral de 1767, em cinquenta folhas de registo dos salários dos instrumentistas, não se observam alterações significativas na formação da orquestra, que se compunha por cerca de onze instrumentos de corda, dois oboés, duas trompas, um rabecão pequeno e um cravo104. Com cerca de dezasseis cómicos, dezassete instrumentistas e oito bailarinos, confirma-se a existência de uma companhia numerosa (quarenta e um intérpretes) sustentada por uma empresa ambiciosa, cuja constituição e organização permitia oferecer espectáculos de qualidade, sem esquecer a quantidade e diversidade de textos e autores.