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3 A CONSTRUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E AS MULHERES COMO

3.1 A Transição entre a Antiguidade e a Idade Média

Iniciando a discussão sobre direitos, procederemos agora a uma retrospectiva que nos remete a história da humanidade elucidando, portanto, os primeiros instrumentos normativos, criados por volta de 2.000 (dois mil) e 1.700 (um mil e setecentos) a.C (antes de Cristo) denominados códigos. Tal período é demarcado pela existência de 3 principais códigos:

a) O código de Hamurábi - surgiu no final do período pré-histórico, na fase denominada Idade dos Metais, na qual as pequenas aldeias se tornaram cidades e as guerras por território e soberania deram origem a grandes civilizações. Tendo o desenvolvimento da escrita como um marco que favoreceu a criação desse texto de cunho jurídico, que se desenvolveu durante o primeiro Império da Babilônia (2000- 1750 a.C.), com base na Lei de Talião: “Olho por olho, dente por dente”, determinando que cada crime deveria ser punido com prática idêntica ao delito cometido, caracterizando-se assim pela extrema rigidez e pelo predomínio da autodefesa.

b) O Pentateuco ou Torá - composto pelos cinco primeiros livros da Bíblia Cristã (Gênese, Êxodo, Números, Levídico e Deuteronômio). O Pentateuco ou Torá, livro normativo dos Judeus, tem sua origem datada de aproximadamente 1.500 a.C., sendo sua autoria atribuída ao homem que libertou os hebreus da escravidão egípcia, Moisés, e os guiou na busca da Terra Santa, fenômeno este, intitulado de Êxodo. No livro denominado “Êxodo’’consta os Dez Mandamentos, ou as tábuas da lei, que se constitui um código de ordem religiosa, tendo sido supostamente recebido de Deus, por Moisés, tornou-se o código moral e religioso para os descendentes das tribos de Israel - povo judeu- e tinha como objetivo manter a ordem e a paz.

regulação da sociedade indiana primitiva que instituiu os interesses brâmanes26 e uma rígida divisão de classes na sociedade.

Na antiguidade estes códigos, caracterizavam-se por instituir e impor deveres ao povo, porém, assegurando apenas, certos direitos fundamentais, cumprindo a missão clássica de estabelecer limites à vivência humana, sendo naquele momento necessária para adequar e enquadrar as pessoas que estavam saindo da vida tribal e adentrando a vida em comunidades mais estruturadas e complexas, tal como podemos verificar na história da formação do Estado Greco- Romano, que constituíram grandes estruturas sociais escravocratas, em sua formação.

A Grécia antiga caracterizava-se como uma sociedade escravista. As relações eram, portanto, polarizadas entre senhores e escravos. Conforme esta afirmação de Gonçalves & Wyse (1997) aos primeiros cabiam o direito à cidadania e o direito ao julgamento do destino comum, já aos escravos, as mulheres e as crianças, cabia-lhes o universo do privado que representava o espaço da obrigação. Em Roma a luta dos plebeus pela igualdade com os patrícios – pertencentes à camada superior da sociedade romana- assim como a dos cristãos primitivos – pessoas que viviam no início do império romano e partilhavam, entre si, o mesmo discurso moral baseado na justiça, amor e igualdade – anunciavam também, a busca pelo direito à liberdade contra o arbítrio do poder estatal e das classes dominantes.

Já o período medieval27, que surge a partir das profundas transformações ocorridas pelas invasões bárbaras e pela queda do Império Romano, teve seu fundamento ligado à ascensão ao poder da Igreja Católica em Roma – o imperador Constantino em 313 d.C. após, ter tido uma visão religiosa sobre o resultado de uma batalha a qual chefiara, deu liberdade de culto aos cristãos com o chamado Edito de

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Brâmanes: Grupo pertencente à casta Indiana, que é composta por sacerdotes e letrados. Nessa sociedade, acredita-se que estes nasceram da cabeça do Deus Brahma. Sendo membros da casta mais alta, os brâmanes gozaram historicamente de posição social privilegiada - independente de sua riqueza. A dominância tradicional dos Brâmanes nos assuntos religiosos e administrativos e na política indiana tem sido a causa de fissuras sociais profundas na sociedade indiana. http://pt.wikipedia.org. Acesso em 22/11/2009.

27 A Sociedade Medieval se organiza segundo o modelo de produção feudal. Nesse modelo as

relações sociais caracterizam-se por rígida hierarquia entre os senhores feudais-proprietários das terras - e os servos – aqueles que as cultivam. Os servos diferenciavam-se dos escravos, pois, possuíam direito à vida e proteção dos senhores em caso de guerra. À Igreja cabia a manutenção dos princípios de obediência que regulavam essas relações (GONÇALVES E WYSE, 1997, p.21).

Milão e assim acabou com dois séculos e meio de perseguição e martírio28, conforme os escritos da época – Essa ação, consequentemente, subsidiou o surgimento do primeiro código do direito canônico - que surgiu na solenidade de Pentecostes do ano de 1917, pelo Papa Bento XV e tem por finalidade criar na sociedade eclesial nascente uma ordem que, facilitasse a vida, dos membros da Igreja na sua relação com a sociedade romana e com as demais sociedades da época. Surge então uma sociedade baseada no direito divino na qual Deus é (Senhor do céu e da terra) que tinha nos membros da Igreja e na nobreza feudal seus representantes na terra.

Nesse sentido a atribuição de direitos e deveres passa a ser concebida segundo os estamentos sociais. Portanto, apesar do Cristianismo afirmar a igualdade de todos os homens perante Deus, admitia-se impedimentos de liberdades, desrespeito ao direito de defesa, discriminação de mulheres e a submissão e obediência dos servos. Dessa forma, a sociabilidade medieval foi constituindo-se, em uma sociedade na qual a prática dos direitos humanos era desrespeitada e dificultada pela própria Igreja. Mesmo assim, durante essa época alguns filósofos cristãos recolheram e desenvolveram a teoria do direito natural, baseados na teoria de que o indivíduo encontra-se no centro de uma ordem social e jurídica “justa” (RUFINO, 1995).

Tais elementos, aliados a superexploração dos servos pelos senhores, alterações do quadro social pela ação humana, o crescimento de um novo grupo – a burguesia comercial –, a unificação política através do surgimento dos Estados Nacionais e consequentemente uma nova concepção do homem e do mundo constituem o quadro que, conforme Aquino (1980), atingiu no século XVII notável desenvolvimento, favorecido pela monarquia absolutista. Na Inglaterra, Henrique VIII e Elizabeth I unificaram o país, dominaram a nobreza, afastaram a ingerência papal, criaram a igreja nacional inglesa, confiscaram terras da Igreja Católica e passaram a disputar os domínios coloniais com os espanhóis.

28 Para entender Jesus e o movimento desencadeado por ele é necessário partir do fato de que

aquele nasce e vive junto a um povo oprimido e julgado, atravessando uma grave crise política originada pela dominação romana da Palestina e as diferenças acentuadas entre a Galileia e a Judeia. Na Palestina, a sobrevivência cotidiana era um autêntico problema para a maioria da população e a pobreza constituía um generalizado fenômeno de massas. Portanto, surgem expectativas religiosas muito importantes dando origem a diversos movimentos populares como os: messiânicos (movimentos políticos e armados) e os proféticos (movimentos religiosos que esperavam uma mudança radical e iminente da situação, por obra de Deus) (RUFINO, 1995).

Desta feita, a burguesia se sente fortalecida para combater o poder absolutista que se tornava incômodo, visto que barrava o avanço da burguesia mercantil que viu-se sem liberdade para suas atividades, e os artesãos, que pagavam caro por alúmen e produtos indispensáveis a seu trabalho. Ao mesmo tempo, a garantia de privilégios às corporações de ofício29 impedia o aumento da produção industrial, pois eles limitavam a entrada de novos produtores nas áreas urbanas. Surgem também outros problemas econômicos no campo tais como: a alta de preços e a expansão do consumo de alimentos e matérias-primas, bem como a transformação em propriedade privada das terras coletivas (Ibdem).

No plano político, conforme Arruda (1969) havia o conflito entre o rei e o Parlamento. A este, instituído pela Carta Magna de 1215, cabia o poder de direito, isto é, legítimo, mas, os reis eram quem de fato mandavam. No século XVII, o Parlamento pretendia transformar seu poder de direito em poder de fato, mas, a monarquia não desejava abrir mão do seu poder. Só havia uma forma de mantê-lo: considerar o poder real de origem divina, como na França.

A luta política desenvolveu-se então no campo religioso e os reis e burguesia manipularam a religião para justificarem sua manutenção ou ascensão ao poder. Instaura-se a Revolução Puritana como resultado da luta entre burguesia e realeza pelo controle político do país (Ibidem).

Dessa forma, a burguesia pode diminuir o poder absolutista dos reis, através da imposição da “Carta Magna”, criada em 1215, que no entanto limitava a participação da população inglesa, apesar de pressupor a defesa de alguns direitos do cidadão, visto que estes passam a ser atribuídos a aqueles que podem gozar ativamente da liberdade e da propriedade, conforme veremos a partir do nascimento da sociedade moderna.