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* IV Hiperligações e Referências bibliográficas

IV. Hiperligações e referências bibliográficas

5. A valoração dos conhecimentos fortuitos

No que concerne especificamente ao tema da valoração dos conhecimentos fortuitos, quer a doutrina, quer a jurisprudência, oscilaram entre as teses que recusam totalmente a sua valoração ou a admitem sem limites, tentando sempre encontrar um equilíbrio entre todos os interesses e bens constitucionalmente protegidos, sem nunca perder de vista que “o artigo

40 Processo n.º 35/08.5JAPRT.P1, Relator: Maria Dolores Silva e Sousa, disponível em www.dgsi.pt.

41 BOAS, Marta Teixeira Vilas, “Sobre a Problemática dos Conhecimentos Fortuitos obtidos no âmbito das Escutas Telefónicas”, páginas 36 e 37.

VALORAÇÃO DO CONHECIMENTO DE FACTOS, NÃO INVESTIGADOS NO PROCESSO, OBTIDOS NO ÂMBITO DE UMA INTERCEPÇÃO TELEFÓNICA

4. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

187.º, n.º 7, do Código de Processo Penal, é a expressão positivada de um juízo de proporcionalidade”42.

5.1. A doutrina

Quanto à valoração probatória dos conhecimentos fortuitos, no próprio processo, COSTA ANDRADE considera necessário, para tal efeito, que se reportem a um crime do catálogo e que se verifiquem as exigências complementares tendentes a reproduzir aquele estado de necessidade investigatório que o legislador terá representado como fundamento da legitimação (excecional) das escutas telefónicas.

No mesmo sentido vai GERMANO MARQUES DA SILVA43, tendo-se pronunciado no sentido de

admitir apenas a utilização dos conhecimentos fortuitos que se reportem a um dos crimes relativamente aos quais a escuta é legalmente admissível (cfr, ainda Paulo de Sousa Mendes, “As Proibições de Prova no Processo Penal”, página 144, e Acórdão do STJ, de 23.10.2002, www.dgsi.pt).

Defende ainda este autor44 que “as conversações ou comunicações interceptadas relativamente a quaisquer outras pessoas que utilizem o meio de comunicação utlizado pelas indicadas no n.º 4 podem ser utilizadas em outro processo, em curso ou a instaurar, desde que se trate de processo por algum dos crimes relativamente aos quais a lei admite a escuta telefónica” devendo tal norma ser alvo de uma interpretação extensiva de modo a abarcar outras pessoas que não as indicadas no n.º 4 (arguido, suspeito, intermediário ou vitima) e respeitem ao mesmo crime.”.

Este autor prescinde da existência do estado de necessidade investigatório ínsito às escutas telefónicas, bastando que o conhecimento fortuito seja um crime do catálogo para poder ser valorado no processo em curso.

No sentido da inadmissibilidade posiciona-se FRANCISCO AGUILAR45 - “Em suma: do fim da norma do artigo 187.º do C.P.P. resulta que só poderão ser valorados os conhecimentos da investigação, entendendo-se estes como os factos pertencentes ao crime do catálogo que determinou a escuta no caso concreto e/ou os factos que com aquele apresentem a mesma unidade processual (...). Donde, os conhecimentos fortuitos terão de ser objeto de uma proibição de valoração de prova, nos termos do artigo 32.º, n.º 8, da Constituição, por representar uma «intromissão abusiva» a valoração de determinados factos quando efetuada fora dos casos previstos na lei).”.

Optou, assim, este autor pela proibição de valoração de todo e qualquer conhecimento fortuito, em nome da exigência constitucional da reserva de lei.

42 RODRIGUES, Cáudio Lima, “Da valoração dos conhecimentos fortuitos obtidos durante a realização de uma escuta telefónica”, in Verbo Jurídico, página 3.

43 SILVA,Germano Marques da, “Curso de Processo Penal”, II, 3.ª Edição, Editorial Verbo, 2002, página 225. 44SILVA, Germano Marques da, “Curso de Processo Penal”, II, Editorial Verbo, 2008, páginas 250-251.

45 AGUILAR, Francisco, “Dos Conhecimentos Fortuitos Obtidos Através de Escutas Telefónicas”, páginas 73 a 108.

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5.2. A jurisprudência

Da jurisprudência nacional extrai-se uma orientação praticamente uniforme no sentido de uma tese intermédia – a da valoração condicional dos conhecimentos fortuitos –, sendo que os requisitos, esses, embora variando de decisão para decisão, todos se encaminham no sentido de exigir que o crime a que se prendem os conhecimentos fortuitos consubstancie um dos crimes do catálogo do artigo 187.º do Código de Processo Penal.46

Elencaremos, por ordem cronológica ascendente, alguns dos acórdãos mais recentes sobre a temática da valoração dos conhecimentos fortuitos.

– O Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 18-03-201047, abordando a questão da

valoração dos conhecimentos fortuitos, especificamente com respeito a terceiros, que não o arguido inicial, e desde que o crime pertença ao catálogo, refere que “Não se está perante a

utilização de um meio proibido de prova quando as intercepções de comunicações telefónicas foram devidamente autorizadas em relação ao co-arguido A e, no seu decurso, foram adquiridos conhecimentos relativamente ao co-arguido B, desde que o crime respeitante a este arguido pertença ao catálogo dos crimes em que as intercepções podem ser autorizadas (n.º 1 do art. 187.º do CPP). É esta a solução admitida jurisprudencialmente (cf. Acs. do STJ, de 23-10- 2002 e 04-05-2006) e a que está hoje consagrada no n.º 7 do art. 187.º, após a reforma do CPP de 2007, perante o problema do valor probatório dos conhecimentos fortuitos com respeito a terceiro, obtidos no decurso de intercepções de comunicações telefónicas, devidamente autorizadas e validadas quanto a arguido diferente.”

– No mesmo sentido, o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 08-02-201248, pois

que: “estando em causa escutas transferidas, que resultam de conhecimentos fortuitos,

exactamente porque são fortuitos, não fará sentido exigir sempre certa condição prévia ao escutado, também em relação com o processo de destino. Basta pensar-se no caso de a utilidade da escuta (e a sua indispensabilidade) se cifrar na identificação que ainda se não tinha logrado obter, do agente de um crime mais que comprovado. Por outras palavras, nada impede, nestes casos, que a condição de suspeito ou de arguido resulte da própria escuta transferida. E por isso é que deverão ser incluídas não só as pessoas que já tenham, como as “que possam vir a ter o estatuto daquelas que estarão previstas no n.º 4.”.

– Igualmente, no que toca a terceiros e a validade da valoração das interceções que abranjam conhecimentos fortuitos e terceiros, o Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 05-06-201349, relata que: “Os conhecimentos da investigação podem validamente ser usados na investigação mesmo que o arguido seja terceiro relativamente a quem respeitava a autorização de interceção e gravação das comunicações, desde que essa autorização se refira a um suspeito, que os crimes dos arguidos escutados e os que assim se evidenciaram como 46 MIRANDA, Raquel Andrade Alves, “Da valoração dos conhecimentos fortuitos obtidos no âmbito da busca domiciliária”, Universidade Católica Portuguesa, 2015, página 17.

47 Processo n.º 1131/02.8GISNT.S1 - 5.ª Secção in www.dgsi.pt.

48 Processo n.º 157/09.5JAFAR.E1.S1, Relator: Souto de Moura, disponível em www.dgsi.pt. 49Processo n.º 1885/10.8PIPRT.P1, Relator: ALVES DUARTE, disponível em www.dgsi.pt.

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praticados respeitem a crimes de catálogo e, por fim, que os crimes de que o arguido é suspeito se inseriram na história da investigação representada por aqueloutros.

Entendeu-se que: “Ainda que se tratasse de conhecimentos fortuitos as escutas e consequentes

transcrições das comunicações telefónicas efetuadas seriam prova válida contra o recorrente não escutado na medida em que nada impede que a condição de suspeito ou de arguido resulte da própria escuta, desde que reportada a crime de catálogo. (…) Na verdade, como lembrou o Supremo Tribunal de Justiça, «porque as escutas resultaram de conhecimentos fortuitos, exactamente porque são fortuitos, não fará sentido exigir sempre certa condição prévia ao escutado, também em relação com o processo de destino. Basta pensar-se no caso de a utilidade da escuta (e a sua indispensabilidade) se cifrar na identificação que ainda se não tinha logrado obter, do agente de um crime mais que comprovado. Por outras palavras, nada impede, nestes casos, que a condição de suspeito ou de arguido resulte da própria escuta transferida. E por isso é que deverão ser incluídas não só as pessoas que já tenham, como as que possam vir a ter o estatuto daquelas que estarão previstas no n.º 4.». E embora o aresto tenha sido tirado numa situação de transferência de escutas para outro processo, naturalmente que a razão de ser da norma vale também para o caso, como o presente, em que o terceiro é escutado no mesmo processo em que foi autorizada a intercepção e gravação de comunicações telefónicas ao suspeito, interpretando-se extensivamente a letra da lei.”.

Foi já referido que a segunda parte II do n.º 7 do art.º 187.º do Código de Processo Penal permite a utilização da gravação de conversações ou comunicações, quer se trate de conhecimentos de investigação ou fortuitos, em outro processo, em curso ou a instaurar. E conforme relatado pelos mencionados acórdãos, se é permitido o seu uso noutro processo, em curso ou a instaurar, por maioria de razão há de permite-se o seu uso no processo em curso, passando a haver novo suspeito e/ou arguido - operando-se uma modificação subjetiva. Ponto é que os pressupostos processuais e o requisito material estejam verificados.

– No Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 18-06-201450, e uma vez que os dados

recolhidos no caso concreto, não se reportavam aos conhecimentos de investigação e não se tratando de crime de catálogo, concluiu pela valoração proibida daqueles conhecimentos obtidos pelas interceções telefónicas, para sustentar a imputação do crime de peculato de uso ao arguido: “(…) os dados que se pretendem usar se integram no âmbito dos conhecimentos

fortuitos, visto que se pretende o aproveitamento de factos (ou conhecimentos) obtidos através de uma escuta telefónica legalmente efectuada que não se reportam nem ao crime cuja investigação legitimou a realização daquela, nem a qualquer outro delito que esteja baseado na mesma situação histórica de vida daquele, para efeitos do artigo 24.º, n.º 1, do CPP, e, por isso, entendemos não poder usar os dados recolhidos, pois, o crime para que se pretendem utilizar os dados não é um crime de catálogo – n.º 7 do artigo 187.º. E, como vimos, no caso, à mesma conclusão chegaríamos, atenta a doutrina expendida e desenvolvida por Costa Andrade em “Bruscamente….”, mesmo que entendêssemos que os dados que se pretendem usar se integram no âmbito dos conhecimentos da investigação.”

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– No Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra de 22-10-201451, secundou-se a

posição de COSTA ANDRADE, “(…) aceitando, para se poder conferir valor probatório aos

conhecimentos fortuitos, ser necessário, desde logo, respeitar o princípio básico de que esses conhecimentos se reportem a um crime do catálogo, a uma das infrações previstas no artigo 187.º do Código de Processo Penal (in casu, a genérica do n.º 1 al. a). Acrescenta ainda Costa Andrade que se devem fazer intervir as exigências complementares tendentes a reproduzir aquele estado de necessidade investigatório que o legislador terá arquetipicamente representado com fundamento da legitimação (excecional) das escutas telefónicas (MANUEL DA COSTA ANDRADE, Sobre as Proibições de Prova em Processo Penal, páginas 311-312, cfr,. ainda, entre outros e no mesmo sentido, ANDRÉ LAMAS LEITE, As Escutas Telefónicas – Algumas Reflexões em redor do seu Regime, Revista da FDUP, Ano I, 2004, páginas 40 e 41, MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Escutas Telefónicas – da excepcionalidade à vulgaridade, página 86). (…) No caso dos autos, a prova em causa é admissível posto que a sessão em apreço incidiu sobre conversas do suspeito, é relativa a crime do catálogo, é absolutamente pertinente à prova dos delitos dos autos, face à posição de negação do arguido e à prova testemunhal produzida em audiência, tendo a sua valia nestes autos sido certificada pelo juiz de instrução criminal.”.

Quando aos requisitos legais com vista à sua valoração, indica este Acórdão que no despacho que autoriza a utilização da gravação num outro processo, parte-se já do pressuposto da validade da interceptação e gravação das escutas telefónicas, pelo que, compaginando ambos os processos, o juiz apenas tem de verificar: “se a gravação se reporta a telefone utilizado por

um suspeito ou arguido, pessoa que sirva de intermediário ou vítima do crime (neste caso, só com o seu consentimento, efectivo ou presumido) e se a gravação é indispensável à prova de crime punível com pena de prisão superior a 3 anos, tráfico de estupefacientes, detenção de arma proibida e de tráfico de armas, contrabando, injúria, ameaça, coacção, devassa da vida privada e perturbação da paz e do sossego, quando cometidos através de telefone, ameaça com prática de crime ou de abuso e simulação de sinais de perigo e de evasão, quando o arguido haja sido condenado por algum dos crimes referidos crimes. (…) Costa Andrade refere, a propósito, que «a validade das escutas determina, sem mais, a validade da recolha dos conhecimentos fortuitos».”

– Mais recentemente, no Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 12-07-201752, é

referido que “(…) as escutas foram autorizadas e levadas acabo em nome da perseguição de

um crime do catálogo (furto qualificado) e os conhecimentos obtidos a coberto dessa intercepção vieram a ser valorados para a prova de um crime estranho ao catálogo (abuso de poder). Porém, essa valoração só seria válida se existisse a tal «continuidade da unidade de sentido histórico-processual», se estivéssemos perante «o mesmo pedaço de vida histórico». Manifestamente, não é o caso. Não se vislumbra qualquer conexão entre o crime do catálogo que justificou a intercepção telefónica e o crime descoberto por esta via (…)”.

Recorrendo, ao ensinamento de COSTA ANDRADE, e apelando, igualmente ao requisito do crime do catálogo: “realizada validamente uma escuta telefónica em nome da investigação de 51 Processo n.º 174/12.8JACBR.C1, Relator: Isabel Silva, disponível em www.dgsi.pt.

52 Processo n.º 731/09.0GBMTS.P1, Relator: Neto de Moura, disponível em www.dgsi.pt.

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um crime do catálogo, uma vez abandonada a investigação do crime do catálogo, fica definitivamente vedada a possibilidade de valorar as escutas para provar os crimes correspondentes aos conhecimentos da investigação, salvo se eles próprios forem também crimes do catálogo”. Impõe-se, então, concluir que os factos do “caso Q..., L.da” são conhecimentos fortuitos, pois que, ocasionalmente, obtidos no decurso de uma escuta judicialmente autorizada para investigar um crime do catálogo (furto qualificado), mas com o qual não apresenta qualquer conexão. (…) Nos termos do disposto no artigo 187.º, n.º 7, do Cód. Proc. Penal, esses conhecimentos só poderiam ser valorados para prova do crime de abuso de poder se também este fosse um crime do catálogo (princípio da “intromissão alternativa hipotética”), e não é. Incontornável é, pois, a conclusão de que o tribunal a quo valorou prova proibida, ou melhor, prova validamente adquirida, mas “coberta por inultrapassável proibição de valoração”.

6. Conclusões

Na Jurisprudência tem sido decidido que para que as escutas telefónicas sejam autorizadas exige-se, para além da verificação dos restantes pressupostos legais, que se investigue, pelo menos, um dos chamados crimes do “catálogo” – os constantes do n.º 1 do artigo 187.º do Código de Processo Penal.

Se, entre os crimes que legitimaram as escutas e aquele pelo qual o arguido veio a ser acusado, não houver qualquer conexão para efeitos do disposto no artigo 24.º, n.º 1, do Código de Processo Penal, ou não existir qualquer unidade processual investigatória, no sentido de pertencerem a uma mesma situação histórica de vida, os conhecimentos ou dados obtidos da investigação dos primeiros crimes têm-se como conhecimentos fortuitos em relação ao crime pelo qual o arguido foi investigado.

Inexistindo a dita conexão e/ou a referida unidade processual investigatória, e arquivado que seja o inquérito quanto aos denominados crimes do “catálogo”, não podem os conhecimentos obtidos com as escutas legalmente autorizadas, que são considerados como conhecimentos fortuitos, ser valorados em relação ao crime que subsiste e que não é do “catálogo”.

Ainda que os conhecimentos fortuitos não preencham os requisitos que lhes permitiriam ser valorados no próprio processo em que foram descobertos, os mesmos poderão ainda dar origem a uma notícia do crime.

Quanto às consequências jurídicas da proibição de prova sobre os conhecimentos fortuitos estamos perante uma proibição de valoração independente, insuscetível de validação, e que pode ser objeto de conhecimento e declaração oficiosos pelo tribunal até decisão final, não se convalidando, porém, com o trânsito em julgado da decisão, o que importa a admissibilidade de invocação de provas proibidas utilizadas para fundamentar a condenação enquanto fundamento para a interposição de recurso extraordinário de revisão, de acordo com o estabelecido no artigo 449.º, n.º 1, al. e), do Código de Processo Penal.

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Os conhecimentos da investigação podem validamente ser usados na investigação mesmo que o arguido seja terceiro relativamente a quem respeitava a autorização de interceção e gravação das comunicações, desde que essa autorização se refira a um suspeito, que os crimes dos arguidos escutados e os que assim se evidenciaram como praticados respeitem a crimes de catálogo e, por fim, que os crimes de que o arguido é suspeito se inseriram na história da investigação representada por aqueloutros.

Ainda que se trate de conhecimentos fortuitos as escutas e consequentes transcrições das comunicações telefónicas efetuadas são prova válida na medida em que nada impede que a condição de suspeito ou de arguido resulte da própria escuta, desde que reportada a crime de “catálogo”.

Donde resulta que no essencial a prova derivada das escutas telefónicas, será válida desde que obtida com cumprimento dos requisitos do artigo 187.º do Código de Processo Penal e pode ser utilizada / valorada na apreciação de outro crime, que inicialmente não estava a ser investigado (mas que é revelado pela escuta), nem constitui crime de catálogo, desde que entre o investigado e o verificado exista conexão relevante (nos termos do artigo 24.º daquele diploma) constituindo uma “unidade de investigação processual” ou faça parte de “uma

mesma situação histórica de vida”, sob investigação, ou integrando-se ainda no objeto do

processo.

IV. Hiperligações e referências bibliográficas

Hiperligações

Centro de Estudos Judiciários

http://www.ministeriopublico.pt/iframe/circulares www.dgsi.pt

http://www.inverbis.pt/2007-

2011/images/stories/pdf/acordaodomingosnevoa_1instancia.pdf

Referências bibliográficas

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ALBUQUERQUE, Paulo Pinto, “Comentário do Código de Processo Penal à luz da Constituição da República e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem”, 2007, Lisboa: Universidade Católica Editora.

ANDRADE, Manuel da Costa, “Bruscamente no verão passado, a reforma do Código de Processo Penal: observações críticas sobre uma lei que podia e devia ter sido diferente”. Coimbra: Coimbra editora, 2009, páginas 173 e 4.

ANDRADE, Manuel da Costa, “Sobre as Proibições de Prova em Processo Penal”, Coimbra Editora, 1992, páginas 61, 305 e seguintes.

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ASTORGA, Paula Celeste Moreira Cardoso, “Escutas Telefónicas”, Dissertação de Mestrado em Direito: Especialidade em Ciências Jurídico - Forenses, apresentada na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, 2014, página 48.

BOAS, Marta Teixeira Vilas, “Sobre a Problemática dos Conhecimentos Fortuitos obtidos no âmbito das Escutas Telefónicas”, páginas 36 e 37.

CANOTILHO, Gomes e MOREIRA, Vital, “Constituição da República Portuguesa Anotada”, 3.ª Edição, Revista, Coimbra, 1993, página 148.

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DIAS, Figueiredo, “Para uma Reforma Global do Processo Penal Português”, Para uma nova Justiça Penal, Coimbra: Almedina, 1983, páginas 205-206.

FRANCISCO, Constância Mendonça, “Escutas telefónicas como meio de obtenção de prova e reserva da intimidade da vida privada”, Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Direito na especialidade de Ciências Jurídicas, Universidade Autónoma de Lisboa,

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