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O fenômeno da Violência contra a mulher e a materialização da Política

3 A CONSTRUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E AS MULHERES COMO

4.1 O fenômeno da Violência contra a mulher e a materialização da Política

Dos 63.053 (sessenta e três mil e cinquenta e três) boletins de ocorrências policiais registrados no Rio Grande do Norte no ano de 2002, 17% (dezessete por cento) referem-se a casos de violência contra a mulher, segundo levantamento estatístico conduzido pela Coordenadoria de Defesa dos Direitos da Mulher e das Minorias (CODIMM), subsidiado pela Subcoordenadoria de Informática e Estatística, ambos órgãos da Secretaria da Defesa Social.

Em conformidade com os dados apresentados, o levantamento sobre os crimes contra a parcela feminina da sociedade concentrou-se em Natal, Mossoró e Parnamirim. Na capital ocorreram 10.994 (dez mil novecentos e noventa e quatro) crimes praticados contra a mulher.

O estudo comparativo advindo desses dados mostra que na segunda maior cidade do Estado, Mossoró, foram registrados 5.166 (cinco mil cento e sessenta e seis) boletins de ocorrências violentas, sendo 563 (quinhentos e sessenta e três) praticadas contra a mulher, ou seja, 11% (onze por cento). Em Parnamirim, o total foi de 4.490 (quatro mil, quatrocentos e noventa) sendo 454 (quatrocentos e cinquenta e quatro) contra a mulher, representando 10% (dez por cento).

Ainda de acordo com dados apresentados pela Defesa Social, o maior número de ocorrências registradas contra a mulher na capital entre os anos de 1998 e 2001, constitui-se em agressões físicas com lesão corporal ou não, sendo em média de 75% (setenta e cinco por cento). Desse total 70% (setenta por cento) ocorreram no âmbito doméstico.

Diante dessa realidade cada vez mais complexa e presente no cotidiano brasileiro e diante das inúmeras pressões dos movimentos sociais, o Governo Federal criou em 1º de janeiro de 2003, a Secretaria Especial de Políticas para as

Mulheres da Presidência da República, que surge com status de ministério, demarcando um novo momento da história do Brasil, no que se refere à formulação, coordenação e articulação de estratégias políticas que promovam a igualdade entre homem e mulheres.

No ano seguinte, a partir dos debates estabelecidos na I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, são definidas propostas nas mais diversas áreas (autonomia, saúde, educação, dentre outras), para a elaboração do I Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, com o objetivo de enfrentar as desigualdades entre homem e mulheres. Este é o momento em que o Estado reconhece o seu papel fundamental no enfrentamento dessas desigualdades, implementando ações e políticas públicas de combate a toda forma de violação dos direitos das mulheres. Cabe aqui ressaltarmos que o referido plano só vem a ser formulado dois anos mais tarde50.

Diante de tal realidade a política de combate a violência contra a mulher em Parnamirim, inicialmente se materializou através do Centro Integrado de Apoio à Mulher (CIAM) que iniciou o seu atendimento no ano de 2004, desenvolvendo um único Serviço de Atendimento a Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar. Com vistas a corresponder as necessidades demandantes por uma composição demográfica de 64.157 (sessenta e quatro mil, cento e cinquenta e sete) mulheres (IBGE, 2000), representando assim, o maior percentual de uma população composta por 124.690 (cento e vinte e quatro mil, seiscentos e noventa) habitantes à época.

Na perspectiva de enfrentamento a essa violência, em específico, o Centro Integrado de Apoio a Mulher (CIAM) passou a ser o local de referência no município de Parnamirim, para a população feminina que estivesse em situação de violência doméstica e familiar, visando resgatar a mulher da condição de vitimizada pela violência, auxiliando-a através de ações educativas e preventivas, advindas de uma equipe composta por profissionais de Serviço Social e Psicologia, a se perceber

50 O II Plano Nacional de Políticas para Mulheres (II PNPM) é resultado da mobilização de quase 200

mil brasileiras que participaram, em todo o País, das Conferências Municipais e Estaduais, e elegeram 2.700 delegadas para a II Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (II CNPM), realizada em agosto de 2007. O II PNPM expressa também, a vontade política do Governo Federal em reverter o padrão de desigualdade entre homens e mulheres em nosso País. O referido plano encontra-se pautado nos seguintes princípios: igualdade e respeito à diversidade, equidade, autonomia das mulheres, laicidade do Estado, universalidade das políticas, justiça social, transparências dos atos públicos, participação e controle social.

enquanto um ser sujeito de sua própria história.

Nesse período destacamos também a existência em Parnamirim, da Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher (DEAM), do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e do Hospital Materno-Infantil Dr. Sadi Mendes, constituindo- se como sendo os demais mecanismos de defesa aos direitos da mulher nesse município.

A existência do trabalho conjunto que já se desenrolava na época, subsidia a atual avaliação dos serviços que hoje são desenvolvidos pelo CREAS, a partir do olhar de quem tem a incumbência de ofertá-los, conforme explicita esta fala: “O trabalho conjunto e sistemático permitiu ampliar a oferta e melhorar a qualidade dos serviços” (Marta Lopes Ferreira, Secretária de Desenvolvimento Social de Parnamirim – entrevista concedida à Revista CREAS, 2008).

Ressaltamos que, mesmo com os aparatos que iam sendo criados e institucionalizados para atuar na defesa das mulheres vítimas de violência por todo o país, esta problemática não foi amenizada nos anos que se seguiram, como demonstram os dados seguintes. Segundo pesquisa realizada pelo Ibope, solicitado pelo Instituto Patrícia Galvão, em 2006: para 55% (cinquenta e cinco por cento) da população a violência é um dos três principais problemas que afligem as mulheres e 51% (cinquenta e um por cento) dos entrevistados declararam conhecer ao menos uma mulher agredida pelo seu companheiro.

Assim, buscando o enfrentamento de tal realidade e com o objetivo de garantir o direito a uma vida melhor e mais digna para todas as mulheres, o I Plano Nacional de Políticas para as Mulheres foi formulado em 2006, abrangendo 199 (cento e noventa e nove) ações, distribuídas em 269 (duzentos e sessenta e nove) prioridades, traçadas a partir de 4 (quatro) linhas de atuação. O plano pressupõe o trabalho em conjunto das esferas Federal, Estaduais e Municipais, bem como, a parceria da sociedade como imprescindíveis para o fortalecimento do Plano em todo o país, uma vez que se faz necessário a criação ampliação/aperfeiçoamento de mecanismos institucionais de defesa dos direitos da mulher para que a vida de muitas mulheres mude.

Nessa perspectiva, o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres traz em sua composição as seguintes linhas de atuação:

1. Autonomia, igualdade no mundo do trabalho e cidadania; 2. Educação inclusiva e não sexista;

3. Saúde das Mulheres, direitos sexuais e direitos reprodutivo; 4. Enfrentamento à violência contra as mulheres.

Para fins de nossa pesquisa, faremos um destaque para a quarta linha de atuação que tem como objetivo:

Implantar uma Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher;

Garantir o atendimento integral, humanizado e de qualidade às mulheres em situação de violência;

Reduzir os índices de violência contra as mulheres;

Garantir o cumprimento dos instrumentos e acordos internacionais e revisar a legislação brasileira de enfrentamento à violência contra as mulheres.

E prioridades:

Ampliar e aperfeiçoar a Rede de Prevenção e atendimento às mulheres em situação de violência;

Revisar e implementar a legislação nacional e garantir a aplicação dos tratados internacionais ratificados visando o aperfeiçoamento dos mecanismos de enfrentamento à violência contra as mulheres;

Promover ações preventivas em relação à violência doméstica e sexual;

Promover a atenção à saúde das mulheres em situação de violência doméstica e sexual;

Produzir e sistematizar dados de segurança pública, saúde, educação e assistência psicossocial na temática de violência de gênero;

Ampliar o acesso à justiça e a assistência jurídica gratuita.

Neste mesmo período, é lançada a Lei nº 11. 340 de 7 de agosto de 2006, intitulada Lei Maria da Penha51, que se constitui como uma ação afirmativa na busca da melhoria e ampliação das ações de proteção à mulher. Tal Lei, conforme já fora explicitado neste trabalho, é um importante símbolo de luta contra a violência

51A Sra. Maria da Penha, em 1983, sofreu duas tentativas de homicídio por parte do seu marido, o

senhor Marco Heredia Viveiros. A primeira tentativa foi com uso de arma de fogo e a segunda por eletrocussão e afogamento. Esses episódios causaram lesões irreversíveis à saúde desta mulher e apesar de condenado em dois julgamentos, o autor da violência não havia sido preso devido aos sucessivos recursos de apelação. Após, 10 (dez) anos da prática do crime, em 2001, o Estado brasileiro foi responsabilizado pela violência doméstica praticada e diante de pressões da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (C. I.D. H), o processo foi encerrado e em 2003, o Sr. Heredia Viveiros foi preso.

doméstica no país, pois, tornou-se um marco no tratamento jurídico penal da violência doméstica, uma vez que alterou substancialmente o modelo jurídico de enfrentamento a esse fenômeno outrora existente. A primeira alteração se refere ao conceito normativo de violência doméstica.

No âmbito do direito penal, até a edição da nova Lei, a definição estava restrita ao artigo 129, § 9º, do Código Penal. Essa nova lei em seus artigos 5º e 7º amplia o conceito no tocante as formas de violência, trazendo para a definição além da violência física, a violência psicológica, sexual, patrimonial e moral. Por outro lado, restringe o conceito no que se refere aos sujeitos do fenômeno e a relação existente entre eles, devido à introdução do elemento gênero.

Com efeito, o conceito de violência doméstica passa a estar restrita a violência praticada contra a mulher, no âmbito da unidade doméstica, da família ou de uma relação íntima de afeto. Ainda conforme esta mesma Lei, o seu art. 5º configura violência doméstica familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I – no âmbito da unidade doméstica (...); II – no âmbito da família, (...); III – em qualquer relação íntima de afeto, (...).

Desta feita, a ampliação desse conceito é importante, pois é a partir dele que será possível constatar quais delitos do Código Penal estarão submetidos ao tratamento jurídico estabelecido pela nova Lei, posto que não existe indicação expressa de tipos penais e até a sua entrada em vigor, apenas a lesão corporal era positivada no âmbito do direito penal como violência doméstica.

Diante de tal contexto, a Lei nº 11.340/06 é fruto da necessidade de por fim à impunidade dos crimes cometidos contra as mulheres no âmbito doméstico e familiar. E nesse sentido, tal Lei pode ser apresentada resumidamente a partir de 3 (três) elementos:

I - No que se refere à inovação da Lei:

 Tipifica e define a violência doméstica e familiar contra a mulher;

 Estabelece as formas de violência doméstica contra a mulher como física, psicológica, sexual, patrimonial e moral;

 Determina que a violência doméstica contra a mulher independe de sua orientação sexual;

 Determina que a mulher somente poderá renunciar à denúncia perante o Juiz;

 Ficam proibidas as penas pecuniárias (pagamento de multas ou cestas básicas);

É vedada a entrega da intimação pela mulher ao agressor;

 A mulher vítima de violência doméstica será notificada dos atos processuais, em especial quando do ingresso e saída da prisão do agressor;

 A mulher deverá estar acompanhada de advogado (a) ou defensor (a) em todos os atos processuais;

 Retira dos juizados Especiais criminais (Lei nº 9.099/05) a competência para julgar os crimes de violência doméstica contra a mulher;

 Altera o código do processo penal para possibilitar ao juiz a decretação da prisão preventiva quando houver riscos à integridade física ou psicológica da mulher;

 Altera a Lei de execuções penais para permitir ao juiz que determine o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação;  Determina a criação de Juizados Especiais de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher com competência civil e criminal para abranger as questões de família decorrentes da violência contra a mulher;

Caso a violência doméstica seja cometida contra mulher com deficiência, a pena será aumentada em 1/3.

II- No que se refere à autoridade Policial:

 Prevê um capítulo específico para o atendimento pela autoridade policial para os casos de violência doméstica a mulher;

 Permite a autoridade policial prender o agressor em flagrante sempre que houver qualquer das formas de violência doméstica contra a mulher;

 Permite o registro do boletim de ocorrência e instauração do inquérito policial (composto pelos depoimentos da vítima, do agressor, das testemunhas e de provas documentais e periciais);

 Autoriza o remetimento do inquérito policial ao Ministério Público;

 Pode-se requerer do juiz, em 48h, que sejam concedidas diversas medidas protetivas de urgência para a mulher em situação de violência;

 Pode-se solicitar ao Juiz a decretação da prisão preventiva com base na nova Lei que altera o Código de processo penal.

III- No que se refere ao processo judicial:

urgência (suspensão do porte de armas do agressor, afastamento do agressor do lar, distanciamento da vítima, dentre outras), dependendo da situação;

 O Juiz do juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher terá competência para apreciar o crime e os casos que envolverem questões de família (pensão, separação, guarda de filhos etc.);

 O Ministério Público deverá apresentar denúncia ao juiz e poderá propor pena de 3 meses a 3 anos de detenção, cabendo ao juiz a decisão da sentença final.

Assim a Lei Maria da Penha, tornou-se um instrumento central para os profissionais que trabalham na perspectiva de enfrentamento a violência contra as mulheres, conforme demonstra uma técnica social do CREAS52: “As mulheres que buscam os nossos serviços espontaneamente são orientadas sobre a importância de registrar o Boletim de Ocorrência (B. O.) na Delegacia da Mulher para formalizar a denúncia” (entrevista realizada em 23/09/2008).

Ainda neste contexto, outro elemento que vem a se somar ao combate à violência contra a mulher é a reorganização da Assistência Social, prevista a partir da aprovação da nova Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e da Norma Operacional Básica (NOB), cujos esforços das entidades representativas da Assistência Social e dos Movimentos Sociais, juntamente com o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), impulsionaram na direção da concretização do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) regulamentando ainda neste mesmo contexto o art. 3º da LOAS que apregoa a defesa e garantia dos direitos aos beneficiários abrangidos pela lei da Assistência Social.

Os acontecimentos aqui destacados e em especial no campo da assistência social apontam sem dúvida para a existência no país de uma estrutura legal e conceitual com forte consistência para a política de assistência social e em particular para os serviços socioassistenciais. Tais serviços são por sua vez caracterizados pela Lei Orgânica da Assistência Social brasileira (1993, art.23), como “atividades continuadas que objetivam a melhoria de vida da população, cujas ações são direcionadas para as necessidades básicas, com base nos segmentos populacionais, em conformidade com o seguinte entendimento:

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Quando estivermos fazendo menção aos dados obtidos na pesquisa e se fizer necessário utilizarmos nomes, estes serão fictícios para que possamos preservar o sigilo dos sujeitos partícipes desta pesquisa.

Adotar a ótica das necessidades que a população apresenta significa conceber a assistência social como uma política com conteúdo específico, com um campo de provisão próprio. Isso significa a ruptura com as formas de concebê-la como política transversal às demais, delas processante, ou ainda uma política voltada exclusivamente para a pobreza. Em outras palavras, significa colocar a assistência social no mesmo patamar das demais políticas e não como sendo de caráter supletivo ou complementar (SPOSATI, 2001, p.71).

Por adotar o caráter não contributivo e conteúdo não mercantil, a cobertura do campo socioassistencial, a partir da LOAS, objetiva assegurar a redução ou a eliminação de vulnerabilidades que fragilizam a resistência do cidadão e de sua família ao processo de exclusão sociocultural, destinando-se a gerar e realizar ações capazes de desenvolver as potencialidades essenciais a conquista da autonomia. Cabendo-lhe desde já ampliar a proteção e a segurança social por meio de várias dimensões complementares, voltada ao atendimento de um público que tem em comum as marcas da vulnerabilidade e do risco social, da pobreza e precária inclusão social. Esse público, que não é homogêneo, aponta demandas e necessidades protetivas diferenciadas, também a partir dos recortes etários, de gênero, entre outros.

Destarte, os serviços continuados, os benefícios, programas e projetos necessitam ser planejados e executados visando à proteção social da unidade familiar e dos segmentos vulnerabilizados da população, tais como: criança e adolescente em situação de risco ou vítima de violência e abuso sexual, as pessoas com deficiência, a mulher vítima de violência, as pessoas idosas, as pessoas em abandono ou ao desabrigo, os moradores de rua, as pessoas em situação de emergência social, inclusive por calamidades públicas, os imigrantes, as minorias étnicas e grupos discriminados ou destituídos de autonomia, as famílias em situação de perdas e desagregação com dificuldades de sobrevivência por falta ou insuficiência de rendimentos e outros grupos ou comunidades. Essa formatação passa a ser sistematizada em função das suas particularidades que serão reguladas pela Norma Operacional Básica (NOB) do SUAS.

O SUAS por sua vez configura-se como o novo reordenamento da política de assistência social na perspectiva de promover maior efetividade de suas ações,

aumentando sua cobertura. Neste intuito, a política de assistência social é definida e organizada segundo a vigilância social, a proteção social e a defesa social e institucional.

Dentre os serviços de proteção garantidos pela PNAS, está o de Proteção Social Básica, uma unidade pública estatal de base territorial que tem por finalidade a prevenção de situações de risco através do desenvolvimento de recursos, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários (BRASIL, 2004). Esses serviços cumprem-se de forma direta nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) e em outras unidades básicas e públicas de assistência social e, de maneira indireta, nas entidades e organizações de assistência social de raio de atuação dos CRAS.

Há, também, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2004), os serviços de proteção especial de alta complexidade que garantem proteção integral para as famílias e/ou indivíduos que se acham em situação de risco pessoal e social, decorrentes de abandono, maus tratos, uso de substâncias psicoativas, situação de rua e/ou de trabalho infantil. Esses serviços recebem denominações do tipo: Casa Lar, Casa de Passagem, Albergue, Família Acolhedora, Medidas socioeducativas restritas e privadas de liberdade, entre outros, e permitem acompanhamentos, apoios e processos que garantam qualidade na proteção e permanência da reinclusão desejada.

Existe ainda outra unidade especial que é o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), lócus de nossa pesquisa- que surge a partir das dificuldades de cumprimento das funções de proteção básica, socialização e mediação, que vulneralizam a identidade do grupo familiar, tornando mais enfraquecidos seus vínculos simbólicos e afetivos.

Consoante com tal perspectiva os CREAS, se constituem como pólo de coordenação e articulação da proteção social especial de média complexidade, sendo responsável pela oferta de orientação e apoio especializados e continuados de assistência social a indivíduos e famílias com seus direitos violados, mas sem rompimento de vínculos e conforme nomenclatura é o local de referência e orientação, responsável pelos encaminhamentos da Rede.

O atendimento prestado a esses indivíduos e suas famílias é feito no CREAS pelo deslocamento de equipes em territórios e domicílios (visitas domiciliares); os serviços devem funcionar em estreita articulação com o Poder

Judiciário, com o Ministério Público, com a Defensoria Pública, Conselhos Tutelares e outras Organizações de Defesa de Direitos, com os demais serviços socioassistenciais e de outras políticas públicas, no intuito de estruturar uma rede efetiva de proteção social (BRASIL, SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES, 2006).

A respeito da rede de proteção social de Parnamirim, uma técnica social do CREAS fez a seguinte afirmação: “Buscamos informações do M.D.S., implantamos os serviços e ampliamos a rede” (entrevista realizada em 14/10/2008).

Quanto aos serviços oferecidos no CREAS, estes compreendem o Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e à Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes – objetivando assegurar proteção imediata e atendimento psicossocial às crianças e aos adolescentes vítimas de violência, abuso ou exploração sexual comercial, bem como a seus familiares; oferecendo acompanhamento técnico especializado, psicossocial e jurídico desenvolvido por uma equipe multiprofissional, além de ofertar ações de prevenções e busca ativa que realize o mapeamento das situações de risco e/ou violação de direitos que envolvam crianças e adolescentes. Também presta serviço de Orientação e Apoio Especializado a Indivíduos e Famílias Vítimas de Violência, atendendo situações de violência contra mulheres, idosos, pessoas com deficiência, bem como situações de preconceito, homofobia, entre outras; operacionalizando o atendimento psicossocial na proteção imediata à vítima e ao seu núcleo familiar, prevenindo a continuidade da violação de direitos com atendimento técnico especializado, como também, providências no tocante à responsabilização.

Existe também o Serviço de Orientação e Acompanhamento a Adolescente em Cumprimento de Medidas Sócio-Educativas de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC). Esse serviço tem como objetivo proporcionar o acompanhamento dos adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas de meio aberto, previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/90.

Neste sentido e considerando o objetivo central de nossa pesquisa, a Norma Técnica de Uniformização dos Centros de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, afirma: