• Nenhum resultado encontrado

Há aproximadamente 2.500 anos, a história da humanidade nos mostra que diversas culturas se edificam na supremacia masculina e na consequente subordinação feminina.

Em Alexandria no século I D.C, Filon, filósofo helenista, plantou as sementes para que fosse atribuída a condição de subordinação para as mulheres no mundo ocidental. Unindo a filosofia de Platão- que apontava a mulher como tendo alma inferior e menos racionalidade- ao dogma teológico hebraico, demonstrava a mulher como insensata e causadora de todo o mal. A mulher com alma sensual e carnal, cheia de vaidade e cobiça era inferior ao homem, racional e espiritual, constitucionalmente superior.

Já na Grécia clássica o modelo cultural é sintetizado por Apolo, para quem a razão, algo de maior valor, moderada, controlada, objetiva, agora associada à verdade e ao conhecimento é considerada como característica masculina. O oposto do conhecimento era a ignorância (no sentido de desconhecimento), um estado inferior a ser evitado, considerada como característica feminina. As almas superiores da classe dominante tinham a capacidade de se dirigirem ao bom, belo e racional. Os escravos, os estrangeiros e as mulheres seriam inferiores desde o nascimento sem muita racionalidade em suas almas, portanto para estes, o poder passa a ser visto como um direito divino para aqueles que o detêm (MURARO, 1994).

E em se tratando de Conhecimento Racional, este era para Aristóteles, a mais alta conquista humana e assim, os homens, mais ativos seriam superiores e mais divinos que as mulheres descritas como monstros desviados do tipo genérico humano, pois eram emocionais, subjetivas, enfim, uma espécie inferior. O mundo para Aristóteles era constituído por dualismos hierarquizados e polarizados, com clara dominação de um lado sobre o outro. E neste entendimento a razão tem o domínio sobre a emoção, o masculino sobre o feminino e desta forma o homem aloca para si o mundo do trabalho, do poder, da guerra, do conhecimento, enfim, o domínio público, que se opõe, desde então, ao domínio privado, da casa e da mulher (Idem).

No campo religioso, como no antropológico, as bases estão firmadas em figuras e princípios masculinos. Deus, sacerdotes, teólogos e a maioria dos santos, profetas e iluminados são homens ou são figurados como homens. Grandes religiões como a Cristã, Islâmica e Judaica confrontam-nos com uma longa sucessão de figuras paternas e de valores patriarcais22.

Por séculos ou por milênios, sobretudo na civilização judaico-cristã, os valores femininos foram reservados para um segundo plano, sendo na maioria das vezes identificados como sendo o mal, ou tendo relação com o demônio. Tal situação reserva para a sociedade um legado religioso no qual não existe para as mulheres uma referência divina, principalmente nos países protestantes, cujas

10- O Patriarcalismo se constitui num sistema de relações sociais que garante a subordinação da mulher ao homem (QUEIROZ, 2007).

Igrejas não incluem o culto à Maria ou às santas23. Daí a mulher está totalmente submissa ao homem; não pode trabalhar fora de casa e, portanto, a sua subsistência é provida pelo homem e não por ela. Assim, a partir da dominação econômica ao correr das gerações, a mulher vai desenvolvendo e incorporando, a partir da sua condição social uma submissão também, psicológica, ao introjetar a sua condição de inferioridade em relação ao homem (Ibidem).

Nos séculos XVI e XVII, por exemplo, a família ainda não tinha culturalmente as funções afetiva e socializadora, sendo constituída visando a transmissão da vida, a conservação dos bens, a prática de um ofício, a ajuda mútua e a proteção da honra e da vida em caso de crise; o marido, segundo Hiérocles daria conselhos, lições, dirigiria a esposa em sua atividade de dona-de-casa e a mulher interrogaria sobre o que não sabia e daria conta daquilo que tinha podido fazer, relataria o que se passava na casa e o que se passava fora.

Tradicionalmente homens e mulheres casavam-se para desempenhar papéis que a sociedade lhes destinava. Para o homem, a mulher tinha que cuidar dele e dos filhos, e para a mulher, o homem seria o provedor, ele procurava uma mulher que não “pensasse”, que pudesse dominar, e a mulher, por sua vez, um homem bem mais velho, mais vivido, que lhe pudesse dar segurança econômica e emocional. Desse modo, as mulheres almejavam homens que lhes dessem segurança e os homens, domésticas em casa.

No Brasil, a religião Católica se fez presente desde a sua colonização, desta feita, a família patriarcal brasileira, tornou-se modelo dominante enfatizando a autoridade máxima do pai de família sobre todos os outros membros familiares. Este modelo se constituiu como o modelo da classe dominante, que caracteriza não só o chefe de família, mas também: o patriarca, o coronel, o dono do poder econômico e político. Nesse sentido, a mulher em uma sociedade de formação nos moldes da classe dominante, tinha a sua vida totalmente controlada pelo homem.

Contudo nem alguns fatores tais como: a chegada da família real ao Brasil, a realidade urbana, a industrialização, o fim da escravidão e a influência do modelo da família nuclear trazido da Europa, mudaram a realidade de uma sociedade baseada na matriz patriarcal. Na verdade, modificações se deram, mas também ocorreu a preservação dos modelos anteriores, uma síntese dialética, que,

11 Contudo, mesmo no imaginário católico, as mulheres que são objetos de culto e devoção são

ao mesmo tempo em que supera, mantêm (LIMA, 2005).

Assim, a construção dos papéis que definem a relação de gênero sempre colocou a mulher em posição inferior ao homem nas relações estabelecidas na sociedade. No Brasil e nordeste brasileiro essa cultura é profundamente machista e patriarcal, produzindo e reproduzindo uma ideologia reprodutora de relações contraditórias de poder.

Com isso, os papéis masculinos e femininos dentro da sociedade se distinguem de forma que essa distinção passou a ser concebida como obra da natureza, o que implicava numa valorização da força de trabalho masculina e numa desvalorização profissional da mulher. Isso, até certo ponto, explica comportamentos, opções e posições das mulheres no mundo do trabalho e no mundo pessoal, até os dias de hoje.

Sob o aspecto das relações sociais de gênero até onde a história nos permitiu alcançar e conforme a perspectiva da historiadora norte-americana Joan Scott (1990), nunca existiu sociedades igualitárias. Ao contrário, foram todas, e são as atuais, marcadamente patriarcais sendo as diferenças entre homens e mulheres sistematicamente convertidas em desigualdades em detrimento do gênero feminino.

Nesse sentido, quando se toma por parâmetro as configurações da violência de gênero objetivando refletir sobre as questões de igualdade e justiça social, é cabível destacar o olhar teórico de Fraser, que propõe um olhar de gênero bifocal, onde de um lado teria afinidades com classe e de outro existiria a ligação com o status, atribuindo dessa forma duas dimensões do ordenamento social: a dimensão da distribuição e a dimensão do reconhecimento. No que concerne a perspectiva distributiva a autora faz a seguinte reflexão:

Gênero aparece como uma diferenciação semelhante à classe, enraizada na própria estrutura econômica da sociedade. Trata-se de um princípio básico para a organização da divisão do trabalho, dá sustentação à divisão fundamental entre trabalho “produtivo” pago e trabalho doméstico “reprodutivo” não pago, sendo este designado como responsabilidade primária das mulheres. Como consequência, vemos uma estrutura econômica que gera formas específicas de injustiça distributiva baseada no gênero (FRASER, 2006, p.64).

categoria gênero apresentando-se como uma diferenciação de status, enraizada na ordem de status da sociedade:

Gênero codifica padrões culturais de interpretação e avaliação já disseminados, que são centrais na ordem de status como um todo. Portanto, uma das principais características da injustiça de gênero é o androcentrismo: um padrão institucionalizado de valor cultural que privilegia traços associados com a masculinidade, assim como desvaloriza tudo que seja codificado como feminino, paradigmaticamente - mas não somente- mulheres (Idem, ibidem).

Este fato se coloca claramente, mediante brincadeiras infantis, como por exemplo, o futebol onde os meninos têm que agir de forma agressiva, com imposição; seguidos dos momentos na escola, nos bares, na própria casa, onde estão postos mecanismos de brutalidade característicos do transformar-se em homem socialmente. Logo a violência se coloca como resposta tipicamente masculina para resolver conflitos cotidianos, bem como, negar a possibilidade de manifestar emoções ou fraqueza.

De acordo com o exposto, o comportamento dos homens e das mulheres na sociedade, remete-nos a uma apreensão da dinamicidade histórico-social da humanidade, compreendendo a interação existente entre as ações humanas e o padrão social nos quais estão imbricados, decodificando a cultura como sendo o somatório de inúmeros aspectos e interesses dominantes embutidos na lógica das relações de poder inerentes à estrutura da sociedade.

A respeito da dinamicidade histórico-social e cultural da humanidade, nos cabe ressaltar a cultura dos povos indígenas que também tem por base a chefia das aldeias representada pela figura masculina, bem como as divisões de tarefas baseadas conforme o sexo e a idade; cabendo, portanto ao homem as atividades de caça, pesca, plantar, derrubar árvores entre outras, enquanto que a mulher se responsabiliza pelas atividades de plantar, fazer utensílios de cerâmica, preparar os alimentos e cuidar das crianças.

Portanto, a relação de gênero retrata a relação desigual e dicotômica entre homens e mulheres, na qual a constituição dos dois seres é concebida como sendo imposta socialmente, cabendo ao homem uma conduta hierárquica sobre a mulher. Dessa forma, passa a existir uma divisão de papéis entre homem e mulher,

a qual é transmitida historicamente, gerando diferenças sócio-culturais entre os sexos masculino e feminino que se traduzem em desigualdades econômicas e políticas, atribuindo à mulher posição inferior nas diferentes áreas da vida humana, justificando assim a dominação do homem e a subordinação da mulher. Conforme Faria & Nobre, 1997, p.12: “A naturalização dos papéis e das relações de gênero faz parte de uma ideologia que tenta fazer crer que esta realidade é fruto da biologia, de uma essência masculina e feminina, como se homens e mulheres já nascessem assim”.

Fato este que, sob a análise de uma perspectiva feminista de gênero, revela uma construção social e cultural dos sexos biológicos, tendo como ponto de partida o que é definido, significado e esperado como masculino, relativo ao homem em oposição e contrariamente ao que é definido, significado e aguardado como feminino e relativo à mulher. Definindo assim, e significando para ambos o seu sexo social traduzindo-se no ser social dos homens e das mulheres segundo a história da sociedade ou formação social concreta. Compreende-se, assim, porque na Antiguidade, na Idade Média e na Modernidade, a interferência da mulher nos caminhos históricos é menosprezada e nunca percebida como uma participação ativa, capaz de guiar as decisões.

No caso brasileiro, pontua-se a existência de raízes assimétricas entre os papéis sociais atribuídos ao ser homem e ao ser mulher, com gênese na formação sócio-histórica do território brasileiro, solidificado nas raízes patriarcais que geriram e gerem historicamente as relações de poder.

Portanto, pensar o fenômeno da violência de gênero, pressupõe perceber a apreensão dos papéis sociais e a forma autoritária em que são administrados os conflitos nas relações sociais. Dessa forma, a violência de gênero pode ser entendida como sendo um padrão específico da violência baseada na hierarquização e desigualdade de lugares sociais sexuados que atribuem posições sociais aos gêneros (ARRAZOLA, 1999).

Para refletir acerca do caráter complexo da violência, ou para se compreender a violência de gênero é necessário identificar seu caráter, uma vez que ambas ultrapassam fronteiras e considerando que:

violência causa indignação, pede por intervenção. Pode ser encarada como um sintoma gerado por/gerador de momentos de grande tensão, denunciando uma estrutura social e/ou familiar insatisfatória, decorrente, em grande parte, da perda de referências e valores estruturais (FERRARI e VECINA 2002, p.70).

A perda de referência e ou valores estruturais quando denominadas sob o signo da violência de gênero ultrapassa fronteiras; podendo ocorrer em âmbito privado ou público, nos países pobres ou ricos assim como nas camadas mais ricas ou pobres da sociedade. Conforme o direcionamento que a sociedade atribua ao comportamento humano, a partir das atribuições dos papéis sociais masculinos e femininos.

No tocante aos aspectos sociais, cabe lembrar que a violência de gênero encontra-se presente nas relações humanas em geral, seja nas relações conjugais, de trabalho, na política, nas de amizade e de parentesco. Portanto, acreditando ser e se considerando superior à mulher, o homem busca manter uma relação de poder, violando os direitos humanos; nesse caso, os direitos da mulher e, contrariando assim, a lógica da igualdade, liberdade e de oportunidades, pelas quais a sociedade moderna e burguesa afirma se pautar.

Contudo, é a partir dos moldes da sociedade burguesa que a violência contra a mulher vem ganhando novos contornos. Uma vez que é inerente ao padrão das organizações desiguais de gênero e esta desigualdade é tão estrutural quanto à divisão da sociedade em classes sociais. Desta feita, conforme Safiotti (2004), nessa sociedade, o gênero, a classe e a raça/etnia fundamentam as relações sociais. Ainda em complemento a essa afirmação Rago (2003), afirma que a representação burguesa dos sexos tem forjado o modelo adequada sendo, a mulher vista enquanto sombra do homem, o que lhe dava o direito à existência apenas como auxiliar do crescimento.

Nessa forma de sociabilidade a violência contra a mulher encontra “justificativa” em padrões sociais norteados pelas relações de gênero, ou seja, em regras que reforçam uma valorização diferenciada para os papéis masculinos e femininos e, na análise de algumas estudiosas, tal como Chauí (1984), a violência se caracteriza como a violação da liberdade e do direito de alguém ser sujeito constituinte da sua própria história. É o olhar-se para dentro e não se perceber como sujeito de direito, apenas como objeto vulnerável ao ato violento e criminoso por

parte, na maioria das vezes, do sujeito com o qual a vítima veio um dia a constituir uma relação amorosa.

Nesse entendimento, o uso intencional da força física ou o abuso de poder quando dirigido à mulher é considerado violência contra a mulher, também conhecida como o fenômeno da violência de gênero, ocorrendo no mundo inteiro, atingindo a mulheres de todas as idades, graus de instrução, classes sociais, raças, etnias e orientação sexual. Segundo as Estatísticas Internacionais da Violência Contra as Mulheres, em um total de um bilhão, três mulheres são espancadas, forçadas a ter relações sexuais, ou abusadas de uma forma ou outra, nas suas vidas (ONG-AGENDE, 2006).

Em se considerando a abrangência de tal fato, há que se perceber que as relações sociais de gênero constituem uma cadeia de desigualdades que começa na família e nas comunidades, atravessando os sistemas normativos e de ação social, o mercado de trabalho, o sistema social, as políticas de Estado e os meios de comunicação.

Ressalta-se que a violência de gênero sempre foi considerada uma questão de “vida privada” e que em hipótese alguma havia espaço para intervenções externas, tornando a família um espaço arbitrário e impune. Nesse sentido, Marx e Engels, já atentavam para a opressão da mulher como sendo uma necessidade das sociedades capitalistas industriais modernas. Portanto, tal opressão se dá através das instituições, com destaque para a família, enquanto instituição social que subordina a mulher a um mero papel reprodutor, isto é, em meio da reprodução que serve à perpetuação das classes envolvidas no processo de produção.

Com base no que hora discorremos, é possível chegarmos ao entendimento de que a categoria relações sociais de gênero, quando elucidada a luz do pensamento de Scott (1990) caracteriza-se como sendo as relações sociais entre os sexos e como uma das primeiras formas de manifestação de poder na sociedade, tendo quatro dimensões inter-relacionadas: a simbólica, a normativa, a organizacional e a subjetiva e estas, quando compreendidas a luz das ideias de Safiotti (2004), consistem em considerar sexo e gênero como uma unidade, uma vez que não existe uma sexualidade biológica, independente do contexto social em que

é exercida24.

Assim, cabe-nos destacar que as mulheres travaram várias lutas, tais como: o sufragismo e o movimento feminista na história da humanidade25, como reação ao domínio masculino, que abrangeram questões sociais, políticas e também um debate aprofundado sobre as construções para o conceito de gênero.

Embora mereçam destaque vários avanços das mulheres, a presença do modelo de família machista e patriarcal ainda é um modelo hegemônico dentre as outras formas de famílias que vêm se apresentando na contemporaneidade e quando nos referirmos à questão de “gênero”, estamos também implicitamente nos referindo à questão do “poder do homem” exercido sobre a mulher e ligado à impunidade. Em conformidade com Lavinas (apud PINHEIRO e SOUSA, 2006, p.22)

Por um lado, a família como paradigma do privado, espaço de vida doméstica das relações interpessoais, lugar do feminino, da subjetividade. Por outro lado, o domínio do público, dos interesses impessoais, portanto civis e universais, lugar do político por excelência e dos negócios, arena exclusiva dos homens, referência objetiva e imparcial. A separação e a oposição entre o privado e o público exprime a subordinação naturalização das mulheres frente à individualização social dos homens. A esfera doméstica implica relações de dependência-marido/esposa [...] enquanto a esfera pública é pautada por pressupostos igualitários que caracterizam a relação de cidadãos independentes entre si.

A disposição dos espaços públicos e privados tal como vem sendo utilizado pela sociedade capitalista, reafirma o caráter patriarcal que, em muito, vem sendo questionado e sofrendo algumas modificações, frutos das lutas feministas.

Desta feita torna-se necessário entendermos, atualmente, a violência de gênero a luz da concepção de Safiotti (1994, p.197),

Um conceito amplo, que abrange vítimas como mulheres, crianças e adolescentes de ambos os sexos. No exercício da função patriarcal, os homens detêm o poder de determinar a conduta das categorias sociais,

12-Para Safiotti também é impossível dissociar a discussão de gênero do patriarcado e do capitalismo que lhe dá forma. Portanto, neste trabalho, ao nos referirmos a qualquer um desses conceitos, sempre deve ser considerado que são três dimensões, hoje, na maior parte do mundo contemporâneo, interligadas e inseparáveis: As relações de gênero se dão em sociedades patriarcais e capitalistas.

nomeadas, recebendo autorização ou, pelo menos, tolerância da sociedade para punir o que lhes apresenta como desvio.

Com base nesse entendimento fica claro que os padrões culturais da sociedade capitalista delegam relações sociais de poder, atribuindo prestígio e autoridade ao homem, cabendo a mulher um papel secundarizado.

Assim, a agressão doméstica e familiar de caráter sexista é um fenômeno social que estabelece relações orgânicas com fatores de ordem histórica e cultural. Assim, constatamos que esse tipo de violência encontra-se inserida no contexto de desigualdades e manifestações violentas, dirigidas preferencialmente, conforme estudos efetivados, às mulheres e às “minorias” sociais. Com relação à violência sexista, Chauí (1984, p.10) ressalta,

A violência sexista é aquela que a mulher sofre pelo simples fato de ser mulher e é exercida pelos homens. Tem suas bases na existência de relações desiguais entre homens e mulheres, que são sustentadas pela construção social do Ser mulher, como gênero feminino inferior ao Ser homem, como gênero masculino superior. As mulheres vivem uma situação de desigualdade em todas as esferas da sociedade e são consideradas subordinadas, dependentes e pertencentes aos homens. Como decorrência dessas relações desiguais de gênero, todas estão sujeitas a esses tipos de violência.

Nesse contexto, é cabível ressaltar que o termo gênero auxilia na desmistificação de que as diferenças sócio-culturais existentes entre os sexos masculino e feminino, intrínsecas nas desigualdades econômicas, e políticas, submete as mulheres a uma posição inferior a dos homens nas diferentes áreas da vida humana. Conforme Lauretis: “qualquer sistema de sexo-gênero está sempre intimamente interligado a fatores políticos e econômicos em cada sociedade” (1994, p.212). Baseado nessa visão, a construção cultural do sexo em gênero e a assimetria que caracteriza todos os sistemas de gênero por meio de diferentes culturas são compreendidas como sendo sistematicamente ligadas a organização da desigualdade social.

Portanto, o Brasil, como sendo uma sociedade capitalista de passado