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Consciência espiritual no ato docente

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Academic year: 2017

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa Stricto Sensu em Educação

CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL NO ATO DOCENTE

Brasília - DF

2014

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MARIA JÚLIA BATISTA DE HOLANDA

CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL NO ATO DOCENTE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Educação.

Orientadora: Dra. Maria Cândida Moraes

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7,5cm

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

H722c Holanda, Maria Júlia Batista de.

Consciência espiritual no ato docente. / Maria Júlia Batista de Holanda – 2014.

166 f.; il : 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2014. Orientação: Profa. Dra. Maria Cândida Moraes

1. Educação. 2. Discernimento espiritual. 3. Docência. 4. Abordagem transdisciplinar do conhecimento na educação. I. Moraes, Maria Cândida, orient. II. Título.

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Dissertação de autoria de Maria Júlia Batista de Holanda, intitulada “Consciência Espiritual no Ato Docente" apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação da Universidade Católica de Brasília, em 02 de 04 de 2014, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo:

_________________________________________________ Professora Doutora Maria Cândida Moraes

Orientadora Educação – UCB

_________________________________________________ Professor Doutor Luiz Síveres

Examinador interno Educação – UCB

_________________________________________________ Professora Doutora Magda Pereira Pinto

Examinadora externa Educação – UNB

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Dedico ao Papai, Myron Veras de Holanda, modelo de ética e moral irrefutável e de uma inteligência criativa primorosa! (in memoriam).

Dedico à Mamãe, Júlia Batista de Holanda, exemplo vivo de generosidade, resiliência, amor e fé inabalável!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus “Condutores”, Irmãos de Luz da espiritualidade, que atuaram nesta obra e constantemente me conduzem a ser quem eu sou! Que o Poder Universal seja sempre nosso nutridor Maior!

Agradeço a Professora Maria Cândida, minha Orientadora! Grata pelo incalculável auxílio em uma jornada que aos poucos foi se revelando diante dos olhos da minh’alma, como uma experiência transformadora de amor e de esperança no gênero humano; e pela humildade, generosidade e partilha acerca do conhecimento. Que o Poder Universal possa conspirar infinitamente em seu favor. Muita Grata!

Agradeço a minha família, tabernáculo das primeiras aprendizagens. Grata, principalmente, as minhas queridas irmãs, parceiras fieis nas perdas e nas conquistas da vida: Graça e Gorete Holanda.

Agradeço aos meus queridos cúmplices que nunca se foram porque nunca precisaram chegar. A presença de vocês é sempre constante em minha existência independente do tempo e do espaço: Simone Villas e Marcos Viana.

Agradeço as amigas que surgiram como “presente divino”, neste período de construção e transição: Albaniza Bispo, Deise Cristine, Ingrid Ariadne, Patrícia Matão e Verônica Diano. Vocês representam aqui, todos os amigos queridos aos quais não foram nominados.

Agradeço a UCB, bem representada pela força vigorosa do Professor Afonso Galvão. Agradeço ao Professor Luiz Síveres, pela acolhida, generosidade e abertura que sempre me proporcionou na vida acadêmica.

Agradeço aos amigos e companheiros desta jornada Álvaro, Adriano, Dolores, Juan, e Rosamaria. Vocês contribuíram imensamente para a construção desta pesquisa. Grata pela partilha de conhecimento, espiritualidade e verdade. Está marcada em minha memória cada palavra, acolhida e ensinamento de vocês.

Agradeço à Magda Pinto, pela verdade, disponibilidade e empenho. E agradeço a querida amiga Maria Dolores Fortes Alves pelo grande exemplo de amor, generosidade, coragem e fé na humanidade.

Agradeço aos meus companheiros bem queridos do Grupo ECOTRANSD, pela acolhida e a troca de energia. E mais uma vez, agradeço a infinita generosidade da Professora Maria Cândida, por ter me proporcionado esta significativa e inesquecível vivência fraternal.

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“-Minha contestação é feita de renúncia, de não-participação, de não-conivência, de não-alinhamento com o que não considero ético e justo. Sou como aqueles que, desarmados, deitam-se no meio da rua para impedir a passagem dos carros da morte. Esta forma de resistência, se praticada por todos, se constituiria em uma força irresistível [...]

- O drama [...] trago-o na alma. [...] Não faço mortalha colorida.

- Por que sou assim?

- Porque todo homem tem um dever social, um compromisso com o próximo.

- Não há um ideal de beleza, mas o ideal de uma verdade pungente e sofrida que é a minha vida, é tua vida, é nossa vida, nesse caminhar no mundo.

- Sou impiedoso e crítico com minha obra. [...] É difícil revelar o significado das coisas. O Homem olha a sua face, interroga-se e não sabe quem é.

- Acho que toda grande obra tem raízes no sofrimento. A minha nasce da dor.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 ... 12

FIGURA 2 ... 57

FIGURA 3 ... 78

FIGURA 4 ... 147

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

QI – Quociente da Inteligência IE – Inteligência Emocional IES – Inteligência Espiritual TE – Tecnologia Espiritual

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

A BUSCA DE SENTIDO ... 17

PROBLEMA DE PESQUISA ... 20

OBJETIVOS ... 25

JUSTIFICATICA ... 26

ABORDAGEM METODOLÓGICA ... 36

TIPO DE PESQUISA ... 45

CAMPO DE ESTUDO... 46

PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS ... 48

PARTICIPANTES ... 50

ROTEIRO DA ENTREVISTA ... 52

CAPÍTULO 1. REVISÃO DO PERCURSO ... 54

1.1 CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL E ATENÇÃO PLENA ... 54

1.1.1 O despertar da consciência humana e espiritual ... 65

1.1.2 Consciência plena de uma aprendizagem consciente ... 68

1.1.3 Ato docente: exercício de uma atenção plena e consciente ... 71

1.2 PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA ... 72

1.2.1 Sistemas complexos ... 72

1.2.2 Diálogo sobre espiritualidade e ciência ... 81

1.2.3 A Inteligência Espiritual ... 85

1.3 DIÁLOGO ENTRE CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL E ATENÇÃO PLENA DOCENTE ... 92

1.3.1 Ser consciente, ser transcendente, ser espiritual ... 92

1.3.2 Educação humana amorosa e não-sectária ... 97

1.3.3 Educação, consciência e compromisso ... 106

1.4 A TRANSDISCIPLINARIDADE E OS OPERADORES COGNITIVOS PARA UM PENSAR COMPLEXO ... 108

1.4.1 A transdisciplinaridade ... 108

1.4.2 Os operadores cognitivos para um pensar complexo ... 111

1.4.3 Prática docente ecoformadora ... 116

1.4.4 Caminho da sutilização ... 121

CAPÍTULO 2. DIÁLOGOS COMPARTILHADOS ... 124

2.1 ATORES ... 124

2.2 INSTRUMENTOS METODOLÓGICOS ... 124

2.2.1 Percurso das entrevistas ... 125

2.3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS ENTREVISTAS ... 126

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 143

REFERÊNCIAS ...153

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RESUMO

HOLANDA, Maria Júlia Batista de. Consciência espiritual no ato docente. 166f. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2014.

O presente trabalho trata da consciência espiritual no ato docente, tendo por objetivo, investigar a consciência espiritual manifestada pela atenção plena no ato docente, como fonte mediadora das relações existentes nos processos de ensino e aprendizagem, além de suas possibilidades de despertamento para a produção de uma prática docente ecoformadora. Os estudos reconhecem a existência de uma crise, na qual a educação tem resistido a título de sobrevivência, ao utilizar ainda, em suas práticas, métodos tradicionais aos processos de ensino e de aprendizagem. A consciência espiritual manifestada na atenção plena no ato docente possibilita a abertura de caminhos no campo da pesquisa, concernente à investigação e integração de estudos entre a espiritualidade, a ciência e a educação, além de conduzir ao desenvolvimento de estratégias didáticas mais significativas que possam despertar no docente, a capacidade de desenvolver nos alunos, o interesse por uma aprendizagem consciente, fundamentada nos mecanismos empregados no processo de transformação do agente cognitivo para uma educação crítica, amorosa e humana, rumo a uma educação ecoformadora.

A pesquisa desenvolveu-se fundamentada na abordagem qualitativa, por meio da investigação das

experiências formadoras e possibilitadoras do ‘ensinar’ e do ‘aprender’. A utilização da bricolagem nos possibilitou reconhecer a natureza complexa que envolveu todos os processos de produção do conhecimento, estendendo-se para diversos domínios, como a Educação, a Filosofia e a Ética. Além disso, a bricolagem favoreceu na escolha da pesquisa exploratória, oferecendo maior familiaridade com o problema, tanto por meio dos diferentes domínios quanto dos instrumentos utilizados na pesquisa exploratória, conforme: levantamento bibliográfico; entrevista com questionário aberto e levantamento das experiências dos participantes aqui apresentados; análise dos processos axiológicos nas dimensões do aspecto humano, do conhecimento e na forma do método. Tanto a bricolagem quanto a pesquisa exploratória nos permitiram abertura e flexibilidade na utilização dos modos de funcionamento que envolve a inter-relação, auto-organização, emergências e enação.

Este estudo apresentou um panorama diversificado de pensamentos e vozes que enriqueceram a pesquisa. Trago aqui apenas alguns destes autores: Corbí e Robles que abordam sobre uma nova espiritualidade laica; Zohar nos apresenta o conceito de inteligência espiritual; Nicolescou trata da transdisciplinaridade e da zona de não-resistência que corresponde à região do sagrado; Morin e Moraes aludem aos operadores cognitivos para um pensar complexo e para os processos de ecoformação; Siegel nos conduz a compreensão e a prática do Mindfulness, entre outros. Cada um, dentro de suas perspectivas, nos trouxe fundamentação necessária e favorável para compreender o imbricamento da consciência espiritual manifestada na atenção plena como mecanismo transformador e, portanto, gerador de melhoria na prática docente. Ainda, analisar a importância da aplicação de uma consciência espiritual no ato docente pautada na atenção plena e na inteireza do ser. E, investigar a contribuição da perspectiva transdisciplinar para a prática docente ecoformadora, pautada numa consciência espiritual revelada por meio da atenção plena. Desse modo, sair da dualidade; compreender níveis de realidade e de percepção; atentar aos processos que decorrem dos operadores cognitivos para um pensar complexo; proporcionar ao aluno o encontro com a sua totalidade, entre outros, são os novos caminhos aqui encontrados que possibilitam ao docente uma prática ecoformadora. Com a concepção destes novos caminhos norteadores da prática docente ecoformadora, proponho aos docentes que busquem esta condição de agentes ecoformadores, isto implica é claro, conscientizar da condição de homo sapiens para

transpassar à de homo ecos.

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ABSTRACT

The present work deals with the spiritual consciousness in teaching act, aiming to investigate the spiritual consciousness expressed by the teaching mindfulness act as a mediator of existing processes of teaching and learning relations source, and your chances of consciousness for the production of one eco forming teaching practice. The studies recognize the existence of a crisis, in which education has stood as a survival, still use in their practices, traditional processes of teaching and learning methods. The spiritual consciousness manifested in mindfulness in the teaching act leads pioneering in the field of research concerning the integration of research and studies between spirituality, science and education, as well as lead to the development of more meaningful teaching strategies that can awaken the teaching, the ability to develop in students an interest in a conscious learning, based on the mechanisms employed in the transformation of the cognitive agent for a critical, loving, humane education, towards a eco forming education process. The survey was developed based on the qualitative approach, by investigating the formative

experiences of the enablers and ‘teaching’ and ‘learning’. The use of bricolage enabled us to recognize the complex nature involving all the processes of knowledge production, extending to many areas such as Education, Philosophy and Ethics. In addition, the bricolage favored the choice of exploratory research, offering greater familiarity with the problem, both through the different areas as the instruments used in exploratory research, as: literature survey; open questionnaire and interview survey of the experiences of the participants presented here; axiological analysis of processes in the dimensions of the human aspect of knowledge and the way of the method. Both bricolage as exploratory research allowed us openness and flexibility in the use of modes involving the interplay, self-organization, emergencies and enaction.

This study presented a diverse panorama of thoughts and voices that have enriched the research. Bring here only some of them: Corbí and Robles dealing on a new secular spirituality; Zohar presents the concept of spiritual intelligence; Nicolescou is transdisciplinary and non-resistance zone that corresponds to the sacred region; Morin and Moraes allude to cognitive operators for complex thinking and eco-formation processes; Siegel leads to understanding and practice of Mindfulness, among others. Each within its prospects brought us necessary foundation for understanding and favorable overlapping of spiritual consciousness manifested in mindfulness as a transformative mechanism and thus generating improvement in teaching practice. She also examines the importance of applying a spiritual consciousness in teaching act guided mindfulness and wholeness of being. And investigate the contribution of transdisciplinary perspective for eco forming teaching practice, based on a spiritual awareness revealed through mindfulness.

Thus, out of duality; understand levels of reality and perception; pay attention to proceedings of cognitive operators for complex thinking; provide the student meeting with their entirety; among others, are here found new ways that allow eco forming one teacher practice. With the design of these new ways of guiding eco forming teaching practice, teachers who seek to propose this condition eco forming agents, this implies of course, awareness of the condition of ‘homo sapiens’ to pierce the ‘homo echoes’.

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INTRODUÇÃO

Consciência... Existir em tudo!1

Figura 1: Representação de um fractal em formato de árvore.

Fonte: http://wordpress.com/2011/10/fractaltree.jpg

Sigo por esta jornada Para uma dimensão oculta Onde posso encontrar em todo sistema,

Por todo lugar à minha volta Segredos da natureza

Segredos meus A misteriosa beleza A colossal majestade Da consciência revelada!

Da consciência fractal! Ela existe em toda biologia,

Repete-se nas arvores,

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Nas flores, nas folhas, nas montanhas e nuvens, Nas galáxias, nas águas e sistemas climáticos

Em meus pulmões, Nos meus vasos sanguíneos,

Em minhas digitais, Em minha íris, Em meus pensamentos Que se ramificam sem fim Na cadência do meu coração No pulsar das minhas artérias Inconstantes em sua incompletude

Numa variação Que em ciclos se repetem Na essência do meu viver. Da consciência revelada!

Da consciência fractal! Ela delineia meu olhar De olhar o que me cerca E do que se cerca a criação da natureza

Corpo mente espirito Nesta repetição infinita

Não idênticas! Porém, auto-semelhantes Da consciência revelada! Da consciência fractal! A consciência... de em tudo existir,

De reexistir, de coexistir, Para em tudo pertencer!

Sob à guisa de abertura, a ilustração do fractal nos remete às estruturas complexas existentes no micro e no macrocosmo. Mas, afinal o que é um fractal? Esta denominação foi criada por Benoit Mandelbrot2 e descreve um objeto geométrico que jamais perde a sua estrutura original. Este aspecto fragmentado, Mandelbrot classificou de dimensão fracionária, não inteira. Por meio destas dimensões fracionárias foi possível quantificar qualidades que ainda permaneciam sem uma dimensão precisa. Um fractal tem uma estrutura que se ramifica em porções menores, e estas são auto-semelhantes com a estrutura como o todo. Se observarmos, veremos que grande parte das árvores naturais possuem em sua estrutura aspectos assemelhados ao fractal.

Por exemplo, no tronco de uma árvore podemos verificar a sua aparência irregular e rugosa. Se observarmos um pedaço menor desse tronco por microscópio veremos novas irregularidades e rugosidades que a olho nu não havíamos observado. Contudo, esta imagem assemelha-se muito a imagem vista anteriormente. Outro exemplo, uma teia de aranha que se

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estende em todas as dimensões, formada initerruptamente por minusculas gotas de água, e cada gota contem o reflexo de todas as gotas de água, e cada reflexo por sua vez reflete as gotas ainda menores, num movimento contínuo que representa até o infinito um universo hologramático, contendo o padrão completo e complexo da totalidade.

Por isso, a palavra fractal, significa auto-semelhante e revela a simetria através das escalas e entre os objetos que possui a mesma estrutura numa auto-semelhança geométrica. Além disso, apresenta-se sempre com o mesmo aspecto em qualquer escala em que seja observada. Sendo assim, as imagens de fractais são o resultado de múltiplas interações de forma recursiva e hologramáticas operadas em um sistema não-linear.

Os versos e a imagem do fractal em formato de árvore que iniciam esta pesquisa nos revelam parte da natureza desta dissertação que desenvolvi ao buscar na essência das conexões representada pelo fractal, a participação e o testemunho do ser com o cosmo. Esta analogia revela as infinitas conexões entre os sistemas vivos, além da existência de realidades múltiplas e não uma realidade única como estamos acostumados a observar. Pretende ainda, revelar que não existe uma única forma de pensar e resolver um problema ou compreender um determinado fenômeno, pois depende de cada ação, cada observação da realidade interpretada, cada movimento de um infinito número de interações, interrelações e interferências nos mais diversos níveis de percepção e de realidade entre os sistemas vivos. Ontologicamente, a consciência de existir em tudo, implica não apenas na existência do sujeito e nem do objeto, mas nas relações, nas conexões que se manifestam entre ambos.

Assim, esta pesquisa pretende investigar a relevância do exercício de uma consciência espiritual manifestada na prática da atenção plena docente. Pretende também, seguir por um caminho que aos poucos vai sendo revelado, um caminho eco-organizado, ecossistêmico, não-linear, um caminho que pode nos proporcionar olhar o outro como seu legítimo outro, ver o que ele não consegue ver. Pois estamos ainda imersos numa cegueira espiritual em detrimento da cegueira material que nos assola a mente, o corpo e a alma. Desse modo, quem sabe, nos seja permitido olhar com os olhos do espírito e reeducar o nosso olhar para contemplar plenamente a vida em sua incompletude.

Para tanto, Marià Corbí (2007b) nos alerta que, em pouco tempo, a vida humana perdeu toda a sua sacralidade trazendo ao mundo profundo desencanto, reduzindo tudo às dimensões práticas em uma implacável luta econômica, científica e tecnológica.

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se trata sólo de síntomas de crisis, en muchos lugares es un auténtico colapso (CORBÍ, 2007a, p. 343).

Segundo Corbí (2007b), hoje a espiritualidade ganha autonomia das religiões, é uma espiritualidade livre da submissão em crenças, é uma espiritualidade não religiosa e sim, laica3. O autor nos esclarece que estamos em uma grande encruzilhada da história da humanidade em múltiplos sentidos: religioso, axiológico, econômico, político, familiar. Além das relações entre indivíduos, grupos sociais e países.

Corbí (2007b) denomina este fenômeno de mutação, e diz que esta mutação tem nos cobrado níveis mais elevados de consciência individual, coletiva e espiritual. Ele ainda alude para nossa responsabilidade social, pois estamos todos irremediavelmente em nossas próprias mãos, portanto, nada nos aliviará desta responsabilidade.

O fato é que vivemos em uma sociedade de conhecimento e inovação constante, isto modifica continuamente nossa maneira de pensar, sentir, organizar, atuar, ser, fazer e, sobretudo, de viver. De acordo com Corbí (2007a), não podemos continuar fixados por crenças, normas e dogmas do passado, e que “[...] ligar la espiritualidad a cualquier tipo de creencia es un obstáculo, y un obstáculo definitivo” (p. 219).

Sendo assim, temos que corresponder à circunstância dos acontecimentos hodiernos, dizer e fazer coisas, responder aos desafios que nos revela, gradativamente, as novas sociedades laicas e globais. São estes os herdeiros legítimos da sabedoria de todas as tradições religiosas e espirituais da humanidade. Além do mais, “[…] para que la espiritualidad sea viable en las nuevas sociedades, es necesario separar la espiritualidad de toda creencia y de toda sumisión” (CORBÍ, 2007a, p. 219).

Por um lado, Corbí (2007a) alerta que esta sociedade de conhecimento tem extinguido a epistemologia mitológica e suas ideologias e crenças nas relações divinas. Por outro, entende que esta sociedade deve apoiar-se somente em postulados axiológicos e nos projetos coletivos construídos a partir desses postulados axiológicos. Todavia, as novas sociedades não encontraram formas econômicas e politicas adequadas ao poder científico, tecnológico, comunicativo e globalizador.

En estas circunstancias, ya es un hecho, reconocido o no reconocido, que nuestro mundo axiológico, base y fundamento de todas nuestras restantes construcciones, arranca de unos postulados propuestos por nosotros mismos, entorno de los cuales se ha logrado el consenso, si no universal, sí muy generalizado. Esos postulados son los derechos humanos; desde ellos se

3 Conceito entendido por conhecimento sem conteúdo, “nem religioso, seja de cunho cientifico ou filosófico,

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construyen proyectos a todo nivel, desde los más generales de países a los más particulares de organizaciones e individuos. Esos postulados y esos proyectos no tienen otra garantía que nuestra propia calidad como individuos y como grupos (CORBÍ, 2007a, p. 15).

Dessa forma, temos que chegar a postulados comuns, formulados de maneira que respeitem o espírito das diversas culturas e que permitam a diversidade de projetos de acordo com as diversas culturas sem despotismos de umas sobre as outras (CORBÍ, 2007a).

Na visão de Corbí (2007b), infelizmente ainda nos encontramos nas mãos de um capitalismo financeiro escravizador e estamos apenas substituindo uma desigualdade e injustiça por outra. O que devemos fazer é combater estas novas injustiças com novas formas. Desse modo, uma nova espiritualidade é possível e, sobretudo, necessária (CORBÍ, 2007a).

Foi a partir deste contexto, que analisamos o imbricamento da consciência espiritual, entendida como atenção plena no ato docente e investigamos a consciência espiritual manifestada na atenção plena como instrumento transformador para a melhoria da prática docente. E ainda, a relevância da aplicação na prática docente de uma consciência espiritual pautada na atenção plena e na inteireza do ser, além da investigação sobre a contribuição da abordagem transdisciplinar para a prática ecoformadora de uma consciência espiritual revelada por meio da atenção plena. Estas análises, veremos mais detalhadamente em momento oportuno.

Ao longo da construção da revisão bibliográfica, foram elencados quatro eixos que deram abertura aos temas neles discutidos. Segue uma apresentação dos eixos e seus respectivos temas: 1) Consciência espiritual e atenção plena: o despertar da consciência humana e espiritual; Consciência plena de uma aprendizagem consciente; Ato docente: exercício de uma atenção plena e consciente; 2) Processo de transformação da consciência: Sistemas complexos; Diálogo sobre espiritualidade e ciência; A Inteligência espiritual; 3) Diálogo entre consciência espiritual e atenção plena docente: Ser consciente, ser transcendente, ser espiritual; Educação humana, amorosa e não-sectária; Educação, consciência e compromisso. 4) A transdisciplinaridade e os Operadores Cognitivos para um pensar complexo: A transdisciplinaridade; Operadores Cognitivos para um pensar complexo; Prática docente ecoformadora; Caminho da sutilização.

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questionário aberto, onde os atores investigados se caracterizam por estudiosos, pesquisadores, professores da área da educação que apresentam fundamentação científica, empírica e espiritual, pertinentes ao tema desta pesquisa.

A BUSCA DE SENTIDO

Caminante, son tus huellas el camino y nada más; Caminante, no hay camino, se hace camino al andar. Al andar se hace el camino, y al volver la vista atrás se ve la senda que nunca se ha de volver a pisar. Caminante no hay caminho sino estelas en la mar4

(MACHADO).

Sempre, em todos os percursos que consegui vivenciar, busquei sentido para tudo. Uma busca incomensurável por respostas aos questionamentos desafiadores que, em muitas ocasiões, me proponho. É, nesta tentativa de criar diretrizes que impliquem em um novo caminho, uma jornada onde o indivíduo possa descobrir suas infinitas formas interiores, para finalmente encontrar seu “EU”, no relicário da alma. Então, me pergunto: Qual é o meu espaço de sujeito no mundo? Porque tenho essa angustia voraz no campo da epistemologia? Como vislumbrar o caminho metodológico que responda a estas incertezas? E, qual é o meu espaço de sujeito nesta pesquisa?

Pensando bem, a escola não nos ensina entender uma porção de coisas concernentes às nossas escolhas, principalmente, as espirituais. Nos tempos de escola, não fosse o conhecimento religioso, por meio da disciplina Religião que ainda existia no ensino básico, e que obtive no Colégio Diocesano, não teríamos, como alunos, noção da dimensão religiosa que, por mais que apresentasse, e ainda, apresenta um viés controlador e de dominação, tem fundamental importância no crescimento, no desenvolvimento e na vida de algumas pessoas.

Fui privilegiada com a minha formação espiritual cristã que, embora nos moldes da Igreja Católica, meus pais sempre foram além, ensinando, sobretudo, e com atitude, valores morais, a cada dia, mais carentes na sociedade atual. Neste período de desenvolvimento cognitivo emocional, tornei-me uma questionadora de tudo, e graças à amorosidade recebida dos meus genitores, fui conduzida ao encontro de algumas respostas. Essa atmosfera me impulsionou para o campo das artes. Participei de certames poéticos e literários, antologias de

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Verso do poeta espanhol Antônio Machado (1875-1939), publicado em Proverbios y cantares pertence à obra

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poetas e escritores do Brasil, o que me possibilitou algumas publicações de profundo cunho existencialista.

Terminei meu ensino médio e, numa gana de conhecimento e liberdade, lancei-me no mundo. Um período de muito aprendizado, descobertas e evolução no campo espiritual, me entreguei ao estudo informal e à vivência de várias práticas religiosas, além da Igreja Católica, pois entendia que havia um mundo que precisava ainda ser explorado. As tradições antigas orientais compreendem que tudo é vibração. Tudo está concentrado com uma única fonte de vibração. Uma consciência, um campo, uma força que se move entre as partes e através de cada uma das partes, para em seguida, ir além da essência universal da totalidade. Uma vez que tomamos consciência que há aí um campo vibratório e que ele é a raiz de todas as religiões, como então podemos dizer: ‘Minha religião!’?

Bem, ao longo desta jornada de crescimento interior, mergulhei em vivências proporcionadas por diversas doutrinas, como: a espírita de Kardec, a Umbanda e o Candomblé. Com o passar das vivências, segui por uma linha mais oriental, também fui membro da Igreja Messiânica, obtive conhecimentos e práticas na Seicho-no-ie, Arte Mahikari, Budismo, Hinduísmo. No campo do esoterismo, estudei filosofia oculta, ciência dos espíritos e o Santo Daime. Estas experiências foram, apenas, o princípio de uma jornada, que nem a visão mais ampla do telescópio poderia vislumbrar o meio, sequer o fim.

Com uma docência mais intuitiva que didática, fui dividindo e somando meus parcos conhecimentos com queridos amigos que conheci em diversos trabalhos voluntários aos quais me prestei. Aquela visão, que na época poderia entender como holística me fez perceber que, ao longo da história da educação, a escola não estava preparada para a educação da alma e do espírito dos alunos. Percebi que, com isso, a Igreja tomou para si esta responsabilidade. Daí foi possível observar uma divisão entre as questões que envolvem: ciência e religião, educação e religião. Estas experiências me fizeram questionar: E a espiritualidade fora do contexto dogmático/religioso, onde procurá-la?

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Adotei para vida alguns dos ensinamentos de Heráclito de Éfeso, crendo na filosofia de que tudo flui tudo passa – panta rei. Pois, “[...] não é possível banhar-se no mesmo rio duas vezes”. Foi analisando esta máxima, que entendi as muitas mudanças do curso do rio, das circunstâncias, do aprendizado, do corpo, das ideias, da consciência e do espírito. Heráclito acreditava que do elemento fogo derivava tudo o que nos circunda. Então, em 2002, momento apoteótico, ao qual estava imersa em sentimento que beirava ao pathos, escrevi o que denominei de Apologia a Heráclito de Éfeso:

“- Ó Imortais, mortais; mortais, Imortais! A vida destes é morte daqueles; e a

vida daqueles é morte destes!”

O um é múltiplo e o múltiplo é um! Tudo é um! O dia se torna noite, a noite o dia! O inverno se torna primavera, a primavera verão! O úmido seca, o seco umedece! O frio esquenta, o quente esfria! O grande diminui, o pequeno cresce! O doente ganha saúde! A treva se faz luz! A vida dá origem à morte e tudo se transforma e volta à própria origem. Porque tudo é um! A necessidade traz o acaso, o acaso a necessidade! A beleza traz dentro de si a feiura, a feiura traz a beleza! Considereis então, que um só é dez para mim, se é o melhor! Que nós, nunca somos os mesmos. As águas não são as mesmas, e que o homem, como uma criança, ouve o divino. Tal como a criança ouve o homem!

Ah, Fogo ardente! Essência Primeira! Que queima em medidas e exalações claras: O sol, a lua, o calor, a vida, a saúde, a beleza, o conhecimento! Ah, Fogo apagado! Que distingue em medidas e exalações obscuras: a treva, a noite, o frio, a morte, a doença, a feiura, a ignorância!

E os opostos? E a guerra? São a ordem no caos e a justiça do mundo! A guerra das medidas! A multiplicidade tensa, contraditória, a luta entre os opostos é a unidade e a comunidade de todas as coisas!

Ó Fogo Primordial! Que não é percebido pelos sentidos! É sim, como a

Phisis! A origem sempre viva e eterna de toda a existência! Porque tudo, Tudo é Um!

Estes versos inspirados no pensamento de Heráclito apresentam sutilezas do princípio da complementaridade, uma das bases da tessitura do paradigma da complexidade, ressaltando, assim, o princípio da incerteza na obscuridade, na multiplicidade e na multidimensionalidade a qual vivemos diante da contraditória luta entre os opostos, travada eternamente pela existência humana.

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Contudo, é necessário reconhecer que esse caminho espiritual que busco é interminável, e que desde sempre me encontro engajada em alguma “obra”, ou com leituras, sejam científicas, sejam de vidas que o tempo santificou. Todavia, obra, leitura e atitude, ainda são, quase nada diante dos poucos Lamas, Gurus e Santos que a nossa Terra foi agraciada. Ela precisa de muito mais. E estudar, meditar, praticar atitudes compassivas durante toda existência é, sem dúvida, o caminho seguro, responsável e honesto para aguçarmos nossas experiências com o espiritual, e pensar o mundo, começando pelas cercanias. E depois... Como essa forma de pensar este mundo tão próximo, pode catalisar transformações? Entendo que essas atitudes e questionamentos deveriam ser atributos naturais adquiridos pela humanidade ao longo do tempo. Porém, para que elas se presentifiquem exige-se, silenciamento interior, prática diária, concentração, persistência, conhecimento de si e do mundo. Todo esse conjunto muda nossa perspectiva a respeito do mundo, então, tudo que está ao nosso redor, também muda.

“Mas, o que é preciso mudar?” Moraes (2008a) nos adverte que muitos processos de natureza estrutural precisam ser modificados e devem envolver “[...] o ser, o conhecer, o fazer e o viver/conviver.” (p. 17). Estas profundas transformações são de natureza paradigmática e que açambarcam o conhecimento, a aprendizagem e, sobretudo, “[...] em relação aos valores, hábitos, atitudes e estilos de vida. [...]” (p. 17). Assim, “[...] todo ambiente se modifica e evolui de acordo com a vida que o sustenta [...]” (p. 17). Por isso, a educação tem sua relevância e deve se preocupar com a construção e reconstrução de projetos de vida e fortalecimento da identidade individual, capaz de colaborar, cada vez mais, para o reencantamento da educação e da celebração da vida, reencontrar a harmonia interior e o sagrado presente dentro de cada um de nós (MORAES, 2008a).

Diante do exposto, apresento ao longo da pesquisa alguns esclarecimentos sobre conceitos que serão abordados, tais como: consciência, inteligência espiritual, consciência espiritual, espiritualidade e as implicações do estudo e do despertamento da consciência espiritual intrínseca ao ser humano docente.

PROBLEMA DE PESQUISA

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atualmente, o afastamento do ser humano de uma inteligência superior, considerada, por algumas áreas da ciência como Inteligência Espiritual. Este afastamento trouxe grandes consequências, prejudicou e tem colapsado o desenvolvimento da humanidade no tocante aos postulados axiológicos e ao processo de evolução em todos os aspectos ao longo da vida humana, principalmente nos aspectos concernentes ao ensino e à aprendizagem.

Para fundamentar esta problemática, evoco dois autores que nos brindam com algumas pertinentes elucidações. Sigamos com Marià Corbí e J. Amando Robles.

A estas grandes consequências que colapsaram o desenvolvimento da humanidade Corbí (2007a) denominou de ‘colapso axiológico’ que afetou e continua afetando as religiões e as ideologias de todo Mundo. Porém, acredita que “[…] donde hemos ido a parar con el colapso de las religiones resulta ser un gran don para la humanidad. No es una calamidad, aunque para muchos lo pueda parecer e incluso lo sea, pero para la humanidad es un gran bien” (p. 39).

Diante do exposto, Robles (2013) nos revela que o ser humano é um ser axiológico e que somente a axiologia pode realizá-lo com seus fins e objetivos axiológicos. “[...] Que sólo la espiritualidad, la conciencia de ser ahora y aquí pleno e total, lo puede realizar y lo realiza” (p. 228).

Entretanto, é visível o progresso de hoje em várias áreas, contudo, é possível perceber o quanto temos crescido em saberes, científicos e tecnológicos, e estes saberes nos proporcionam e nos impulsiona para o desenvolvimento de uma nova sociedade, uma sociedade de conhecimento. Mas, não desenvolvemos nossas qualidades humanas e nossa espiritualidade. Os autores nos revelam que o motor central desta nova sociedade de conhecimento é a dinâmica das ciências e das tecnologias que são poderosas e aumentam dia a dia seu poder. Com isso, nenhum campo da atividade humana escapa a seu poder, segue invadindo todas as formas de comunicação e da vida humana (CORBÍ, 2007a; ROBLES, 2001, 2013).

Assim sendo, o conjunto das estruturas axiológicas manifestada pela construção cultural nos revela que temos que pensar e sentir, organizar e atuar. Além disso, pode proporcionar modelos de interpretação e de valores do mundo e de nós mesmos. Vale ressaltar que este colapso “[…] axiológico y religioso no es consecuencia de la decadencia de las nuevas sociedades” (p. 8). Hoje, “[…] las religiones no interesan, pero el interés por la espiritualidad está muy extendido y es creciente en mil formas (CORBÍ, 2007a).

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ainda, que esta nova sociedade de conhecimento necessita de uma nova espiritualidade, e esta não deverá se apoiar em crenças, nem religiões, carecerá de sacralidade, deverá ser laica, e com isso, herdará toda a riqueza espiritual de todas as tradições religiosas construídas pela humanidade. Ainda afirmam que esta herança universal já ocorreu na humanidade por meio da história e em todas as manifestações artísticas como: pintura, poesia, música, escultura, arquitetura, etc (CORBÍ, 2007b; ROBLES, 2001, 2013).

Corroborando Corbí e Robles, Eckhart Tolle (2007) esclarece que esta nova espiritualidade aponta para uma irredutível transformação da consciência humana e está surgindo fora das estruturas religiosas institucionalizadas e uma proporção considerável da humanidade já está compartilhando da ruptura dos antigos padrões mentais egóicos5 e a emergência de uma nova dimensão de consciência.

Para Tolle (2007), estamos chegando ao fim das mitologias, das ideologias e dos sistemas de crenças. Na verdade, na essência da nova consciência reside a transcendência do pensamento, a capacidade de compreendermos uma dimensão dentro de nós que é infinitamente mais vasta do que o próprio pensamento, quanto mais um indivíduo faz de suas crenças de seus pensamentos pré-concebidos sua própria identidade, mais se afasta da dimensão e da consciência espiritual que existe dentro dele.

Portanto, esta nova espiritualidade não deve ser um sistema de crenças, não pode controlar nada. “Y no sólo no controla nada sino que hace saltar en pedazos cualquier sistema de control, porque pone en contacto con la realidad, de una manera tal, que relativiza cualquier forma de pensar, sentir y vivir” (CORBÍ, 2007a, p. 207).

Robles (2013) corrobora o pensamento de Corbí (2007a) quando esclarece que continuamos iguais aos nossos antepassados, imaturos espiritualmente. Mas, por um lado, esta crise ocorre por causa da irresponsável evolução geral da cultura e suas consequências, por outro, a grande crise das religiões abre caminho para uma espiritualidade criativa, consciente, que herdará a sacralidade e a riqueza das diversas tradições espirituais de toda a humanidade.

Porém,

Es hora de discernir y no abandonar con las religiones toda la riqueza y sabiduría que en ellas se produjo. Debemos aprender a discernir para poder dejar a un lado a los maestros de las creencias. Hay que aprender a discernir

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entre quienes, en las grandes tradiciones religiosas, son maestros del espíritu y quienes son maestros de las creencias, de las ortodoxias (CORBÍ, 2007a, p. 219).

Desse modo, os autores alertam que nós mesmos teremos que construir este percurso em nossa vida cotidiana, com nossos próprios meios e com profunda qualidade humana6, seja no plano individual, seja no plano coletivo (CORBÍ, 2007a, 2007b; ROBLES, 2001, 2013).

Para Corbí (2007a) esta necessidade de profunda qualidade na vida humana, ativa a sacralidade pertinente ao ser humano, impulsionando-o a conhecer e a sentir7. E “para conocer y sentir gratuitamente, el cuerpo no es un obstáculo, porque todo él es un perceptor, un sensor” (p. 299). Mas, “[…] toda nuestra carne puede conmoverse, toda ella puede convertirse en corazón, en amor” (p. 299). Para tanto, devemos considerar os postulados axiológicos e os processos coletivos construídos a partir destes postulados. “Así, nuestro cuerpo ha de convertirse en luz y calor; todo él ha de ser lucidez conmovida […] nuestro cuerpo ha de ser como un cuerpo de luz y de fuego, sutilidad, espiritualidad. Eso es lo que los maestros del espíritu […] llaman sutilizar nuestro ser, espiritualizarlo” (p. 299).

Devemos, portanto, encontrar e criar procedimentos para que as novas sociedades de conhecimento que estão emergindo, possam cultivar uma nova espiritualidade, uma espiritualidade laica, apoiada na própria interioridade e na própria autonomia, tendo como fundamento desta interioridade, autonomia, iniciativa, criatividade e liberdade, a experiência em nós mesmos da infinita dimensão do existir. É necessário, porém, respeitar suas condições culturais próprias da coletividade que vive da inovação e da mudança em condição de globalidade. Somente uma espiritualidade responsável socialmente e culturalmente viável, poderá salvar a humanidade e o planeta (CORBÍ, 2007a, 2007b, 1996; ROBLES, 2001, 2013).

É partindo desta breve elucidação dos autores e mergulhando nesta busca em cultivar uma nova espiritualidade, no caso desta pesquisa, uma consciência espiritual no ato docente, que logro retornar a um dos pontos mais relevantes desta pesquisa que é sem dúvida o problema a ser pesquisado. A condição de um problema de pesquisa é sempre definida por uma série bastante reduzida de conceitos. Para Booth (2000), na visão do pesquisador, é imprescindível que o problema de pesquisa seja sempre uma variante do seu ‘não saber’ ou do

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Conceito que significa caminho da sutilidade, do silêncio, da interiorização e da profunda meditação. “El

camino de la espiritualidad es el camino de la sutilización porque es la vía al refinamiento del conocer y del

sentir.” (CORBÍ, 2007a, p. 295).

7 Para Corbí (2007a) “[…] quien acierta a conocer y sentir sin estar sometido a la perspectiva de la necesidad, a

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seu ‘não compreender algo’, pois tal qual o pesquisador, seus leitores também deveriam saber ou entender tais processos.

Quanto ao problema propriamente dito, busco fundamentar o ato docente por meio de uma consciência espiritual pautada na atenção plena, para que ela possa mediar a relação entre docente e discente nos processos de ensino e aprendizagem. Além disso, apresento a contribuição da transdisciplinaridade capaz de promover a vivência desta consciência atenta na prática docente.

Para efeito, é válido ressaltar que a abordagem transdisciplinar de formação docente trabalha tanto com a lógica do terceiro incluído, esta proporciona o espaço para a percepção de outras possibilidades e do que ocorre em outros níveis de realidade e o reconhecimento da complexidade constituída da realidade, quanto trata também de reconhecer aspectos da ‘zona do sagrado’. Estes aspectos, analisaremos em outro momento desta pesquisa.

Bem, é fato que os professores são afetados pelos cursos de formação ao longo da vida profissional. Os conteúdos são importantes, mas as experiências, as vivências dos processos e as aprendizagens delas decorrentes são fundamentais para o sucesso de um curso de formação docente. Então, que educação é essa?Surge daí uma terceira via não pensada. Entra em jogo a lógica ternária e inclusiva, fundida na interação dos opostos e na complementaridade dos processos, onde os diálogos se imbricam, as interações ocorrentes possibilitam a emergência de algo novo a partir da compreensão do conhecimento que habita outro nível de realidade, de perspectiva, de cultura, de mundo, “[...] numa visão ternária que vai além, entre e através das estruturas” (NICOLESCU, 2008, p. 16; MORAES, 2011, p. 7-8).

Que visão será esta?Moraes e Valente (2008) afirmam que o principal eixo da ciência das ciências é a epistemologia. Dentro desta perspectiva, entende-se que, por meio desse caminho, surgirá a possibilidade de se descobrir com eficiência mecanismos e soluções para os problemas metodológicos, lógicos axiológicos e éticos que afligem os educadores responsáveis pelos processos de formação, os novos docentes, e as novas e inquietas gerações ao longo do tempo. Os autores ressaltam que “[...] todo problema de pesquisa reflete um contexto epistemológico e uma compreensão de natureza ontológica da realidade estudada” (MORAES e VALENTE, 2008, p. 15).

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Sem o objetivo de apresentar soluções, mas, apenas de apontar caminhos que promovam e suscitem ao professor, uma maior consciência de seu ato docente, a pesquisa teve sua origem com as seguintes questões: É possível perceber, no ato docente, a manifestação de uma consciência espiritual? Até que ponto ela se constitui como fonte mediadora das relações existentes nos processos de ensino e aprendizagem e possibilita uma prática docente ecoformadora?

Vale esclarecer que entendemos como consciência espiritual a atenção plena ao fluxo de energia e de informação presente na inteireza do ser humano docente. Nesta pesquisa, o termo consciência espiritual implica a aprendizagem fundamentada na consciência plena, no cérebro consciente, que encontra ressonância no mindfulness. Este conceito, por vez, implica em uma forma especial de atenção capaz de desenvolver uma maneira concreta de compreender as experiências vividas da própria natureza da mente em tempo real, no aqui e no agora, trazendo para o ato de ensinar uma aprendizagem consciente, implicada no momento presente e nas diferentes nuances que emergem no/do momento docente. Posteriormente, detalharemos estes termos e sua aplicação nos processos de ensino e aprendizagem.

O problema foi subsidiado a partir dos seguintes aspectos: a) O imbricamento entre a consciência espiritual, entendida como atenção plena e o ato docente; b) A consciência espiritual manifestada na atenção plena que pode se tornar instrumento transformador para a melhoria da prática docente; c) A aplicação na prática docente de uma consciência espiritual pautada na atenção plena e na inteireza do ser; d) A contribuição da abordagem transdisciplinar para a prática ecoformadora de uma consciência espiritual revelada por meio da atenção plena.

OBJETIVOS

O objetivo geral deste estudo é investigar a consciência espiritual manifestada pela atenção plena no ato docente como fonte mediadora das relações existentes nos processos de ensino e aprendizagem, além de suas possibilidades de despertamento para a produção de uma prática docente ecoformadora.

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a. Investigar de que modo a consciência espiritual manifestada na atenção plena e o ato docente estão imbricados;

b. Investigar quais são os instrumentos e mecanismos do processo de transformação do ser humano que possibilitam melhorias nos processos de ensino e aprendizagem para o agente cognitivo que possua esta consciência atenta e plena;

c. Investigar qual a relevância de se aplicar, à prática docente, uma consciência espiritual pautada na atenção plena e na inteireza do ser;

d. Investigar qual a contribuição da perspectiva transdisciplinar, para a prática docente ecoformadora de uma consciência espiritual revelada na atenção plena.

É importante ressaltar que o interesse aqui não é impor uma educação ideal, mas, questionar e refletir sobre o ideal de uma educação. Por um lado, um ideal organiza-se sempre em torno de uma carência, de um questionamento. Por outro lado, existe, inevitavelmente, a dimensão do possível ainda não explorado, do inédito-viável8. Portanto, não podemos ficar apenas preso ao plano do considerável ideal e de uma educação considerada natural. É preciso descobrir mecanismos que ressaltem o questionamento e a reflexão sobre o ideal de uma educação.

Mas hoje, temos como resultado uma educação que está subordinada ao “piloto automático”, constituída à imagem de um ideal predeterminado pelo docente, onde é vetada qualquer forma de contestação desse ideal já formado que serve de suporte à sua opção pedagógica. Sendo assim, o aprendente torna-se apenas parte ilustrativa de sua docência/doutrina.

JUSTIFICATIVA

É a dinâmica da “paixão de si” que encontra a “responsabilidade de si” e,

ao mesmo tempo, o enfraquecimento do Superego; daí a possibilidade da autoética (MORIN, 2011).

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Atualmente, surge um novo cenário que aponta para abordagens no campo da inteligência espiritual. Houve, por muito tempo, um antagonismo entre ciência e espiritualidade. Ambas com visões divergentes sobre a natureza do cosmo, o que fomentou um conflito que aumentou na medida em que o ser humano foi tecendo sua compreensão científica do mundo (ZOHAR, 2001).

Este tema que envolve ciência e espiritualidade suscita a dualidade presente desde os gregos. Mas, esta compreensão foi retomada por René Descartes, que dividiu o cosmos em dois mundos. O primeiro deles consiste no mundo das coisas, da matéria, do tempo, do espaço, onde tudo pode ser mensurado fisicamente; e o outro no mundo do pensamento, da consciência, do espírito. Infelizmente, Descartes submeteu-se ao domínio da Igreja e investiu apenas em sua ‘filosofia natural’ voltada para o mundo da matéria, ao passo que a Igreja continuou sua soberania no mundo do espírito (DAMÁSIO, 2000).

Desde os Pré-socráticos, surgiu uma necessidade de separar o pensamento mítico9, do pensamento filosófico-científico, que tinha caráter crítico, em lugar de uma transmissão dogmática, doutrinária e sobrenatural. Este pensamento filosófico-científico nasce no bojo da insatisfação com o tipo de explicação que o pensamento mítico fazia do mundo real, e representou, com isso, uma ruptura radical, enquanto forma de explicar a realidade.

Os Pré-socráticos, bem conhecidos como teóricos da natureza, tinham como ponto de partida a physis10, tornando como objeto de investigação o mundo natural, concreto. Para tanto, buscavam dar uma explicação causal dos processos e dos fenômenos naturais a partir das causas encontradas no mundo natural e concreto, e não fora dele.

Assim, a ciência ocidental, tendo por base estes pressupostos, ignorou por longo tempo, o mundo da experiência consciente, pois, para a ciência, não era possível começar, localizar, nem mensurar a mente como fazemos com a matéria. Em seguida, os cientistas investiram grandes esforços para o estabelecimento de verdades absolutas e objetivas, independente do ponto de vista e estado mental do observador.

Com isso, chegaram à conclusão de que não haveria a necessidade de explorar a mente, por que o funcionamento do universo poderia ser explicado ignorando toda questão relacionada à consciência. Este foi o período ao qual a ciência, durante um bom tempo, desprezou por completo a religião e as questões relacionadas à espiritualidade e às evidências da existência de Deus, pois o universo parecia funcionar perfeitamente sem a ajuda divina.

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Consistia em uma forma na qual o povo explicava os aspectos essenciais da realidade a qual viviam, como por exemplo: a origem do mundo e dos seres e o funcionamento da natureza. O termo mythos, significa uma visão baseada em discurso ficcional ou imaginária.

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Mas, hoje estas questões que envolvem a espiritualidade, a consciência, tem recebido um olhar perscrutador da ciência que busca novos caminhos para melhorar a qualidade da vida humana.

São muitos os fatores para melhorar a qualidade de vida, desenvolver a consciência e ampliar a plenitude de nossa experiência cotidiana, sem abrir mão, é claro, da cientificidade, da cognição e do metabolismo e funcionamento cerebral. Todos estão mutuamente imbricados e impulsionados para o descobrimento, o desvelamento do caminho que pode conduzir à saúde, à felicidade, à paz planetária e, por conseguinte, à espiritualidade. O fato é que estamos todos conectados, influenciando e influenciados pelos sonhos, desejos, expectativas e perspectivas nossas, do outro e do mundo.

Consideremos também as constantes transformações sociais que afetam valores pré-estabelecidos, exigindo mudanças de concepções e comportamentos que no passado eram consideradas válidas. Realizar mudanças nos padrões determinados pelo coletivo ao longo do tempo requer, sobretudo, compreensão de si, do outro e do mundo. Além disso, os efeitos positivos ou negativos originados do avanço da ciência e da tecnologia exigem dos educadores, reflexão constante e permanente pesquisa sobre o valor da pessoa humana neste processo de desenvolvimento da aprendizagem, possibilitando um planejamento diversificado que atenda às diferenças existentes entre os alunos e os conhecimentos a serem aprendidos.

Hoje, também, é visível o materialismo exacerbado que impera em nossa sociedade, Zigmunt Bauman (2001), ao tratar da terminologia ‘indivíduo’, entende o processo de individualização em um cenário onde a cultura do ‘Eu’ subjuga a cultura do ‘Nós’. Este processo oferece à relação ‘Eu-Outro’ propriedades absolutamente mercantis, dando caráter volátil – líquido – ao relacionamento entre as pessoas, que fatalmente serão anulados a qualquer momento com a separação. Desse modo, a atitude de liquefação provoca no indivíduo uma sensação de leveza e descompromisso, sendo a mesma associada a uma liberdade individual, volátil, inconstante, móvel, em uma sociedade volúvel e, portanto, liquefeita (BAUMAN, 2001).

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A sensação de pertença, hoje utilizada como um recurso do ego deve ser concebida como acompanhamento necessário ao processo de individualização entre ‘comunidades integradoras’. Assim, “[...] a pertença é um lado da moeda cujo outro lado é a separação e/ou oposição” (KAUFMANN, 2004, p. 214). Esta escolha traz frequentemente consigo ressentimentos, antagonismos, conflitos emocionais – individual e em grupo – e patologias psicológicas das mais variadas como a solidão, o isolamento, o desamparo no plano individual, a depressão que é identificada, hoje, como o mal do século e, por conseguinte, as patologias educacionais sistêmicas, todas característica de uma crise a qual se estende rapidamente por todo o planeta.

A seguir analisaremos alguns aspectos desta crise, a qual alguns autores denominam de crise planetária.

A crise planetária

De acordo com Morin (2010b), esta crise planetária nos revela uma “[...] multiplicação dos sintomas ‘crísicos’” (p. 23). Além da pertubação do que é aparentemente estável, a crise se manifesta com o surgimento das incertezas, que por conseguinte, promovem o desenvolvimento, o progresso. Em contrapartida, todo progresso “[...] corre o risco de se degradar e comporta um duplo sentido: progresso/regressão [...] todo progresso é parcial, local, provisório e produto da degradação, da desorganização, da regressão” (MORIN, 2010b, p. 29).

O fato é que hoje, vivemos no auge de uma crise sem igual, oriunda do egoísmo, dos desejos individuais, dos ruído internos, uma crise vital, na qual a espécie humana corre um risco iminente de destruição avassaladora. Esta crise planetária, entendida como desvinculada da totalidade em sua fragmentação, encontra-se dividida em seu conhecimento e em sua emoção. Há uma divisão conflituosa no ato de pensar e sentir, que engaiola a essência do viver e do conviver humano, compartimentalizando-o (CREMA, 1989).

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Na área da educação, é fato que a ciência fragmentou-se, surgiu uma abordagem disciplinar de metodologias fragmentadas nas universidades formando especialistas, um profissional que sabe “[...] quase tudo de quase nada [...]” (p. 23). Com isso, a disciplina trouxe inovações ao racionalismo científico, dando ao enfoque disciplinar, caráter absolutamente analítico, dividindo o todo em suas partes, o que gerou a especialização (CREMA, 1989).

A especialização se apresenta de forma unilateral tanto em sua visão, quanto na ação. Desse modo, perdeu a visão de totalidade. Assim, “[...] a especialização, neste sentido, é uma elegante viseira que impede a pessoa da visão de totalidade, imprescindível em fornecer orientação e sentido à nossa caminhada” (CREMA, 2004, p. 378).

Na área social, existem numerosos sinais de desintegração familiar, como o consumo de álcool e entorpecente das mais variadas potências; o crescente número de crianças com déficit de aprendizagem e sérios disturbios de comportamento; os altos índices de

enfermidades cardíacas, cancerígenas e isquemias celebrais, incluindo o aspecto psicológico como a depressão, a esquizofrenia e o recrudescimento de crimes violentos, acidentes e suicídios que brotam de uma deteriorização conjunta com o meio ambiente.

Além disso, podemos destacar as anomalias no campo da economia e da política, onde são presenciados atos contra as mais diversas sociedades como as inflações desenfreadas, no desemprego atroz, na distribuição desigual da renda e da riqueza dos recursos naturais, na corrupção descarada de alguns políticos, imbuídos de um dos sentimentos mais mesquinhos da humanidade, o egoísmo. Esta situação tem sido identificada por todo o globo terreste, e apresenta em contra partida a revolta da própria sociedade que explicita seus desejos e perturbações por meio de manifestações, ora pacífica, ora em guerra.

Afora a revolta social, temos que considerar a revolta da natureza, que é exaurida em seus recursos naturais, causando desequilíbrios e gigantescas catástrofes capazes de dizimar uma nação. É uma crise global e ameaçadora, de “[...] dimensões intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala e premência sem precedentes em toda a história da humanidade” (CAPRA, 1995, p. 19).

Com isso, resta-nos dois caminhos para compreender o século XX: um deles é o “progresso do desenvolvimento e de aparente racionalidade”, o outro, um registro de “convulsões e horrores” (MORIN, 2010b, p.21).

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transformaram, [...] em indivíduos de jure(de direito)” (p. 21), nos impedindo de alcançarmos “[...]o status implícito de indivíduos de facto(de fato)” (BAUMAN, 2009, p. 21).

Este fenômeno de egoísmo, separação e segregação, nos permite perceber a falta de responsabilidade social das novas elites globais separatistas, onde deixam claro o “[...] seu afastamento dos compromissos que tinham com o populus local no passado” (p. 28). Há uma distância crescente onde vivem os separatistas dos segregados. Estas são “[...] as mais significativas das tendências sociais, culturais e políticas associadas à passagem da fase sólida para a fase líquida da modernidade” (BAUMAN, 2009, p. 28).

Este é um triste resumo da colossal armadilha em que a espécie humana atraiu para si. Em contrapartida, a própria crise pode nos trazer “desvios saudáveis”. Assim, estamos cada vez mais envolvidos na crise da humanidade. Portanto, para Morin (2010a), quando um sistema não consegue mais tratar seus problemas vitais, há dois caminhos: desintegrar-se ou metamorfosear-se. Desse modo, pode suscitar neste sistema, um “metassistema mais rico”, com capacidade para resolver os problemas. “[...] Ora, o sistema Terra não pode tratar seus problemas fundamentais, [...]. Ele está condenado a se desintegrar ou a metamorfosear-se” (MORIN, 2010a, p. 267-268).

Dessa maneira, Morin (2011d) ressalta tratar-se, “[...] de uma crise em que tudo se desloca, enquanto tudo se unifica, e na qual a unificação comporta perigos de homogeneização e abstração” (p. 164-165). A crise embora seja perigosa, é absolutamente necessária, fomenta as potencialidades criadoras que emergem do novo, onde a pior ameaça e a maior promessa chegam simultaneamente (MORIN, 2011d).

Bem, nesta perspectiva as transformações culturais e sociais desse genero foram, e continuam sendo, fundamentais para o desenvolvimento das civilizações ao longo dos tempos, a força que subjaz a esse desenvolvimento são de grande complexidade. Em todo caso, “[...] o caos pode ser destruidor, pode ser genésico, trata-se, talvez, da última oportunidade no último risco” (MORIN, 2011d, p.188). Um risco ao qual não será suficiente apenas reformar ou revolucionar, mas promover uma metaforfose.

Morin (1995) nos diz que não devemos esquecer sobremaneira, que “[...] há uma busca da unidade do verdadeiro, do bem, do belo, da restauração da comunhão e do sagrado. [...]” E que “[...] nas ruínas de tudo o que o progresso destruiu, ele próprio, doravante em ruína, busca verdades perdidas [...]” (MORIN, 1995, p. 87).

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limitando-nos ao piloto automático e condenando-limitando-nos a um estado visível de normose em todas as áreas, principalmente, na educação.

O estado de normose11 da educação

É imprescindível identificar algumas práticas escolares que têm sido geradoras de estados patológicos no que diz respeito à construção subjetiva de todos os envolvidos nos processos de ensino e de aprendizagem. Com isso, conduzindo professores e alunos a agirem em piloto automático e a negarem a si mesmo como autores e coautores de suas histórias, no agir e no fazer humano.

Assim, com exceção de alguma, a instituição escolar transformou-se em empresa, onde os alunos são clientes e os professores apenas reprodutores de um saber que enfatiza uma verdade única ditada pelos interesses do mercado vigente. Ressalta-se também a falta de preparo para enfrentar conteúdos transversais propostos pelos parâmetros curriculares que são fundamentais para a construção do ser humano, como discutir sobre a morte, o sentido da vida, as relações de gênero, o amor, a espiritualidade. A escola usa de autoridade quando se recusa a decidir coletivamente, por meio de consensos abertos através do diálogo, em detrimento da morosidade que o diálogo pode implicar para as urgências da prática. Ainda, há a sobrecarga dos docentes e a superlotação das turmas que prejudicam o desenvolvimento pedagógico. É este o cenário que vem sendo analisado ao longo de décadas, causando a todos os implicados no processo educativo um estado de normose. É necessária então, a busca por verdades perdidas.

E nesta busca por verdades perdidas, as possibilidades de se entrar e sair de estados normóticos são muitas. Mas, o que podemos entender sobre este estado de normose? O que é normose? É um dos conceitos criados pelo movimento holístico que significa uma patologia da normalidade. A normose trata de comportamentos que envolvem valores, conceitos, normas e hábitos de pensar e de agir, adotados pela maioria em determinada sociedade, cultura ou nação. Tais comportamentos são caracterizados como anomalias por provocarem sofrimento, enfermidades e em muitos casos, até a morte. “[...] Em outras palavras, é algo patogênico e letal, executado sem que os seus autores e atores tenham consciência de sua natureza patológica. [...] A normose é, portanto, uma normalidade doentia” (WEIL, 2003, p. 22).

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Há duas principais distinções sobre este conceito: 1) normoses gerais, que são coletivas e podem levar ao suicídio, se “[...] caracterizam pela repressão do feminino, preferência pela eficiência, condenação da afetividade e repressão do amor”; 2) normoses específicas, que são as bélicas, ideológicas, políticas e alimentares (WEIL, 2003, p. 23).

Também existem três fundamentos da normose: 1) sistêmico; 2) evolutivo; 3) paradigmático. O primeiro fundamento é considerado como “patologia da mediocridade”, emerge quando o sistema em que vivemos apresenta-se dominado pelo desequilíbrio generalizado, a morbidez e a corrupção. Neste ambiente é preponderante a ausência do respeito ao outro; do cuidado; da fraternidade; da escuta sensível; da valorização do indivíduo, da sociedade e da natureza. Portanto, um indivíduo normótico, normal, é aquele adaptado a processos sistêmicos doentios, que alienadamente colaboram para a conservação do status quo (CREMA, 2012, p. 228).

De acordo com o fundamento evolutivo, Crema (2012), entende o ser humano traduzido pela evolução consciente e intencional. Somos seres incompletos, e esta incompletude faz parte da natureza complexa na qualidade evolutiva do planeta. Tornamo-nos cada vez mais humanos, gradativamente, por meio de uma sistemática capacidade de autodesenvolvimento e de maturidade. O terceiro fundamento, o paradigmático, surge quando o estado normótico permanece, mesmo quando um determinado paradigma já tenha se tornado obsoleto em relação a outro emergente. Vale frisar que, quando este fenômeno ocorre, a normose subsiste apenas em pequenos e isolados grupos. Para o autor, do ponto de vista sistêmico, o estado de normose retrata a prevalência do desamor, o domínio da falta de escuta e de visão, a injustiça e a corrupção desenfreada. Portanto, o grande perigo atual à grande ameaça global, chama-se normose (CREMA, 2012).

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O fato é que, “[...] a normose é um sofrimento [...]. É ela que nos impede de sermos realmente nós mesmos. O consenso e a conformidade impedem o encaminhamento do desejo no nosso interior” (LELOUP, 2003, p. 25).

Esta normalização é manifestada pela repressão ou intimidação, “[...] calam os que teriam a tentação de duvidar ou de contestar” provocando o conformismo. A normalização “[...] impõe a norma do que é importante, válido, inadmissível, verdadeiro, errôneo, imbecil, perverso”. Este comportamento garante a “[...] invariância das estruturas que governam e organizam o conhecimento. [...] Assim, a perpetuação dos modos de conhecimento e verdades estabelecidas obedece a processos culturais de reprodução” (MORIN, 2011d, p. 31).

Para Crema (2003), é importante frisar que o papel da instituição no processo educativo é perceber a construção de ser humano como ação fundamental, e para tanto, é necessário evocar temas que abordem o sentido da vida, o amor, a morte, a espiritualidade. Estimular uma cultura de solidariedade e estratégias coletivas que envolvam a criatividade e seus múltiplos processos. E não esquecer, sobremaneira que, o ser humano é como “[...] um vasto projeto, que não se esgota na constituição de seus aspectos naturais” (p. 41). E compreender ainda, que “[...] o ser humano é um ser do caminho e [...] se tornará um ser plenamente humano à medida que investir nos talentos que o Mistério12 lhe confiou” (CREMA, 2003, p. 41).

Portanto, precisamos de uma educação concebida sob a égide da responsabilidade social, capaz de responder e corresponder eficazmente às emergências e necessidades existenciais em todas as dimensões da pessoa humana. Esta educação deve ser dotada de fundamentos ontológicos, epistemológicos, metodológicos e axiológicos. Apta a ‘prever e afrontar’ a incerteza, a imprevisibilidade, a não-linearidade, o indeterminismo. “[...] Criar condições para que emerjam teorias mais explicativas e compreensivas da realidade [...] dotada de recursos e tecnologias [...] de harmonia e bem estar a todos os seres humanos, sem exceção” (BATALLOSO, 2012, p. 149-184).

Hoje, a modernidade liquefeita não nos deixa espaço para as relações duradouras, o compromisso, a permanência. Assim, o modo de vida tem se apresentado cada vez mais nesse desprendimento fluídico, o que impõe para a maioria das pessoas, um vazio entre a liberdade e a incerteza, a emancipação e o abandono ao cuidado do outro nos planos: individual, social e político.

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Imagem

Figura 1: Representação de um fractal em formato de árvore.
Figura 2: Consciência humana e a evolução do ser no mundo.
Figura 3: A transdisciplinaridade, níveis de realidade, de percepção e a lógica ternária
Figura 4: A consciência espiritual no ato docente.
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Referências

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