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Violência contra a mulher: uma análise do trabalho do Centro de Referência da Assistência Social - CREAS/Parnamirim

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UMA ANÁLISE DO TRABALHO DO CENTRO

DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL-CREAS/PARNAMIRIM

VALÉRIA REGINA CARVALHO DE OLIVEIRA

NATAL

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VALÉRIA REGINA CARVALHO DE OLIVEIRA

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UMA ANÁLISE DO TRABALHO DO CENTRO

DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL-CREAS/PARNAMIRIM

Dissertação de Mestrado apresentada à Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Serviço Social.

Orientadora: Prof. Dra. Rita de Lourdes de Lima.

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AGRADECIMENTOS

A DEUS, que a todo instante e a cada amanhecer me diz para acreditar que o hoje será melhor.

Ao meu pai Vanilson, (in memorian), que mesmo não estando mais comigo tenho a convicção de que continua torcendo e contribuindo para que eu possa me realizar. A você que com toda a sua humildade soube nos ensinar a buscar e continuarmos no caminho do conhecimento, o meu muito obrigada.

À minha mãe Lourdes, que não é fraca não viu! Ao contrário, é o maior exemplo de fortaleza e sabedoria que tenho aprendido e busco segui-la nesta vida. Serei sempre muito grata a você, mãe querida.

Aos meus amados filhos, Zenóbio e Sofia que ao modo particular de cada um souberam compreender a minha ausência, quando das brincadeiras, estudos, passeios, conversas e hora de dormida, mesmo estando presente em casa e não podendo acompanhá-los durante todo este tempo, em que tive que me dedicar ao término do mestrado. Obrigada ainda pela ajuda e o apoio que me disponibilizaram em diversos momentos difíceis desta caminhada.

Aos meus irmãos, Léssia, Tiê e Tuil, meus sobrinhos, Sâmia e Shelton, as minhas tias Diá e Doquinha e a minha cunhada Édna que compreendem a minha ausência de suas vidas neste momento, porque, acompanham e torce por mais esta conquista em minha vida.

Aos meus amigos e companheiros de caminhada: Line, Albino, Prof. Paulo, Cléo, , Telma, Katiana, Manú a todas e todos vocês que me impulsionaram e me auxiliaram ao adentrar, permanecer e concluir mais esta jornada rumo ao conhecimento.

A minha turma de mestrado na qual pude desfrutar da companhia e companheirismo e em especial a Any, Cláudia, Luana, Leila, Francilene com as quais também aprendi muito quando partilhei da experiência de ser professora substituta na UFRN e tive a oportunidade de tê-las como minhas alunas.

Ao CREAS e todos os seus profissionais, por ter me acolhido prontamente e disponibilizado os meios necessários e possíveis para a realização desta conquista.

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A equipe do CIAM, Manú, Karen, Rafa, Telma, Ana Carina com a qual aprendi muito sobre amizade e profissionalismo.

As minhas equipes de trabalho CASEM e CAE com as quais tenho compartilhado e aprendido novas experiências, como também compreensão.

Agradeço a Line, Bruno e a Izabelle que prontamente e efetivamente contribuíram para a realização deste trabalho, idealizando, construindo gráficos, normatizando e padronizando.

Aos meus alunos e alunas da FAL e FACEX, que me davam sempre um novo ânimo para continuar seguindo rumo à concretude deste trabalho.

A Lucinha, secretária da Pós que sempre buscou desmistificar os trâmites burocráticos necessários a minha permanência na vida acadêmica, e mais que isso, sempre me dizendo para não desistir.

A turma de Mestrado de Valmara, Sônia, Maruwila e demais, que me acolheram com muito carinho.

A todas as professoras e professores da graduação e do mestrado, que com disponibilidade e sabedoria me motivaram a permanecer nesta caminhada.

A minha orientadora Rita que pacientemente soube apontar o caminho e sabiamente me orientar nesta caminhada. E assim, construirmos uma relação de profissionalismo e muito afeto. A você o meu super obrigada. Rita, este momento é nosso!

As professoras Denise, Fernanda e Silvana que prontamente aceitaram o convite para compor a minha banca e assim, enriquecerem ainda mais este trabalho. A vocês desde já o meu muito obrigada.

A todos e todas que contribuíram direta ou indiretamente com este trabalho, mesmo que apenas com uma pergunta: Não vai terminar este mestrado não é? O que me dava uma força enorme. (ainda que não tenha sido citado e que eu não os tenha agradecido quando na ocasião), o meu muito obrigada.

Como iniciei termino agradecendo a Deus esta força suprema que me concedeu mais esta realização.

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OLIVEIRA. Valéria Regina Carvalho De. Violência Contra a Mulher: uma análise do trabalho do centro de referência da assistência social-CREAS/Parnamirim. Dissertação de Mestrado. Programa de pós-graduação em Serviço Social. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. NATAL-RN, 155fs.

RESUMO

O presente trabalho apresenta os resultados obtidos através da pesquisa: violência contra a mulher: uma análise do trabalho do centro de referência da assistência social-CREAS, realizada no município de Parnamirim/RN no período de setembro de 2008 a fevereiro de 2009. Tendo como objetivo investigar e analisar, em um recorte longitudinal, que compreende especificamente o período de 2006 a 2007, até que ponto as ações desenvolvidas pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social-CREAS, contribuiram para a modificação das mulheres que foram atendidas, verificando se houve alguma mudança em suas posturas frente à situação de violência, e se estas passaram a se perceber enquanto sujeitos sociais, capazes de interferir em suas situações de vida e na orientação da dinâmica social, objetivou também verificar se a presença do trabalho e da escolarização (ou a falta destes) é também um elemento a ser aliado aos entraves impostos às mulheres na sociedade contemporânea. No referido estudo constatou-se, através de uma pesquisa qualitativa norteada pela concepção dialética e aplicada através do emprego de pesquisa documental, observação, entrevistas semiestruturadas e fundamentação teórica sobre a temática em questão, que a mulher vítima de violência, encontra-se em um complexo e contraditório contexto, no qual existe ao mesmo tempo a construção e a desconstrução de direitos, tendo em vista a existência de fortes influências da cultura patriarcal e de manifestações da questão social na vida do público pesquisado, incidindo nos aspectos sociais, econômicos, políticos, sociais e culturais. Neste sentido, a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, operacionalizada pelo CREAS-Parnamirim, se traduz ainda de forma incipiente na vida destas mulheres não oportunizando possibilidades reais para essas vítimas de violência se perceberem enquanto sujeitos sociais capazes de controlar suas vidas e interferirem em seus próprios destinos. Desta feita o referido estudo, não tem a pretensão de esgotar a temática da violência contra mulher e sim subsidiar futuros estudos.

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ABSTRACT

This work demonstrates the results obtained from research on violence against women: an analysis of the work from reference center of the Social Assistance-CREAS, held in the city of Parnamirim/RN from September 2008 extending through the february of 2009. Having as goal to investigate and examine in a longitudinal cut, which specifically covers the period from 2006 to 2007, find out extent the actions taken by the Reference Center Specialized Social Assistance-CREAS, contributed to the change of women who were there, by checking if there was any change in their positions ahead of the violence and if they began to realize how social subjects, able to control their living conditions and interfere in the orientation of social dynamics Have a particular emphasis on the presence of work and schooling or lack of them is also a factor to be allied to the barriers and rules imposed on women in contemporary society. In this study it was found through a qualitative research guided by dialectical and implemented through the use of documentary research, observation, semi-structured interview and an extensive theoretical background on the subject in question that the woman victim of violence is in a complex and contradictory context where there is both the construction and deconstruction of rights, a view that there are strong influences of patriarchal culture and the consequences of social issues that specifically searched for the public, focuses on social, economic , political, social and cultural. In this sense, the National Policy to Combat Violence against Women, operated by CREASE – Parnamirim, is also reflected in its early stages in the life of these women are to nurture a real chance for these victims of violence, to perceive themselves as social subjects can control their lives and interfere in their own destinies. We want this study to add more knowledge to help and most appropriate intervention in this reality, but without the intention of reaching exhaustion, but to subsidize future studies on the topic of women victims of violence.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Organograma Correspondente ao CREAS do Município de Parnamirim/RN

... 99

Quadro 2 Atual Equipe do CREAS de Parnamirim ... 100

Quadro 3 Idealização Metodológica da Pesquisa ... 110

Quadro 4 Tempo de Abrigamento ... 126

Quadro 5 Convivência Atual das Entrevistadas ... 128

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Estado Civil das Entrevistadas... 113

Gráfico 2 Tipo de Residência ... 114

Gráfico 3 Tempo de União com o Agressor ... 115

Gráfico 4 Tipo de Violência Sofrida ... 116

Gráfico 5 Faixa Etária das Entrevistadas e Faixa Etária de quando procurou os Serviços... 117

Gráfico 6 Nível de Escolaridade das Entrevistadas Atual e de Quando Atendidas 118 Gráfico 7 Religião das Entrevistadas ... 120

Gráfico 8 Atividade Atual Desenvolvida Pelas Entrevistadas ... 121

Gráfico 9 Renda Familiar... 124

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LISTA DE SIGLAS

AGENDE- Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento AMO – Associação das Mulheres Ofendidas

ASG – Auxiliar de Serviços Gerais BO – Boletim de Ocorrência

CEDECA – Centro de Defesa da Criança e do Adolescente CEPAM – Coordenação Estadual de Políticas para as Mulheres CF – Constituição Federal

CFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria CGT – Central Geral dos Trabalhadores

CIAM – Centro Integrado de Apoio a Mulher

CIDH – Comissão Interamericana de Direitos Humanos CNDM – Conselho Nacional dos Direitos da Mulher

CNPM – Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres

CODIMM - Coordenadoria de Defesa dos Direitos da Mulher e das Minorias CRAS – Centros de Referência da Assistência Social

CREAS – Centro de Referência da Assistência Social CUT – Central Única dos Trabalhadores

DCA – Delegacias da Criança e do Adolescente

DEAMs – Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher DPGRAN – Delegacia de Polícia da Grande Natal

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente EUA – Estados Unidos da América

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IML – Instituto Médico Legal

JECRIMS – Juizados Especiais Cíveis e Criminais LA – Liberdade Assistida

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social MDS – Ministério do Desenvolvimento Social NOB – Norma Operacional Básica

OEI – Organização dos Estados Ibero-Americanos Para a Educação a Ciência e a Cultura

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ONG – Organização Não Governamental ONU – Organização das Nações Unidas

PAISM – Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher PNAS – Política Nacional de Assistência Social

PNPM – Plano Nacional de Políticas para as Mulheres PNSP – Plano Nacional de Segurança Pública

PSC – Prestação de serviços à comunidade

SEDES – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Habitação SGD – Sistema de Garantia de Direitos

SNS – Secretaria Nacional de Assistência Social

SPM – Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres SUAS – Sistema Único de Assistência Social

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13

2 VIOLÊNCIA: UM FENÔMENO HISTÓRICO-SOCIAL ... 26

2.1 Conceitos, Tipos e Formas de Violência ... 28

2.2 O Crescimento da Violência no Mundo Moderno ... 30

2.3 O Neoliberalismo e a Violência Estrutural ... 37

2.4 O Patriarcalismo e a Violência Contra a Mulher ao Longo da História... 42

3 A CONSTRUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E AS MULHERES COMO SUJEITOS ... 53

3.1 A Transição entre a Antiguidade e a Idade Média ... 53

3.2 A Idade Moderna e a Concepção dos Direitos Naturais ... 56

3.3 O Capitalismo e a Contradição entre o discurso do Direito e a realização do Não-direito ... 64

3.4 As Mulheres Como Sujeitos de Direitos Humanos ... 68

4 DIALOGANDO COM A PESQUISA... 82

4.1 O fenômeno da Violência contra a mulher e a materialização da Política Nacional de enfrentamento a esse tipo de violência ... 82

4.2 O fenômeno da Violência contra a mulher e o CREAS: particularizando a cidade de Parnamirim ... 97

4.3 A Busca pelas mulheres sujeitos da pesquisa: A Condução Teórico-Metodológica ... 106

4.4 Perfil e situação de vidas das mulheres atendidas pelo CREAS ... 112

5 CONSIDERAÇÕES APROXIMATIVAS ... 138

REFERÊNCIAS ... 142

APÊNDICES ... 156

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1 INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos as experiências pessoais e profissionais têm nos levado a refletir sobre a multidimensionalidade da violência na sociedade contemporânea em que vivemos, haja vista que esta mesma contemporaneidade vem se dando, a partir da ótica social, sob o signo da incerteza, da quebra de garantias e de seguranças. Necessário se faz destacar que este estado de coisas, no qual estamos mergulhados, é dado, entre outras coisas, pelas transformações da situação de trabalho e vida nas formas atuais do capitalismo e pelo consumismo que lhe é inerente.

E neste ínterim, entende-se que a insegurança não se constitui como um conjunto de fatos interligados, mas, sim como um modo de gestão da vida em sociedade, uma vez que a violência deixa de ser considerada como fruto de desvio de mentes perturbadas, passando a ser um fenômeno de ordem pública.

Porém, nesta mesma sociedade da insegurança, o espaço público e a política se tornaram insignificantes, fazendo vivenciar-se a miséria e a dor como sendo questões individuais e privadas de cada cidadão, tendo como soluções apresentadas o incremento da segurança, o investimento sobre o corpo e o aumento do consumo.

Ao longo da história humana, sempre existiram vários tipos de violência, implicando diferentes sujeitos e acontecendo sob diversas formas. Esses vários tipos de violência também requisitam respostas diferentes e com dimensões diferentes, porém, em todos os casos, existem agressores específicos, e há vítimas. Neste entendimento trataremos aqui, especificamente, da violência contra

a mulher, sendo aqui compreendida como: “qualquer ato ou conduta baseada no gênero que cause morte, dano ou sofrimento, seja em esfera pública ou privada”

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Diante do exposto, a pesquisa que hora se apresenta torna-se de suma importância, pois, objetiva investigar e analisar, em um recorte longitudinal, que compreende especificamente o período de 2006 a 2007, até que ponto as ações desenvolvidas pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS)1, contribuíram para a modificação na vida das mulheres que foram

atendidas, verificando se houve alguma mudança em suas posturas frente à situação de violência e se estas passaram a se perceber enquanto sujeitos sociais, capazes de interferirem em suas condições de vida e na orientação da dinâmica social, tendo participação ativa nas definições que envolvem a sua própria vida nos âmbitos público e privado.

Nessa perspectiva, buscamos conhecer a realidade de vida destas mulheres, reaproximando-se das que foram atendidas e, posteriormente abrigadas, especificamente no ano de 2006, ano em que o município adequou as ações do CIAM ao CREAS, verificando se houve a inserção dessas mulheres no mercado de trabalho e na vida escolar, como também identificando se existe a permanência, por parte destas, na situação de violência denunciada.

Portanto, tal pesquisa se justifica tendo em vista que quando se trata de violência conjugal, o foco prioritário de qualquer iniciativa deve ser a segurança das vítimas e seu fortalecimento individual, pressupondo a recuperação de sua autonomia, da sua capacidade de escolha, do encontro com o seu próprio caminho e a recuperação das forças necessárias para dar sequência a sua própria vida, elementos estes essenciais para a vida humana e que foram comprometidos pela relação violenta vivenciada.

Outro fator pertinente para a justificação do recorte temporal e objeto de estudo que serão aqui trabalhados, diz respeito aos resultados de pesquisas acadêmicas brasileiras sobre gênero e violência, realizadas de 1975 a 2005. Seguindo uma tendência nacional em relação também a outros temas, têm-se os seguintes demonstrativos: as regiões sudeste, 47,5% (quarenta e sete vírgula cinco

1 A política de combate à violência contra a mulher em Parnamirim, inicialmente se materializou

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por cento) e sul, 13,9% (treze vírgula nove por cento) concentram-se a maior parte das pesquisas realizadas no âmbito da pós-graduação, dado que proporcionam maiores possibilidades de qualificação profissional (MINELLA & GROSSI, 2006). O nordeste apresenta também alto percentual de trabalhos acadêmicos, 29,5% (vinte e nove vírgula cinco por cento), embora estes se encontrem na graduação. Constatou-se ainda que nas regiões centro-oeste, 4,6% (quatro vírgula Constatou-seis por cento) e norte, 3,6% (três vírgula seis por cento) há o menor número de pesquisas sobre o tema. Dessa forma, na região Nordeste, os estudos sobre gênero e violência ainda podem ser ampliados.

No que tange ao lócus de estudo da referida pesquisa sobre gênero e violência, este é bastante significativo, pois as estatísticas que apontam o número de trabalhos com os respectivos lócus demonstram o seguinte quadro: há mais de 90 pesquisas junto às delegacias especializadas de atendimento as mulheres (DEAMs) sobre violência conjugal. As casas de apoio (abrigo) também se destacam, registrando 27 pesquisas, seguidas pelos estudos sobre questões jurídicas (há 18 que abordam legislação e estupro) e 11 que analisam os postos de saúde. Observa-se ainda que os Juizados Especiais Criminais (JECRINS) também foram abordados e o Instituto Médico Legal (IML) serviu como lócus de pesquisa para dois trabalhos sobre estupro (Ibidem).

Tomando como referência esta pesquisa, observa-se que as DEAMs aparecem como espaço privilegiado, conforme mencionado. Nesse sentido, deter-se em análises sobre esta temática no âmbito do CREAS, apresenta-se como um estudo centrado num espaço inovador e integrante das explorações pioneiras sobre a temática neste lócus.

Além do que ainda há que se considerar a existência de certa unanimidade entre os que lidam com os mais variados tipos de violência que ocorrem entre as pessoas que se relacionam no mesmo espaço privado, sobre a necessidade de ampliar e qualificar os serviços de atendimento às vítimas. Sabe-se que é grande o número de mulheres, crianças, adolescentes e pessoas idosas agredidas e que a quantidade e a qualidade dos atendimentos dispensados a este público, estão longe de ser satisfatórias.

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demandadas por 64.157 (sessenta e quatro mil, cento e cinquenta e sete) mulheres, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2000, representando assim, o maior percentual de uma população municipal, composta por 124.690 (cento e vinte e quatro mil seiscentos e noventa) habitantes.

Em 2006, cientes de que a violência doméstica e de gênero configura-se enquanto um problema complexo, que possui raízes na organização social e cultural, nas estruturas econômicas e de poder na sociedade, e baseado na ação da Secretaria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres, que direciona e supervisiona programas e recursos para apoiar as ações de enfrentamento à violência, Parnamirim, adequou as ações do CIAM no CREAS.

Essa adequação se coloca em uma postura de enfrentamento a lógica da violência contra a mulher que, frequentemente é vista como normal e involuntária, sendo justificada pela banalização e passividade por boa parte dos detentores do poder público.

Nessa perspectiva, surge no referido município dentre outros serviços, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social que, conforme nomenclatura é o local de referência e orientação, responsável pelos encaminhamentos da Rede. Tal centro visa ser o propulsor do processo de resgate da mulher como ser social, tendo o papel de dar atendimento e acompanhamento psicológico, social e jurídico à mulher em situação de violência, resgatando e fortalecendo sua autoestima e possibilitando que esta se torne sujeito de seus próprios direitos.

Atualmente, a referida instituição2, está vinculada à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Habitação (SEDES) e desenvolve, especificamente, o serviço especial de média complexidade conforme, apregoa o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Constitui-se como um projeto do Governo Federal em parceria com o Governo Municipal, objetivando garantir assistência às mulheres/famílias vítimas de violência e/ou em situação de risco pessoal e social, visando o fortalecimento de seus direitos e o resgate da autoestima, possibilitando o exercício efetivo de sua cidadania.

E conforme sugere Santos (1996, p.53): “hoje não se trata tanto de

sobreviver como de saber viver. Para tal, é necessária outra forma de conhecimento,

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um conhecimento íntimo que não nos separe e antes nos una pessoalmente ao que estudamos”. Foi com base nesse entendimento que optamos por estudar este tipo específico de violência por constituir-se em um problema que nos é de profundo interesse pessoal e profissional, tendo em vista que as inquietações por este estudo surgiram tanto da experiência de estágio curricular na DEAM – Natal3, quanto da

prática profissional, exercida no CREAS de Parnamirim, entre 2004 a 2006. E ainda por este constituir-se uma indagação necessária à instituição lócus da investigação que almeja tal estudo, objetivando diagnosticar o impacto das ações que vêm desenvolvendo com vistas à prevenção e combate à violência contra as mulheres, bem como avaliar o atendimento às mulheres vítimas de violência, no município de Parnamirim.

Nesse contexto, cabe ressaltar que a definição por este centro foi motivada pela inovação das políticas públicas no âmbito das relações de gênero e, especificamente, por ser o CREAS um canal materializador desta política, que vem desconstruindo a naturalização dos papéis e das relações de gênero, assumindo o pressuposto de que a definição de masculino e feminino é uma construção histórica, política e cultural e um componente estrutural das relações sociais e econômicas. Por último, temos também total interesse em estudar de forma mais aprofundada esta área de atuação do Assistente Social.

Cabe ressaltar ainda que este centro recebeu aprovação de destaque por parte do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) com relação às políticas públicas elaboradas pelo Governo Federal e aplicadas no município entre comunidades pobres. A referida avaliação foi realizada no início do mês de outubro do ano de 2008, quando técnicos do Ministério visitaram os CREAS de 25 (vinte e cinco) municípios do Brasil, em efetivo exercício de suas ações de monitoramento e consideraram Parnamirim e São Gonçalo do Amarante4 como cidades em que os serviços públicos são melhores oferecidos, principalmente às mulheres e idosos e ainda na execução das medidas socioeducativas entre adolescentes em conflito com a lei. No que se refere ao desempenho, a equipe do CREAS de Parnamirim foi

3 Instituição criada em 1986, por meio do Decreto Lei de 12 de maio, a qual se constituiu como sendo a terceira Delegacia criada no país, hoje intitulada como DEAM Zona Sul. Tendo sido o lócus do nosso estágio curricular no ano de 2001, quando da conclusão do curso de Graduação em Serviço Social da UFRN.

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considerada de alto nível e assim recomendada pelo MDS como apta para capacitar outros centros de referência especializados em nível estadual.

Portanto, tal estudo reúne os interesses da pesquisadora com os interesses da instituição lócus de intervenção e do próprio MDS que, na ocasião da visita a este centro, através dos seus técnicos tomou conhecimento deste trabalho de pesquisa e mostrou-se interessado nos seus resultados. O MDS ressaltou o pioneirismo deste trabalho em nível de Brasil, visto que a contribuição que trará responderá não só a Parnamirim, mas também a algumas indagações pontuadas pelo Programa Nacional de Prevenção e Redução da Violência Doméstica e de Gênero. Tal programa busca estimular pesquisas que possam resultar em diagnósticos claros, e que permitam conhecer:

1 A magnitude da violência doméstica entre nós;

2 Os recursos com que o Brasil conta hoje, para fazer face à violência intrafamiliar (sistema de justiça criminal, unidades de saúde, redes de serviço social, iniciativas comunitárias etc.);

3 Os recursos potenciais para atender a vítimas e agressores, representados por iniciativas governamentais e não governamentais;

4 A qualidade do atendimento dispensado pela polícia, pelas unidades de saúde, pelos centros de atendimento, pelos conselhos tutelares, pelos abrigos, pela justiça etc.;

5 Percepções e expectativas das vítimas, agressores e profissionais sobre os recursos de atendimento, sobre a violência doméstica e as formas de combater esse problema.

Considere-se ainda, que a finalidade última deste programa é prevenir e reduzir a violência doméstica e de gênero, ajudar as vítimas a sair da situação de violência e conter os agressores. Para isso, nos plano estadual e municipal é necessário o apoio, a criação, a consolidação e o aperfeiçoamento de redes e serviços de atendimento e de qualificação de profissionais, assim como os esforços de divulgação de informações, de criação de bases de dados e de avaliação do impacto dos projetos implementados.

Acrescenta-se ainda que este centro (nosso lócus de investigação) configura-se como um espaço intrigante de intervenção, tendo em vista que, grande parte da população usuária ainda não conseguiu vencer o ciclo da violência –

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dificuldades de rompimento entre os que a vivenciam.

Portanto, pensar o fenômeno da violência de gênero, pressupõe perceber a apreensão dos papéis sociais e a forma autoritária em que são administrados os conflitos nas relações sociais. Desta forma, a violência de gênero é aqui entendida como sendo um padrão específico da violência baseada na hierarquização e desigualdade de lugares sociais sexuados que atribuem posições sociais aos gêneros (ARRAZOLA, 1999).

No que se refere ao gênero trabalha-se, nesta pesquisa, a concepção do gênero enquanto sendo uma relação construída socialmente entre seres opostos, concepção esta partilhada por: Gouveia e Camurça (1995), Safiotti (2004), Muraro (1994), Scott (1996), Lavinas (1997) e Fraser (2002), que são aqui referenciadas, dentre outros autores.

Nesta busca tem-se ainda a perspectiva de identificar o trabalho e a educação enquanto categorias que não podem ser apreendidas/dissociadas dos determinantes históricos, políticos, ideológicos e econômicos que interferem interna e externamente na vida dos sujeitos sociais, utilizando-se para isso de uma das premissas da concepção materialista da história, que afirma:

Aquilo que os homens são coincide, portanto, com a sua produção, com o que produzem e também como produzem. Aquilo que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais da sua produção (MARX e ENGELS, 1984, p.15).

Outro fator a ser considerado neste estudo, diz respeito ao trabalho que é, conforme Araújo (2008) fundante da civilização ocidental e essencial para a sobrevivência de todos os povos do mundo, seja qual for a modalidade como é exercido. Esse, especificamente para o público estudado, se configura enquanto tendo uma dupla dimensão: trabalho remunerado e trabalho não remunerado, ambos realizados comumente na esfera privada; dimensionando o trabalho social e auxiliando no entendimento das relações entre trabalho e família nas sociedades contemporâneas.

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uma atividade profissional é correlata à fraqueza da sociabilidade dessas mulheres, tendo em vista que os homens são mais afetados que as mulheres por esse processo, que pode conduzir a um fechamento sobre si mesmo, tendo como consequência a diminuição das possibilidades de ser ajudada pelo entorno e a participação na vida associativa. Tal situação faz com que a mulher se feche sobre o espaço familiar, sofrendo, portanto um sentimento de desencorajamento que pode levar à resignação; nesse sentido, a fragilização dos vínculos sociais diz respeito essencialmente à fragilidade e a dependência, muitas vezes decorrentes da ausência de uma atividade profissional fora do espaço doméstico.

Como mais uma das buscas no sentido de garantir igualdade entre homens e mulheres, bem como entender os mecanismos de exclusão que foram utilizados em relação a estas últimas, a literatura sobre gênero na ciência e educação tem ganhando destaque e importância, bem como a discussão sobre a mulher nos espaços de trabalho.

A baixa escolarização ou a ausência desta é também um elemento a ser aliado aos entraves e normas impostas às mulheres na sociedade contemporânea visto que em uma pesquisa realizada pela fundação Perseu Abramo em 2001, sobre o perfil da mulher brasileira no início do século XXI, constatou que de um universo de 602 (seiscentos e duas) mulheres entrevistadas, 98 (noventa e oito) nunca foram à escola e 100 (cem) cursaram somente da 1ª a 4ª série – hoje do ensino fundamental I –, não diferindo, portanto, da maioria das mulheres atendidas pelo serviço especializado do CREAS, que apresenta baixa escolaridade, tendo também apenas o ensino fundamental.

Daí a necessidade real de se investigar e analisar as modificações e/ou resultados trazidos para a vida das usuárias pelo serviço que é disponibilizado no CREAS, no que se refere à violência contra a mulher e, especialmente, para as que foram encaminhadas por este centro a casa abrigo no espaço temporal já descrito.

Seguindo esse mesmo entendimento e particularizando o CREAS-Parnamirim, lócus da intervenção e da pesquisa já mencionada, torna-se possível descrever que, no cotidiano, o caminho percorrido por esta mulher até chegar a este Centro é perpassado, na maioria das vezes, pela naturalização da violência ocorrida e, por conseguinte, a banalização das intervenções, nas quais, algumas vezes, discuti-se a conduta moral das partes envolvidas.

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permanecerem em silêncio, temerosas do julgamento público e resistentes a buscar apoio social, ou mesmo jurídico – policial. Desta feita, o silêncio e a omissão são cúmplices da impunidade e da violência e é necessária a integração entre as várias instâncias e áreas de poder com atuação conjunta (Município, Estado, União, Poder Executivo, Legislativo e Judiciário e áreas de Saúde, Educação, Justiça, Segurança, Trabalho e Promoção Social) para que possam destinar um tratamento adequado, medidas de prevenção e até eliminação da violência contra a mulher nas suas mais variadas dimensões.

Diante de tal contextualização, problematiza-se: até que ponto as ações no sentido de combate à violência doméstica e familiar, materializadas pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), localizado no município de Parnamirim-RN, vem contribuindo para a modificação da postura das mulheres, frente à situação de violência e, particularmente, daquelas que foram atendidas e, posteriormente, abrigadas? Será que o atendimento realizado permitiu que estas se percebessem enquanto sujeitos sociais capazes de modificarem suas vidas e interferirem em seus destinos?

Na tentativa de dar conta de tal desafio que é estudar a violência contra a mulher e responder aos objetivos propostos, foram eleitos, além das categorias violência, gênero e patriarcado que já foram aqui explicitadas, a categoria direitos humanos tendo em vista que a cidadania do ponto de vista formal-legal se complementou em 1988, com o reconhecimento da igualdade entre homens e mulheres nos espaços públicos e privados.

Tendo sido reconhecida legalmente pela Constituição Federal, a violência contra a mulher passa a ser ainda mais influenciada pelas mudanças da conjuntura política na década de 1980 e início da década de 1990, motivando o interesse por parte dos pesquisadores por outros tipos de movimentos sociais e entre eles o das mulheres, visto que este demandava não somente bens e serviços necessários para a sobrevivência cotidiana, mas também, reivindicava direitos sociais modernos, quando requisitava a igualdade nas relações de gênero, raça/etnia e sexo.

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poder inerentes à estrutura da sociedade.

No caso brasileiro, pontua-se a existência de raízes assimétricas entre os papéis sociais atribuídos ao ser homem e ao ser mulher, com gênese na formação sócio-histórica do território brasileiro, solidificado nas raízes patriarcais que geriram e gerem historicamente as relações de poder.

Tais categorias estão dispostas por capítulos que serão assim trabalhados: No capítulo I traremos a introdução que pontua as motivações, importância e os objetivos do referido estudo; no capítulo II discutiremos a violência e em particular como este fenômeno se apresenta na sociedade capitalista, uma vez que se torna essencial pontuar a percepção da violência por parte das mulheres e da sociedade. No capítulo III abordaremos a discussão sobre direitos humanos e como estes se dão na perspectiva da atual sociedade do não-direito.

Para finalizar, no capítulo IV, será retratada a realidade do CREAS, instituição lócus da intervenção e da pesquisa e as mudanças ocorridas na vida das mulheres em situação de violência. Para tanto será necessário pontuar a violência de gênero em Parnamirim e a materialização da Política Nacional de enfrentamento à violência de gênero e os resultados obtidos sobre a situação de vida das mulheres atendidas pelo CREAS.

Cabe explicitar que o recorte deste estudo consiste na investigação de dezesseis casos de mulheres que foram atendidas e abrigadas por este centro no período de 2006 a 2007, por constituir-se o período em que a instituição deixa de ser o Centro Integrado de Apoio a Mulher e passa a ser um Centro de Referência da Assistência Social (CREAS), incorporando os preceitos da nova configuração da Política Nacional de Assistência Social (PNAS).

É importante destacar que o serviço social computa aproximadamente 30 novos casos de violência contra a mulher por mês, identificados no período compreendido de um ano de funcionamento do CREAS (maio/06 a maio/07), conforme registrados no Serviço de Atendimento a Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar.

Para a escolha do referido recorte empírico considerou-se também os resultados de uma pesquisa realizada no mês de outubro do ano de 2001, pela Fundação Perseu Abramo, que investigou “a mulher brasileira nos espaços públicos

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política pública de combate à violência contra as mulheres sugeridas, a criação de abrigos para as mulheres agredidas e seus filhos foi a que mereceu maior adesão na pesquisa sendo 43% (quarenta e três por cento) na primeira escolha, representando 74% (setenta e quatro por cento) na soma de três respostas.

Ressaltamos que o percurso metodológico aqui adotado corresponde a uma pesquisa qualitativa, cuja concepção filosófica é a dialética, uma vez que esta pesquisa tem também o objetivo de descobrir o significado das ações e das relações que se ocultam nas estruturas sociais. Trazendo, portanto a aposta de constatar que os serviços prestados pelo CREAS possam ter realmente causado mudanças de valores, do comportamento e das práticas de vida destas mulheres.

Portanto, na tentativa de conhecer com mais profundidade e qualitativamente parte do que pensam e como vivem estas mulheres e através destas, o contexto no qual está inserida a totalidade dos sujeitos sociais envolvidos na problemática da violência de gênero, destaca-se que, as técnicas utilizadas tanto para problematizar teoricamente o objeto de estudo quanto para a investigação com fins de atingir aos objetivos propostos, junto a dezesseis mulheres vítimas de violência, que foram abrigadas, considerando o recorte temporal já descrito, foram:

Revisão da literatura que aborda especificamente a questão da violência de gênero e da Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, para aprofundar aspectos como: a inserção da mulher no âmbito público, a superação da violência vivenciada, a efetividade das ações desenvolvidas e os mecanismos institucionais ainda necessários ao atendimento destas mulheres.

Análise documental, através da consulta a fichas de atendimento e documentos do CREAS, a fim de produzir a caracterização das ações voltadas para o universo pesquisado, como também visando traçar o perfil dessa mulher que foi atendida e abrigada. Utilizaram-se também pesquisas já realizadas pelo referido centro.

Observação sistemática e assistemática – registradas no diário de campo e nos acompanhamentos já realizados com essas mulheres atendidas (abrigadas).

Coleta de dados primários através das entrevistas realizadas.

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realidade foi a seguinte5: 05 (cinco) ainda sofriam violência mesmo não tendo

voltado a conviver com o agressor, 02 (duas) voltaram a conviver com o agressor, 03 (três) mulheres foram embora do estado do Rio Grande do Norte para conviver com os familiares, 01 (uma) fixou residência em uma ONG, local onde foi abrigada, por falta de vaga na casa abrigo6. Nesse período, estava em aberto dentre este

universo, um número de 05 (cinco) mulheres para serem identificados os seus rumos de moradia e convivência, bem como averiguar junto a todas elas se houve a inserção no mercado de trabalho e na vida escolar.

Acrescentamos ainda que desse universo de 16 (dezesseis) mulheres, 03 (três) não chegaram a ser abrigadas na Casa Abrigo Clara Camarão por falta de vaga, ficando, portanto em outros locais, de conhecimento das técnicas sociais, por um tempo provisório. Ressalta-se ainda que deste universo, 06 (seis) mulheres solicitaram desligamento da referida casa antes que as providências cabíveis ao caso fossem concluídas.

Após ter sido descrito o caminho metodológico a que nos propusemos, faz-se necessário acrescentar que este não foi tão simples de ser percorrido, necessitando de mudanças estratégicas durante a fase da coleta de dados e realização das entrevistas, que na prática iniciou-se em outubro de 2008 estendendo-se até o mês de janeiro de 2009.

Inicialmente, como já assinalamos, a referida pesquisa tinha por objetivo aplicar o formulário de entrevista a um recorte de dezesseis mulheres que foram atendidas pelo CREAS e posteriormente abrigadas e, num segundo momento, após ter havido aproximação com estas mulheres, iríamos retirar cinco delas, para proceder com estas uma maior aproximação através de entrevistas em profundidade, porém, vários fatores contribuíram para que o segundo momento da pesquisa não acontecesse conforme o planejado7. As dificuldades encontradas fizeram com que outras estratégias fossem pensadas e executadas para superar os desafios que se apresentavam.

A partir do exposto e motivada pelo objetivo de identificar a existência de

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Informações obtidas junto ao CREAS/Parnamirim.

6As Casas-abrigo são locais seguros que oferecem abrigo protegido e atendimento integral a mulheres em situação de risco de morte iminente e a seus filhos menores de 18 anos, em razão de violência doméstica. É um serviço de caráter sigiloso e temporário, no qual as usuárias poderão permanecer por um período determinado, durante o qual deverão reunir condições necessárias para retomar o curso de suas vidas.

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mudanças ou não no universo a ser pesquisado, entrevistamos ao todo quinze mulheres e cinco técnicas do CREAS, entre elas a coordenadora, a advogada e três assistentes sociais.

Nesse sentido, sabendo ainda que as contradições são também uma das leis que regem o capitalismo, percebe-se a partir das primeiras aproximações, que o universo estudado, vive outra realidade, totalmente diferente da nossa. Portanto, “Os

que lá se movem não partilham conosco nem esse espaço, nem a velocidade, nem o tempo. Nem os projetos, nem a língua, menos ainda o pensamento. Nem as cifras nem os números. Nem, por sinal, a moeda’’ (FORRESTER, 1997, p.26).

Esta afirmação possibilita entender a realidade de vida das mulheres atendidas pelo CREAS das quais 60% (sessenta por cento) estão fora do mercado de trabalho, bem como compreender que as mudanças em suas vidas, quando ocorrem, não ocorrem com a mesma velocidade que a simultaneidade externa requer e pressupõe. Nesse sentido, o que nos chama mais atenção para um fator relevante diante desses fenômenos todos é que, enquanto pesquisadora se faz necessário que tenhamos a habilidade necessária para percebermos a capacidade que cada indivíduo desenvolve nas lutas pelas suas conquistas pessoais e sociais, na manutenção ou superação da situação de violência vivida.

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2 VIOLÊNCIA: UM FENÔMENO HISTÓRICO-SOCIAL

A violência é um fenômeno que acompanha o homem desde seus primórdios e se manifesta das mais variadas formas, estando presente em todos os tempos e lugares e, atualmente em diversas instituições tais como: família e escola, seja por meio da criminalidade crescente e/ou na forma de expectativa de violência, quando esta é utilizada pela mídia e serve a interesses de manipulação.

Faz-se necessário pontuar que a violência não é um fato recente, existindo desde os primórdios, pois, desde que o homem existe nunca deixou de se utilizar de atos violentos tais como: guerras, desapropriação de nativos, mau uso das instituições em desfavor de outrem e etc.; essas ações desencadearam reações gerando, por conseguinte, novos atos violentos, quais sejam ações em defesa da própria vida, da liberdade da sua terra, contra a escravidão e servidão. Em paralelo a estes acontecimentos, surgem as guerras, sendo esta uma ação deflagrada pelo homem desde a idade antiga, envolvendo uma diversidade de países e questões de ordem política, social, cultural e econômica.

O conhecimento que se possui a respeito da violência ainda está longe de se constituir em opiniões conclusivas. As aproximações existentes na atualidade advêm da persistência de alguns estudiosos e do incessante processo de (re)construção das diferentes formas de manifestação da violência, isso em função da complexidade do tema. Uma parcela significativa deste saber origina-se dos documentos históricos que passaram a se constituir como a fonte primeira deste conhecimento. Nas narrativas presentes nesses documentos destacam-se, entre outras, as da Bíblia Sagrada, cujos relatos evidenciam o quão arraigadas estão às formas de violência direcionadas a mulheres e crianças, no âmbito dos valores e preceitos morais incutidos no comportamento humano.

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econômica e social, que ficou conhecida como a cultura do “invasor”8, somada à “cultura do mando político”9, o famoso senhor do engenho, o senhor da casa grande,

bem como o modelo de família patriarcal, demonstrando que as raízes da violência no Brasil existem desde a sua colonização.

A partir da década de 1970, inúmeros acontecimentos violentos, ocorridos em todo o mundo, passam a ser objeto de preocupação de estudiosos. A violência passa então a assumir um caráter inusitado e contestador através das gangues urbanas, desvinculado de conexões com as lutas de interesses mais amplos, provocando a agressão gratuita e a indiferença ao sofrimento dos semelhantes. Tal fato concorre para que a violência deixe de ser percebida também como instrumento de libertação dos oprimidos (conforme já falamos).

No início de 1980, os fenômenos violentos ganharam grande visibilidade, com o crescimento do número de homicídios, atos de vandalismo, crimes e agressões. Nesse sentido, para os intelectuais, a violência que se manifesta no fim do século passado e no início do presente, esvaziou-se de seu conteúdo ideológico, que de certa forma, servia como unificador e canalizador de interesses, estabelecia referências e identidades, que davam sentido à vida e legitimidade às ações.

Desse modo é possível concluir que a sociedade brasileira foi formada com vários tipos de violências incorporadas e que ainda perduram em vários lugares até os dias atuais. Até aqui é possível afirmar que a violência desde o seu surgimento se manifesta como fruto das relações humanas, constituindo-se como um complexo fenômeno biopsicossocial, tendo a vida social, como sendo por excelência, o seu espaço de criação e desenvolvimento.

Portanto, cada sociedade, com seus diversos aspectos, diferentes contextos e épocas, de acordo com seus códigos de condutas comportamentais, leis e normas, dá feições e características as diversas formas de violência. Verificar os aspectos que são inerentes a cada sociedade parece ser necessário, na observação de Elias (1994), para se compreender o processo civilizador, uma vez que as

8 Na referida obra, o Invasor é o povo Português que inicia um processo colonizador no Brasil tomando como eixo o complexo casa grande/senzala, ou seja, a tríplice estrutura “monocultura açucareira de base latifundiária, família patriarcal e trabalho escravo”. A especificidade dessa sociedade resultaria da intensa miscigenação nela efetuada, através dos frequentes cruzamentos entre brancos, índios e negros.

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situações sociais existentes são diferentes e, portanto exige de seus membros códigos de condutas diferenciadas o que fornece novos contornos às violências; contornos estes que no item a seguir serão tratados.

2.1Conceitos, Tipos e Formas de Violência

A multidimensionalidade da violência é um aspecto especialmente tratado por Schilling (2004) tendo em vista que a violência pode acontecer nos mais diversos tipos de relações e se expressar de diferentes maneiras: nas paixões, na família- contra a mulher, a criança, o idoso, o portador de necessidades especiais, contra aquele (a) que tem uma orientação sexual diferente -, no desemprego, na fome, na falta de acesso e de oportunidades, na falta de justiça, na miséria, nas instituições- dentre elas: nas escolas, nas prisões, na polícia, na corrupção, no preconceito, no racismo, na discriminação, dos crimes do ódio-; entre tribos, entre aqueles que se juntam e consideram o outro um inimigo a ser aniquilado, na criminalidade.

Tendo em vista esta multidimensionalidade da violência e considerando que elas dialogam de maneiras diferentes e peculiares entre si, tomaremos aqui como referência dois conceitos de violência.

Para Michaud (1989) ocorre violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou várias pessoas, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais. Em sua definição, Michaud, amplia a concepção das formas de violência, abrangendo os âmbitos social e psicológico.

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como se fossem coisas, isto é, irracionais, insensíveis, mudos, inertes ou passivos. As duas definições aqui utilizadas são, portanto, complementares, dando suporte para que possamos compreender que a violência ultrapassa a forma física, abarcando também a dimensão estrutural10 própria da sociedade.

Realizadas essas incursões pontuaremos as adjetivações que tipificam os casos de violência mais presentes em nossa sociedade:

Violência Doméstica: É qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial contra a mulher (Lei nº 11.340 de 07 de agosto de 2006-Lei Maria da Penha);

Violência Física: Qualquer ato que cause em alguém um dano físico ou a sua saúde corporal;

Violência Psicológica: Qualquer ato que cause em alguém um dano emocional, diminuição da autoestima ou que tente controlar as ações, comportamentos crenças e decisões, usando ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância e perseguição constantes, insultos, chantagens, ridicularização, exploração, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à saúde psicológica de outrem e ao seu direito de tomar decisões;

Violência Sexual: Qualquer conduta que faça alguém presenciar, manter ou participar de relação sexual não desejada, através de ameaça, coação ou uso da força. No que se refere à mulher, tal violência abarca também quaisquer atos que, de alguma forma, a force à gravidez, aborto, casamento, prostituição, a impeça ou dificulte evitar uma gravidez;

Violência Patrimonial: Qualquer conduta que retenha, se aproprie, destrua objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou qualquer recursos econômicos da vítima ou que pertença a ambos (agressor e vítima);

Violência Moral: Qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou

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injúria11.

Estes tipos e definições da violência dialogam com a compreensão de quais são os direitos humanos12 das populações; direitos civis, políticos,

econômicos, sociais, culturais e ambientais. Assim, as violações dos direitos humanos individuais ou coletivos são vistos progressivamente, como dimensões da violência e no que concerne aos direitos este serão discorrido mais adiante, necessitando, entretanto, que façamos anteriormente uma incursão sobre a violência no mundo moderno.

2.2 O Crescimento da Violência no Mundo Moderno

No mundo moderno, o homem tem buscado meios para conhecer e compreender o fenômeno da violência, para que assim possa desenvolver as modalidades para o seu enfrentamento no convívio social.

Desta feita, cabe ressaltar que a incursão temporal aqui realizada retratará as transformações fundamentais que já vinham sendo preparadas desde a Idade Média, do Renascimento e da Idade Moderna, tendo em vista que as várias teorias políticas já apontavam que a busca da legitimidade do poder nos mais variados âmbitos, sejam econômicos, sociais ou religiosos, indicam o jogo efetivo das forças em circunstâncias concretas.

Neste entendimento surge o liberalismo com o desenvolvimento do capitalismo comercial se expandindo após a Revolução Industrial, no século XVII, cujas bases estão na concepção de um Estado laico, na defesa da economia de mercado, defendendo a propriedade privada dos bens de produção e a garantia de funcionamento da economia a partir do princípio do lucro e da livre iniciativa.

11 Injúria: Ocorre quando alguém usando palavras, gestos, carta, e-mails ou outros meios ofende

diretamente outra pessoa; Calúnia: Ocorre quando alguém divulga que uma pessoa cometeu um crime sem que tenha cometido; Difamação: Ocorre quando alguém divulga algo que ofenda a moral da outra pessoa mesmo que seja verdade (Cartilha da Segurança da Mulher, Natal-RN. Março de 2007).

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A criação do Estado moderno13, norteado por princípios racionalistas e

capitalistas e sob a égide das leis, revelou-se como um importante avanço no controle social, porém, não correspondendo as necessidades de seus súditos nem tão pouco erradicando a violência, pois, o Estado surge como regulador soberano dos conflitos sociais, contudo, desconsidera o poder de resistência da sociedade e, quase sempre, funciona como comitê executivo da burguesia14.

Ainda no século XVIII, propaga-se o liberalismo intitulando-se, como sendo um liberalismo democrático ajustando-se ao que ficou conhecido como o capitalismo de monopólios e convivendo com a instituição das chamadas democracias modernas.

Desta feita, faz-se necessário pontuar algumas das mudanças que ocorridas às portas e no desenrolar do século XX contribuíram decisivamente para o quadro atual de violência.

Fazendo uma retrospectiva destacamos os acontecimentos externos decorrentes das transformações advinda das revoluções Industrial e Francesa que abalaram a economia mundial com reflexos decisivos para as relações sócio-políticas, culturais e trabalhistas vindouras em todo o mundo, introduzindo assim, o triunfo da indústria capitalista. No século XIX, tivemos a exacerbação do contraste entre riqueza e pobreza; a jornada de trabalho entre catorze e dezesseis horas, a exploração da mão-de-obra infantil e feminina; a organização dos trabalhadores Europeus (luta por direitos); a criação dos sistemas de proteção social na Alemanha e outros países, iniciando, posteriormente, a adoção do modelo Keynesiano pelos países capitalistas. Tal modelo baseava-se na necessidade do Estado ampliar suas ações no campo das políticas sociais, econômicas e trabalhistas com vistas ao

“pleno emprego” e ao bem-estar social (Welfare State).

Estes e outros acontecimentos ocorridos no século XX tais como a intensificação do movimento dos trabalhadores, a primeira guerra mundial (1914-1918); e a segunda guerra mundial (1939-1945); culminam com a coalizão de nações formando blocos capitalistas e socialistas15. Ao mesmo tempo, tem-se o

13Em relação ao Estado Moderno, este será detalhado no capítulo seguinte.

14 É importante assinalar que, mesmo ao se adotar a concepção de Estado ampliado Gramsciano, a

nosso ver, o Estado capitalista, em sua essência, permanece um comitê executivo para gerir interesses burgueses, conforme ressalta Marx (MARX & ENGELS, 1998).

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retorno à ideologia liberal com a defesa da liberação do mercado e da necessidade de reformas nos sistemas de proteção social; defendendo a adoção de um Estado Mínimo para o social. Esse retorno do liberalismo no século XX foi denominado neoliberalismo.

Cabe ressaltar que na década de 1980, precisamente em 1988 no Brasil, temos a promulgação da constituição federal, que em seu artigo 194, explicita uma aproximação com o modelo de Welfare State que amplia o acesso a direitos sociais expressando ainda que contraditoriamente, o ideal igualitário e a dimensão distributiva e inclusiva da cidadania16.

No entanto, a adoção mundial do modelo econômico neoliberal nos anos 80 do século XX, caracterizou-se conforme Anderson (1995), como sendo uma reação teórica e política veemente contra o estado intervencionista e de bem-estar, se colocando ainda contra a ampliação das funções reguladoras do Estado na vida

social visto como a “terceira via” para o desenvolvimento dos países de capitalismo dependente, caracterizando-se como uma total dependência destes países aos interesses do mercado financeiro. Nesse modelo, toda a economia se movimenta

em função da sua “saúde econômica” e os países recebem mais ou menos “investimentos” em conformidade com os índices de risco, que, evidentemente, não considera a vida das pessoas, mas a oportunidade de ampliação do capital e dos seus lucros.

Recapitulando sobre as mudanças que aconteceram mundialmente com a implantação do modelo liberal, podemos perceber que, se de um lado houve o desenvolvimento científico e tecnológico inusitado, por outro não foram resolvidos e dificilmente serão, os grandes problemas sociais oriundos do próprio modelo de produção capitalista que torna o trabalho sem sentido, posto que alienado.

Na concepção do capital, o trabalho é, pois, incorporado como atividade natural de produção para a troca, independente de seu contexto histórico, visto que as relações capitalistas em conformidade com Marx (1987) constituem-se em relações de produção de valores de troca (mercadorias) para a acumulação de capital, através da expropriação da mais-valia, extraída do trabalhador a partir do

socialização dos bens e riquezas produzidas. Em 1917, na Rússia, inicia-se a 1ª experiência Socialista no mundo. A partir daí as nações se dividiram em Capitalistas e Socialistas.

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valor gerado pelo trabalho, condição da produção capitalista e razão pela qual se provoca a separação entre a força de trabalho e a propriedade dos meios de produção.

Desse modo, se torna impossível tratar da concepção do capital, sem tratar da questão social, visto que, subjacente às suas manifestações concretas, está o processo de acumulação do capital, produzido e reproduzido com a operação da lei do valor, tendo como contraface, conforme Behring e Boschetti (2007) a subsunção do trabalho pelo capital, acrescida da desigualdade social e do crescimento relativo da pauperização. Esta é a expressão das contradições inerentes ao capitalismo que, ao constituir o trabalho vivo como única fonte de valor e, ao mesmo tempo, reduzi-lo progressivamente em decorrência da elevação da composição orgânica do capital- o que implica um predomínio do trabalho morto sobre o trabalho vivo-, promove a expansão do exército industrial de reserva ou superpopulação relativa em larga escala (NETTO e BRAZ, 2008).

Até aqui esta incursão nos permite perceber as múltiplas expressões da questão social que nos aparece, particularmente nos países capitalistas tais como o Brasil, sob as formas de: má distribuição de renda; falta de acesso a bens e serviços sociais pela maioria da população; analfabetismo; desnutrição; mortalidade infantil; problemas de moradia; desemprego; dentre outros que se constituem visivelmente em tipos de violências na sociedade contemporânea.

Em se tratando de violência alguns estudos apontam no sentido de entendê-la nos marcos da questão social como síntese representativa das relações sociais que são produzidas nas sociedades em dados contextos, relações e estruturas. Nesse aspecto, para Cerqueira Filho (1982, p.21) a questão social diz

respeito ao “conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos [...] impostos no mundo no curso da constituição da sociedade capitalista”. Nessa visão, a questão

social tem suas raízes nas relações que são produzidas e reproduzidas pela sociedade capitalista.

Em complementação ao entendimento da questão social traremos agora a visão de Ianni (1992) que compreende a questão social como sendo uma dimensão importante dos processos e movimento da sociedade nacional que envolve aspectos econômicos, políticos e culturais. Relacionando-se às problemáticas sociais dos negros, dos índios, dos trabalhadores, das mulheres, das

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especiais, entre outros. Expressando os múltiplos conflitos, lutas, resistências, denúncias e manifestações de indivíduos, grupos e classes sociais.

Enfim, para esse autor, a questão social diz respeito aos antagonismos e desigualdades produzidos por uma dada sociedade em dado contexto econômico, político, social e cultural. Nessa perspectiva a sociedade é perpassada pela questão

social e “conforme a época e o lugar, a questão social mescla aspectos raciais,

regionais e culturais, juntamente com os econômicos e políticos” (IANNI, 1992, p.92).

A violência é, pois, expressão da questão social que nas últimas décadas as sociedades modernas vêm enfrentando e que se expressa na esfera da produção e reprodução das relações sociais, econômicas e políticas. O debate sobre o crescimento da violência tem se dado a partir da chamada crise de valores no mundo moderno e vem assumindo proporções maiores por conta, sobretudo, das crises e mudanças da cultura.

Em síntese, a violência no mundo atual é a expressão do modo como o capitalismo global se espraia e se reproduz nas sociedades, produzindo e reproduzindo antagonismos e desigualdades que se expressam em diversas problemáticas sociais, que se traduzem dentre outras coisas em injustiças sociais, preconceitos e discriminações. E essas multiplicidades de formas da violência na contemporaneidade se configuram num processo denominado por Santos (1999) de dilaceramento da cidadania, ou melhor, dizendo, de um dilaceramento de uma almejada cidadania.

Nesse contexto, cabe ressaltar que, a violência física encontra-se entre as principais causas de morte em todo o mundo e, especificamente, no Brasil matando mais que muitas das endemias e pandemias tradicionais. Tomando como exemplo as taxas de violência homicida, em 2004, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking internacional, com uma taxa total de 27 homicídios em 1.000.000 (um mil habitantes)17. Nesse ínterim, faz-se necessário considerar que a violência pode dirigir-se a interpessoalidade, ao próprio sujeito ou ainda a coletividade.

Ainda com relação ao nosso país, segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo (2004), uma em cada cinco brasileiras, 19% (dezenove por cento), sofreu algum tipo de violência por parte de algum homem. Esse dado equivale a uma

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média de 6,8 (seis vírgula oito milhões) de mulheres violentadas e, calcula-se que, a cada quinze segundos uma mulher é espancada no país, tendo em vista que 16% (dezesseis por cento) relatam ter sofrido violência física, 2% (dois por cento) sofrido violência psíquica e 1% (um por cento) lembra ter sofrido assédio sexual.

Associado a estes dados tem-se ainda, segundo a Organização Mundial de Saúde, o índice alarmante de violência tendo em vista que quase metade das mulheres assassinadas é morta pelo marido ou namorado ou ex-namorado. Dessa forma, a violência física corresponde aproximadamente a 7% (sete por cento) de causa de todas as mortes de mulheres entre 15 e 44 anos no mundo.

Nesse sentido, no Rio Grande do Norte, a DEAM Zona Sul18 tem em seus registros cartoriais de junho de 2008 a cifra de 8 homicídios apurados e 5 tentativas de homicídio, mas ainda não é um dado concreto das zonas de jurisdição da Delegacia, visto que alguns casos são designados para apuração em outras Delegacias de Polícia.

Esses dados são suficientes para explicitar que a violência contra a mulher está longe de ser um problema específico da vida privada dos casais, passa a se constituir como um fenômeno social de grande alcance.

Portanto, no mundo inteiro são muitas as formas de violência de gênero se apresentando em diversas formas: nas desigualdades, no assédio sexual no trabalho, nas diferenças salariais, nas diferenças de escolaridades, dentre outras que se configuram ainda sob os aspectos de violência física, sexual ou psicológica.

Mediante essas primeiras estatísticas aqui explicitadas, torna-se importante pontuar que a frequência e a generalização pelas quais ocorre a violência fazem com que este fenômeno seja considerado um problema social global e epidêmico19 da sociedade contemporânea. Tal fenômeno, pela sua frequência e generalização no mundo moderno, conforme Zaluar (1994) constitui-se como a

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A DEAM Zona Sul é um órgão da Polícia Civil, subordinada em primeira instância ao secretário de segurança pública do Estado e ao delegado responsável pela administração da Delegacia de Polícia da Grande Natal (DPGRAN). Tem a missão de investigar, apurar e tipificar os delitos, e acolher com dignidade as mulheres vítimas dos crimes de lesão corporal, ameaça, violência psicológica, violência moral, violência patrimonial, contra a liberdade sexual e os demais conforme a Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha), por meio do registro de ocorrência e da efetivação dos procedimentos de inquérito policial, medidas protetivas de urgência e termo circunstanciado de ocorrência.

19 Devemos destacar que o termo epidêmico quando utilizado aqui para a questão da violência,

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negação da dignidade humana.

Portanto, tais problemas necessitam ser analisados e entendidos dentro dessa lógica capitalista que engendra todo um ambiente necessário ao seu desenvolvimento. Nesse sentido, para os países desenvolvidos e menos desenvolvidos, são o lócus privilegiado para transações comerciais, tendo em vista a fácil exploração da mão-de-obra, da matéria prima e da exploração do comércio local. Na raiz desses problemas encontramos a violência da desigualdade social decorrente da injusta repartição das tarefas e dos privilégios que levam a irregular apropriação dos bens produzidos pela sociedade.

Dessa forma, a relação de dependência que é estabelecida entre países na lógica do capitalismo e particularmente do neoliberalismo, se faz necessária para a saída das inevitáveis crises deste tipo de sistema, tais como já acontecia nos séculos anteriores, com a colonização da América, o imperialismo na África e na Ásia, a dívida externa e mais recentemente a implantação das multinacionais nos países não-desenvolvidos.

Ressaltamos que, mesmo nos países em que a implantação do neoliberalismo foi bem sucedida, para o êxito do capital, as seguidas crises desse modelo, em que hora predomina a livre iniciativa, ora se faz necessária a intervenção do Estado, demonstra que a democracia é algo que esta longe de ser alcançada neste tipo de sociabilidade, visto que a livre iniciativa, sempre que deixada a cargo da sua própria lógica, fomenta o agravamento das injustiças sociais, que necessitam da intervenção do Estado, constituindo assim, a contradição desse sistema.

Complementando este entendimento a violência que grassa o cotidiano é síntese de dinâmicas e movimentos variados e complexos. A violência de hoje cada

Imagem

GRÁFICO 1 Estado Civil das Entrevistadas.
GRÁFICO 2 Tipo de Residência.
GRÁFICO 3 Tempo de União com o Agressor.
GRÁFICO 4 Tipo de Violência Sofrida.
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