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A titularidade do autor de criação derivada de obra protegida

No documento A titularidade sobre os bens imateriais (páginas 53-56)

2 A TITULARIDADE SOBRE BENS PROTEGIDOS POR DIREITOS AUTORAIS

2.1 O S DIREITOS AUTORAIS : OS DIREITOS DE AUTOR

2.1.4 A titularidade de direitos sobre a obra derivada

2.1.4.3 A titularidade do autor de criação derivada de obra protegida

No caso de a obra originária estar protegida, qualquer modificação desta obra por terceiros dependerá de autorização. É o titular dos direitos patrimoniais de autor da obra quem tem o direito exclusivo de autorizar o seu uso em quaisquer transformações, tais como: adaptação, arranjo musical e quaisquer outras transformações209; tradução para qualquer

idioma210; inclusão em fonograma ou produção audiovisual; inclusão em base de dados,

armazenamento em computador, microfilmagem e demais formas de arquivamento do gênero211.

Ao autor da obra originária reservam-se seus direitos morais, tais como: o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer modificações ou à prática de atos que, de qualquer modo, possam prejudicá-lo ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra, e o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada212.

A transformação de uma obra, como, por exemplo, a tradução, para uso pessoal e restrito (não econômico) não é vedada pela ordem jurídica. Considera-se que ninguém pode proibir certa pessoa, que, exemplificativamente, tendo adquiriu o exemplar de um livro, o traduza para seu uso estritamente pessoal213. Como coloca Miranda, “a ninguém é vedado

traduzir; o que se veda é reproduzir-se o traduzido”.214

207 Art. 14, segunda parte, Lei nº 9.610/1998. 208 Ver VILLALBA, LIPSZYC, 2001, p. 53-54. 209 Art. 12, Convenção de Berna.

210 Art. 8 e art. 11ter (2), Convenção de Berna.

211 Art. 29, III, IV, V e IX Lei nº 9.610/1998. Ver ainda art. 87, II, Lei nº 9.279/1998. 212 Art. 24, IV e V, Lei nº 9.610/1998.

213 MIRANDA, 1983, t, 16, p. 103-104. Não constitui ofensa aos direitos autorais conforme o art. 46 e 47, da Lei

nº 9.610/1998.

Contudo, quando a obra derivada for objeto de reprodução ou outra modalidade de uso, a sua transformação depende de autorização215. Nesse sentido, o surgimento dos direitos de autor sobre a obra derivada depende da autorização do autor da obra originária216. O uso da

obra por qualquer modalidade, tais como a tradução, adaptação, arranjo musical ou qualquer outra transformação, depende da autorização prévia e expressa do autor ou do titular de direitos sobre ela217.

Assim, com a realização da criação derivada (por exemplo, de uma tradução), devidamente autorizada, haverá duas proteções distintas, uma relativa à obra originária (livro original) e outra sobre a obra derivada (livro traduzido)218. Os direitos sobre ambas as obras

coexistem, sem que se caracterize co-autoria por parte dos autores das distintas criações219. O autor da criação derivada e o autor da obra originária não são co-autores, salvo no caso de a obra derivada ser feita com a efetiva colaboração de ambos os autores220.

O autor da obra derivada investe-se de todos os direitos sobre ela221, entretanto, com

as ressalvas previstas nos termos e condições pactuados na autorização de transformação da obra originária por seu titular222. Assinala-se que podem ser estabelecidas condições quanto à

exploração da obra derivada, tais como limites territoriais, temporais e de modos de exploração, assim como condições de ordem artística, filosófica, cientifica ou moral223. Por

exemplo, o autor de obra teatral que autoriza a sua tradução ou adaptação pode fixar um prazo

215 Do contrário, a obra derivada não nasce como obra protegida (VILLALBA, LIPSZYC, 2001, p. 53).

216 De acordo com o caso, a transformação não autorizada por constituir em ofensa ou violação dos direitos de

autor. Ver Art. 184, do Código Penal, Decreto-Lei nº 2.848/1940 (BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Institui o Código Penal. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/> Acesso em: 10 nov. 2007).

217 Art. 29, caput, Lei nº 9.610/1998.

218 Institui-se um regime de proteção de direitos de autor da obra derivada, sem prejuízo dos direitos de autor da

obra original. Ver art. 87, Lei nº 9.279/1998.

219 Ver POLLAUD-DULIAN, 2005, p. 261 e ss.

220 Importa assinalar, como exemplo, que mera revisão da obra traduzida pelo autor da obra originária não o

torna co-autor da tradução. Comentários sobre a obra derivada em ASCENÇÃO, 1997, p. 84-85; VILLALBA, LIPSZYC, 2001, p. 53.

221 O titular de direitos de obra derivada tem m direito equivalente ao do titular da obra originária. Vale anotar

que na legislação argentina, ainda que o autor da obra originária não seja qualificado como co-autor da obra derivada, ele possui um “direito de co-autor”. Assim, para a utilização da obra derivada se requerem a autorização de ambos os autores (da obra originária e da derivada) (VILLALBA, LIPSZYC, 2001, p. 54).

222 POLLAUD-DULIAN, 2005, p. 275-276.

223 Ver VILLALBA, LIPSZYC, 2001, p. 54-55; MIRANDA, 1983, t. 16, p. 103; POLLAUD-DULIAN, 2005, p.

para utilização da obra em representações públicas224. Cumpre recordar os termos acordados

na autorização de uso interpretam-se restritivamente225.

2.1.4.4 A titularidade do cessionário

Conforme anteriormente analisado, é possível a cessão total ou parcial dos direitos patrimoniais de autor, operando-se a transferência de titularidade ao cessionário226 .

A cessão realiza-se por instrumento escrito227, contendo essencialmente o objeto de cessão228 e

as condições quanto a tempo, lugar e preço229.

Particularmente no tocante ao objeto de cessão, ao cessionário importa observar se a obra derivada foi autorizada pelo titular da obra originária e em que condições. Com a cessão, o cessionário passa a ter direitos e obrigações em relação à obra e, no caso de obra derivada, o cessionário fica também sujeito aos termos e condições estabelecidos na autorização. Por exemplo, no caso de contrato de edição230, o editor deverá observar os termos da autorização

que inclusive pode dispor sobre a edição da obra231.

Além disso, ao publicar a obra, o editor deverá observar as disposições legais no tocante às obras derivadas, como, por exemplo, mencionar em cada exemplar o título da obra, inclusive o título original, o nome do autor (da obra originária) e, no caso de tradução, o nome do tradutor232.

224 Art. 74, Lei nº 9.610/1998 “Após o decurso do prazo a que se refere este artigo, não poderá opor-se o tradutor

ou adaptador à utilização de outra tradução ou adaptação autorizada, salvo se for cópia da sua” (Art. 74, p.u., Lei nº 9.610/1998).

225 Art. 4º, Lei nº 9.610/1998.

226 Art. 49, Lei nº 9.610/1998. “A transmissão total compreende todos os direitos de autor, salvo os de natureza

moral e os expressamente excluídos por lei” (Art. 49, I, desta lei).

227 A lei determina que no caso de não haver estipulação contratual escrita, o prazo máximo será de cinco anos.

Entende-se que este disposto é aplicável à licença e à consecução de direitos de autor (ver art. 49, III, Lei nº 9.610/1998). Quanto à cessão total e definitiva dos direitos, esta somente se admitirá por estipulação contratual escrita (Art. 49, II, Lei nº 9.610/1998).

228 Sobre a alienação do título ou nome da obra, MIRANDA considera que “os títulos de jornais ou outros

periódicos somente podem ser alienados como a empresa e a marca de indústria e de comércio, com a própria empresa ou gênero de indústria ou de comércio”. (MIRANDA, 1983, t. 16, p. 18).

229 Art. 51, da Lei nº 9.610/1998.

230 Ver Art. 5, X, e art. 53 a 67, da Lei nº 9.610/1998.

231 Art. 29, II, da Lei nº 9.610/1998. As relações jurídicas entre o tradutor e o editor podem ser as da total cessão

dos direitos patrimoniais de autor ou de autorização de edição em condições exclusivas (contrato de edição) ou não, com maiores ou menores restrições no tocante aos aspectos quantitativos, qualitativos, temporais e espaciais. Ver sobre o tema MIRANDA, 1983, t. 16, p. 107.

Na ausência de autorização prévia e expressa para a realização da obra derivada, o editor responde solidariamente233 com o autor da obra derivada por eventual ofensa ou danos

aos direitos autorais do autor da obra originária. No Brasil, nesse sentido se manifestou o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, em 2007, em um caso em que se constatou a utilização e alteração das obras fotográficas, para ilustrar um livro destinado à comercialização, sem a devida autorização do autor das fotos234.

No documento A titularidade sobre os bens imateriais (páginas 53-56)