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CAPÍTULO VI. AS NARRATIVAS DOS CAMPONESES POSSEIROS DENUNCIAM A VIOLÊNCIA DA OCUPAÇÃO DO CAPITAL NA

A SUBORDINAÇÃO DA RENDA DA TERRA: EXPROPRIAÇÃO E VIOLÊNCIA NA FRONTEIRA AGRÍCOLA DO MATOPIBA

3.2 Renda da terra diferencial I e diferencial

A renda da terra é o fator principal, que decorre do pagamento de uma taxa para colocar a terra a serviço do capital. De fato, a terra só será disponibilizada mediante o pagamento da renda ao proprietário. Mas no modo de produção capitalista alguns critérios são observados, como é o caso dos solos pobres, com baixa fertilidade, com custo maior para a produção, pois é necessário adicionar corretivos para elevar a sua capacidade produtiva.

Assim, o solo de pior qualidade tem o poder de regular o preço de mercado, até mesmo de regular a produção gerada em solos de maior fertilidade natural, ou seja, o modo o preço da produção total é determinado a partir dos preços da produção com base nos piores solos cultivados.

[...] A renda da terra é a fração suplementar e permanente do lucro capitalista que explora a terra sob relações capitalistas de produção, ou seja, sob relações baseadas no trabalho assalariado que em melhores condições em relação aos demais. Esta colocação é fundamental, pois que a renda da terra diferencial é produto do caráter capitalista da produção. Numa palavra, resulta da concorrência entre os produtores

capitalistas. Isto significa dizer, que ela só existe a partir do momento em que a terra é colocada para produzir. (OLIVEIRA, 2007, p. 44).

A partir destes aspectos importantes é que são formadas a renda diferencia I e a renda diferencial II. Na renda diferencial I, não há dependência do capital aplicado na produção específica, enquanto que a renda diferencial II decorre diretamente de capitais para melhorar a fertilidade da terra (OLIVEIRA, 2007, p.44). A renda responde conforme aos diferentes tipos de solos que contribuem positivamente, mas aliados a outros fatores que ajam conjuntamente como suporte relacionado à dinâmica espacial, a exemplo da localização, distribuição, etc.

Essas influências sobre a fertilidade diferencial de diversas terras são tais que, do ponto de vista da fertilidade econômica, o grau da força produtiva do trabalho, que é aqui a capacidade da agricultura de tornar imediatamente explorável a fertilidade natural do solo – capacidade que se apresenta de modo diferente nas diversas fases de desenvolvimento -, é um fator da assim chamada fertilidade natural do solo tanto quanto sua composição química e suas outras qualidades naturais. (MARX, 2017, p. 716).

Na agricultura, o fator fertilidade do solo apresenta como uma característica fundamental, pois esta influencia diretamente na produção, de tal modo que os solos com fertilidade natural presenteiam o arrendatário porque isenta de investimentos adicionais. Essas terras foram rapidamente monopolizadas pela classe que espertamente controla os melhores solos em determinadas regiões brasileiras, como é o caso das terras férteis, do ponto de vista agrícola, localizadas nos estados de São Paulo e no Paraná.

Esses solos, devido à fertilidade natural, também apresentam altos índices de produção por hectare comparados aos solos arenosos. De modo geral, esse solo oferece um rendimento significativo quando se referre à renda diferencial I, por isso, é preciso que este solo esteja produzindo.

Todavia, os solos menos férteis recebem investimentos de capitais com o objetivo de melhorar a fertilidade e aumentar a capacidade produtiva. Assim, a renda diferencial II decorre dos investimentos de capitais que são alocados em conformidade com a demanda de produtos alimentícios e matérias-primas.

Martins (1990) diz que o trabalho produz o salário e a terra produz a renda. No modo de produção capitalista, onde o monopólio da propriedade da terra se impõe, controlada por uma pequena fração de uma classe social, a terra é utilizada como instrumento para reproduzir o seu capital.

A renda fundiária é a somatória da renda diferencial I mais a renda diferencial II e a renda absoluta. Essa combinação de somatórias organiza o processo que permite a exploração

agrícola da terra, onde os capitalistas e proprietários de terras se juntam para apropriar da renda da terra.

A localização da terra é um fator primordial, mas há outras condições que embasam o meio de produção, como o uso da tecnologia agrícola, o sistema de transportes, e os diversos meios de comunicação, tudo para favorecer as operações e transações comerciais entre capitalistas (produtores) e consumidores. Então, a renda da terra diferencial I e a fertilidade natural estão sujeitos a fatores relacionados à localização. Diante dessa problemática:

Outra questão que deve ser colocada neste momento, é que as duas causas da renda da terra diferencial I, fertilidade natural dos solos e localização das terras, podem atuar em sentidos opostos. Ou seja, terreno ―mais‖ fértil pode estar ―pior‖ localizado e o terreno ―menos‖ fértil pode estar ―melhor‖ localizado. Esta composição pode, então, contribuir para uma anulação de causa pela outra ou mesmo um rebaixamento geral da renda diferencial I. (OLIVEIRA, 2007, p. 51).

A terra subjugada pelo capital se torna uma mercadoria quando submetida à exploração da força do trabalho assalariado. O monopólio da propriedade reservado a uma pequena parcela da sociedade controla os meios de produção. A renda capitalista da terra vem carregada de contradições e exige pagamento de um tributo social, quando o conjunto da sociedade paga para a classe dos proprietários de terra, pelo simples fato de deter o monopólio da terra.

A expansão da agricultura nas regiões novas do ponto de vista da ocupação está relacionada aos grupos de capitalistas que veem na terra um negócio excelente para auferir renda. O Brasil se vê numa posição privilegiada, quando se trata da produção de commodities agrícolas, o que levou o país a firmar parcerias comerciais com diversos países do mundo.

O que isso quer dizer é que a agricultura brasileira é pensada por grupos capitalistas, que monopolizam a propriedade da terra. A compra de novas áreas de terras e a opção por arrendamento, principalmente nas regiões de fronteira agrícola do Centro-Oeste e do MATOPIBA é a luta dos proprietários e empresas que buscam a qualquer custo a exploração agrícola, de modo que a questão não é a terra, mas, sim a renda.

A agricultura capitalista na fronteira agrícola do MATOPIBA se insere na lógica da obsessão pela acumulação de capital. Vale ressaltar que o mercado global tem o Brasil como o maior fornecedor de matérias-primas e produtos das cadeias produtivas carnes (bovinos, suínos e aves) grãos e frutas, dentre outros. Diante desse problema, a inserção das terras do Cerrado nessa conjuntura política e econômica demonstram nova dinâmica do desenvolvimento agrícola e da ocupação expansionista, carregada de conflitos e da expropriação das massas trabalhadoras.

Com a subjugação da terra pelo capital, a relação trabalho e renda se modifica, uma vez que o trabalho excedente, que cria valor ou riqueza, é entregue ao dono do capital e não para o proprietário de terra, desse modo, é o capital que faz a mediação da renda da terra (MARTINS, 1990).

A pressão exercida pelos capitalistas e proprietários de terra impulsiona um processo de desarticulação das estruturas da produção camponesa e familiar, por impor ações coercitivas, como a expulsão dos camponeses no campo, gerando, por consequência, o aumentando o número de trabalhadores desempregados, transformados em proletariados rurais, os quais vão ampliar o exército de reserva nas pequenas, médias e grandes cidades brasileiras.

Nesse sentido, o avanço do capitalismo e a sua relação com a agricultura organizou uma ação integrada, com o surgimento de classes detentoras dos meios de produção e os proprietários fundiários. A esse respeito, Kautsky (1998) analisa a dominação do capital sobre a agricultura, referindo-se às formas de utilização do solo e às novas relações que priorizam as grandes propriedades, pois os avanços da modernização permitem dominar a agricultura e submeter os camponeses à extrema exploração.

Os proprietários de terra, portanto, são os principais detentores da produção agrícola e da renda que a terra pode gerar, visto que a terra, por si só, não gera renda, a terra não produz mais terra, o que gera riqueza na sociedade capitalista é o trabalho. Segundo Martins:

Nesse sentido, a riqueza aparece como sendo exatamente o contrário do que ela é: só o trabalho produz valor, produz riqueza, e o trabalho pertence originalmente ao trabalhador; no entanto, a riqueza, o capital, aparece não como produto do trabalho, mas como produto do próprio capital. Um ponto, portanto, essencial para o entendimento do que é uma relação de exploração baseada numa ilusão – a ilusão de que não há exploração alguma. Exatamente por isso é que os trabalhadores são livres no capitalismo: - eles não precisam do chicote do senhor de escravo para se submeterem, para entregarem o seu trabalho ao patrão; para eles basta a ilusão de que a troca de salário por força de trabalho é uma troca de equivalentes, entre iguais, por isso justa e legitima. (MARTINS, 1990, p. 156).

Portanto, conforme o autor, não há relação de igualdade, mas, sim, alienação e subordinação, uma vez que a exploração se reveste de ilusão – de maneira que o trabalhador assalariado não percebe a condição de submissão ao capitalista. O trabalho é de quem produz riqueza, mas essa riqueza não é do trabalhador. Cabe a ele o minguado salário, enquanto o capitalista usufrui da riqueza ao vender as mercadorias criadas pelo trabalho do trabalhador. Para produzir na terra, é necessário pagar pela sua utilização, ou seja, parte do capital investido pelo capitalista o transformará em renda, como destaca Martins (1990, p.161):

Apesar da terra não ser capital. [...] Quando o capitalista paga pela utilização da terra, está na verdade, convertendo uma parte do seu capital em renda; está imobilizando improdutivamente essa parte do capital, unicamente porque essa é o preço para remover o obstáculo que a propriedade fundiária representa ao capitalismo, a reprodução do capital na agricultura. Como o capital tudo transforma em mercadoria, também a terra passa por essa transformação, adquire preço, pode ser comprada e vendida, pode ser alugada. A licença para exploração capitalista da terra depende, pois, de um pagamento ao seu proprietário. Esse pagamento é a renda da terra. É muito frequente que a renda fundiária seja confundida com o aluguel. O aluguel apenas expressa, em certas circunstancias, a existência da renda territorial; é manifestação exterior; é sinal da renda territorial; é manifestação exterior; é sinal da renda, mas não é a própria renda. Contudo, mesmo onde a terra não é alugada, onde os proprietários não se distinguem de outras classes, a renda fundiária existente. [..]. Além de o capital dominar todos os setores da produção, a começar pela propriedade fundiária, que se torna mercadoria, no modo capitalista, há também outros instrumentos, como maquinários, implementos, fertilizantes, etc., bem como a compra de mão de obra, ou seja, a contratação de trabalhadores.

Dessa maneira, são desenvolvidos mecanismos das tramas que coordenam a terra e toda a cadeira de produção com o objetivo de apropriação da renda a partir das relações capitalistas de produção. O trabalhador não pode pagar a renda da terra com parte do seu salário, pois, se o fizer, o salário será insuficiente para manter a sua sobrevivência, (MARTINS 1990, p. 164). De modo que a renda não sendo paga por ninguém, em particular, é paga pelo conjunto de toda sociedade. (MARX, 2017).

A apropriação e o uso da terra estão vinculados ao grau de investimento adicionado para auferir lucro, portanto, o lucro extraordinário é a fração apropriada pelo capitalista acima do lucro médio. A terra, apesar de ser um bem natural, mas no modo de produção capitalista, no que tange a sua apropriação e seu uso, torna-se mercadoria, portanto, a terra produz mercadoria na concepção intrínseca das relações sociais e capitalistas. Desse modo, a terra se torna um bem valioso, cobiçado e disputado por todos que precisam dela para o trabalho.

No Brasil, a expropriação da terra iniciou-se nas terras do Centro-Sul, as consideradas terras roxas, como é o caso do estado de São Paulo, com as extensas lavouras de café, nas décadas de 1950/60/70.

Os solos pobres já não seriam mais obstáculo para a geração do lucro, desde que o produto a ser produzido tenha demanda no mercado. Assim, os investimentos realizados para fazer a correção e a melhoria do solo são compensados em função dos preços. Mesmo as terras pobres se tornam atraentes, diante da demanda e dos preços dos produtos. Desse modo, as relações de produção passam ser regidas pela lei da procura e da oferta.

A exploração agrícola da terra se torna um negócio rentável economicamente, conforme a lógica dos proprietários, ou seja, como estão interessados na acumulação do

capital, querem apropriar ilegalmente dos estabelecimentos porque os posseiros não pagam a renda da terra (MARTINS, 1990), nem produzem o suficiente para o mercado, por isso os camponeses são pressionados a deixar suas posses, que são vítimas de grilagem para dar lugar à produção da agricultura capitalista.

Os grupos capitalistas brasileiros e estrangeiros têm interessado pela compra de propriedades ou arrendamento de acordo com a fertilidade natural dos solos, fator importante porque eleva a produção com menos custos na correção química. Aliada à fertilidade do solo, deve-se levar em consideração outras características, como os recursos hídricos, topografia plana e localização, ou seja, solos que reúnem todas as condições adequadas para desenvolver agricultura na lógica rentista do uso da terra.

A nova fronteira agrícola do Brasil, especificamente as áreas de Cerrado, foi conectado à lógica do capitalismo mundial, com todas as mazelas inerentes ao agronegócio. Para tal empreitada, foi necessário o uso da ocupação violenta, causada por migrantes de outras regiões e por estrangeiros, cuja ocupação se deu com a expropriação da terra e na desterritorialização dos camponeses, indígenas e quilombolas, os quais sofrem as consequências e são expulsos da terra por empresas e por fazendeiros ligados ao agronegócio. As tensões e a violência por terra se intensificam em função da concentração da propriedade privada da terra. A terra passa ser uma mercadoria porque está inserida na lógica para produzir renda, capaz de produzir e reproduzir o capital investido na compra, no arrendamento ou especulação. Ao considerar que a terra está vinculada à reprodução e acumulação do capital, Marx (2017, p. 675) afirma que:

―[...] Assim como o modo de produção capitalista em geral baseia-se na expropriação dos trabalhadores das condições de trabalho, na agricultura ele se baseia na expropriação dos trabalhadores rurais da terra e sua subordinação a um capitalista, que explora a agricultura visando o lucro.‖

A renda fundiária é a parcela do trabalho não pago, a mais-valia, ou seja, a parcela apropriada pelos proprietários de terra. O caráter social da renda fundiária não é levada em consideração na exploração submetida ao modo de produção capitalista, de tal modo que a acumulação primitiva está vinculada ao processo de expropriação das terras camponesas.

Assim, a agricultura passa a ter função importante na reprodução e acumulação do capital por ter as suas atividades integradas ao setor industrial. Essa dependência traduz numa articulação que permite aos capitalistas e proprietários de terra se tornem os detentores dos meios de produção, e essa é a condição indispensável para a reprodução e acumulação da riqueza, oriunda da expropriação da mais valia da classe trabalhadora.

Assim, a terra é compreendida dentro de uma condição útil para aqueles que detêm os meios necessários para fazê-la produzir, como o investimento de capitais nas atividades agrícolas, o pagamento do arrendamento da terra para extrair o seu produto. Dessa forma, a preocupação apresentada em relação ao aumento da população e a necessidade de aumentar a produção de alimentos corroboram com o discurso de que é preciso aumentar também as áreas de terras para responder satisfatoriamente às necessidades do campo e das cidades.

É essa a condição que se justifica para a expansão da produção do setor agrícola no Brasil, mas há uma ocultação das contradições e da violência, que se expande a partir desse modelo predatório, cujo objetivo é aumentar os lucros, desrespeitando a capacidade dos biomas e do modus vivendi dos povos do campo.

Dentre os diversos pressupostos, a localização da terra é outro critério contribui para melhor aproveitamento econômico, uma vez que a distância interfere na distribuição da mercadoria, que direcionada às indústrias de processamento. As regiões que apresentam terras com potencial de fertilidade natural são destinadas à agricultura.

[...] ―Apesar da qualidade objetiva do solo, implica sempre, do ponto de vista econômico, uma relação com o grau de desenvolvimento químico e mecânico alcançado pela agricultura e, por conseguinte, modifica-se com esse grau de desenvolvimento.‖ (MARX, 2017, p. 715).

A baixa fertilidade natural de determinados solos é compensada pelo uso de mecanismos tecnológicos (químico e mecânico). A correção dos solos e uso desses instrumentos técnicos corrigem a baixa fertilidade dos solos, o que implica custos econômicos, fazendo com que a produção dos solos mais pobres define o preço médio no mercado.

A propriedade da terra, nos países emergentes, a exemplo do Brasil, se coloca numa lógica exploratória, decorrente da disponibilidade das terras e com preços acessíveis de preços baixos no mercado. Dessa forma, a ação global do capitalismo mundializado vem se apoderando das terras porque se vê na agricultura um instrumento viável para a acumulação e reprodução do capital.

Como já dito, os meios tecnológicos deram melhor capacidade de explorar os diferentes tipos de solos, até mesmo os de baixos níveis de fertilidade natural. Além da correção do solo e adubação, que são ações transitórias, há também a infraestrutura permanente, como os canais de drenagem, obras de irrigação e a construção de prédio administrativos. Tudo isso são meios de o capital se incorporar à terra e ao meio de produção (Marx 2017, p. 679). Tais investimentos incorporados na terra representam melhores

condições de geração de lucro, tal como afirma Marx, ao perceber que o capital transforma a terra de mera matéria em terra capital.

A propriedade, ao receber as melhorias estruturais, visa responder obrigatoriamente ao aumento dos rendimentos da produção, mas tais investimentos correspondem significativamente mais valor na propriedade e mais vantagens para o proprietário do que para o arrendatário. Os investimentos realizados para a melhoria do solo, sistema de irrigação, construções, etc., ou seja, tudo isto, transforma a propriedade fundiária mais valorizada em longo prazo, com as melhorias realizadas.

Destacamos que a propriedade, para ser viável do ponto de vista econômico na concepção da agricultura empresarial, requer grandes investimentos e destinação de recursos para garantir os ganhos de produção e, assim, auferir a renda da terra. Para tanto, é necessário que sejam incorporados os novos instrumentos tecnológicos que dão aos produtores proprietários e arrendatários meios necessários para viabilizar a produção. Estabelece-se, assim, um estreito vínculo entre melhorias e o valor do uso da terra.

À medida que as condições da sociedade melhoram, também aumenta-se a demanda da população por alimentos, vestuários e também moradia, desse modo, a tendência é que o modo capitalista consegue a elevação dos ganhos econômicos, o aumento da riqueza real do proprietário da terra e o poder de comprar trabalho, ou produção do trabalho de outras pessoas (SMITH, 1988).

Os intercâmbios entre países, o aprofundamento das relações comerciais e a divisão do trabalho trouxeram para as décadas recentes o aumento do consumo, que, por sua vez, altera o preço da terra em virtude dos arrendamentos, isto porque os arrendatários veem nesse negócio a possibilidade de auferir renda.

Dessa forma, o esforço para a expansão do agronegócio está integrado num projeto pensado pelo Estado e executado pelos grandes proprietários e arrendatários, que assumiram a condição de transformar a fronteira agrícola brasileira da região do MATOPIBA num grande centro produtor de grãos. À medida que aumenta a procura pela compra da terra, também aumenta a concentração da propriedade privada da terra, bem como o estímulo aos arrendamentos, o que resulta na desarticulação da agricultura camponesa e familiar.

O modelo de agricultura brasileiro é pensado por aqueles que detêm o poder da monopolização da terra (os donos da terra). Os proprietários e os capitalistas utilizam-se da astúcia para operar as suas estratégias e faturar economicamente com o negócio da terra. Resta aos camponeses os efeitos perversos dessa ocupação que resulta na geração de conflitos.

A miséria e a violência no campo e na cidade é resultado de como a propriedade está organizada. Essa foi a opção das classes dominantes pela manutenção do grande latifúndio, fundamentado na expropriação da terra e do trabalhador.

Apesar de fazer o discurso da modernização do desenvolvimento no campo, o modo capitalista traz, na sua essência, a imposição coercitiva e perversa do modelo que opera na desagregação do campesinato. Estas questões reforçam a necessidade de refletir sobre a questão agrária e os desdobramentos dos conflitos agrários.