Se é certo que o discurso de Harry Truman inaugura politicamente a era do desenvolvimento não é menos verdade que no campo científico os anos 1940 marcam o dealbar de um pensamento sobre a problemática do desenvolvimento. Em verdade, o campo dos estudos sobre o desenvolvimento, dominado pelos economistas mas de algum modo surpreendentemente permeável a contribuições de outras ciências sociais e humanas (sociologia, antropologia, ciência política, geografia)28, emerge logo após o final da II Grande Guerra e é marcado essencialmente por uma preocupação com os problemas macroeconómicos, designadamente os que concerniam as desigualdades entre países ricos e pobres. Os estudos sobre o desenvolvimento do período pós‐ guerra eram marcados por um forte optimismo o que leva Brohman (2001) a falar de uma “era do entusiasmo”, que, aliás, contrapõe à “era da desilusão” actual, onde se
28 Esta permeabilidade do campo da produção científica sobre o desenvolvimento ao contributo de uma diversidade de olhares oriundos das diferentes ciências sociais e humanas é, aliás, uma marca que perdurou até aos dias de hoje nos quais se advoga precisamente a riqueza hermenêutica que a construção de teorias híbridas sobre o desenvolvimento pode aportar.
esperava que os progressos teóricos e técnicos garantidos por uma ciência positivista a campos como a economia permitissem pensar o desenvolvimento segundo uma racionalidade planificadora, isto é, segundo uma lógica em que o desenvolvimento seria traçado por planificadores ao serviço do Estado usando as ferramentas cientificamente adequadas, o que permitiria promover racionalmente um processo de crescimento económico e, acreditava‐se, concomitantemente, de desenvolvimento, cuja finalidade, em face do que acima referimos ser a preocupação política então dominante, seria a diminuição drástica e rápida do fosso entre países ricos e países pobres.
Este pensamento foi reforçado positivamente pelo êxito do Plano Marshall na Europa em reconstrução após a devastação da guerra e rapidamente se converteu na forma de pensamento dominante para analisar as relações entre países do hemisfério Norte e países do hemisfério Sul e os estudos sobre o desenvolvimento assumiram então o papel de avaliar racionalmente os problemas e de gerir tecnicamente a intervenção face àqueles, subentendendo, como é claro, uma relação de subordinação dos países do Sul face aos do Norte obnubilada pelo discurso da ajuda internacional. Não esquecendo que neste período se inicia também a designada «guerra fria», entre os EUA e a União Soviética, os programas de ajuda internacional ao desenvolvimento e as suas ferramentas conceptuais e técnicas adquirem o valor de armas de arremesso ideológico no domínio das relações internacionais29.
A primeira corrente de pensamento sistemática sobre o desenvolvimento sobre a qual nos debruçaremos é a Teoria do Crescimento Económico que precisamente eclodiu no contexto que acabámos de caracterizar.
A base conceptual da teoria do crescimento económico é essencialmente de teor económico e mantém fortes afinidades ideológicas com o New Deal americano e com os programas social‐democratas europeus. Esta perspectiva foi popularizada a partir do final dos anos 1940 e prolongou‐se até meados dos anos 1950, sendo posteriormente absorvida progressivamente por uma outra corrente de pensamento: a Teoria da Modernização. Na génese da Teoria do Crescimento Económico esteve a
29 Não é por acaso que a emergência e proliferação dos discursos pós‐desenvolvimentistas se inscrevem no contexto do fim da «guerra‐fria» e do desmoronamento do bloco de leste (cf. Sachs, 1992).
crítica à teoria económica neoclássica ortodoxa – que assentava na importância conferida a um mercado “puro” e no crescimento baseado nas exportações definidas e partir do princípio das vantagens comparativas entre nações – produzida pelos teóricos do crescimento a partir do ponto de vista Keynesiano intervencionista, pondo em causa “the ability of neoclassical theory to translate its microeconomic base of
individualized, short‐run decision‐making into a dynamic macroeconomic theory for long‐term development” (Brohman, 2001:12)30.
A ideia de desenvolvimento que protagonizava era bastante redutora, associando‐o ao crescimento económico sendo que os factores sociais e culturais apenas eram tidos em consideração pelo seu papel facilitador/obstaculizador das mudanças sociais “apropriadas” que acompanhariam o crescimento económico. Nesta perspectiva o desenvolvimento é entendido como processo de formação de capital que, por seu lado, é largamente determinado pelo investimento e pelos níveis de poupança que deveria ser canalizada para o investimento produtivo, especialmente em sectores com elevados níveis de crescimento. Neste modelo de desenvolvimento, o papel interventivo do Estado é modesto; apenas se justifica num contexto de imperfeição do mercado ou está reservado aos estádios iniciais de descolagem económica durante os quais é desejável uma extensiva intervenção estatal mas, vencida a inércia, o mercado conduziria, de forma linear, o crescimento (no que na expressão anglo saxónica se identifica como “market‐driven growth”).
Os modelos e quadros teóricos da Teoria do Crescimento estavam enraizados na história económica do Ocidente o que significa que, mesmo se aquela rejeitou alguns dos aspectos da economia neoclássica no que diz respeito à promoção do desenvolvimento em países do Terceiro Mundo31, se estruturava essencialmente na
30 O autor identifica três áreas principais de crítica a partir do ponto de vista keynesiano à economia clássica e por referência ao desenvolvimento: 1) A teoria neoclássica é estática e está centrada na alocação (allocations) de certos recursos, enquanto os problemas do desenvolvimento são dinâmicos e devem concentrar‐se no aumento de recursos de investimento através da estimulação da poupança e do investimento; 2) Os modelos neoclássicos negligenciam a rigidez estrutural, nas suas múltiplas expressões, comuns nos países em desenvolvimento que impedem o mercado de reagir da forma teórica esperada; 3) A ênfase neoclássica no desenvolvimento baseado nas vantagens comparativas e no comércio livre é inapropriado para os países de industrialização tardia.
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A expressão «Terceiro Mundo» que ao longo deste capítulo será utilizada algumas vezes tem a sua génese em início dos anos 50, mais precisamente em 1952, e é citada por um demógrafo francês de nome Alfred Sauvy no L’Observateur. Aí se diz a determinado momento: «Nous parlons volontiers des
base de uma visão Eurocêntrica do desenvolvimento, unicamente baseada na interpretação keynesiana da experiência do capitalismo industrial dos países centrais. Nesta perspectiva, aos países que saíam de longas histórias de colonização era requerido que atravessassem, numa espécie de “imperativo da modernização” (Brohman, 2001: 13), um conjunto definido de etapas/estádios, à semelhança dos que se podiam de forma simplista identificar na história económica ocidental, para que alcançassem um patamar de desenvolvimento mais elevado, isto é, um desenvolvimento “ao estilo Ocidental” (idem, ibidem:13)32.
Mas, em finais dos anos 1950, a Teoria do Crescimento Económico caíra já em descrédito junto da maioria dos teóricos do desenvolvimento principalmente pelo reconhecimento de que a sua abordagem aos problemas de desenvolvimento socioeconómico e político dos países do Terceiro Mundo a partir de conceitos e teorias desenvolvidos a propósito de economias industriais centrais não era hermeneuticamente ajustada, bem como pela constatação de que a sua visão unilinear do desenvolvimento como uma sequência de estádios não era verdadeira nem concretizável e muito menos através da prescrição da receita keynesiana para aqueles países.
No entanto, foi a aquela teoria que preparou as fundações teóricas e políticas para a perspectiva que haveria de dominar o panorama dos estudos e dos programas de desenvolvimento durante os anos 1960 e parte dos 1970. Falamos da Teoria da Modernização que aprofundando e alargando o aparelho conceptual da Teoria do Crescimento incorpora algumas das ideias‐chave da sua predecessora, nomeadamente: i) o desenvolvimento como crescimento económico baseado na industrialização; ii) o papel crítico do aumento da poupança e do (seu) investimento produtivo; iii) a necessidade da intervenção estatal na planificação do
deux mondes en présence, de leur guerre possible, de leur coexistence, etc…, oubliant très souvent qu’il
en existe un troisième, le plus important et, en somme, le premier dans la chronologie. C’est l’ensemble de ceux que l’on appelle, en style Nations Unies, les pays sous‐développées» (cit. em Riondet, 1996 :26) 32 O modelo de estádios proposto por Rostow foi provavelmente o mais popular dentro desta perspectiva e nele se propugnava a ideia de que os países evoluem através de uma sequência de estádios de desenvolvimento, conduzindo as sociedades tradicionais a transformar‐se em sociedades de consumo de massas, típicas do capitalismo moderno.
desenvolvimento e iv) o desenvolvimento como sequência de estádios bebidos na experiência histórica dos países do Ocidente.
Na perspectiva de Alvin So (1990), o contexto sócio‐político de emergência da Teoria da Modernização é marcado pela reunião de três eventos históricos: i) a emergência dos EUA como superpotência mundial; ii) o alastramento do movimento comunista ao mundo; iii) a desintegração dos impérios coloniais das potências europeias. Do ponto de vista intelectual ou teórico, a Teoria da Modernização é claramente influenciada no seu esforço de iluminar a modernização dos países do Terceiro Mundo, quer pela teoria evolucionista33, quer pela teoria funcionalista.
Uma vez que a teoria evolucionista havia ajudado a explicar a transição entre sociedades tradicionais e sociedades modernas na Europa Ocidental no século XIX, muitos pesquisadores integrados na corrente modernizadora acreditaram que de igual modo poderia iluminar os processos de modernização dos países do Terceiro Mundo. Com efeito, a Teoria da Modernização e a escola intelectual que a protagoniza representam um esforço multidisciplinar para examinar as perspectivas do desenvolvimento do Terceiro Mundo onde cada disciplina contribui do seu modo para a identificação de aspectos chave a respeito da modernização. Assim, os sociólogos focam‐se na mudança das variáveis‐padrão e na diferenciação estrutural, os economistas acentuam a importância de acelerar os investimentos produtivos e os cientistas políticos destacam a necessidade de melhorar a capacidade do sistema político. Apesar da sua natureza multidisciplinar, os pesquisadores da Teoria da Modernização partilham dois conjuntos de assunções e metodologias no estudo do desenvolvimento do Terceiro Mundo.
O primeiro conjunto de assunções partilhado pelos pesquisadores da escola da modernização diz respeito a certos conceitos extraídos da teoria evolucionista
33 A teoria evolucionista clássica tinha as seguintes características: 1) Assumia que a mudança social é unidireccional, isto é, que as sociedades humanas invariavelmente se movem na direcção de um estado primitivo a um estado avançado. Nesse sentido, o destino da evolução humana está pré‐determinado; 2) Impunha um juízo de valor sobre o processo evolucionário – o movimento em direcção à fase final é bom porque representa progresso, humanidade e civilização; 3) Assumia que os ritmos da mudança social são lentos, graduais e pacíficos – evolucionário e não revolucionário! (So, 1990).
europeia. De acordo com a teoria evolucionista, a mudança social é unidireccional, progressiva e gradual, irreversivelmente conduzindo as sociedades de um estádio primitivo a um estádio avançado, e tornando as sociedades mais iguais entre si à medida que avançam no trilho da evolução. Assentes nesta premissa, os teóricos da escola da modernização formularam as suas perspectivas com os seguintes traços (So, 1990:33‐34): i) a modernização é um processo faseado; ii) a modernização é um processo homogeneizador; iii) a modernização é um processo de Europeização (ou
Americanização); iv) a modernização é um processo irreversível; v) a modernização é
um processo progressivo; vi) a modernização é um processo longo.
O outro conjunto de assunções partilhado pelos pesquisadores da escola da modernização é retirado da teoria funcionalista, que enfatiza a interdependência das instituições sociais, a importância das variáveis padrão ao nível cultural e o processo imbuído de mudança através do equilíbrio homeostático. Influenciados por estas ideias de Talcott Parsons34, os pesquisadores da escola da modernização formularam
34 Uma componente forte do substrato teórico da Teoria da Modernização é a teoria funcionalista de Talcott Parsons cujos conceitos – tais como «sistema», «imperativo funcional», «equilíbrio homeostático» e «variáveis padrão» – entraram nos trabalhos de muitos dos protagonistas da Teoria da Modernização. Para Parsons, originalmente um biólogo, a sociedade humana é como um organismo biológico e pode ser estudada enquanto tal: i) pode dizer‐se que as diferentes partes de um organismo correspondem às diferentes instituições que constituem uma sociedade que, tal como no caso dos organismos vivos as partes estão inter‐relacionadas e são inter‐dependentes entre si na sua acção, assim também as instituições numa sociedade estão intimamente relacionados entre si. Parsons usa o conceito de «sistema» para denotar a coordenação harmoniosa entre instituições; ii) tal como cada parte do organismo biológico desempenha uma função específica para o bem do todo, assim cada instituição desempenha uma certa função para a estabilidade e o crescimento da sociedade. Parsons formula o conceito de «imperativos funcionais» argumentando que há 4 funções cruciais que todas as sociedades devem desempenhar senão morrerão: i) Adaptação ao ambiente (desempenhada pela economia); ii) Goal attainment (desempenhada pelo Governo); iii) Integração (ligando as instituições entre si) – desempenhada pelas instituições legais e pela religião; iv) Latency (manutenção de um padrão de valores de geração em geração) – desempenhada pela família e pela escola.
A analogia da sociedade com um organismo vivo também conduziu Parsons a formular o conceito de «equilíbrio homeostático». Parsons parte da ideia de que um organismo biológico procura sempre estar num estado uniforme. Se uma parte muda, então as outras mudarão de acordo com essa mudança para restaurar o equilíbrio. De acordo com Parsons a sociedade também observa os ritmos necessários para a homeostasia; há interacções constantes entre instituições para manter o equilíbrio homeostático. Quando uma instituição experiencia mudanças sociais, isso provoca uma reacção em cadeia de mudanças em outras instituições de modo a restabelecer o equilíbrio. Nesta perspectiva, o sistema social para Parsons não é estático, estacionário, uma entidade imutável, mas pelo contrário, as instituições que constituem o sistema estão sempre a mudar e a ajustar‐se.
Parsons formulou ainda o conceito de «variáveis padrão» para distinguir as sociedades tradicionais das sociedades modernas. As variáveis padrão são as relações sociais chave que
implicitamente o conceito de modernização com os seguintes traços: i) a modernização é um processo sistemático: os atributos da modernidade formam um todo consistente, aparecendo em blocos mais do que isolados. A modernidade implica mudanças em virtualmente todos os aspectos do comportamento social, incluindo industrialização, urbanização, mobilização, diferenciação, secularização, participação e centralização; ii) a modernização é um processo transformativo: para que uma sociedade se mova para a modernidade as suas estruturas e valores tradicionais devem ser totalmente substituídos por um conjunto de valores modernos (modernidade e tradição são conceitos assimétricos nesta perspectiva); iii) a modernização é um processo imanente: devido à sua natureza sistemática e transformadora, a modernização introduziu mudanças no sistema social. Uma vez que a mudança começa numa esfera de actividade produzirá necessariamente mudanças comparáveis em outras esferas. Devido a esta assunção da imanência, a escola da modernização tende a focar‐se nas fontes internas de mudança nos países do Terceiro Mundo (So, 1990).
A principal ruptura da Teoria da Modernização com a Teoria do Crescimento Económico passa pela abordagem ao desenvolvimento em moldes interdisciplinares, particularmente sofisticando a análise a partir da complementaridade entre uma abordagem dos processos de transformação económica e a consideração de teorias da mudança social e institucional, o que torna os modelos teóricos mais complexos embora não necessariamente menos economicistas (Brohman, 2001:15). Com efeito, se a incorporação na análise de elementos não económicos tais como as práticas sociais, crenças, valores e hábitos implicou uma extensão para além do económico das ideias até então convencionais sobre o desenvolvimento e se aqueles elementos passaram a constituir‐se em elementos de que o desempenho económico depende, nem por isso se transformaram as ideias de que o desenvolvimento, agora sinónimo de
permanecem, são recorrentes e estão inscritas no sistema cultural – o mais importante sistema na
teorização de Parsons. Para Parsons há 5 conjuntos de variáveis‐padrão que permitem caracterizar as relações sociais das sociedades (So, 1990:21‐22): i) Afectivas vs Afectivas‐neutrais; ii) Particulares vs Universais; iii) Orientação colectiva vs Auto‐orientação; iv) Atribuição vs Achievement; v) Funcionalmente difusas vs Funcionalmente específicas.
modernização, estava profundamente associado ao desempenho económico, nem de que aqueles elementos deveriam evoluir de modo consistente com a lógica do crescimento económico capitalista. Ou seja, a questão central apenas se deslocou para a busca de compreensão de qual a combinação normas‐instituições mais propícia à modernização. Assim, como a ideia de modernização estava construída sobre uma tipificação de padrões culturais, sociais e económicos e atributos psicológicos e se estabelecia uma forte correlação entre estes e o nível de desenvolvimento presentes nas sociedades Ocidentais, considerava‐se que a difusão desses padrões e atributos nas sociedades de que estivessem ausentes – papel reservado a instituições como a educação ou os meios de comunicação de massas – seria a melhor via de criar uma relação mutuamente reforçadora entre factores económicos e não económicos para suportar o desenvolvimento. Não é de somenos importância salientar novamente que esta abordagem se afirme no contexto histórico da guerra‐fria de competição e expansão e alargamento da área de influência que as grandes superpotências disputam através dos programas de ajuda internacional e que, como tal, seja sustentada num discurso optimista sobre a caminhada para o desenvolvimento dos ajudados, de um e de outro quadrante.
As principais características da teoria da modernização, na sua formulação clássica (até meados dos anos 1960), são sumariadas por John Brohman (2001:16‐17): i) «Mesmo se envolve uma mistura de factores de desenvolvimento, a modernização resulta, para a maior parte dos autores dentro desta teoria, da indução da mudança de valores, crenças, costumes no tecido social a partir da que resultaria mudança em outras esferas do desenvolvimento; ii) As diversas componentes das sociedades (valores, instituições, grupos sociais, regiões...) estão divididas (e as sociedades separadas entre si) entre esfera tradicional e esfera moderna, que sendo antitéticas ou estando puramente separadas poderão apenas coexistir a curto prazo. Estas sociedades “duais” tenderão a desaparecer à medida que a modernidade erradicar a esfera tradicional, no que consistirá realmente o processo de modernização; iii) A modernização corresponde a um percurso cuja direcção e finalidade inevitável é similar a todos os países do Terceiro Mundo e mimetiza o percurso da história do mundo industrial capitalista, mesmo se acontece num tempo substancialmente
distinto; neste sentido modernização e ocidentalização são sinónimos; iv) A difusão interna dos factores de desenvolvimento (mudança de valores e atitudes, inovação tecnológica...) nos países do Terceiro Mundo necessita provenir de uma origem externa de forma a acelerar o processo de modernização e a fechar mais rapidamente o fosso entre países ricos e países pobres; v) A rapidez da difusão e de todo o processo de modernização estão criticamente dependentes da elite modernizadora de cada país que enquanto “actor de mudança” promove a inovação e a difusão, pelo que as políticas de desenvolvimento os devem visar privilegiadamente nas primeiras fases da modernização de modo a facilitar a transformação estrutural; vi) Apesar de a difusão ter origem externa, a modernização depende essencialmente de factores internos a cada sociedade jogando uma particular importância a remoção de barreiras culturais e sociais à modernização, muitas das quais ligadas à manutenção de um sector tradicional, assumindo‐se assim que os factores que impedem o desenvolvimento (ou são causas do subdesenvolvimento) se prendem com questões da estrutura interna enraizadas no passado e que se a mudança estrutural puder ser induzida então o crescimento e a modernização seguir‐se‐ão.»
Na base dos pressupostos da teoria da modernização, em particular do dualismo que instaura entre o tradicional e o moderno, encontra‐se o resgate e a articulação, ainda que simplista, das ideias dos sociólogos clássicos, nomeadamente Durkheim e Weber. Do primeiro, a teoria da modernização recupera a distinção entre sociedades tradicionais e modernas que este elabora a partir das distintas formas de coesão social: as primeiras estão baseadas numa forma de “solidariedade mecânica” que subentende a semelhança de grupo e a adesão a padrões rígidos de normas e valores tradicionais e, as segundas, em contraste, assentam numa “solidariedade
orgânica” resultado do desenvolvimento de instituições e funções especializadas que
permitem uma crescente diferenciação social. Por seu turno, Max Weber sugeria que os factores ligados aos processos de industrialização seriam os responsáveis pela distinção das sociedades ocidentais (europeias) face a outras. O resgate desta “herança” procede no entanto, como já se sugeriu antes, por simplificação,