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A titularidade do sucessor societário

No documento A titularidade sobre os bens imateriais (páginas 157-159)

4 A TITULARIDADE DE DIREITOS SOBRE AS MARCAS

4.1 O DIREITO DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL DE MARCA REGISTRADA

4.1.3 A titularidade de direitos sobre marca de produto ou de serviço

4.1.3.5 A titularidade do sucessor societário

A transformação, a incorporação e a fusão das sociedades são distintos atos que ensejam mudanças quanto à constituição da empresa e, conforme o caso, pode ensejar a transferência da titularidade da marca.

Em termos gerais, o ato de transformação refere-se à mudança do tipo de sociedade para outro distinto, independentemente se por dissolução ou liquidação da sociedade. Este ato obedece aos preceitos reguladores da constituição e inscrição próprios do tipo societário em que vai converter-se. Depende do consentimento de todos os sócios o ato de transformação da sociedade, salvo se previsto no ato constitutivo758.

756 O contrato de licença de uso da marca deverá ser averbado no INPI para que, a partir da data de publicação,

produza efeitos em relação a terceiros. Ademais, a averbação é fundamental para justificar o pagamento da retribuição referente ao uso da marca licenciada, assim como, em um segundo momento, para prova de uso. Para os efeitos de prova de uso o contrato não precisa estar averbado no INPI (artigo 140, LPI). A Lei 9.279/96 manteve a averbação em seu efeito de oponibilidade contra terceiros, mas eliminou o requisito de que seja feita a averbação para efeitos de prova de uso. Ver: Art. 147, do Decreto-Lei nº 7.903/1945; BARBOSA, 1999.

757 “Ementa: Ato de concentração. Aquisição de direitos sobre o uso de marcas. Submissão ao CADE.

Obrigatoriedade. Os contratos de aquisição de direitos sobre o uso de marcas celebrados entre empresas concorrentes estão sujeitos à aprovação do CADE” (CADE. Ato de Concentração nº 08012.000409/00-36, de 23.8.2000. Requerentes: Novartis Consumer Health Ltda. e Argos Colibri Artigos Infantis Ltda. DOU de 19.11.2000, Seção 1, p. 2. Disponível em <http://www.cade.gov.br> Acesso: 10 fev. 2008). “Ementa: Autos de Concentração Econômica. Contrato de Licenciamento. Artigo 54, § 3° da Lei nº 8.884/94 - faturamento. Mercado Relevante: óleos refinados em geral e maionese em geral. Dimensão Geográfica: nacional. Tempestividade. Aplicação do art. 50 da Lei nº 9.784/99 - convergência dos pareceres da SEAE/MF, SDE/MJ, ProCADE e MPF. Aprovação sem restrições. VOTO Conforme descrito no relatório, o presente feito, submetido à apreciação do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), trata da celebração de “Contrato de Licença de Marca” entre a Unilever Bestfoods Brasil Ltda (‘Unilever’) e a Cargill Agrícola S/A (‘Cargill’) , através do qual o Grupo Unilever licenciou à Cargill o uso das marcas Gourmet de maionese e óleos comestíveis (com exceção de azeites/óleos de oliva), Goumet Light de maionese e Gourmet Special Line de óleos comestíveis (com exceção de azeites/óleo de oliva). Houve faturamento, no Brasil e no mundo, superior a R$ 400 milhões”. (CADE. Processo nº 08012.004942/2004-71. Requerentes: Unilever Bestfoods Brasil Ltda e a Cargill Agrícola S/A. Relator: Conselheiro Luiz Alberto Esteves Scaloppe. Julgado em 14.7.2005. Disponível em <http://www.cade.gov.br> Acesso: 10 fev. 2008).

Quanto à incorporação, ela ocorre quando uma ou várias sociedades são absorvidas por outra, a qual lhes sucede em todos os direitos e obrigações, contudo, para isso devem todas aprová-la, na forma estabelecida para os respectivos tipos de sociedade759.

A fusão ocorre quando as sociedades se unem, para formar sociedade nova, que a elas sucederá nos direitos e obrigações. A fusão determina a extinção das sociedades que se unem. A decisão quanto à fusão será decidida pelas sociedades que pretendam unir-se, na forma estabelecida pelos respectivos tipos societários760.

Quanto à transformação da sociedade, não se trata de transferência da titularidade da marca, tendo em vista que a empresa não se extingue, ela apenas se converte em um novo tipo societário. Contudo, no tocante à incorporação ou fusão há sucessão de direitos e obrigações, caso em que é necessária a transferência de titularidade da marca para que se assegurem os direitos às sociedades. A opção pela realização de um novo registro de marca, com ou sem cancelamento do registro anterior, não seria uma modo adequada para se operar à transferência de titularidade da marca, ainda que na prática seja possível observar casos nesse sentido761. Assim, aplicam-se aqui as mesmas regras da transferência de marcas por cessão,

inclusive no que se refere à apreciação do órgão de defesa da concorrência762.

Cumpre observar que nos termos das Diretrizes Provisórias de Análise de Marcas do INPI, determina-se que nessas situações, deve ser apresentado o documento que comprova a incorporação ou fusão, devidamente arquivado no Órgão competente. Ademais, a empresa incorporadora deve promover a transferência para todos os processos da empresa incorporada ou fundida, do contrário serão solicitados esclarecimentos quanto ao modo de transferência ou

759 Art. 1.116, do Código Civil de 2002. 760 Art. 1.119 e 1.120, do Código Civil de 2002.

761 “Ementa: direito comercial. Propriedade industrial. Registro simultâneo de marca em classes afins. Sucessão

do fundo de empresa. Ausência de averbação da transferência de titularidade. É ilícito que o Instituto Nacional de Propriedade Industrial, mediante revisão administrativa e visando à correção de registro simultâneo em nome de titulares distintos, cancele a titularidade deferida erroneamente por desconsiderar a colidência com registros anteriores da mesma marca em classes afins. A incorporação do fundo de empresa da titular originária transfere à sucessora também a titularidade da marca, haja vista estar inclusa naquela universidade jurídica, afigurando-se inócua a invocação da ausência da averbação da transferência [...]”. (BRASIL. Tribunal Regional Federal da Segunda Região. Apelação Cível nº 96.02.37369-5. Apelante: Seara Indústria e Comércio de Produtos Agropecuários Ltda; Apelados: Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI e BUNGE Alimentos S.A. Sexta Turma. Relator: Sr. André Fontes. Rio de Janeiro, 12.4.2004. Publicação: DJ-2, 26.05.2004, p. 210. Disponível em: <http://www.trt2.gov.br>. Acesso em: 15 jan. 2008).

762 Caso brasileiro da aquisição da Kolynos pela Colgate, em que o aspecto central foi da acumulação das duas

marcas, centrais no mercado relevante, opta-se pela suspensão voluntária do uso da marca “KOLYNOS” e suas extensões (CADE, Ato de Concentração nº 27/1995. Requerente: K & S Aquisições Ltda; Kolynos do Brasil Ltda, Relator: Conselheira Lucia Helena Salgado e Silva. Disponível em <http://www.cade.gov.br> Acesso: 10 fev. 2008). Comentários sobre o caso por BARBOSA, 2005.

para que o titular realize as providências cabíveis junto ao INPI, sob pena de arquivamento do pedido de anotação763.

No caso de cisão de sociedade, em que se cria uma segunda empresa, esta para passar a ser titular de direitos sobre a marca registrada devendo solicitar a anotação da transferência, do mesmo modo que no caso cessão da marca, porém deve apresentar a documentação que lhe é pertinente. Se as marcas se mantiverem sob a titularidade da empresa cindida e essa modificar seu nome empresarial ou sede, ele deve requer apenas a alteração de nome e/ou sede junto ao INPI764.

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