Mas se estas foram e são as correntes dominantes do pensamento teórico sobre o desenvolvimento também é certo que este domínio tem sido palco, pelo menos desde os anos 70 do século passado, do surgimento de um pensamento divergente e de um pensamento crítico que, mais do que estabilizar‐se em torno de um modelo ou de uma teoria tem assumido várias designações consoante a problemática ou enfoque privilegiado44. Não é seguro, em nossa opinião, que os trabalhos que procuram dar corpo a este pensamento alternativo no campo do desenvolvimento resolvam integralmente as objecções radicais que as perspectivas pós‐desenvolvimentistas levantam a qualquer discurso que tome o desenvolvimento como propósito a realizar (cf. início deste ponto do trabalho), no entanto, na forma
44
Cf. a este propósito o momento deste trabalho em que com base em Amaro (2003) apresentamos as diferentes fileiras que permitem organizar a diversidade de discursos e práticas que actualmente povoam o campo do desenvolvimento.
como formulam os problemas de desenvolvimento e equacionam possíveis soluções, pelo menos potencialmente, não deixam de afastar‐se de um modelo hegemónico de pensamento, de política e de prática que já provou ser contraproducente na medida em que apenas agravou os problemas que, pelo menos para alguns dos optimistas que o defendiam e defendem, era suposto resolver (cf. a este propósito Canário, 1999; Finger&Asún, 2003).
Nesse sentido vale a pena procurar compreender o modo como estas abordagens alternativas equacionam os elementos que as abordagens dominantes do desenvolvimento consideram imprescindíveis para que o desenvolvimento aconteça, bem como as condições a que estes elementos devem obedecer. Como já sabemos, na perspectiva dominante do desenvolvimento, estes elementos passam, por exemplo, pelo investimento uma vez que o crescimento económico depende daquele e este é entendido como uma importante dimensão do desenvolvimento, senão mesmo a mais importante. Um outro elemento da concepção dominante de desenvolvimento é a consideração de que estamos perante um processo sequencial e progressivo de fases ou estádios ao longo dos quais os benefícios se vão alargando a uma maior fatia da população, aliviando assim fenómenos como a pobreza e a desigualdade. Um terceiro elemento diz respeito ao papel, e mais ainda à difusão, da tecnologia e de “outros
atributos da modernização” (Brohman, 2001:201) que se considera que, através do
designado “efeito‐dominó” (trickle down effect), fará chegar os benefícios do desenvolvimento aos mais diversificados e necessitados sectores da população. Um outro elemento constante desta concepção do desenvolvimento prende‐se com a definição deste como um processo que se organiza de cima para baixo sendo que a este “cima” correspondem as instâncias internacionais e as elites nacionais, sociais, económicas e políticas. Tipicamente, este desenvolvimento é, igualmente, concebido e desenhado por especialistas nacionais, e por vezes internacionais, a partir do exterior dos contextos onde se deseja promover e com base num conhecimento especializado de base científica e com uma expressão tecnológica (de tecnologia social, mais propriamente) que tende a subjugar e a impor‐se, senão mesmo a remetê‐los para o domínio dos pré‐conceitos, aos saberes locais ou profanos. Podemos ainda associar a esta lógica hegemónica o facto de que as populações a quem alegadamente se dirigem
estes processos de desenvolvimento são concebidas abstractamente, grande parte das vezes, como simples indicadores socioeconómicos, e em que, consequentemente, a participação popular fica sujeita e restringida a um papel de receptor face a uma lógica de informação vertida pelos especialistas ou, em alternativa, a participações ritualizadas em que o envolvimento popular na tomada de decisão se circunscreve a alguns momentos do processo e raramente incide nas definições estratégicas e programáticas. Finalmente, em íntima articulação com esta definição abstractizante das pessoas a quem se dirige o desenvolvimento, importa ainda salientar que a fonte de legitimidade para estes processos de intervenção, particularmente até à década de 80, se encontra no Estado como figura a quem se reconhece o estatuto de representante e garante de um bem comum universal, isto é, de um bem comum e de uma normatividade extensível de modo uniforme aos diferentes contextos territoriais subordinados à autoridade daquele Estado, o que, como explicita Canário (1999), conduziu essencialmente a uma intervenção em prol do desenvolvimento marcada pelo seu carácter centralista, homogeneizador e sectorializado. A partir da década de 1980, esta legitimidade vem‐se progressivamente ancorando na aliança entre a Ciência e o Estado, isto é, na aliança entre um discurso científico, produzido normalmente por especialistas recrutados pelo próprio Estado, e um discurso político que fundando‐se numa pretensa legitimidade incontornável da ciência na definição dos rumos a seguir em termos de desenvolvimento, transmuta o saber científico em decisões políticas, veiculadas muito mais através de um discurso tecnocrático do que verdadeiramente político.
Neste exercício de análise das putativas alternativas que se constroem no domínio do desenvolvimento vale a pena, igualmente, procurar perceber como são equacionadas questões que, a não ser retoricamente, não estão presentes com grande centralidade nos discursos dominantes do desenvolvimento, designadamente a questão da satisfação das necessidades humanas, da participação e do poder dos sujeitos nos processos de desenvolvimento ou do imperativo de um desenvolvimento equitativo e preocupado com a dimensão da justiça da redistribuição dos efeitos das políticas e das práticas de desenvolvimento na medida em que, eventualmente, os modos originais como delas se dá conta permitirá romper, se não com o substrato da
ideia de desenvolvimento, com a ideologia desenvolvimentista ainda dominante nestes tempos de “capitalismo de casino” ou de “turbo‐capitalismo”, como os designa Matthias Finger e José Manuel Asún (2003).
O gérmen das perspectivas alternativas de desenvolvimento encontra‐se, como seria de esperar, nos olhares críticos da ideologia desenvolvimentista que se estruturam logo após a II Grande Guerra. Estes olhares cépticos sobre as exclusivas virtuosidades do crescimento económico do pós‐guerra começam a ter alguma expressão logo a partir dos finais dos anos 1960/inícios dos anos 1970 (cf. Brohman, 2001; Canário, 1999) quando se toma consciência de que este crescimento económico é incapaz de responder a diversas finalidades do desenvolvimento, como por exemplo, a criação de emprego – Canário (1999) explicita mesmo que este é o momento em que se constata que mais crescimento económico não é incompatível com mais desemprego – a redução da pobreza e das desigualdades entre países ricos e pobres (ou do Norte e do Sul) ou entre diferentes regiões dentro de um mesmo país ou a satisfação das necessidades básicas de muitos milhões de pessoas. Estas constatações inscrevem‐se, aliás, no prolongamento da análise que alguns autores fazem aos designados “Trinta Gloriosos” anos que se seguem ao fim da II Guerra Mundial e onde se acentua que para a maioria da população mundial mais do que gloriosos estes foram anos dolorosos por causa de uma efectiva degradação das suas condições de vida (cf. Amaro, 2003).
Não é de estranhar, então, que, como salienta Brohman (2001:202), nos inícios dos anos 1970 já se tivesse tornado um lugar‐comum afirmar que, mesmo nos casos daqueles que haviam conhecido elevados índices de crescimento económico durante as décadas anteriores, o crescimento económico da maioria dos países, designadamente do dito Terceiro Mundo, tinha sido acompanhado por uma desigualdade social interna crescente que se manifestava num empobrecimento de sectores significativos da população, na diminuição do acesso a recursos produtivos e numa evidente distribuição desigual dos rendimentos e dos bens. Este lugar‐comum, aliás, era suportado pela experiência das décadas de 1950 e 1960 que haviam permitido concluir que embora o crescimento económico fosse importante, não era de
todo suficiente para promover o desenvolvimento, principalmente se este levasse em consideração dimensões não económico‐financeiras.
Estas constatações estão na origem da introdução no pensamento e discussões acerca do desenvolvimento de preocupação com a multidimensionalidade e os aspectos qualitativos do desenvolvimento (Canário, 1999) o que leva a que muitos economistas comecem a sugerir que mais importante do que o ritmo do crescimento parece ser a natureza deste crescimento (Brohman, 2001). Esta reflexão, primordialmente oriunda do campo da economia, apoia‐se nas amplas evidências empíricas que vinham demonstrando a inconsequência para o combate à pobreza de uma noção de desenvolvimento pensado de cima para baixo e do esperado, mas nunca verdadeiramente sentido, “efeito dominó” do crescimento económico baseado na industrialização ou, no caso dos países do Terceiro Mundo, na modernização do sector agrícola. Com a entrada na designada II Década do Desenvolvimento, proclamada pela ONU para os anos 1970 muito por força da inconsequência dos resultados da primeira década que abrangeu os anos 1960, são pois estes mesmos economistas, bem como outros teóricos e práticos do desenvolvimento, que concluem pelo desacerto das estratégias que confundiram o desenvolvimento com o investimento em estratégias macroeconómicas de crescimento, para admitirem em alternativa a necessidade de focarem a sua atenção na transformação da qualidade de vida das pessoas ou, nos seus próprios termos, elegerem como preocupação a questão dos recursos humanos.
Durante os anos 1970 assistimos então a uma tentativa de promover programas de desenvolvimento que rompam com a estrita e estreita articulação do desenvolvimento ao crescimento económico e que, segundo uma lógica de “despadronização” do desenvolvimento, levem em consideração preocupações tais como a equidade na distribuição, o alívio da pobreza, a provisão das necessidades básicas e a adopção de tecnologias adequadas às circunstâncias do contexto em que se intervém (Brohman, 2001:203). Estes programas integram‐se nas políticas de ajuda ao desenvolvimento promovidas pelos países do Norte para os do Sul, mas os seus principais impulsionadores, desde o início da década de 1970, são as organizações internacionais como o Banco Mundial ou a Organização Internacional do Trabalho que
desenvolvem abordagens próprias ao desenvolvimento. Embora tenham um papel mais ao nível da definição de uma nova ou alternativa agenda do desenvolvimento, é igualmente importante salientar o papel que durante essa década vêm a representar organismos da ONU como a UNICEF ou a FAO. Como argumenta Brohman (2001:204), muitas destas organizações adoptaram uma espécie de ideologia “neopopulista” em contraste nítido com a estreita mas bem estruturada teoria oferecida pela teoria económica neoclássica. A finalidade pretendida era, como já salientámos, redefinir as finalidades do desenvolvimento através do incentivo à distribuição mais justa dos recursos e dos rendimentos por meio da promoção da participação local e do apoio à emergência de projectos à escala local (ou de pequena escala) utilizando tecnologias social e ambientalmente adequadas sendo que, tendo presente essa finalidade, estes programas e projectos definiam prioritariamente as populações de contextos rurais como actores a envolver e revelavam uma especial preocupação com a adequação dos programas e projectos às condições e necessidades locais. O pressuposto em termos de desenvolvimento subjacente a estes programas e projectos ia no sentido de inverter a lógica anteriormente dominante de pensar e levar a cabo o desenvolvimento: onde antes se privilegiava uma intervenção do topo para a base e segundo uma lógica centralizada e concentrada, encontramos agora uma ênfase na ideia de que o crescimento e o desenvolvimento aconteceriam a partir da base comunitária e segundo uma lógica dispersa (ou globalizada) (Brohman, 2001:204).
Como acima se refere, duas das instâncias que durante a década de 1970 marcam consistentemente, ainda que também ambivalentemente, o campo do pensamento e das políticas de desenvolvimento, incorporando “à sua maneira” as “novas” preocupações do desenvolvimento, são o Banco Mundial e a Organização Internacional do Trabalho.
O Banco Mundial, particularmente, cunha uma nova abordagem do desenvolvimento: a da «Redistribuição com crescimento». Em termos breves há que dizer claramente, como o faz Brohman (2001:25), que esta perspectiva representa muito mais uma “modificação” do que propriamente uma ”ruptura” com as concepções desenvolvimentistas e para o constatar basta resumir algumas das suas premissas centrais. Apesar de considerar que um desenvolvimento sustentável exigiria
políticas redistributivas e programas de apoio aos mais pobres durante os primeiros estádios de desenvolvimento, ao invés de confiar apenas no “efeito‐dominó” como forma de fazer alastrar os benefícios do crescimento, a «Redistribuição com
crescimento» manteve a crença anterior no mercado e nos benefícios do crescimento
conduzido pelo mercado, desde logo porque a redistribuição e o crescimento não eram vistos como contraditórios mas antes como elementos complementares do desenvolvimento. Neste sentido, a promoção de uma redistribuição mais justa dos rendimentos pelos que menos possuíam mantinha‐se dependente da existência de um crescimento económico rápido. Como sugere Brohman (2001), a receita “tradicional” do crescimento equilibrado foi apenas estendida para agora dar cobertura ao desenvolvimento tanto económico como social. Por outro lado, esta perspectiva muito mais do que enfatizar e promover a transformação das macro‐políticas, centrou‐se essencialmente na promoção de programas e de projectos que visavam especificamente as “bolsas de pobreza”, normalmente identificadas administrativamente. Por fim, apesar de estar eivada de uma retórica sobre a participação das comunidades, em verdade esta perspectiva perpetuou em larga medida uma abordagem do desenvolvimento de tipo verticalizado (top‐down) e assente, em termos de intervenção no accionamento dos dispositivos típicos da engenharia social. Por tudo isto, conclui Brohman (2001:204‐205), apesar de algum reconhecimento da dimensão política do desenvolvimento – considerando por exemplo o efeito estabilizador que o aumento dos níveis de consumo entre os mais pobres teria no desenvolvimento a longo prazo –, em boa verdade esta perspectiva tem um contributo muito limitado na proposição de medidas (na verdade são evitadas essas medidas) concretas para o empoderamento das organizações de base, comunitárias ou populares que lhes permitam desempenhar um papel mais activo na decisão política e económica.
Paralelamente, também a OIT (Organização Internacional do Trabalho) cunha uma abordagem ao desenvolvimento que deixou marcas ao longo dos anos 1970: a abordagem das «Necessidades Básicas». Esta perspectiva vem igualmente colocar a ênfase na necessidade de promover uma articulação virtuosa entre crescimento e redistribuição e embora se centrasse bastante na satisfação de necessidades da
população pobre, não considerava que o rápido crescimento económico dos sectores mais modernizados fosse contraditório com aquele desígnio e não deixava de incluir também uma preocupação mais macro‐estrutural que incidia na necessidade de mudança estruturais internas nos padrões de desenvolvimento, designadamente dos países do Terceiro Mundo como forma, precisamente de atender aos sectores mais pobres das suas populações. Nas palavras de Brohman (2001:2005), esta perspectiva desejava uma abordagem mais equilibrada do desenvolvimento, definindo de forma operatória um conjunto de “necessidades” fundamentais a serem satisfeitas (nomeadamente: alimentação, saúde e educação) (cf. Brohman, 2001; PNUD, 2006), bem como dimensões e critérios que orientariam a potencialização dos recursos locais e a atribuição de meios aos mais pobres para realizarem o seu potencial de desenvolvimento. De acordo com o Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (1996), a abordagem das «Necessidades Básicas» enfatizava essencialmente 3 aspectos: i) a importância do aumento do rendimento, através de uma produção eficiente e trabalho‐intensiva; ii) a atribuição aos serviços públicos de um papel‐chave na redução da pobreza: educação, serviços de saúde; iii) a participação dos beneficiários (a descrição concentrada desta abordagem pode sintetizar‐se na seguinte fórmula: Rendimentos + Serviços Públicos + Participação).
As críticas à perspectiva das «Necessidades Básicas» vieram de vários quadrantes ideológicos, da direita à esquerda, que a consideraram ora demasiado progressista, ora demasiado assistencialista. Com efeito, as críticas à direita e da parte dos países capitalistas centrais centravam‐se no que consideravam ser uma ênfase excessiva na necessidade de transformações estruturais e nas medidas de redistribuição. De outro quadrante chegaram as críticas que salientaram que, na prática, a acção de governos e agências de desenvolvimento se centrou na distribuição dos serviços públicos básicos, por essa razão a abordagem das «Necessidades Básicas» foi considerada i) uma “receita” para “contar os pobres, valorizar o cabaz e distribuí‐
lo”; ii) uma acção de cima para baixo; iii) pouco ou nada preocupada com dimensões
menos materiais do bem‐estar humano iv) conservadora, por não dar poder económico aos pobres, já que não enfatizava o seu acesso a bens produtivos nem ao
crédito. Por outro lado, ainda, em termos macro‐políticos, os países em vias de desenvolvimento viam o apoio à perspectiva das «Necessidades Básicas» por parte dos países industrializados como uma forma de desviar a atenção da discussão da política internacional e da necessidade de uma nova ordem económica internacional (PNUD, 1996).
Como já se salientou, a década de 1970 foi ainda agitada pelo envolvimento de outras instâncias internacionais ou transnacionais na discussão e na elaboração de propostas em torno das vias a seguir para o desenvolvimento. Estas organizações promoveram fóruns e encontros onde os discursos alternativos e menos alternativos se enfrentaram e dos quais surgiram algumas orientações programáticas que marcaram indelevelmente o surgimento do discurso alternativo à ideologia desenvolvimentista dominante.
Um dos momentos mais significativos neste sentido foi o Simpósio realizado em Cocoyoc, no México, em 1974, onde se encontraram “experts” do desenvolvimento de todo mundo e onde se confrontaram as duas mais fortes correntes que então davam início à construção de um pensamento alternativo sobre as questões do desenvolvimento, nomeadamente, os adeptos das abordagens cuja ênfase estava localizada na satisfação das necessidades básicas das populações mais do que na maximização do crescimento e, do outro lado, os críticos da ideologia desenvolvimentista que estruturam o seu discurso e propostas a partir da confrontação do modelo de desenvolvimento dominante com os limites ecológicos a que este deveria estar submetido, quer no que respeita ao consumo de matérias‐ primas, designadamente os recursos energéticos, quer no que respeita aos efeitos sobre a transformação da Natureza e da qualidade de vida humana induzidos pelas políticas de proliferação e de modernização industrial (Matthias Finger (1993) designa estes limites ecológicos, respectivamente como os limites de input e de output do desenvolvimento).
A declaração que sai deste encontro de Cocoyoc acentua a ideia de que qualquer processo de desenvolvimento que não conduza à satisfação das necessidades humanas básicas será uma distorção da ideia de desenvolvimento, nomeadamente
aquele assente uma lógica de apelo ao hiper‐consumismo, e, mais ainda, abre espaço para as dimensões imateriais do desenvolvimento humano ao sugerir que todo o processo de desenvolvimento deveria atender a necessidades tais como a liberdade de expressão ou a realização no trabalho.
Se a declaração de Cocoyoc é entendida por Brohman (2001) como o momento do nascimento do desenvolvimento alternativo, ao longo da década de 1970 há ainda outros momentos e instâncias que vêm ajudar a consolidar esta perspectiva alternativa como a publicação em 1975 da obra “What now: another development” pela Fundação sueca Dag Hammarskjöld onde se confrontavam explicitamente os modelos dominantes de desenvolvimento principalmente porque não prestavam uma atenção significativa ao problema da pobreza maciça nem à questão da sustentabilidade (a propósito da relevância desta obra cf. tb. Friedmann, 1996; Santos, 2002). Mais uma vez, neste documento esboçava‐se “uma abordagem humanista
ampla (...) advogando um desenvolvimento voltado para a satisfação de necessidades, começando pelas dos pobres e assegurando a humanização pela satisfação das suas necessidades de expressão, criatividade, convivialidade e de decisão do seu destino”
(Brohman, 2001:207). Por outro lado, também a International Foundation for
Development Alternatives, entidade estabelecida na Suiça a partir de 1976, emerge
com o propósito de promover uma alternativa, uma abordagem do desenvolvimento a partir da base social, que intitula de “Third Movement System” (cf. tb. Friedmann, 1996; Finger&Asún, 2003:83) para dar conta de um outro poder que não o político (associado ao Estado), que não o económico (dominado pelo capital transnacional), mas sim do poder do “povo”, baseado na organização voluntária, que estaria no centro de um movimento que se dedica a explorar novos métodos de consciencialização e a aumentar a participação dos movimentos de base nas decisões acerca do desenvolvimento, nomeadamente através da intervenção junto de movimentos sociais.
Do ponto de vista sócio‐político e económico o que torna alternativas estas perspectivas é essencialmente uma inversão no modo como se equaciona a relação entre crescimento e redistribuição. Com efeito, a ideologia desenvolvimentista dominante, embora de forma não explicitamente assumida, supõe que a existência de
desigualdades entre pessoas e entre regiões, pelo menos num primeiro momento, é uma condição inevitável do crescimento económico que pode, mais tarde ou mais cedo, ser ultrapassada pelos benefícios do próprio crescimento económico. Ora, os