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Sistemas complexos

No documento Consciência espiritual no ato docente (páginas 73-82)

CAPÍTULO 1. REVISÃO DO PERCURSO

1.2 PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA

1.2.1 Sistemas complexos

Foi-nos revelada pela teoria quântica a existência de uma unidade básica no universo. Nesta unidade básica não podemos fragmentar, nem decompor o mundo em várias unidades menores como se fossem dotadas de existência e conhecimentos independentes. Na medida em que se penetra a matéria, seja do universo macro ao micro, a natureza nos apresenta uma complexa tessitura de relações entre estruturas diversas e que fazem parte do todo.

[...] não existe uma célula sozinha. Ela é parte de um tecido, que é parte de um órgão, que parte de um organismo, que é parte de um nicho ecológico, que é parte de um ecossistema, que é parte do planeta Terra, que é parte do sistema solar, que parte da galáxia, que é parte do cosmos, que é uma das expressões do Mistério de Deus. Tudo tem a ver com tudo. A complexidade procura respeitar essa totalidade orgânica, feita de relações em rede e de processos de integração (BOFF, 2002, p. 50-51).

Com isso, a complexidade nos traz um cenário, que nos permite compreender uma ruptura entre paradigmas tradicionais. Para dar início, o físico alemão Max Planck25, deu origem à Mecânica Quântica. Com esta descoberta, os problemas pertinentes à essência da matéria, às ciências filosóficas e naturais, além dos problemas de natureza epistemológica, foram revistos. Com a existência das entidades e determinações complexas, foi necessária a compreensão e a percepção de outros níveis de realidade opostos ao método mecanicista reducionista (CAPRA, 1983; MORAES, 1997).

Capra (1983) nos alerta que essas relações conectivas fazem parte do todo e devem incluir o observador como sendo parte essencial do processo. Tendo em conta que, o observador constitui o elo final na cadeia dos processos de observação, com isso, promovendo uma constante interação do objeto com o observador. Segundo o autor, “[...] Não há mais a partição cartesiana entre o eu e o mundo, entre o observador e o observado [...]” (p. 49). Não é possível compreendermos e investigarmos a natureza se não buscamos a compreensão de nós mesmos e de todo o ambiente que nos cerca (CAPRA, 1983).

Vale trazer alguns princípios e conceitos que deram suporte para a ciência que nos orienta hoje. No Princípio da Complementaridade26, a natureza da matéria e da energia se mostram diferentes, mas, seus aspectos ondulatórios e corpusculares não são contraditórios entre si, pelo contrário, são opostos complementares. Assim, Niels Bohr, atesta a ambiguidade e a natureza complementar que existe entre a matéria e a energia, eliminando a idéia de dualidade existente no paradigma tradicional (CAPRA, 1983).

Desse modo, “[...] as unidades subatômicas podem aparecer tanto como onda – fluídica, invisível, micro – ou como partícula – matéria, massa, macro” (HOLANDA; RAMOS, 2013, p. 5). Além disso, “[...] ambas consistem na capacidade como entes físicos subatômicos de se comportarem tanto como uma – onda – quanto a outra – partícula – em

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Considerado o pai da física quântica, introduziu o conceito de átomo de energia ou quantum, ou quanta de luz que são pacotes de energia definida, partículas genuínas, hoje chamados de fótons.

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Princípio fundamentado por Niels Bohr em 1928, que assegura a relação entre partícula (tese) e onda (antítese), que embora sejam duas existências distintas tornam-se complementares: partícula-onda (síntese). Uma não existe sem a outra, pois os aspectos, corpuscular e ondulatório são complementares, isto significa que, ao demonstrarmos o caráter corpuscular de uma experiência, torna-se impossível provar ao mesmo tempo o seu caráter ondulatório, e vice-versa. Bohr observa uma certa dependência entre ambos os princípios.

diferentes níveis de estruturas, consistindo assim, em uma complementaridade entre opostos” (HOLANDA; RAMOS, 2013, p. 5).

No Princípio da Incerteza27 é possível enumerar algumas dimensões da matéria como: a imprevisibilidade, a probabilidade e o indeterminismo (CAPRA, 1983; MORAES, 1997).

Podemos citar também o conceito de Estruturas Dissipadoras28, entendido como um sistema organizacional aberto. Este sistema opera muitas vezes fora, e até mesmo distante, do equilíbrio termodinâmico em um ambiente em que troca energia. Estes sistemas complexos possuem a capacidade de evoluir apenas trocando energia com o ambiente circundante, isto ocorre de forma não-linear, por meio de mecanismos que provocam pressão no sistema, ultrapassando os limites da estabilidade e, por conseguinte, guiando-os para um novo estado macroscópico. Além disso, de acordo com Prigogine (1986), é possível entender dentro desta perspectiva, que um óvulo, uma semente, um indivíduo, a sociedade são indubitavelmente, sistemas vivos em estado permanente de interação e de interdependência com o ambiente, com o todo (PRIGOGINE, 1986; MORAES, 1997).

Ilya Prigogine (2002) explica que esses “[...] sistemas dinâmicos são caóticos quando o seu operador de evolução admite uma representação irredutível” (p. 108). E que este caos “[...] é sempre a consequência de fatores de instabilidade” (p. 12), que, por sua vez, introduz novos aspectos essenciais. Com isso, a instabilidade admite duas funções básicas: “[...] a unificação das descrições microscópicas e macroscópicas da natureza (p. 80)”, onde esta unificação entre as duas dimensões só pode ser realizável, a partir das modificações ocorridas nas descrições microscópicas. E por isso, devemos entender que, “[...] seja o que for que chamemos realidade, ela só nos é revelada através de uma construção ativa da qual participamos” (PRIGOGINE, 2002, p. 41).

De acordo com Capra (2006) esta construção ativa, nos torna parte atuante e interatuante da existência da “totalidade indivisa” tanto entre observador, quanto objeto observado e o processo de observação em contínuo movimento que pode caracterizar o estado das coisas, e, sobretudo, compreender o mundo por meio das “[...] relações, interligações e interrelações entre os objetos, entre o sujeito e o objeto, o corpo e a mente em um vir-a-ser intersubjetivo que faculta a abertura de diálogos entre os opostos” (CAPRA, 2006, p. 149).

Amit Goswami (2008, p. 63) exemplifica este vir a ser com o seguinte caso:

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Princípio fundamentado por Werner Heisenberg em 1927, que indica a impossibilidade de se precisar com exatidão a posição ou o momento – velocidade – de uma partícula porque no momento que medimos um desses valores, os alteramos. Este princípio aplicado aos elétrons num átomo revela que é impossível conhecer simultaneamente a posição exata do elétron e a sua trajetória exata no espaço.

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Estrutura fundamentada por Ilya Prigonine em 1977, explica o movimento da natureza no sentido de auto- organização contínua que evolui e atinge cada vez mais níveis elevados e de forma irreversível.

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ra uma vez um cossaco29 que via um rabino cruzando quase todos os dias a praça da cidade, mais ou menos na mesma hora. Certo dia, ele perguntou: - Para onde o senhor está indo, rabino?

- Não sei com certeza – respondeu o rabino.

- O senhor passa por aqui todos os dias, nesta hora. Certamente o senhor sabe para onde está indo.

Quando o rabino insistiu que não sabia, o cossaco irritou-se e, em seguida, desconfiado, prendeu-o, levando-o para o xadrez. Exatamente no momento em que ele trancava a cela, o rabino virou-se para ele e disse suavemente:

- Como o senhor vê, eu não sabia.

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Neste caso, a mecânica quântica nos diz que, “[...] o mundo não é determinado por condições iniciais, de uma vez para sempre.” O rabino poderia até saber para onde estava indo, mas depois da interferência do cossaco, já não sabia mais. Para Goswami (2008), esta interferência pode ser denominada de medição. Assim, “[...] todo evento de medição é potencialmente criativo e pode desvendar novas possibilidades” (GOSWAMI, 2008, p. 63).

É fato que a matéria emerge do mundo subatômico. Mas, é importante atentar que se as condições iniciais não determinam a continuidade do movimento de um determinado objeto, “[...] se em cada ocasião em que o observamos, há um novo começo, então o mundo é criativo no nível básico” (GOSWAMI, 2008, p. 63).

Todos nós somos matéria, deste modo, temos nossa origem também no átomo. Portanto, o mundo subatômico faz parte de nossa essência e nos permite carregar partículas de todo o universo. Então, se todas as partículas possuem informação das demais, logo, deve existir uma interferência e interdependência entre elas que as interconectam sistematicamente. Também, é fato que o átomo comporta-se tanto como onda, quanto como partícula, “[...] talvez possa ser melhor considerado uma nuvem mal definida, em sua forma particular de todo o ambiente e inclusive do instrumento de observação” (p. 28). Assim, “[...] tanto o observador como o observado são aspectos que se fundem para se interpenetrarem, de uma realidade total, que é indivisível e não-analisável” (BOHM, 2001, p. 28).

Curiosamente, a expansão do modelo científico se tornou nos dias atuais, pelas descobertas da física quântica, como inseparável das questões que envolvem a evolução humana em toda a sua inteireza. E ao considerar a consciência humana um dos pontos de partida para novas elucidações, não ameaça nenhuma das conclusões da ciência moderna,

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Militar tradicional que integrava inúmeras campanhas de guerras. Nativo das regiões do sudeste da Europa, principalmente, Ucrânia e do sul da Rússia.

concernentes às descobertas sobre o mundo material. Nesta perspectiva material, a matemática continua a mesma, a física, a biologia, a química e todas as outras ciências. O que muda é a nossa compreensão de nós mesmos, ao atingirmos outros níveis de consciência. Se a consciência é de fato fundamental, então os ensinamentos dos grandes sábios e místicos começam a fazer novo sentido.

Hoje, a ciência se debruça sobre os mecanismos cerebrais relacionando-os com o mindfulness. Apresentando-nos relações e conexões existentes em várias áreas da nossa vida, seja no cotidiano, na prática meditativa e clínica e principalmente, na prática educativa. O mindfulness nos traz conceitos cognitivos que ocorrem por meio da atenção consciente e reflexiva. No caso da meditação, esta apresenta aspectos universais como a atenção focada na respiração. Uma das técnicas e forma de desenvolver a atenção plena que podemos aprender tem origem na meditação budista vipassana como já foi abordada antes. Uma prática com mais de 2.500 anos, que se traduz por visão clara. Esta técnica consiste, em num primeiro momento, observar a respiração – em estado de quietude. Em seguida, observar as sensações do corpo – em estado de movimento. Este é também o primeiro passo para a prática do mindfulness, que se baseia em focar e manter a atenção em um dado objeto, neste caso, a respiração e as sensações (SIEGEL, 2010).

Siegel (2010) nos alerta que a identificação desses sistemas complexos dos mecanismos neurais que permite uma consciência plena, também atua e se associa a atenção plena cognitiva e reflexiva que nos conecta com o mundo e pode nos auxiliar nos processos de ensino e de aprendizagem. Esta identificação abre portas para perguntas, serve de guia para a solução, elaboração e aplicação dos múltiplos elementos que podem frequentemente emergir. Com isso, a ciência nos revela o modo como os circuitos neurais sociais podem interferir e ampliar nossa compreensão dos efeitos que causam no bem estar fisiológico e psicológico do ser humano (SIEGEL, 2010).

Para Siegel (2010), as dimensões neurais da atenção implicam em três processos que regulam o fluxo de energia e de informação: a atenção executiva; a atenção de orientação; e a atenção de alerta. Podemos perceber o quanto a atenção é fundamental para a mente e para a conduta humana, portanto, é necessário desenvolver a habilidade de apreendê-la, tanto no âmbito terapêutico, quanto no educativo.

Siegel (2010) explica que a neurodinâmica nos aponta as regiões pré-frontal medial e pré-frontal lateral como uma equipe em funcionamento dinâmico, e permite que a atenção não só nos ofereça qualidade especifica de consciência, como também, nos permite regular as subsequentes respostas internas e externas. A atenção nos permite ainda, escolher o resultado

de nossa resposta. Vale ressaltar que isto se converte em algo que vai além de um fator que apenas incida influência sobre o conhecimento, pois, a atenção, sobretudo, nos permite alterar a direção das ativações futuras. Por exemplo, ao prestar atenção, já altero em mim a capacidade de controle das influencias automáticas, ou seja, dou intensão à atenção (SIEGEL, 2010).

Dessa forma, o mindfulness cria o discernimento, que é um potente desativador dos disparos automáticos que nosso cérebro ainda está acostumado e que se apresenta na forma de ação e reação por meio do piloto automático. O mindfulness nos força a encontrar vias de conhecimento mais profundas que nos permite acessar nosso mundo interior30 e o mundo que nos cerca (SIEGEL, 2010).

Nosso cérebro é um sistema complexo. Embora a ciência investigue seu funcionamento, ainda não conseguiu explicar como ocorre esta relação entre cérebro e natureza subjetiva da mente. A ciência estuda o mindfulness como uma tentativa de compreender tais mecanismos que podem conduzir o indivíduo ao desenvolvimento do estar atento no aqui e no agora, numa relação integradora da mente, das emoções, das intenções e das próprias atitudes e das atitudes dos outros. Como podemos observar, “[...] a mente é como uma abelha muito ocupada que recorre sem descanso à colmeia neural” (SIEGEL, 2010, p. 87).

Com efeito, a ciência não trata apenas da evolução genética do cérebro, e sim, da evolução mental humana, que permite a transmissão efetiva de energia e de informação de uma geração para outra. Precisamos atentar que, por um lado, para que a mente possa existir é necessário atividade cerebral. Por outro, a mente utiliza os mecanismos cerebrais para se desenvolver. Nesta relação mútua entre cérebro e mente, podemos dizer que a mente acompanha os disparos neurais do cérebro, onde os eventos neurais se correlacionam e se associam às atividades neurais (SIEGEL, 2010).

Os autores focados neste estudo sobre o mindfulness e o estilo cognitivo de aprendizagem consciente nos ensinam que as relações interpessoais também podem implicar um fluxo de energia e de informação. Portanto, esta interconexão entre cérebro mente e relação pode consistir em uma influência tridirecional que nos conduz para processos de autorregulação e autoformação no aqui e no agora (STERNBERG, 2000; LANGER, MOLDOVEANU, 2000; SIEGEL, 2010).

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Ipseidade, a nossa essência, a maneira de ser interior. O eu-nuclear. O que faz com que um ser seja ele próprio e não outro (SIEGEL, 2010, p. 110).

Exemplificando, podemos dizer que as relações modelam o fluxo de energia e de informação a partir da comunicação contínua com os outros e da atividade cerebral desenvolvida, onde o cérebro é o regulador do fluxo de energia, a mente é a receptora dos disparos neurais enviados pelo cérebro e as relações são modeladoras do fluxo contínuo de energia e de informação da mesma forma que fazem estas palavras ao chegar a sua mente. Assim, “[…] la atención al momento presente, uno de los aspectos del mindfulness, puede modelarse directamente a partir de la comunicación continua con los demás y de la actividad cerebral” (SIEGEL, 2010, p. 65).

Desse modo, podemos observar a coerência existente entre a influência tridirecional, com a consciência do momento presente, a pedagogia do autoconhecimento e as dimensões complexas do ser humano que, de acordo com Nicolescu (2008), tratam sobre os diferentes níveis de realidade (NR) e de percepção material, biológica e espiritual e a lógica do terceiro incluído (T).

Vejamos os movimentos contínuos destas dimensões:

Figura 3: A transdisciplinaridade, níveis de realidade, de percepção e a lógica ternária.

As duas dimensões, física/A e a biológica/não-A, correspondentes aos níveis de realidade, embora diferentes, compartilham de um mesmo nível de realidade (NR°), conforme ilustração na base da pirâmide. Neste nível de realidade ou de materialidade “toda manifestação aparece como uma luta entre dois elementos contraditórios” (NICOLESCU, 2008, p. 32).

Neste caso, um “[...] par de contraditórios A° e não-A° situados a um nível de realidade NR° é unificado pelo estado T¹ situado a um nível de realidade NR¹, imediatamente vizinho” (NICOLESCU, 2005, p. 200).

No estado T¹ localizado no cume da pirâmide, temos a dimensão do espiritual/T¹ representando assim, outro nível de realidade e de percepção unido e unindo-se também as dimensões: física e biológica, “[...] onde aquilo que aparece desunido está de fato unido, e aquilo que parece contraditório é percebido como não-contraditório” (NICOLESCU, 2008, p. 33).

Segundo Nicolescu (2005), na tríade do terceiro incluído, os três níveis coexistem ao mesmo tempo. Esta ocorrência promove a conciliação dos opostos, que antes se apresentavam contraditórios, mas a tensão entre ambos propicia uma unidade mais ampla que os inclui. Esta estrutura ternária está inscrita no ser humano. “[...] o centro intelectual representa o dinamismo da heterogenização; o centro motor, o dinamismo da homogeneização; e o centro emocional, o dinamismo do estado T” (NICOLESCU, 2005, p. 177).

Assim, podemos conferir pelo menos, três estados da natureza humana: físico, intelectual e emocional. Seguindo a lógica do terceiro incluído: observamos os dois primeiros (A° e não-A°), ambos fazem parte do mesmo nível de realidade. O terceiro incluído (T¹) representa ao mesmo tempo, a unidade de cada um dos opostos (A° e não-A°) e a união entre todos (A°, não-A° e T¹), em um processo interativo, contínuo e aberto onde ocorre permanentemente o fluxo de energia e de informação. “A lógica do terceiro incluído pode descrever a coerência entre os níveis de realidade pelo processo interativo” (NICOLESCU, 2008, p. 51).

Para entendermos quais os níveis de realidade, Nicolescu (2005) atribui ao conceito ‘Realidade’ com ‘R’ maiúsculo, um sentido ao mesmo tempo pragmático e ontológico e entende que o termo Realidade representa aquilo “[...] que resiste às nossas experiências, representações, descrições, imagens ou formalizações matemáticas” como também “[...] na medida em que a natureza participa do ser do mundo” (NICOLESCU, 2005, p. 89).

Na Conferência do Festival Mundial da Paz em Florianópolis, realizada em 5 de Setembro de 2006, Nicolescu nos apresentou algumas reflexões em seu discurso “A natureza transdisciplinar da paz hoje”, onde foi possível perceber a importância de nutrirmos um diálogo entre ciência e espiritualidade e a necessidade cada vez mais urgente do ser humano se tornar um ser consciente, transcendente e espiritual.

Nicolescu (2006) aborda a lógica do meio incluído como uma ferramenta para um processo integrativo que “[...] nos permite atravessar dois diferentes níveis de Realidade ou de percepção” (p. 7). Desta forma, nos é permitido efetivamente “[...] integrar, não apenas no pensamento, mas também em nosso próprio ser, a coerência do Universo” (p. 7). Com isso, a descoberta e a utilização do terceiro escondido/incluído “[...] é um processo transformativo”,

onde o terceiro incluído deixa de ser uma ferramenta abstrata, para ser uma ferramenta lógica, “[...] se torna uma realidade viva tocando todas as dimensões do ser” (p. 7). Para Nicolescu, este fato é imprescindível na educação e no aprendizado.

Contudo, não haverá progressão se esta coerência estiver limitada apenas aos níveis de realidade, seja no mais alto ou no mais baixo. Portanto, para que a coerência continue para além destes dois níveis limitados, e se torne em uma unidade aberta, “[...] é preciso considerar que o conjunto dos níveis de realidade prolongue-se para a zona de não-resistência às nossas experiências, representações, descrições, imagens ou formalizações matemáticas” (NICOLESCU, 2008, p. 55).

Para Nicolescu (2008), a zona de não-resistência, está representada pelo movimento dialógico espiralado entre todos os níveis de realidade e de percepção formando um processo dinâmico e de interação. De acordo com a ilustração anterior, a zona de não-resistência, também apresenta movimento retroativo31 na base da pirâmide e movimento recursivo32 da base ao cume da pirâmide. Vale lembrar que estas relações são modeladoras do fluxo contínuo de energia e de informação – representado no desenho pela seta em espiral.

Para Nicolescu (2008), a zona de não-resistência corresponde à região do sagrado, àquilo que não se submete a nenhum tipo de racionalização. Estes diferentes níveis de realidade são acessíveis ao conhecimento humano devido à existência de diferentes níveis de percepção que permitem uma visão geral, unificante e englobante da realidade, sem que jamais se esgote completamente. Assim, a zona complementar de não-resistência constitui o Objeto transdisciplinar e o conjunto de níveis de percepção, como também o Sujeito transdisciplinar. Ambos formam uma unidade aberta que se traduz pela orientação coerente do fluxo de energia e de informação que “[...] atravessa os níveis de realidade e pelo fluxo de consciência atravessa os níveis de percepção. [...] Este todo se abre para a zona de não- resistência do sagrado que é comum ao sujeito e ao objeto” (p. 56) por meio de uma experiência vivida que integra o saber. “[...] é este terceiro incluído que une ciência e consciência [...]. Surge um novo tipo de evolução, ligada à cultura, à ciência, à consciência, à relação com o outro” (NICOLESCU, 2008, p. 75-76).

Portanto, a zona de não-resistência trabalha com o papel de um terceiro, e este promove a interação entre o Sujeito e o Objeto, um termo que completa, integra e atua como um meio secreto incluído que permite uma relação unificadora entre o Sujeito transdisciplinar

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Movimento dialógico circular, como feedback, que rompe com a linearidade e apresenta ordem informacional ou energética. É autorregulador.

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Movimento dialógico espiral, numa evolução sistêmica onde todos são produtores, reprodutores e coprodutores dos efeitos.

e o Objeto transdisciplinar, e sobretudo, é capaz de preservar suas diferenças (NICOLESCU, 2006).

Nicolescu ainda nos define três tipos de significados para o modelo transdisciplinar da Realidade, que são: 1) Significado Horizontal – ele aponta como exemplo o que a maioria das disciplinas acadêmicas fazem, conhecidas como interconexões em um único nível de realidade; 2) Significado Vertical – aponta como exemplo a poesia, a arte ou a física quântica, onde as interconexões envolvem os diversos níveis de Realidade; 3) Significado do Significado – onde o diálogo entre ciência e espiritualidade é entendido como o alvo da

No documento Consciência espiritual no ato docente (páginas 73-82)