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A transdisciplinaridade

No documento Consciência espiritual no ato docente (páginas 110-112)

CAPÍTULO 1. REVISÃO DO PERCURSO

1.4 A TRANSDISCIPLINARIDADE E OS OPERADORES COGNITIVOS

1.4.1 A transdisciplinaridade

Nas últimas décadas, houve uma quebra de paradigma45 oriunda da descoberta dos conhecimentos da Física Quântica. Estes conhecimentos trouxeram diversas transformações em todos os contextos da vida humana, principalmente, no contexto educacional, onde encontrou ressonância na pluralidade e na interdisciplinaridade. Diante disso, foi necessário “[...] enfatizar a tessitura social, cultural, ecológica e planetária comum a todos nós” (MORAES, 2010, p. 27).

Desse modo, surgiram novos entendimentos no campo da educação e uma abertura para a transdisciplinaridade. O prefixo ‘trans’ trata sobre aquilo que “[...] está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina” (NICOLESCU, 2008, p. 16). Onde seu objetivo consiste em compreender o mundo presente no qual um dos imperativos é a totalidade do conhecimento. Para tanto, são utilizados três pilares da transdisciplinaridade que determinam a metodologia da pesquisa transdisciplinar: “[...] os níveis de Realidade, a lógica do terceiro incluso e a complexidade” (NICOLESCU, 2008, p. 16).

Assim, esta quebra nos modelos e padrões nos oferece uma interconexão das diferenças que as áreas disciplinares poderão desenvolver-se em busca da unidade, um ‘saber partilhado’ que conduza a uma compreensão partilhada do mundo. Segundo Nicolescu (1994), talvez possam explicar fenômenos que ocorrem, proporcionando a Filosofia, a Religião, a Ciência, e a Arte, saltarem para a construção do saber de forma qualitativa, inovadora e criativa, e que acalente a intenção de promover uma quebra de paradigma, “[...] fundada sobre o respeito absoluto das alteridades unidas por uma vida comum numa única e mesma Terra46” (NICOLESCU, 1994, p. 3).

Nicolescu (2008) nos apresenta os conceitos e as definições sobre pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade: “[...] A pluridisciplinaridade diz respeito ao estudo de um objeto de uma mesma e única disciplina por várias disciplinas ao mesmo tempo” (p. 15). Com isso, a pesquisa pluridisciplinar traz um “plus, algo mais à disciplina em questão [...]” (p. 15). A abordagem pluridisciplinar deve ultrapassar as disciplinas, mas “[...] sua finalidade continua inscrita na estrutura da pesquisa

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Para Kuhn (2000), paradigma pode ser entendido como “[...] as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (p. 13). Paradigma é uma lógica geradora de novas teorias e implica numa noção nuclear, de conjunção e disjunção, “[...] um tipo de relação dominadora que determina o curso de todas as teorias e discursos controlados pelo paradigma em questão” (MORAES, 2008b, p. 43).

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disciplinar” (p. 15). Na interdisciplinaridade há uma “[...] transferência de métodos de uma disciplina para outra [...]” (NICOLESCU, 2008, p. 15).

A interdisciplinaridade, por sua vez, ultrapassa as disciplinas, “[...] mas sua finalidade também permanece inscrita na pesquisa disciplinar [...]” (p. 16). Já a transdisciplinaridade, que traz o prefixo ‘trans’, indica aquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a “[...] compreensão do mundo presente, para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento [...]” (p. 16). Assim, a transdisciplinaridade, se torna “[...] radicalmente distinta da pluri e da interdisciplinaridade, por sua finalidade” (NICOLESCU, 2008, p. 16).

Desse modo, a prática transdisciplinar acontece em qualquer área, seja da educação ou da vida. A transdisciplinaridade respeita as diferentes disciplinas, dando sentido ao que emerge “[...] a partir delas, entre elas através delas e além delas. Em termos físicos, não é onda nem partícula. São as duas coisas, assim como a luz” (TORRE, 2008, p. 13).

O “[...] projeto transdisciplinar é intra e interdisciplinar, [...]”, açambarca o que se constitui no domínio das ciências “[...] da cognição, da epistemologia, da história, da sociologia, da construção do conhecimento e da educação” (D’AMBROSIO, 2001, p. 15).

O entendimento do conceito transdisciplinar se estabelece por meio de um olhar “interativo e dialogado da realidade”, revela-se a partir de múltiplas formas e níveis, dependendo da compreensão e intencionalidade do observador. A prática transdisciplinar tem por conceitos nucleares a consciência e a ética (TORRE, 2008, p. 14).

Nicolescu (2008) nos revela que a transdisciplinaridade é uma “[...] transgressão generalizada que abre um espaço ilimitado de liberdade, de conhecimento, de tolerância e de amor” (p. 76). Esta atitude transgressora e transdisciplinar exige: rigor, abertura e tolerância. Nos torna capazes, tanto no plano individual, quanto social de manter uma “[...] orientação constante, imutável, qualquer que seja a complexidade de uma situação e dos acasos da vida” (NICOLESCU, 2008, p. 86).

Como afirmado no Artigo 7 da Carta da transdisciplinaridade (1994), “a transdisciplinaridade não constitui nem uma nova religião, nem uma nova filosofia, nem uma nova metafísica, nem uma ciência das ciências.” (p. 47). Em relação a este artigo, D’Ambrósio (2001) elucida que esta não é uma nova filosofia, nem uma nova metafísica, nem uma nova ciência das ciências, nem uma nova postura religiosa. Nem mesmo um modismo, mas “[...] repousa sobre uma atitude aberta de respeito mútuo e mesmo de humildade com relação a mitos, religiões e sistemas de explicações e conhecimentos [...]. A transdisciplinaridade é transcultural” (D’AMBROSIO, 2001, p. 47).

Com isso, a fundamentação teórica que serve de base à transdisciplinaridade repousa sobre o exame na íntegra do processo de geração, organização intelectual, organização social e difusão do conhecimento. Esse exame depende de uma crítica que emerge, inevitavelmente, da nossa tradição disciplinar, abarcando o que constitui o domínio das ciências da cognição, da epistemologia, da história, da sociologia, da transmissão do conhecimento e da educação (D’AMBRÓSIO, 2001).

Portanto, este olhar da transdisciplinaridade nos permite vislumbrar um outro olhar, encontrado na complexidade e no pensamento ecossistêmico, que implica em uma epistemologia sistêmica e não apenas em uma teoria. Assim, a complexidade permite a integração entre os diferentes níveis de realidade, a lógica do terceiro incluído e a ontologia complexa entra como pano de fundo ontológico, cujas explicações nos ajudam a organizar os aspectos epistemológicos e metodológicos da pesquisa. Moraes (2012) nos alerta, que a transdisciplinaridade vai “[...] além dos aspectos cognitivos baseados no desenvolvimento de competências e habilidades” e envolve também “[...] o mundo emocional, intuitivo e espiritual do sujeito” (p. 75). Só assim o processo educacional pode “[...] ecoar na subjetividade dos educandos e promover a evolução de suas consciências” (MORAES, 2012, p. 76).

No documento Consciência espiritual no ato docente (páginas 110-112)