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CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA

3.2 A UFBA NOS ANOS

O início do terceiro milênio apresenta algumas mudanças com relação à situação financeira das IFES brasileiras e a UFBA mostra sinais de investimento e expansão na primeira década. O aumento do número de vagas e a criação de novos cursos e instalações físicas modificam os cenários da universidade que por anos foi a única IFES do estado. É nesse contexto que, em 2005, a UFBA dá início à implementação do Programa de Ações Afirmativas, que nos anos subsequentes veio a influenciar as discussões no cenário nacional sobre o sistema de cotas e a inclusão social nas IFES.

Com relação ao processo de expansão, a partir desse período a UFBA coordenou a criação de novas universidades no estado. Em 2005, registra-se o desmembramento da Escola de Agronomia, com sede na cidade de Cruz das Almas, para a criação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), a qual teve, posteriormente, unidades instaladas também nos municípios de Amargosa, Cachoeira, Feira de Santana, Santo Amaro e Santo Antônio de

32 É relevante salientar que o autor da presente tese foi usuário dos serviços de alimentação e moradia na UFBA,

entre os anos 2001 e 2005, período em que cursou a graduação. Portanto, algumas informações privilegiadas sobre esse período são fundamentadas nas experiências como estudante que participou dos processos de cogestão das residências universitárias junto à Superintendência Estudantil e da sua participação em mobilizações frente à Reitoria, com o propósito de manutenção e melhoria dos serviços de assistência estudantil no referido período histórico.

Jesus.33 Há também o início da interiorização da UFBA, com a criação dos novos campi, como o Anísio Teixeira, na cidade de Vitória da Conquista, e o Reitor Edgard Santos, na cidade de Barreiras.34

No período que antecedeu e durante a criação do Programa Reuni, a UFBA exerceu forte influência na formulação desta proposta do Governo Federal. Tal influência se intensifica, sobretudo no ano 2006, quando é apresentado e discutido pela comunidade universitária o “Plano de Expansão e Reestruturação da Arquitetura Curricular na UFBA”, sob liderança do então reitor Naomar Almeida Filho, o qual à época pleiteava a sua reeleição (ALMEIDA, 2016). Dentre as proposições, esse documento previa a criação de ciclos acadêmicos e a criação de cursos interdisciplinares, projeto este que teve apoio do MEC e que serviu de referência para a concepção do Programa Reuni.

Todavia, a partir do ano 2007, com a adesão ao referido Programa, a UFBA passou por um intenso processo de inclusão social com a ampliação de vagas, criação de novos cursos, principalmente, daqueles ofertados no noturno, com o objetivo de atender a estudantes que não dipunham de condições para frequenctar as aulas no diurno. Nesse sentido, na gestão do reitor Naomar de Almeida Filho (2002-2010), a UFBA implementa uma reforma curricular que cria cursos de graduação interdisciplinares.35 Esse modelo constituiu o que veio a ser denominado de Programa UFBA Nova e passou a ter seus resultados a partir de 2008, quando iniciam os repasses financeiros do Reuni para a universidade.36 Para instituir a nova modalidade de ciclo para os cursos de graduação na universidade, foi criado, em 2008, o Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC).

Em 2006, a UFBA ofertou 68 cursos, com 67 no diurno e um no noturno. Em 2015, os números chegam a 99 cursos ofertados pela universidade, com 31 deles oferecidos do noturno. Com relação ao número de vagas, salta-se de um total de 4.386, em 2006, para 7.426, oferecidas

33 Página de apresentação e história da UFRB no portal da universidade. Disponível em:

<https://ufrb.edu.br/portal/ensino/40-lei-de-acesso-a-informacao/102-apresentacao-e-historia>. Acesso em: 10 mai. 2017.

34 Posteriormente, em 2013, este campus serve de base para a criação da Universidade Federal do Oeste da Bahia

(UFOB).

35 O Bacharelado Interdisciplinar (BI) foi uma nova modalidade de curso de graduação, criada na UFBA

neste período. Com duração de três anos, definidos em quatro áreas do conhecimento – Humanidades, Artes, Tecnologias e Ciências, Saúde –, esses cursos possibilitam a terminalidade própria ou o ingresso nos cursos de progressão linear e nos cursos de pós-graduação. Essa modalidade de curso impactou o número de vagas na UFBA, pois, em 2009, registra-se a criação de 900 novas vagas, principalmente, no noturno. Atualmente, em 2017, o IHAC possui: quatro bacharelados; um curso de mestrado no Programa de Pós- Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade; um mestrado no Programa de Ensino, Filosofia e História das Ciências (EFHC); um mestrado e um doutorado no Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade; e um mestrado e um doutorado no Programa Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento.

36 Descrição do programa UFBA Universidade Nova no seu portal institucional. Disponível em:

em 2015. O crescimento do número de inscritos, nos últimos anos, se justifica em razão da adesão ao Sisu, que foi aprovado na UFBA em 2013, com entrada de estudantes por meio desse sistema a partir de 2014, o que permitiu a inscrição de estudantes de diversas regiões do país (CAE/UFBA, 2013).

Tabela 2 – Evolução do processo seletivo, com número de cursos, vagas e candidatos inscritos, por turno, entre os anos 2006 e 201537

Ano 2006 2008 2010 2012 2014 2015 Cursos Diurno 67 63 78 78 68 68 Noturno 1 2 33 33 31 31 Total 68 65 111 111 99 99 Vagas Diurno 4.346 4.176 5.496 5.496 5.056 5.056 Noturno 40 80 2.495 2.495 2.370 2.370 Total 4.386 4.256 7.991 7.991 7.426 7.426 Inscritos Diurno 43.582 34.070 37.664 32.924 109.365 178.165 Noturno 153 370 16.644 10.003 49.478 65.177 Total 43.735 34.440 54.308 42.927 158.843 243.342 Fonte: UFBA, Coordenação de Seleção, Orientação e Avaliação/PROGRAD, 2016.

Ainda com o intuito de compreender esse processo de expansão da UFBA a partir dos anos 2000, verifica-se o aumento do número de matrículas: em 2006 era de 22.665; em 2015 passa para 33.798 estudantes matriculados em cursos de graduação, conforme Tabela 3.

Tabela 3 – Evolução do número de estudantes de graduação – matrículas e concluintes – em anos selecionados no período entre 2006 e 201538

Ano 2006 2008 2010 2012 2014 2015

Matrículas 22.665 24.367 28.562 32.241 33.767 33.798

Concluintes 2.650 2.882 3.175 3.178 3.338 3.617

Fonte: UFBA, SUPAC-CARE/SIAC, 2016.

Com relação ao tipo de escola que se originam os estudantes classificados no processo seletivo, nos anos 2004-2011, verifica-se um decréscimo no percentual de estudantes de rede

37 Dados de 2006, com campus de Cruz das Almas-UFBA, campus de Vitória da Conquista e campus de Barreiras-

UFBA; dados a partir de 2008, sem o campus de Cruz das Almas (incorporado à UFRB); dados a partir de 2014, sem o campus de Barreiras (incorporado à UFOB). Dados não incluem vagas residuais, licenciaturas especiais e cursos à distância. 2. A partir de 2014, o ingresso é via Enem e/ou Sisu. 3. Inscrições/Vagas – razão entre o número de candidatos e o número de vagas (UFBA, 2016).

38 Dados de 2006, com o campus de Cruz das Almas-UFBA, campus de Vitória da Conquista e campus de

Barreiras-UFBA; dados a partir de 2008, sem campus de Cruz das Almas (incorporado à UFRB); dados a partir de 2014, sem o campus de Barreiras (incorporado à UFOB). As séries de matrículas e concluintes não incluem licenciaturas especiais e os cursos à distância. 2. Número de estudantes matriculados obtido pela média simples dos semestres” (UFBA, 2016).

privada, que significa que os percentuais praticamente igualam entre estudantes que cursaram o ensino médio em escolas públicas.

Tabela 4 – Percentual de candidatos classificados no processo seletivo, conforme origem do ensino médio nos anos 2004-2011

Instituição onde concluiu o Ensino Médio Aprovados/Ano (%) 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 Pública 31,7 50,4 45,6 41,3 42,3 40,2 46,1 Particular 62,4 48,5 43,3 43,1 45,5 50,2 45,3 Não respondeu 5,9 1,1 11,1 15,6 12,2 9,6 8,6

Fonte: PDI-UFBA, 2012-2016 / Pró-Reitoria de Planejamento e Orçamento (PROPLAN).

Sobre a autodeclaração de cor/raça, também se observam mudanças ocorridas no perfil dos discentes da UFBA após a implementação do sistema de reserva de vagas, em 2005. Dentre os candidatos classificados no processo seletivo, vê-se que o percentual de estudantes que se declaram brancos diminui entre 2004 e 2011. Com relação aos negros – pretos e pardos –, os percentuais aumentam nesse mesmo período, conforme Tabela 5.

Tabela 5 – Percentual de candidatos classificados no processo seletivo da UFBA, de acordo com a sua cor/raça

Cor/Raça Percentual de Aprovados / Ano

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 Branca 32,8 21,2 19,9 21,1 20,1 21,1 20,9 Parda 43,3 56,5 48,7 44,1 45,8 45,9 47,9 Preta 14,1 16,9 15,5 14,7 17,1 18,9 22,0 Amarela 2,4 1,8 1,7 2,0 2,0 2,3 2,0 Indígena 1,3 1,9 2,3 2,0 2,1 1,8 1,0 Não respondeu 6,1 1,7 11,9 16,1 12,9 10,0 6,2

Fonte: PDI-UFBA, 2012-2016 / Pró-Reitoria de Planejamento e Orçamento (PROPLAN).

Mais recentemente, em 2014, a UFBA institui o processo seletivo via Enem/Sisu, o qual, no conjunto das estratégias de ingresso viabilizadas pelo sistema de reserva de vagas e pela ampliação do acesso em razão do Reuni, pode ser compreendido como um dos fatores de diversificação do perfil dos discentes desta universidade.

Portanto, com base nesta descrição, vê-se que a partir dos anos 2000 a UFBA passou por importantes mudanças em termos de sua expansão, de sua estrutura curricular e com relação ao perfil dos estudantes matriculados. Certamente, diversos fatores explicam tais transformações, dos quais muitos estão relacionados aos cenários locais e globais de mudanças nas políticas de educação superior, conforme mencionados no capítulo 2. Com relação às políticas de inclusão social, considera-se fundamental compreender certos aspectos que têm influenciado a instituição de políticas de permanência na UFBA, os quais serão apresentados e discutidos a seguir.