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3 A CONSTRUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E AS MULHERES COMO

4.4 Perfil e situação de vidas das mulheres atendidas pelo CREAS

A partir desta seção exporemos os dados coletados junto às dezesseis mulheres atendidas e abrigadas pelo CREAS, que foram por nós entrevistadas65, tendo como referência tanto o roteiro de entrevista desta pesquisa (apêndice A), quanto o roteiro de entrevista utilizado pela instituição lócus da pesquisa (anexo A) visto que ambos nos forneceram elementos essenciais no subsídio para a nossa compreensão do modo como vivem e pensam estas mulheres sobre a situação de violência sofrida e do trabalho do CREAS.

Cabe ressaltarmos que as apreensões que foram aqui captadas representam parte de uma realidade que é complexa e que assim sendo, podem ter escapado detalhes as nossas observações e registros.

Desta forma buscamos elencar neste subitem tanto os dados coletados a partir de fontes secundárias, a saber: estado civil das entrevistadas, tipo de residência, tempo de união com o agressor e tipo de violência sofrida; quanto os dados atuais: faixa etária das entrevistadas e faixa etária de quando procuraram os serviços, nível de escolaridade atual e nível de escolaridade de quando procuraram os serviços, religião das entrevistadas, atividades desenvolvidas, renda familiar, manutenção atual da família, tempo de abrigamento e convivência atual.

65 Entrevistamos 15 mulheres, pois, uma delas está residindo em Minas Gerais e, apesar de termos

A análise desses dados é de suma importância, pois, compactuamos com Martinelli (1999, Apud, FARIAS, 2007, p.162), que ressalta a importância do referido reconhecimento: “[..] conhecer o modo de vida do sujeito pressupõe o conhecimento de sua experiência social’’.

Nesse sentido, apresentaremos e analisaremos agora o gráfico que se refere ao estado civil das mulheres entrevistadas:

GRÁFICO 1 Estado Civil das Entrevistadas.

Fonte: Pesquisa de Campo/2009.

Entre as mulheres entrevistadas constatamos que, no momento da busca pelos serviços do Centro, seis encontravam-se solteiras, cinco em união estável e outras cinco casadas evidenciando, conforme Xavier (2007), que os agressores são ou foram pessoas com quem a mulher mantém ou manteve laços de afetividade íntima. Destacam-se também outros: pai, cunhado, irmão, primo ou pessoas próximas da vítima.

A forma de perceber o estado civil, em alguns casos, influencia na atitude de violência ou na aceitação desta. O homem ao se perceber como solteiro sente-se sem nenhuma obrigação da compreensão ou paciência com sua companheira. “A mulher, por sua vez, sente-se abandonada e sem apoio dos familiares: ‘‘Minha mãe não aceita que eu seja mãe solteira” (Necy, entrevista realizada em 26/12/2008).

Aqui percebemos que o patriarcalismo ainda é culturalmente presente nas

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Solteira União Estável Casada

ações implícitas ou explícita das próprias mulheres, tendo em vista que a transmissão de determinados valores ao longo de gerações contribui para a perpetuação do sistema sociocultural em vigência e para que a violência contra a mulher continue sendo um fato aceito e naturalizado em nossa sociedade.

Ainda com relação aos dados iniciais, através das fichas de entrevistas disponíveis no CREAS, observamos que a maioria das entrevistadas afirmou residir em casa própria (gráfico 2), mesmo assim cabe referendarmos que na maioria das vezes esse sentimento de própria não necessariamente figura no imaginário dessas mulheres como tendo direito a este bem, o que demonstra que estas não se percebem enquanto detentoras de direitos66.

GRÁFICO 2 Tipo de Residência.

Fonte: Pesquisa de Campo/2009.

Outro item que analisamos foi o tempo de união com o agressor, do qual obtivemos os seguintes resultados:

66

Nesses casos, o Serviço Social necessariamente explica e esclarece sobre os direitos do casal, especificamente, com o advento do reconhecimento legal da união estável conforme a Lei nº 9.278/96 de 10 de maio de 1996 e da Constituição Federal.

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De familiares própria Alugada Cedida

GRÁFICO 3 Tempo de União com o Agressor.

Fonte: Pesquisa de Campo/2009.

As mulheres vítimas de violência que foram entrevistadas apresentam tempos de união bem diversificados, dos quais destacamos os dados que expressão maior tempo: 4 (quatro) que conviveram 5 (cinco) anos, 2 (duas) que conviveram 7 (sete) anos, 2 (duas) que conviveram 13 (treze) anos e 2 (duas) que conviveram 23 (vinte três anos).

Esses dados nos revelam que é no seio da casa que se efetua grande parte do processo de reprodução da estrutura social. A preocupação com a continuidade do relacionamento faz com que, particularmente a mulher, tenha a esperança ou a ilusão de que a situação vivenciada possa ser modificada. Tal situação só reitera que, contrariamente ao esperado por esta mulher, no interior de sua família e de tantas outras, ocorre a perpetuação da violência uma vez que a geração mais jovem, por exemplo, não aprende somente os valores da geração anterior, mas igualmente os valores e ações atuais, bem como vislumbram a expectativa de sociedade frente ao que é experienciado.

No que se refere à perpetuação da violência, o gráfico a seguir apresenta os tipos de violência sofrida pelas mulheres entrevistadas:

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 Ano e 2Meses

2 Anos 3 Anos 4 Anos 5 Anos 7 Anos 13 Anos 20 Anos 23 Anos

GRÁFICO 4 Tipo de Violência Sofrida.

Fonte: Pesquisa de Campo/2009.

Nos dados apresentados a violência física destaca-se como a de maior incidência aparecendo em um número de 8 (oito) mulheres, a violência psicológica aparece em segundo lugar, sendo relatada por um número de 5 (cinco) mulheres, o que ainda assim, nos faz afirmar que apesar de não ter sido relatada pelo número total de mulheres entrevistadas, este tipo de violência perpassa todas as outras e nos casos aqui representados, ainda temos um outro agravante que é a ameaça de morte. Sendo este o motivo preponderante para que essas mulheres possam ter sido abrigadas. Reiteramos ainda que o baixo percentual ou não aparecimento para a violência sexual, cárcere privado e doença venérea é devido tanto a não compreensão do sexo forçado entre marido e esposa como estupro, quanto à introjeção por parte do homem e da mulher, que a esta cabe servir ao seu marido.

Após analisarmos os dados secundários os quais se referiram ao período de atendimento a partir das fichas do CREAS, adentraremos agora a análise dos dados atuais, ao quais evidenciarão qual a situação em que se encontram hoje as mulheres sujeitos desta pesquisa.

Inicialmente buscamos conhecer a faixa etária atual das entrevistadas e a faixa etária em que estas se encontravam quando buscaram os serviços do CREAS. Para tal indagação obtivemos os seguintes resultados:

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Violência Física e Cárcere Privado

Violência Física Doença Venérea Violência Psicológica e Ameaça de Morte

GRÁFICO 5 Faixa Etária das Entrevistadas e Faixa Etária de Quando Procurou os Serviços.

Fonte: Pesquisa de Campo/2009.

O que se percebe a partir desse gráfico é que o fenômeno da violência atinge a mulher em qualquer faixa etária de sua vida. Destacamos, no entanto que entre as mulheres entrevistadas, no período em que buscaram os serviços deste Centro, evidenciavam-se as idades entre 21 a 30 anos com 9 (nove) mulheres e na atualidade, esta mesma faixa-etária embora tenha ocorrido uma pequena redução, 7 (sete) mulheres com esta mesma faixa-etária. Esses dados reforçam as conclusões a que chegou Xavier (2007): as mulheres vítimas de violência são novas, em idade produtiva e reprodutiva.

Em se tratando de mulheres em idade reprodutiva e produtiva, buscamos pesquisar, se houve modificação entre o nível de escolaridade atual das entrevistadas e o nível de escolaridade em que estas se encontravam quando buscaram os serviços do CREAS. Para nossa surpresa obtivemos os dados a seguir: 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Entre 21-30 anos Entre 31-40 anos Entre 41-50 anos

5. FAIXA ETÁRIA DAS ENTREVISTADAS E FAIXA ETÁRIA DE

QUANDO PROCUROU OS SERVIÇOS

GRÁFICO 6 Nível de Escolaridade das Entrevistadas e Nível de Escolaridade quando procurou os Serviços.

Fonte: Pesquisa de Campo/2009.

A análise dos dados obtidos demonstra que o nível de escolaridade das mulheres vítimas de violência, por nós entrevistadas, não difere em nada dos dados obtidos por Xavier em 2007: a maioria das mulheres atendidas pelo Serviço especializado do CREAS apresenta baixa escolaridade, tendo apenas o ensino fundamental incompleto e apenas 1 (uma) das entrevistadas encontra-se cursando a pós-graduação, em nível de especialização67.

O resultado obtido reafirma que a violência atinge a mulher independente do grau da escolaridade, estas, carecem, portanto de orientações que lhes auxiliem a se perceber enquanto inseridas em uma situação de violência, visto que o próprio contexto vivenciado as fragiliza emocionalmente, pois, os laços de afetividade que envolve a situação não permitem que estas, encarem o problema com racionalidade, fazendo uso dos conhecimentos adquiridos. Para ilustrar tal afirmação utilizaremos

67 Tal curso foi interrompido, quando da necessidade de abrigamento, devido à coordenação de pós

não ter viabilizado as condições para que esta mulher pudesse continuar o seu curso. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

agora o depoimento da entrevistada que cursa pós-graduação: “A partir do atendimento realizado pelo CREAS e Casa Abrigo passei a conceituar e identificar o ciclo da violência por mim vivenciado” (Luíza, entrevista realizada em 02/02/ 2009).

Ainda no que se refere ao nível de escolaridade fazemos aqui a ressalva que a dificuldade de acesso à melhoria da escolaridade para esse público, está vinculada à falta de oportunidades a programas de educação formal que atendam as suas especificidades e dificuldades, mesmo considerando que o CREAS realizou o encaminhamento destas, se não de todas, mas das que manifestaram interesse em ingressar na rede de ensino do município. Há que se levar em conta que no cotidiano, as mulheres também enfrentam a inexistência de locais para que possam deixar as crianças, mesmo as que estão inseridas no ensino básico e fundamental, tendo em vista que o ensino não é em tempo integral; há também a falta de colaboração do companheiro/marido e/ou demais familiares e porque não dizer em alguns casos, a não permissão destes.

Neste mesmo entendimento outro fator também importante é a falta de motivação por parte das entrevistadas para estudar, pois, existe a necessidade dessa mulher procurar energia e disposição para encarar novamente a rotina de uma escola e mais que isso, perceber algum sentido para a sua vida nesta volta ao estudo, visto ter perdido a capacidade de projetar o futuro. Toda essa situação alia- se as dificuldades do dia a dia das mulheres.

Assim, o resultado encontrado com essa análise é que a maioria dessas mulheres está à margem da aquisição das habilidades de leitura e escrita mesmo quando somadas aos conhecimentos que estas possam ter adquirido durante a vida. Segundo alguns filósofos e educadores, a educação é um meio para qual o homem desenvolve potencialidades biopsíquicas inatas, mas que não atingiriam a sua perfeição (o seu amadurecimento, o seu desenvolvimento) sem a aprendizagem realizada através da educação (RODRIGUES, 2002, p.61). Sendo assim, estas, somam-se para tornarem-se requisitos necessários ao acesso à cidadania, visto que o conhecimento formal tornou-se um dos bens mais importantes da sociedade capitalista e sem ele o indivíduo torna-se alienado frente a uma sociedade que atribui ao cidadão a liberdade e a responsabilidade para acessar estes direitos, culpabilizando-os quando não conseguem acessá-los.

Considerando ainda que a escolarização seja um fator preponderante para esta pesquisa e que buscamos identificar se o atendimento realizado pelo

CREAS permitiu que estas pudessem aumentar o seu nível de escolarização e se percebessem enquanto sujeitos sociais capazes de controlar sua vida e interferirem em seus destinos, o que foi possível identificar é que isso não ocorreu, em consequência da somatória dos fatores estruturais e pessoais já pontuados. Na verdade, a maioria dessas mulheres encontra-se acessando na atualidade poucos recursos e benefícios necessários para o seu desenvolvimento, como também quase não influindo nas decisões que afetam sua vida.

O que nos faz concluir que falta ainda um comprometimento maior por parte do Estado com esse segmento no que se refere a ampliação da rede de atendimento, que possa oferecer um suporte eficaz a essas mulheres no acesso à educação formal.

Por ser a violência uma questão que nega a dignidade humana, procuramos além da educação, verificar se a religião é um fator que pode ter ocasionado acomodação ou impulsionado mudanças na situação vivenciada por elas, sendo o resultado para tal questionamento expresso no gráfico que se segue:

GRÁFICO 7 Religião das Entrevistadas.

Fonte: Pesquisa de Campo/2009.

Nas falas das entrevistadas, percebe-se que o valor da religião para elas, mesmo significando a existência de um Deus, que lhes confere força, não chegou a ser determinante para que estas pudessem sair da situação de violência

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Não Tem Católica Evangélica

experienciada. No máximo a religião forneceu para essas mulheres a sensação de neutralidade dos momentos de tensão, servindo como um ponto de apoio e conforto. Ainda nesse mesmo item quando questionadas se havia ocorrido mudança na crença religiosa, apenas 1 (uma) respondeu que sim e 2 (duas) acrescentaram terem se afastado da crença religiosa. Porém, a maioria se mantém pertencente a uma crença religiosa o que mostra a cultura da mulher do nordeste, que ainda é educada para praticar atos religiosos, elevando assim a sua espiritualidade.

Ainda na tentativa de delinear o perfil atual das entrevistadas nos propomos a compreender também se a ausência de uma atividade profissional fora do espaço doméstico é correlata a um sentimento de desencorajamento que pode levar a resignação. Nesse sentido, buscamos identificar se elas desenvolvem atividades remuneradas.

GRÁFICO 8 Atividade Atual Desenvolvida Pelas Entrevistadas.

Fonte:Pesquisa de Campo/2009.

O resultado da entrevista revela que das dezesseis mulheres entrevistadas, cinco encontram-se desenvolvendo atividades dentro do seu próprio lar, três desenvolvem atividades de Doméstica para terceiros, três desempenham atividades de Faxineira/Diarista e as demais em número de uma para cada, desenvolvem as seguintes atividades: Agente de Saúde, A.S.G., Artesã, Professora e Cozinheira. Em geral, a maioria delas encontra-se recentemente inserida nessas

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atividades remuneradas, com o tempo de trabalho variando de 3 (três) meses a 1 (um) ano, sendo apenas uma inserida no trabalho há cerca de vinte e oito anos.

Quanto ao questionamento feito em relação ao que significa a presença ou ausência da atividade remunerada na vida das entrevistadas, obtivemos as seguintes respostas:

- “Mudou muito a minha vida, pois, antes eu vivia me humilhando, arrumando comer na casa de um e de outro” (Marieta, entrevista realizada em 22/12/2008).

- ‘’Se eu não trabalhasse eu seria inútil. O brasileiro que não trabalha não se sente brasileiro” (Sebastiana. entrevista realizada em 20/12/ 2008). - “Uma arte, uma terapia, para não ficar parada e não pensar em besteira” (Estela, entrevista realizada em 26/12/ 2008).

- “A presença da atividade remunerada em minha vida significa liberdade, porque com ele eu não podia trabalhar” (Inês, entrevista realizada em 20/12/ 2008).

Essa fala responde ao que inicialmente nos propomos a identificar, nos questionando se a fragilização dos vínculos sociais estava relacionada essencialmente à fragilidade e a dependência, muitas vezes decorrentes da ausência de uma atividade profissional fora do espaço doméstico, comprovando que para 11 (onze) das entrevistadas essa hipótese era verdadeira e que a partir do momento que passaram a exercer uma atividade remunerada, passaram também a se perceberem e estabelecerem vínculos sociais no espaço público. No entanto tais vínculos, não são suficientes para garantir que a maioria das entrevistadas se sinta fortalecida para sair da situação de violência.

Mesmo tendo sido comprovada essa hipótese não se pode deixar de fazer uma análise dos dados obtidos. Conforme demonstrado, grande parte das mulheres entrevistadas tem um baixo grau de escolaridade o que se torna um dos principais elementos que impedem a inserção dessas em ocupações melhor remuneradas e com maior proteção trabalhista, visto que o sistema previdenciário, na atual sociedade marcada pelo desemprego estrutural, tem caráter contributivo e privilegia os inseridos no mercado de trabalho formal.

mulheres – 5 (cinco) desenvolve o trabalho no lar, visto que este é percebido como sendo uma atividade feminina e antieconômica. No entanto, tal atividade é de suma importância, uma vez que abrange tarefas fundamentais para o grupo familiar e toda a sociedade, que teriam que assumi-las, caso não fossem executadas pelas mulheres; consumindo ainda, parte considerável do tempo delas, que poderia ser dedicada ao trabalho remunerado e a dedicação para outras atividades também necessárias à sobrevivência.

Nesse sentido, as mulheres, em graus variados, experimentam formas duplas de dominação, tanto em casa quanto em locais de trabalho. Assim, conclui- se que o âmbito do trabalho, longe de ser um espaço neutro, constitui um processo generalizador de dominação e subordinação, expresso na atualidade pelo discurso da competência e suas definições: criatividade, responsabilidade, iniciativa, capacidades técnicas, dentre outras que figuram como sendo características masculinas.

Tais reflexões são essenciais para que não se perca entre nós a consciência de que muito ainda há o que se fazer, particularmente, no que se refere à ação do poder público para modificação desse quadro. Nesse sentido, ao serem questionadas quanto a encaminhamentos por parte do CREAS para qualificação, um número significativo das entrevistadas relatou que foram encaminhadas para o setor de geração de emprego e renda do município, porém, em algumas situações não havia vaga para o curso desejado e em outras, a mulher não dispunha de tempo para tal. Sabemos, entretanto, que essas dificuldades são somente algumas enfrentadas por essas mulheres para o acesso a uma capacitação para o mundo do trabalho e que elas, não se resumem as aqui pontuadas.

Dentre os cursos à época oferecidos destacam-se: costura, biscuit, doces e salgados, esses conforme Carloto e Procópio (2004) pouco contribuem para aumentar a renda das mulheres e superar sua condição de trabalhadoras informais, além de perpetuar a tradicional divisão sexual do trabalho, reforçando atividades laborais tidas como “ de mulheres”, ou atividades femininas.

Após tratarmos sobre trabalho, procuramos identificar a renda familiar delas, apresentada no gráfico que se segue:

GRÁFICO 9 Renda Familiar.

Fonte: Pesquisa de Campo/2009.

Destarte fica evidente a segregação das mulheres no que se refere aos postos de trabalho assumidos, ficando com as piores remunerações, - mesmo sabendo que entre as entrevistadas a renda familiar em alguns casos advém da somatória com mais alguma pessoa da família e de algum benefício social, que geralmente se constitui na Bolsa Família. Ao mesmo tempo, percebe-se a permanência das entrevistadas nas mesmas condições de vida precárias. Tais dados mostram ainda a desvalorização das atividades ditas “femininas” e a influência da cultura helenística ainda presente nos dias atuais, pois, as mulheres e os escravos não eram considerados cidadãos da polis e as atividades desenvolvidas por eles era a condição da liberdade dos outros, portanto, não eram jamais valorizados, tendo em vista que o trabalho significava de imediato a ausência de liberdade, (LAUTIER, 1999, p.11-12). Assim, a desvalorização do trabalho feminino e braçal atravessou os séculos.

Percebemos que a entrada das mulheres no mercado de trabalho ocorre, principalmente, devido à redução dos níveis de rendimento familiar. Embora as ideias vigentes estejam incrementando e operacionalizando o discurso igualitário entre homens e mulheres, mudanças reais são quase imperceptíveis quando se analisa a divisão hierárquica do trabalho.

Com relação à precariedade do trabalho feminino, Posthuma (1998, apud

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Abaixo de 1 Sal. Mínimo

De 1 a 2 Sal. Mínimos De 2 a 3 Sal. Mínimos Acima de 3 Sal. Mínimos

MACÊDO, 2003, p.47) assinala que um aspecto importante a ser destacado no que tange às mudanças no mundo do trabalho, é que as mulheres têm sido requisitadas, até mais que os homens, para executarem atividades que exigem habilidades, como destreza manual, atenção a detalhes e paciência para realizar trabalhos repetitivos, os quais as qualificaram para o desenvolvimento de tarefas ditas femininas. Essas habilidades, no entanto, não são reconhecidas como qualificadas, o que justifica o fato de as trabalhadoras serem submetidas a salários inferiores, quando comparados aos dos trabalhadores no desempenho de mesmas funções.

Diante de tais constatações, buscou-se conhecer, também, quem auxilia a essas mulheres na manutenção de suas famílias o que podemos visualizar no gráfico seguinte:

GRÁFICO 10 Manutenção Atual da Família.

Fonte: Pesquisa de Campo/2009.

Conforme os dados expostos, a mulher é a maior responsável pela manutenção de suas famílias, sendo estas em número de 8 (oito), o que corresponde a metade do universo entrevistado. Em seguida, constatamos o companheiro como mantenedor da família ficando em segundo lugar, conforme as respostas de 5 (cinco) mulheres. Ainda considerando que nos dados obtidos homens e mulheres são responsáveis pela manutenção da família e que ainda assim a maioria desta, conta com uma renda mensal de 1 (um) salário mínimo até