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Caminho da sutilização

No documento Consciência espiritual no ato docente (páginas 122-125)

CAPÍTULO 1. REVISÃO DO PERCURSO

1.4 A TRANSDISCIPLINARIDADE E OS OPERADORES COGNITIVOS

1.4.4 Caminho da sutilização

Como já dissemos antes, o caminho da espiritualidade é o caminho da sutilização, pois é o caminho para o aperfeiçoamento do saber e do sentir. Isto é a sutilização, isto é espiritualidade. Para Corbí (2007a) o caminho para a sutilização e para espiritualização é o caminho do silêncio. Isto implica o silenciamento de todas as construções que nossa necessidade projeta. “[…] Silenciamiento de todas nuestras objetivaciones, representaciones figuraciones; […] de todos nuestros deseos; […] del continuo movimiento que el deseo imprime a nuestro pensar y sentir: hacia atrás, - los recuerdos -, y hacia delante, - los proyectos (p. 300). O silencio interior nos desvenda os olhos da necessidade que nos projeta. “[…] Al retirar la retícula, calla el mundo dual de sujetos y objetos que imponemos a la realidad desde nuestra condición de vivientes (p. 300).

Este desvendamento nos conduz para um caminho de conhecimento, é um processo que,

[…] refina, afina, sutiliza la mente, la sensibilidad, el corazón, los sentidos y el cuerpo entero. A ese refinamiento, que es una sutilización, algunas tradiciones religiosas le llaman espiritualización. Todo nuestro ser se hace vibrante y cognoscitivo; suave, fluido y tenue como un soplo, como el viento que se mueve libremente por todas partes (CORBÍ, 2007a, p. 195).

Desse modo, para se construir um projeto de qualidade, que não pode repetir o que considerávamos de qualidade no passado, temos que silenciar nossa mente, e assim, construir indivíduos de qualidade capazes de formular postulados axiológicos e de desenhar projetos de futuro qualificados. Mas, como construir indivíduos de qualidade quando não temos qualidade?

Corbí (2007a) alude que não dispomos de critérios de qualidade porque o passado não nos serve e o futuro terá que ser desenhado. No entanto, a qualidade humana deve possuir três tipos de recursos fundamentais. O primeiro recurso o indivíduo deve apresentar um interesse mental e sensitivo pela realidade. Contudo, um interesse pede uma atenção desperta, em pleno e contínuo estado de alerta. O segundo recurso o indivíduo precisa adquirir capacidade de distanciamento das realidades as quais demonstre interesse pessoal, este distanciamento demonstra desapego. E ao mesmo tempo, ter interesse profundo pela realidade, em um completo estado de alerta. “[…] Esa distancia y desapego comporta una desidentificación de sí mismo y de la situación en que uno pueda encontrarse. Por la distancia, el desapego y la desidentificación, el ego, sus temores y deseos quedan olvidados y silenciados (CORBÍ, 2007a, p. 310).

Para Corbí (2007a), o terceiro recurso trata da capacidade de silenciamento interior completo. Silenciar completamente as interpretações e classificações habituais da realidade, parar por completo as formas usuais de atuar na e sobre as coisas “[...] poner en un paréntesis completo lo que son las normas, de hecho intocadas, de vivir” (p. 310). Somente este silenciamento completo dos padrões de leitura, classificação, atuação e de vida pode permitir “[...] el acercamiento limpio, franco y desinteresado de uno mismo, por puro interés por la realidad (p. 310). Corbí (2007a) ainda justifica que, somente separando da nossa mente e do nosso sentir todos esses padrões que modelam a realidade, “[…] le doy posibilidad de que se me muestre otra cara, que se muestre tal como es. (CORBÍ, 2007a, p. 310).

Mas em que implica esta qualidade humana na vida docente e nos processos de ensino e de aprendizagem? Ora, o resultado destes três recursos nos permite uma atitude de total e completo interesse pela realidade, porém em estado agudo de alerta, com distanciamento, desapego e absoluto silêncio interior capaz de bloquear as interferências que podem impedir o acesso à realidade mesma sem nossas projeções sobre elas. Além do mais,

El aprendizaje de técnicas de silenciamiento tendrá que ser una asignatura de todos los seres humanos del futuro, especialmente de los que pretendan ser los directivos de la nueva sociedad. Ese silencio será un silencio totalmente laico, en cuanto independiente de todo cuadro de creencias y de cualquier tipo de pertenencia religiosa (CORBÍ, 2007a, p. 345).

Com efeito, vale considerar que o cultivo da qualidade e do silêncio pode apresentar pretensões claramente diferenciadas ao docente, que sua vez, tornará visível ao olhar discente. Dessa forma,

Puede pretender su rentabilidad práctica o puede utilizarse para adentrarse profundamente en la experiencia absoluta de la realidad. En las nuevas sociedades, todas las personas tendrían que aprender a practicar el silencio y cultivar la calidad, por razones de supervivencia, de eficacia científica, tecnológica, organizativa, por razones éticas y axiológicas; para ser capaz de crear innovación, sea del tipo que sea; para adaptarse con facilidad a las nuevas situaciones; para conseguir la estabilidad y el equilibrio psíquico; para ser capaz de construir o dar su asentimiento a postulados y proyectos de calidad (CORBÍ, 2007a, p. 345).

Robles (2008) coaduna com Corbí (2007a), ao afirmar que do silenciamento emerge uma nova qualidade especificamente humana, que por sua vez, faz emergir a nova espiritualidade que surge tão somente da “[…] experiencia de lo absoluto que es todo, el universo entero, los otros y nosotros, hecha desde el absoluto de nuestro ser (p. 5). Neste sentido, a nova espiritualidade é tão absoluta que “[…] nada queda por fuera, que no hay ni

fuera ni adentro, interior ni exterior, sujeto ni objeto, necesidad ni deseo, y por tanto nada puede ser construido, fabricado” (p. 5).

Corbí (1996) alude que, caminhar pelo silêncio é caminhar pelos campos da sutilidade. É progredir de sutilidade em sutilidade, é superar nossos limites, pois, “[…] Sutilidad es todo lo que ésta más allá de nuestros límites, todo lo que no está construido a nuestra medida” (p. 153). Portanto, não podemos evitar uma certa dose de incerteza e risco, visto que “[…] Esa incertidumbre y riesgo es inseparable de la marcha de todos y de cada uno (p. 153).

Segundo Corbí (1996), quem se submete a todo processo de aprendizagem, jamais chegará a ‘aprender a aprender’. Porque esta submissão se aprende somente a receber conhecimentos criados por outros. “[…] Lo único que hace el aprendizaje sometido es conseguir una nueva grabación de lo mismo, una nueva copia del saber ya construido” (p. 156). O autor ainda adverte que, “[…] El aprendizaje que se reduce a la sumisa aceptación de conocimientos ya construidos es un aprendizaje instrumento de la indoctrinación y de la homogenización. Indoctrinar es reducir el aprendizaje a sumisión (p. 156).

Corbí (1996) nos esclarece que despertar para a espiritualidade é, portanto, dar início ao processo de construção da aprendizagem. É aprender a aprender, é aprender a adquirir um novo saber, autónomo, consciente, libre e pleno de iniciativa quanto à própria aprendizagem.

Bem, fundamentada nesta revisão de literatura que orientou todo este percurso, e considerando as vozes dos autores e as interpretações feitas ao longo deste capítulo, damos abertura ao próximo capítulo que denominamos ‘diálogos compartilhados’, que traz as discussões e diálogos entre os atores que participaram das entrevistas, e deram subsídios para o entendimento de como se consolida o exercício da consciência espiritual no ato docente.

No documento Consciência espiritual no ato docente (páginas 122-125)