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Educação, consciência e compromisso

No documento Consciência espiritual no ato docente (páginas 107-109)

CAPÍTULO 1. REVISÃO DO PERCURSO

1.3 DIÁLOGO ENTRE CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL E

1.3.3 Educação, consciência e compromisso

Não há docente sem discente, já nos disse Paulo Freire (1996). Mas, para que esta educação humana se efetive como ecoformação40 é necessário que o docente, sobretudo, aprenda e apreenda que o ato de ensinar exige a rigorosidade metódica e pesquisa intensa, respeito aos saberes dos educandos, às suas peculiaridades. Exige também, criticidade, ruptura, superação, além disso, exige o entendimento da estética e da ética e da corporeificação das palavras pelo exemplo, sabendo que a atitude também ensina. Exige risco na aceitação do novo e, incessante reflexão crítica sobre a prática, levando em conta o reconhecimento e a assunção da identidade cultural e da diversidade dos mundos existente em uma sala de aula.

O ato de ensinar não se reduz apenas à promover a construção de conhecimento. Ele exige a consciência do inacabado, da incompletude em todas as dimensões – microcósmica e macrocósmica. Exige ainda: o reconhecimento de sermos seres condicionados, pois o que sabemos, é gota d’água no oceano; o respeito à autonomia do ser do educando; o bom senso alimentado por sincera humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos de todos; a percepção e apreensão da realidade; a alegria, a esperança e a convicção de que a mudança é possível, além de um sentimento arguto, curioso, e pronto para investigar (FREIRE, 1996).

Seguramente, “ensinar é uma especificidade humana” (FREIRE, 1996, p. 36). E como esta é uma particularidade do ser humano, ensinar nos exige: compromisso e comprometimento consigo, com o conhecimento e com o outro; segurança, competência profissional, fraternidade e generosidade; compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo e, por meio dela, é possível atingir e fazer atingir outros níveis de realidade. Para tanto, é necessário levar em conta: liberdade à autoridade, nos moldes da igualdade, onde não é possível autoridade sem liberdade e vice versa; consciência de ser consciente e de poder tomar decisões; saber escutar e ter disponibilidade para o diálogo; reconhecer que a educação é ideológica; e, querer bem aos educandos.

Assim, podemos refletir que a educação transdisciplinar aborda uma prática educativa que açambarca “[...] a vivência da arte de aprender ou da arte de autoconhecer-se” (SOARES, 2006, p. 130). Além disso, é por meio desta prática que o educando e o educador vivenciam,

40 Este conceito que veremos em detalhes posteriormente, nos permite compreender sinteticamente “uma maneira integradora e sustentável de entender a ação formativa, sempre em relação ao sujeito, à sociedade e à natureza” (TORRE; MORAES, 2008, p. 21).

concomitantemente, vários processos do conhecimento da arte de aprender e de se autoconhecer (SOARES, 2006).

Para Soares (2006), há aspectos da educação transdisciplinar que ajudam o ser humano, em sua vivência na arte de aprender ou na arte de se autoconhecer e a conhecer e compreender as implicações do processo. Seguem alguns destes aspectos: constituição da sua corporeidade; da potência criadora da sua vontade de viver; da dialogicidade entre a sua respiração e o pulsar da respiração da Vida Divina Criadora41 em sua existência; das diferentes dimensões do processo de construção do sentido/significado da sua vocação de existir (SOARES, 2006, p. 71).

Em palestra42 sobre “Pedagogia das Virtudes para um novo modelo civilizatório” no Centro de Saberes, Soares (2013) ressalta que a virtude “[...] é a fonte da vida que respira de graça em nosso ser. É a dimensão do próprio pulsar da vida criadora”. Assim, a virtude se torna o movimento de energia que nos conduz ao outro, à vivência da arte de aprender a ser e ao autoconhecimento. “Sem autoconhecimento não há ativação do descobrimento das virtudes”. Numa pedagogia virtuosa que propõe um novo modelo civilizatório, na qual o valor da virtude emerge da potencialidade e da força de vida própria do ser humano, colocando-o em contínuo e consciente movimento (SOARES, 2013).

Não podemos esquecer que ensinar exige uma prática reflexiva constante sobre a reflexão-na-ação e na reflexão sobre a ação. É importante esclarecer que esta prática reflexiva pode ser o fio condutor para esta consciência espiritual existente na atenção plena docente.

Compreender esta prática transdisciplinar é primordial para que o ser humano possa “[...] libertar-se do vírus coletivo do hábito-vício43 da reação existencial” (p. 135) e,

sobretudo, conquistar por meio desta vivência da arte de aprender, “[...] o direito de apropriar- se da possibilidade de ser/estar presente e agir com consciência em cada novo momento da experiência misteriosa de viver” (SOARES, 2006, p. 135).

E que esta prática reflexiva possa ainda, significar o reconhecimento da totalidade humana, a religação da sensação à intuição, do sentimento ao pensamento, do intelecto ao espírito, onde o ser humano possa se apresentar em sua inteireza, belo, justo, saudável e sagrado (MORAES, 2003).

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Revela-se e se oculta na dança das relações do ser humano com outros seres humanos, com a natureza, com o universo, com o vazio, a solidão, o silêncio, a chuva e todas as coisas que existem... (SOARES, 2003).

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Encontro sobre a “Pedagogia das Virtudes para um novo modelo civilizatório” promovido pelo Centro de Saberes – União Planetária, dia 12 de agosto de 2013, teve como meta o aprofundamento dos modelos de educação voltados para o resgate dos mais altos valores da sociedade. Disponível em:

http://www.uniaoplanetaria.org.br/novoportal/2013/08/13/centro-de-saberes-discute-pedagogia-das-virtudes/. 43

Em todo caso, somos permanentemente convocados a ‘sentipensar’44, a construir um novo cenário, redimensionando-o, para que possamos nos apresentar docentes capazes de desenvolver e exercer em seu ato sagrado de professor, atitudes imbuídas de esperança, ternura, escuta, alegria, amizade, compreensão, compaixão e amor.

Dessa forma, quando nos concentramos no fluxo intencional e nos colocamos no momento presente, a sensação que surge é de revelação. Estar atento não é chegar a um ponto determinado, é estar perceptivo e receptivo à realidade da função reflexiva. Esta função abre as portas para o descobrimento do sagrado que nos conduz além das sensações, das palavras e dos mundos da identidade pessoal, nos colocando diante da inteireza do ser, até alcançarmos a plenitude de uma mente aberta e infinitamente amorosa.

Segundo Siegel (2010), o “[...] amor é para nossas relações, neste planeta precioso e precário, o que o ar é para a vida” (p. 307). Com a função reflexiva podemos cultivar em cada um de nós e nos outros o acesso para um ‘eu’ mais profundo que a identidade pessoal. É neste estado atento e pleno que poderemos encontrar a cura para a comunidade global, de mente a mente, de relação a relação, de momento a momento (SIEGEL, 2010).

Como observa Robles (2013), necessitamos da espiritualidade, porém essa busca tem que ser totalmente desinteressada, sem ego, onde a busca da espiritualidade torne-se objeto, a busca do conhecimento torne-se experiência, a busca do sujeito torne-o ser humano e nesta visão tridimensional tornem-se unos.

1.4 A TRANSDISCIPLINARIDADE E OS OPERADORES COGNITIVOS PARA UM

No documento Consciência espiritual no ato docente (páginas 107-109)